Pante Macasssar, Timor-Leste, 19
jun 2019 (Lusa) -- O presidente da Região Administrativa Especial de
Oecusse-Ambeno (RAEOA), Mari Alkatiri, cujo mandato termina em julho, disse
hoje que gostaria de continuar a liderar a autoridade para consolidar a agenda
de desenvolvimento económico regional.
"O mais importante são agora
os próximos cinco anos: sabermos todos definir o que é realmente a economia
social de mercado e criar um modelo que sirva todo o povo", afirmou em
declarações à Lusa em Oecusse.
"Eu gostaria de continuar a
contribuir porque, no fundo, a filosofia saiu da minha cabeça e ainda não
despejei tudo", confessou.
Alkatiri foi nomeado para o
mandato de cinco anos por um decreto presidencial assinado a 25 de julho de
2014 pelo então chefe de Estado (que é atualmente o primeiro-ministro), Taur
Matan Ruak, tendo em conta uma proposta do então chefe do Governo, Xanana
Gusmão.
Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak
são hoje os líderes da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), a coligação
que chegou ao Governo com maioria absoluta em 2018 e cujos partidos que a
integram se têm mostrado contra a renovação do mandato de Alkatiri.
"A AMP reitera a posição de
cumprir o compromisso eleitoral de 2018, para não reconduzir o mandato do atual
presidente da RAEOA. Apelamos ao senhor primeiro-ministro Taur Matan Ruak para
informar da decisão ao Presidente da República", refere uma das resoluções
debatidas e aprovadas no encontro.
Para Mari Alkatiri a resolução é
menos direcionada a si própria e mais para o debate interno dentro da própria
coligação do Governo.
"Penso que é pressão interna
entre eles. Não tem nada a ver comigo. Não se entendem e procuram um escape
interno para justificar as contradições existentes dentro da AMP",
referiu.
Os comentários de Alkatiri foram
feitos por ocasião do 5.º aniversário da RAEOA e a inauguração, pelo Presidente
da República, Francisco Guterres Lu-Olo, do novo Aeroporto Internacional de
Oecusse Rota do Sândalo, "um dos projetos icónicos da região".
Xanana Gusmão, líder da AMP, Taur
Matan Ruak, o primeiro-ministro que está ausente do país para tratamento
médico, e Agio Pereira, chefe do Governo interino, não participaram.
Questionado sobre o projeto,
Fidelis Magalhães, ministro da Reforma Legislativa e Assuntos Parlamentares e
que representou o primeiro-ministro na cerimónia, disse apenas que "o povo
de Oecusse, a autoridade e o presidente estão de parabéns com o resultado da
obra".
Mas recusou-se a fazer
comentários adicionais sobre a não renovação ou não do mandato de Alkatiri ou
sobre as políticas que devem nortear os próximos cinco anos.
"Isso não me cabe comentar.
Deixo os mais velhos ter o seu tempo e meios de comunicar entre eles",
afirmou.
"É um processo sobre o qual
vai haver uma certa discussão para ver requisitos, qualidade, etc e por isso
para já não tenho muitas coisas a dizer", afirmou.
Questionado sobre o mesmo
assunto, Francisco Guterres Lu-Olo disse que, apesar da resolução, a decisão
"não será da AMP, mas será do primeiro-ministro e do Presidente da
República", sugerindo que Alkatiri deveria continuar a liderar o projeto.
"Acho que o doutor Mari
Alkatiri foi o obreiro de tudo isto. Demonstrou capacidade técnica e
profissional, como também um conceito político da ZEESM. Foi uma obra feita. Eu
vim cá para inaugurar um sucesso, não um fracasso", afirmou.
"Mari Alkatiri é uma pessoa
que tem capacidade para gerir esse projeto", disse.
O ex-Presidente timorense, José
Ramos-Horta, que também veio a Oecusse para a inauguração, já tinha defendido a
recondução de Alkatiri, afirmando à Lusa que "devia ser reconduzido, se
ele assim o desejar".
"A obra está praticamente
terminada em termos de infraestruturas, mas agora é preciso que continue alguém
como ele para a próxima fase, que é atrair os investimentos privados",
disse Ramos-Horta.
"As infraestruturas estão
aí, e agora é preciso o investimento privado. Não pode continuar a ser só o
Estado", afirmou, considerado que é preciso alguém como Alkatiri "com
a capacidade para dialogar, convencer, atrair investimento estrangeiro".
Os críticos de Alkatiri têm
apontado alguns aspetos da sua gestão inicial da RAEOA -- quando ainda era
partilhada com o Governo central -- e que foi alvo de uma polémica auditoria.
Membros dos partidos do Governo
apontam ainda que Alkatiri poderá ter tido influência junto do atual
Presidente, Francisco Guterres Lu-Olo -- que é presidente da Fretilin -- para
algumas das decisões mais polémicas, incluindo vetar o orçamento e não dar
posse a vários membros do executivo.
Alkatiri explica que na reta
final do seu atual mandato estão em curso alguns importantes projetos,
nomeadamente o arranque da estrada que liga Noefefa a Citrana, para oeste, e o
estudo para a estrada entre a zona da irrigação de Tono e as localidades de
Oesilo e Passabe.
Agora, disse, é preciso pensar
nos próximos cinco anos, sendo que "há um interesse claríssimo de vários
investidores investirem em Oecusse".
"Mas as pessoas também
aprendem a trabalhar com algumas pessoas e se depois se sentirem um pouco
frustradas nas suas perspetivas, vai ser mais dificil reconquistá-las de
novo", considerou.
ASP//MIM
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