Aviões já estavam no ar e os
navios posicionados para uma retaliação pelo derrube de um drone americano.
O Presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, aprovou esta quinta-feira um ataque contra o Irão, em retaliação ao derrube de um drone de vigilância
norte-americano perto do estreito de Ormuz, mas acabou por cancelar os planos
momentos antes de ser iniciado.
Num momento em que a tensão entre
os dois países aumentou, os aviões já estariam no ar e os navios de guerra
posicionados quando o plano foi subitamente suspenso, disse ao New York Times um elemento da administração de Trump.
O Presidente norte-americano tinha inicialmente aprovado um ataque a alvos
iranianos, como radares e baterias de mísseis.
Um dos alvos era o sistema
anti-aéreo S-125/Pechora, considerado pelo Pentágono como o responsável
pelo abate do avião não tripulado. Todavia, Teerão diz ter sido capaz de abater
o drone com um outro sistema de defesa anti-aérea, o 3rd Khordad,
congénere do sistema de defesa russo Buk, responsável pela destruição do avião
MH17 da Malaysia Airlines nos céus da Ucrânia.
Desconhecem-se as razões para o
abrupto cancelamento, mas Trump deu a entender que o abate do drone poderá não
ter sido ordenado por Teerão, responsabilizando um “oficial estúpido que agiu à
revelia”. “Acho difícil acreditar que foi intencional, se querem saber a
verdade. Acho que pode ter sido alguém estúpido que agiu à revelia”, disse aos
jornalistas antes de o New York Times ter revelado o ataque
cancelado.
De seguida, o Presidente
norte-americano deu ênfase ao facto de o avião não ser tripulado: “Não tínhamos
um homem ou mulher no drone. Seria uma grande, grande diferença”. Posição que
contrasta com a que o chefe de Estado teve inicialmente ao avisar Teerão de que o
abate do drone foi um “erro enorme”, ameaçando com duras retaliações.
Horas antes, a líder da Câmara
dos Representantes, Nancy Pelosi, democrata, e o líder da minoria do Partido
Democrata no Senado, Chuck Schumer, pediram constrição ao chefe de Estado
numa reunião na Casa Branca. Pelosi disse a Trump que a administração
“devia fazer tudo ao seu alcance para aliviar a tensão” com Teerão, enquanto
Schumer alertou para o risco de os Estados Unidos poderem “entrar numa
guerra” que poucos desejavam.
Numa tentativa para dar um papel
mais proeminente ao Congresso, o líder do Senado afirmou ainda ser necessário
“um debate aberto e robusto”, com o órgão legislativo a ter uma verdadeira
palavra sobre o assunto.
A
tensão entre Teerão e Washington não tem parado de subir nos últimos meses.
Os Estados Unidos abandonaram
unilateralmente o acordo nuclear com o Irão, firmado
em 2015 pela administração de Barack Obama, e avançaram com devastadoras
sanções ao regime dos ayatollah.
Washington tem levado a cabo uma estratégia agressiva de máxima pressão contra
Teerão, numa tentativa de o isolar internacionalmente.
Mas os últimos dias têm sido
especialmente tensos, ameaçando com uma guerra na região do Médio Oriente. Na
semana passada, dois
petroleiros - um norueguês e outro japonês – foram atacados no
golfo de Omã, no estreito de Ormuz. Washington responsabilizou Teerão, que, por
sua vez, negou qualquer envolvimento, sugerindo poder tratar-se de um golpe dos
EUA para justificar o uso da força contra o regime iraniano.
Companhias de aviação
norte-americanas proibidas de entrar em espaço aéreo iraniano
As companhias aéreas
norte-americanas foram proibidas de sobrevoar o espaço aéreo iraniano sobre o
Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, no decorrer do escalar de tensões entre os dois
países.
Estas restrições, “até novo
aviso”, são justificadas por um “aumento das actividades militares e aumento da
tensão política na região, que representam um risco para as operações da
aviação civil dos EUA”, acompanhadas de um risco de “erro de identificação”,
indicou a Administração Federal de Aviação norte-americana.
“O risco para a aviação civil dos
EUA é demonstrado pelo míssil iraniano que abateu uma aeronave não tripulada”,
disse a mesma fonte.
Sebastião Almeida e Ricardo
Cabral Fernandes | Público
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