Tamilton Gomes Teixeira* | O Democrata | opinião
Quem olha hoje para Guiné-Bissau
pode/deve estar seguro de que está perante a mais completa fórmula do
“imprevisível”. Nem os P5 e nem outra instituição sabem que futuro espera a
Guiné-Bissau. Quando o filosofo e sociólogo Noam Chomsky (1994) afirma que quem
ama a política ama a incerteza, de facto tinha razão, mas quando olhamos para
Guiné-Bissau, a questão não é apenas sobre as incertezas da política ou a
sazonalidade das agendas políticas (normal no jogo político). No caso da
Guiné-Bissau, é uma questão maior, o próprio país é incerto. Difícil de
diagnosticar. Guiné-Bissau transformou-se num país onde não se sabe quem pode
ser o primeiro-ministro amanhã (tudo pode acontecer). Um país à deriva há muito
e bom tempo.
De crise em crise, o país (os
guineenses) acabou por se acostumar com a incerteza. Esta incerteza afasta o
país de tudo que é progresso. Guiné-Bissau QUO VADIS?
Quando num passado recente,
insisti em defender que se evitasse em resumir os problemas da Guiné a questão
normativa (jurídica), a atual realidade socio-política revela a meu favor que o
problema continua a ser “as manhas” dos guineenses e seu ethos. Comportamentos
erráticos dos atores políticos que os jovens vêm assimilando vertiginosamente.
Esperava-se [para os otimistas da
Spínola] que, após as últimas eleições legislativas, poderia dar-se pausa no
processo de sangramento do Estado, na banalização da administração pública e no
adiamento fatal do país. A Guiné-Bissau apenas perde e perde muito cada vez que
opta por mergulhar na barafunda ao invés de trilhar por caminhos da
sociedade global: criação da riqueza para o bem e progresso de todos, na
criação de rede do ensino que seja capaz de impulsionar uma nova sociedade,
mais justa e igualitária, na assimilação das novas tecnologias de modo a
não perder o rumo da mundialização, na efetivação das agendas emergentes como
“mulher” e sustentabilidade, etc.
O país está fora de tudo que é
debate. O debate na Guiné-Bissau, como já escrevi no passado, continua a ser
sobre egos e personalidades. Não existe uma agenda nacional. Um país com enorme
potencialidade para provocar um desenvolvimento rápido, mas não tem sido capaz
devido a crises sem fundamentos aceitáveis. Continuou-se a contribuir para
industrialização e geração do emprego dos outros, nomeadamente Índia, quando
envia toneladas de castanhas de caju para serem partidos, como aponta professor o Carlos Lopes.
Como é que se explica um país que
produziu no passado uma figura como a do Amílcar Cabral, expoente máximo da sua
geração e, no atual contexto, ter produzido figura como a de Carlos Lopes -
mente pensante das grandes agendas africanas, nomeadamente o histórico tratado
do comércio africano celebrado recentemente - estar na situação em que se
encontra? Tudo que a Guiné-Bissau conseguiu até 1973 foi graças à sua
estratégica e competente diplomacia liderada por Amílcar Cabral. É preciso
recuperar o país através duma diplomacia forte, daí a necessidade de eleger um
presidente com perfil e network diplomático pujante.
Lamentavelmente, o país está no
cadafalso, como havia dito numa entrevista em 2017, as posições estão bem
demarcadas mais para “djunda djunda” do que propriamente para um debate sobre
como fazer o plano de desenvolvimento nacional, que política de género deve ser
adotada, qual é a política do país sobre o ambiente, etc. Muito pelo contrário,
o debate continua a ser sobre quem é mais macho, quem manda fazer e faz
acontecer, etc. Somou-se agora ao debate instrumentalização da fé.
Enquanto reina essa
distração na Guiné-Bissau, o resto dos países africanos estão a inaugurar
autoestradas, caminhos de ferros, abrindo portos, cidades e financiando a
educação e saúde com recursos próprios.
A Guiné-Bissau só consegue
figurar como destaque, quando assume posições como a que assumiu no último
relatório de Transparência Internacional (2018), onde dos 180 países avaliados,
ficou melhor apenas em relação a 6 países, todos eles em algum tipo de conflito
ou, situação de Guerra (Síria, Somália, Sudão, Eritreia, etc).
Sem políticos não se faz política.
Na Guiné-Bissau faz-se tudo menos a política.
“és i nó mundo, mundo de bibos ku
mortos, suna faci, faci diritu, ena djubiu, ena obiu, ena odjau…quilis ku bai
ka tchiga de bai, esta na nó metadi” - Zé Manel.
Lisboa, junho de 2019
*Tamilton Gomes Teixeira – Sociόlogo
-- Mestrando em Sociologia no ISCTE/ Portugal
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