A autoproclamada Junta Militar da
Renamo, que contesta a liderança partidária, ameaçou hoje com ações militares
se o governo moçambicano insistir em negociar com o presidente do partido e
pediu a intervenção da comunidade internacional no processo de paz.
Em declarações à Lusa, por
telefone, o major-general da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) Mariano
Nhungue acusou o líder do partido Ossufo Momade de estar ao serviço do governo,
da Frente de Libertação de Moçambique, violando o espírito dos acordos de paz
celebrados pelo líder histórico do partido, Afonso Dhlakama, falecido em 2018.
“Se o governo não souber resolver
este problema há guerra aqui em Moçambique” alertou Mariano Nhungue, adiantando
que marginalizar o grupo “é colocar em causa a democracia”.
O grupo pediu também à ONU, ao
grupo de mediadores da comunidade internacional e aos religiosos que usem a “sua
experiência e influência para ajudar Moçambique”.
Segundo o militar, que se
apresenta como líder da junta militar, o grupo desarmou a guarda de Ossufo
Momade no seu esconderijo na Gorongosa, para “forçar a paragem” do diálogo com
o governo.
Nos próximos dias, a junta irá
indicar um novo nome para prosseguir com as negociações de paz em nome da
Renamo.
“As armas reconhecidas no acordo
de Paz de Roma são para guarnecer o presidente da Renamo e Ossufo Momade já não
é” o líder do partido, disse Mariano Nhungue a partir duma base na Gorongosa,
em Sofala, centro de Moçambique.
“Ossufo é um grande SISE”, numa
referência aos serviços secretos moçambicanos, acusou Mariano Nhungue,
assegurando que as negociações de paz entre o governo e a nova estaliderança da
Renamo “ferem o espírito do acordo” celebrado por Afonso Dhlakama, que morreu a
3 de maio de 2018 numa base na Gorongosa.
Os negociadores “estão a dizer
[aos militares da Renamo]: vão a acantonamento e vão receber dinheiro de três
meses e um cabrito macho e fêmea. Isso é abuso, é marginalizar-nos depois de
uma vida nas matas”, considerou Mariano Nhungue.
A falta de apoios aos militares
desmobilizados vem “condenar o rumo da negociação”, que no seu entender servirá
apenas para “espalhar os guerrilheiros [pelo território] e na miséria”.
O grupo, disse, conta com apoios
de militares de outras províncias, em várias bases na Gorongosa, para instituir
uma nova liderança do partido nos próximos 10 dias.
A 15 de julho terminou o ultimato
dado pelo grupo para que Ossufo Momade deixasse a presidência de
forma voluntária.
O grupo do major-general da
Renamo Mariano Nhungue vem exigindo a demissão de Ossufo Momade desde início de
junho, acusando-o de estar a destruir o partido e ameaçando-o de morte.
Na sua primeira aparição após as
contestações, a 24 de junho, o presidente da Renamo, Ossufo Momade, disse que
se tratam de “forças diabólicas” que estão a tentar manchar o “bom nome” do seu
partido, considerando que os guerrilheiros que exigem a sua demissão estão a
ser instrumentalizados.
O Governo moçambicano e a Renamo
continuam a negociar uma paz definitiva em Moçambique, tendo as partes previsto
que até agosto, antes das eleições gerais de 15 de outubro, seja assinado um
acordo de paz no país.
Um dos pontos mais complexos das
negociações tem sido a questão do desarmamento, desmobilização e reintegração
dos homens armados da Renamo.
O principal partido da oposição
exige a presença dos seus quadros no Serviço de Informação e Segurança do
Estado (SISE) e nas academias militares, o que não tem tido resposta por parte
do executivo moçambicano.
Lusa
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