sexta-feira, 26 de julho de 2019

Igrejas moçambicanas desmentem negócios à custa de Deus


Numa altura em que o Governo prepara legislação para travar o avanço desregrado das igrejas em Moçambique, confissões religiosas rejeitam acusações de extorsão dos crentes. E garantem atuar de acordo com a lei.

São várias as igrejas acusadas pelo Governo moçambicano de se desviarem do seu real foco na sociedade: criar um tecido ético e moral forte. As autoridades estimam que haja mais de mil igrejas não registadas em Moçambique e o Governo acusa-as de se aproveitarem do desespero e da pobreza das pessoas para extorsão. Tudo em nome de Jesus.

Mas algumas igrejas que aceitaram falar à DW África negam as acusações e afirmam que estão a atuar de acordo com a lei. O pastor Leogival, da Igreja Mundial Poder de Deus, explica que está claro o papel da sua congregação na sociedade.

"Tudo o que se fala não é realidade. A igreja está numa posição de despertar as pessoas para conhecer quem é Deus. O criador criou as pessoas para viver a fé, para praticar a palavra", diz.

Igrejas nascem em quintais ou barracas

Algumas igrejas na capital moçambicana, Maputo, começaram a ser criadas em quintais, numa barraca arrendada para o efeito ou até em lojas. Aos poucos, conseguiram instalar-se em espaços maiores e mais fixos, e mais crentes vão aderindo.

O pastor Leogival reconhece que a contribuição dos crentes é fundamental para que a igreja cresça. O pastor realça a importância do dízimo: "Os donativos é o povo que dá, como o dízimo. O Governo vive de donativos, das doações, dos impostos e nós não cobramos impostos. Nós só ensinamos e quem ouve a palavra, vive a palavra."

Alguns pastores das igrejas que proliferam em Moçambique não têm formação para exercer a atividade. Muitos deles fazem-no como uma espécie de mudança de categoria, diz ainda o pastor. "A formação dos pastores é como membro. Chega hoje e vive a palavra, a pessoa candidata-se a obreiro e depois de obreiro passa de escalão, de discípulo para pastor", explica.

"Deus vai dar"

Na Assembleia de Deus, o pastor Lino Ndlalane garante que esta igreja evangélica, que existe em Moçambique já há algumas décadas, está registada. Afirma ainda que não se pode aproveitar a fé das pessoas para lhes extorquir dinheiro. "Orando, caminhando no caminho certo, Deus vai alimentar a sua igreja", diz, sublinhando que o sustentáculo da sua igreja é a oração.

"A igreja na qual estou é organizada. Não foi minha iniciativa estar à frente dela. Passei pela formação e agora fui consagrado para estar à frente da igreja. Estou nesta igreja para levar as pessoas até Jesus Cristo", conta o pastor.

O pastor refere que é errado usar o nome de Deus para fins pessoais. Porém, não revela a proveniência do sustentáculo financeiro da sua igreja. "Nós fomos bem formados para levarmos as pessoas até Jesus Cristo e não para nosso benefício. Quando abrimos a Bíblia, essa é a parte divina. Deus vai dar. As pessoas não podem misturar as coisas."

Alguns crentes ouvidos pela DW África confessam que dão dízimo e esperam que um dia "Deus lhes abra o caminho". "Estou a gastar muito dinheiro aqui", admite um deles. "A igreja vai ajudar-nos. Estamos a pedir nesse contexto", conta outra fiel.

Romeu da Silva (Maputo) | Deutsche Welle

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