Numa altura em que o Governo
prepara legislação para travar o avanço desregrado das igrejas em Moçambique,
confissões religiosas rejeitam acusações de extorsão dos crentes. E garantem
atuar de acordo com a lei.
São várias as igrejas acusadas
pelo Governo moçambicano de se desviarem do seu real foco na sociedade: criar
um tecido ético e moral forte. As autoridades estimam que haja mais
de mil igrejas não registadas em Moçambique e o Governo acusa-as de se
aproveitarem do desespero e da pobreza das pessoas para extorsão. Tudo em nome
de Jesus.
Mas algumas igrejas que aceitaram
falar à DW África negam as acusações e afirmam que estão a atuar de acordo com
a lei. O pastor Leogival, da Igreja Mundial Poder de Deus, explica que está
claro o papel da sua congregação na sociedade.
"Tudo o que se fala não é
realidade. A igreja está numa posição de despertar as pessoas para conhecer
quem é Deus. O criador criou as pessoas para viver a fé, para praticar a
palavra", diz.
Algumas igrejas na capital
moçambicana, Maputo, começaram a ser criadas em quintais, numa barraca
arrendada para o efeito ou até em lojas. Aos poucos, conseguiram instalar-se em
espaços maiores e mais fixos, e mais crentes vão aderindo.
O pastor Leogival reconhece que a
contribuição dos crentes é fundamental para que a igreja cresça. O pastor
realça a importância do dízimo: "Os donativos é o povo que dá, como o
dízimo. O Governo vive de donativos, das doações, dos impostos e nós não
cobramos impostos. Nós só ensinamos e quem ouve a palavra, vive a
palavra."
Alguns pastores das igrejas que
proliferam em Moçambique não têm formação para exercer a atividade. Muitos
deles fazem-no como uma espécie de mudança de categoria, diz ainda o pastor.
"A formação dos pastores é como membro. Chega hoje e vive a palavra, a
pessoa candidata-se a obreiro e depois de obreiro passa de escalão, de
discípulo para pastor", explica.
"Deus vai dar"
Na Assembleia de Deus, o pastor
Lino Ndlalane garante que esta igreja evangélica, que existe em Moçambique já
há algumas décadas, está registada. Afirma ainda que não se pode aproveitar a
fé das pessoas para lhes extorquir dinheiro. "Orando, caminhando no
caminho certo, Deus vai alimentar a sua igreja", diz, sublinhando que o
sustentáculo da sua igreja é a oração.
"A igreja na qual estou é
organizada. Não foi minha iniciativa estar à frente dela. Passei pela formação
e agora fui consagrado para estar à frente da igreja. Estou nesta igreja para
levar as pessoas até Jesus Cristo", conta o pastor.
O pastor refere que é errado usar
o nome de Deus para fins pessoais. Porém, não revela a proveniência do
sustentáculo financeiro da sua igreja. "Nós fomos bem formados para
levarmos as pessoas até Jesus Cristo e não para nosso benefício. Quando abrimos
a Bíblia, essa é a parte divina. Deus vai dar. As pessoas não podem misturar as
coisas."
Alguns crentes ouvidos pela DW
África confessam que dão dízimo e esperam que um dia "Deus lhes abra o
caminho". "Estou a gastar muito dinheiro aqui", admite um deles.
"A igreja vai ajudar-nos. Estamos a pedir nesse contexto", conta
outra fiel.
Romeu da Silva (Maputo) |
Deutsche Welle
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