Costa admite que nem tudo são
rosas. Nova "geringonça" pode estar a caminho
Partidos aproveitaram último
debate do estado da nação para mostrar trabalho feito e para se posicionarem
para legislativas. Primeiro-ministro foi o parceiro da Esquerda que mais abriu
a porta a nova aliança. PSD e CDS disputam papel de melhor Oposição.
Mais do que a avaliação de três
anos e meio de gestão socialista, as quatro horas da última discussão sobre o
estado da nação foram a oportunidade para todos os partidos darem o pontapé de
saída para as legislativas, puxando pelos galões do que fizeram. Aliás, além de
se terem colocado na "pole position", Costa, Catarina e Jerónimo
deixaram claro que, independentemente de quem cortar a meta, uma nova
"geringonça" poderá depois reclamar a vitória.
À Direita, PSD e CDS aproveitaram
o último palco institucional para chamarem a si a verdadeira Oposição. Já à
Esquerda, o tom foi semelhante ao que deu origem ao entendimento governativo,
deixando no ar que novos acordos como os de 2015 podem estar a caminho. Porém,
Costa deixou um aviso ao BE, PCP e PEV: não podem reivindicar somente a
coautoria do que de bom foi feito e deixar sozinho o PS a arcar com o que
correu menos bem.
"A história fará a sua
justiça a seu tempo, com a moderação e o distanciamento necessários. Mas, hoje,
atrevo-me a dizer que conseguimos", atirou Costa, em jeito de balanço, no
arranque do debate, minutos após ter ligado para o comunista Jerónimo de Sousa,
através dos telefones do hemiciclo.
O primeiro-ministro reconheceu
que "não vivemos no oásis, num país cor-de-rosa". "O balanço
positivo destes quatro anos não nos permite esquecer os problemas que
subsistem", disse, numa tarde em que o mau funcionamento do Serviço
Nacional de Saúde (SNS) e os problemas nos transportes foram as principais críticas
apontadas.
Por isso, mais à frente, avisou
Catarina Martins - que nas duas vezes que interveio evitou repetir o tom de
confronto que teve nos últimos meses - que recusa ficar sozinho "com o
passivo e o ativo" desta governação.
Catarina contra maioria
A líder do BE não teve pruridos
em garantir que os acordos podem-se repetir: "voltássemos a 2015 nas
mesmas condições e voltaria a assiná-los". Na resposta, Costa foi mais
longe. "Há uma pequena diferença: não estando em 2015 também voltaria a
tomar a mesma decisão pela simples razão que provou ser boa".
Catarina Martins não deixou de
apontar baterias aos socialistas, entre eles ao líder parlamentar Carlos César,
que têm apelado a uma maioria absoluta. "Não podemos voltar à política das
maiorias absolutas que nos perderam", defendeu.
PCP culpa socialistas
Tal como fez em 2015, Jerónimo de
Sousa voltou a mostrar a direção ao PS, a quem alertou para os perigos de uma
maioria. "O PCP cá está para construir esse caminho", desafiou o
secretário-geral, que pediu mais peso do partido em futuros acordos. Numa
crítica ao PS, disse que apenas não se foi mais longe porque recusou "os
contributos" do PCP.
Para o PSD, as contas da Esquerda
podem sair goradas. Assim acredita o líder parlamentar Fernando Negrão, que até
foi muito aplaudido pela sua bancada - nos poucos momentos em que esteve
completa: "Os senhores estão a gozar do excesso de confiança. Tenham mais
calma que podem ter uma surpresa. O PSD ganhará as eleições".
Certo é que não será com a ajuda
do seu parceiro de 2015. Principalmente depois de Assunção Cristas ter dito que
o CDS fez uma oposição "firme e construtiva". Mais: em "alguns
casos" com "o encargo quase exclusivo dessa Oposição".
O ministro das Finanças, Mário
Centeno, fechou o debate a agradecer à Esquerda, que tanto o criticou pelas
cativações, e a condenar os "novos velhos que não são do Restelo, mas,
antes, que da Lapa [PSD] e do Caldas [CDS] desceram a São Bento". O PS
aplaudiu de pé.
Carla Soares e Nuno Miguel Ropio
| Jornal de Notícias
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