quinta-feira, 11 de julho de 2019

Portugal | Nem tudo são rosas mas nova “geringonça” pode já estar na forja


Costa admite que nem tudo são rosas. Nova "geringonça" pode estar a caminho

Partidos aproveitaram último debate do estado da nação para mostrar trabalho feito e para se posicionarem para legislativas. Primeiro-ministro foi o parceiro da Esquerda que mais abriu a porta a nova aliança. PSD e CDS disputam papel de melhor Oposição.

Mais do que a avaliação de três anos e meio de gestão socialista, as quatro horas da última discussão sobre o estado da nação foram a oportunidade para todos os partidos darem o pontapé de saída para as legislativas, puxando pelos galões do que fizeram. Aliás, além de se terem colocado na "pole position", Costa, Catarina e Jerónimo deixaram claro que, independentemente de quem cortar a meta, uma nova "geringonça" poderá depois reclamar a vitória.

À Direita, PSD e CDS aproveitaram o último palco institucional para chamarem a si a verdadeira Oposição. Já à Esquerda, o tom foi semelhante ao que deu origem ao entendimento governativo, deixando no ar que novos acordos como os de 2015 podem estar a caminho. Porém, Costa deixou um aviso ao BE, PCP e PEV: não podem reivindicar somente a coautoria do que de bom foi feito e deixar sozinho o PS a arcar com o que correu menos bem.

"A história fará a sua justiça a seu tempo, com a moderação e o distanciamento necessários. Mas, hoje, atrevo-me a dizer que conseguimos", atirou Costa, em jeito de balanço, no arranque do debate, minutos após ter ligado para o comunista Jerónimo de Sousa, através dos telefones do hemiciclo.


O primeiro-ministro reconheceu que "não vivemos no oásis, num país cor-de-rosa". "O balanço positivo destes quatro anos não nos permite esquecer os problemas que subsistem", disse, numa tarde em que o mau funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e os problemas nos transportes foram as principais críticas apontadas.

Por isso, mais à frente, avisou Catarina Martins - que nas duas vezes que interveio evitou repetir o tom de confronto que teve nos últimos meses - que recusa ficar sozinho "com o passivo e o ativo" desta governação.

Catarina contra maioria

A líder do BE não teve pruridos em garantir que os acordos podem-se repetir: "voltássemos a 2015 nas mesmas condições e voltaria a assiná-los". Na resposta, Costa foi mais longe. "Há uma pequena diferença: não estando em 2015 também voltaria a tomar a mesma decisão pela simples razão que provou ser boa".

Catarina Martins não deixou de apontar baterias aos socialistas, entre eles ao líder parlamentar Carlos César, que têm apelado a uma maioria absoluta. "Não podemos voltar à política das maiorias absolutas que nos perderam", defendeu.

PCP culpa socialistas

Tal como fez em 2015, Jerónimo de Sousa voltou a mostrar a direção ao PS, a quem alertou para os perigos de uma maioria. "O PCP cá está para construir esse caminho", desafiou o secretário-geral, que pediu mais peso do partido em futuros acordos. Numa crítica ao PS, disse que apenas não se foi mais longe porque recusou "os contributos" do PCP.

Para o PSD, as contas da Esquerda podem sair goradas. Assim acredita o líder parlamentar Fernando Negrão, que até foi muito aplaudido pela sua bancada - nos poucos momentos em que esteve completa: "Os senhores estão a gozar do excesso de confiança. Tenham mais calma que podem ter uma surpresa. O PSD ganhará as eleições".

Certo é que não será com a ajuda do seu parceiro de 2015. Principalmente depois de Assunção Cristas ter dito que o CDS fez uma oposição "firme e construtiva". Mais: em "alguns casos" com "o encargo quase exclusivo dessa Oposição".

O ministro das Finanças, Mário Centeno, fechou o debate a agradecer à Esquerda, que tanto o criticou pelas cativações, e a condenar os "novos velhos que não são do Restelo, mas, antes, que da Lapa [PSD] e do Caldas [CDS] desceram a São Bento". O PS aplaudiu de pé.

Carla Soares e Nuno Miguel Ropio | Jornal de Notícias

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