Jorge Rocha* | opinião
Era uma vez um advogado que tirou
o curso na Lusófona do Porto em 2014 e conseguiu a cédula profissional em 2017.
Ninguém nos contou onde e como fez fortuna, mas conseguiu vistoso escritório,
ainda mais reluzente maseratti e uma fotografia com Marcelo, que exibe com
evidente gáudio na publicidade à sua recente atividade profissional.
Não sabemos se estudou
afincadamente a conspiração dos camionistas chilenos, que conseguiram
desestabilizar suficientemente o governo de Salvador Allende para que Pinochet
chegasse ao poder e os premiasse com o fim do projetado investimento estatal na
ferrovia, essencial para resolver muitos dos problemas estruturais do país. De
qualquer forma, tenha ou não estudado esse papel dos camionistas na sabotagem
do Estado de Direito de um país, até então, com grandes tradições democráticas
na América Latina, o novel advogado conseguiu arregimentar uns quantos
empresários individuais de transportes e outros tantos empregados do setor para
criar uma organização mafiosa, que usa a chantagem sobre todos os portugueses
para conseguir os seus fins que já ninguém acredita serem sequer económicos.
Dessem-lhes os 148% em quatro anos que agora reivindicam e logo ameaçariam
parar o país por objetivos a serem satisfeitos em 2030, em 2040, quiçá mesmo em
2050.
Que os seus intentos estão em
sintonia com os neonazis, que se reúnem em Lisboa este fim-de-semana ou com a
sua variante «coletes amarelos», que apelam a paralisar a ponte 25 de abril na
segunda-feira, é evidência que só parece escapar a Catarina Martins e a outros
dirigentes do Bloco de Esquerda cuja complacência para com a estratégia de quem
deveriam tomar como seus efetivos inimigos só espanta quem os não vê,
consecutivamente, incorrerem nos mesmos erros de sempre. Se julgávamos que
teriam aprendido alguma coisa com o facto de terem ajudado a apear Sócrates
para favorecerem a sua substituição por Passos Coelho, bem podemos sentar-nos à
sombra à espera que o façam. Porque ideologicamente tomados por aquela doença
infantil, que tanto tem afetado esquerdistas de todas as gerações, aí voltam a
uma fase aguda traduzida na defesa do indefensável.
Não sei se, por esta altura, nas
hostes bloquistas sobra alguém que intua quantos votos perderam por estes dias
para o Partido Socialista à conta de uma estratégia, que escapa a muitos
eleitores ate aqui dispostos a encará-los com alguma simpatia. No noite do dia
6 de outubro talvez compreendam o quanto a sua deceção poderá equivaler à
irresponsabilidade com que vêm agindo neste assunto...
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