Carta pública aos ex-colegas da
Lava-Jato
por Eugênio Aragão
Sim. Ex-colegas, porque, a
despeito de a Constituição me conferir a vitaliciedade no cargo de membro do
Ministério Público Federal, nada há, hoje, que me identifique com vocês, a não
ser uma ilusão passada de que a instituição a que pertenci podia fazer uma
diferença transformadora na precária democracia brasileira. Superada a ilusão
diante das péssimas práticas de seus membros, nego-os como colegas.
Já há semanas venho sentindo
náuseas ao ler suas mensagens, trocadas pelo aplicativo Telegram e agora
reveladas pelo sítio The Intercept Brasil, num serviço de inestimável valor
para nossa sociedade deformada pela polarização que vocês provocaram. Na
verdade, já sabia que esse era o tom de suas maquinações, porque já os conheço
bem, uns trogloditas que espasmam arrogância e megalomania pela rede interna da
casa. Quando aí estava, tentei discutir com vocês, mostrar erros em que estavam
incidindo no discurso pequeno e pretensioso que pululava pelos computadores de
serviço. Fui rejeitado por isso, porque Narciso rejeita tudo que não é espelho.
E me recusava a me espelhar em vocês, fedelhos incorrigíveis.
A mim vocês não convencem com seu
pobre refrão de que “não reconhecem a autenticidade de mensagens obtidas por
meio criminoso”. Por muito menos, vocês “reconheceram” diálogo da Presidenta
legitimamente eleita Dilma Rousseff com o Ex-Presidente Lula, interceptado e
divulgado de forma criminosa. Seu guru, hoje ministro da justiça de um
desqualificado, ainda teve o desplante de dizer que era irrelevante a forma
como fora obtido acesso ao diálogo, pois relevaria mais o seu conteúdo. Tomem!
Isso serve que nem uma luva nas mãos ignóbeis de vocês. Quem faz coisa errada e
não se emenda acaba por ser atropelado pelo próprio erro.
Subiu-lhes à cabeça. Perderam toda capacidade de discernir entre o certo e o errado, entre o público e o privado, tamanha a prepotência que os cega. Não têm qualquer autocrítica. Nem diante do desnudamento de sua vilania, são capazes de um gesto de satisfação, de um pedido de desculpas e do reconhecimento do erro. Covardes, escondem-se na formalidade que negaram àqueles que elegeram para seus inimigos.
Subiu-lhes à cabeça. Perderam toda capacidade de discernir entre o certo e o errado, entre o público e o privado, tamanha a prepotência que os cega. Não têm qualquer autocrítica. Nem diante do desnudamento de sua vilania, são capazes de um gesto de satisfação, de um pedido de desculpas e do reconhecimento do erro. Covardes, escondem-se na formalidade que negaram àqueles que elegeram para seus inimigos.
Esquecem-se que o celular de
serviço não se presta a garantir privacidade ao agente público que o usa.
Celulares de serviço são instrumentos de trabalho, para comunicação no
trabalho. Submete-se, seu uso, aos princípios da administração, entre eles o da
publicidade, que demanda transparência nas ações dos agentes públicos.
Conversas de cunho pessoal ali não devem ter lugar e, diante do risco de
intrusão, também não devem por eles trafegar mensagens confidenciais. Se houver
quebra de confidencialidade pela invasão do celular, a culpa pelo dano ao
serviço é do agente público que agiu com pouco caso para com o interesse da
administração e depositou sigilo funcional na rede ou na nuvem virtual. Pode
por isso ser responsabilizado, seja na via da improbidade administrativa, seja
na via disciplinar, seja no âmbito penal por dolo eventual na violação do
sigilo funcional. Não há, portanto, que apontarem o dedo para os jornalistas
que tornaram público o que público devesse ser.
De qualquer sorte, tenho as
mensagens como autênticas, porque o estilo de vocês – ou a falta dele – é
inconfundível. Mesmo um ficcionista genial não conseguiria inventar tamanha
empáfia. Tem que ser membro do MPF concurseiro para chegar a tanto! Umas
menininhas e uns menininhos “remplis de soi-mêmes”, filhinhas e filhinhos de
papai que nunca souberam o que é sofrer restrições de ordem material e
discriminação no dia a dia. Sempre tiveram sua bola levantada, a levar o ego
junto. Pessimamente educados por seus pais que não lhes puxaram as orelhas,
vocês são uns monstrengos incapazes de qualquer compaixão. A única forma de
solidariedade que conhecem é a de uma horda de malfeitores entre si, um
encobrindo um ao outro, condescendentes com os ilícitos que cada um pratica em
suas maquinações que ousam chamar de “causa”. Matilhas de hienas também
conhecem a solidariedade no reparto da carniça, mas, como vocês, não têm
empatia.
Publicado em Revista Forum
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