Primeiro os navios, agora os
aviões. Itália impede aeronaves de ONG de descolarem para operação de
salvamento
Aviões ajudam para que as
organizações não governamentais consigam detectar embarcações em risco e ter
maior precisão para as alcançar
"Moonbird" e o
"Colibri" estão parados há um mês depois de a autoridade de aviação
civil italiana os ter proibido de levantar voo, justificando que as duas
aeronaves só podem “ser usadas para fins recreativos e não para atividades profissionais”.
Essas atividades profissionais são as operações de salvamento e resgate no
centro do Mediterrâneo, pois os dois aviões pertencem a organizações não
governamentais: à Sea-Watch (Alemanha) e à Pilotes Volontaires (França).
Ambos, refere o jornal britânico
“The Guardian”, têm licença de voo para missões naquela zona do sul da Europa
reconhecida há mais de dois anos. No entanto, esta não é primeira vez que têm
problemas - tal como já acontece com os navios que patrulham o centro do
Mediterrâneo no mar. No ano passado, por exemplo, o Moonbird ficou bloqueado em
Malta, impedido de sobrevoar o espaço aéreo maltês. Por mais de três meses
esteve parado. As dificuldades em descolar só têm aumentado desde que, após o
final de 2017, Itália e Malta desencadearam uma série de investigações às
várias organizações não governamentais que levam a cabo as missões de
salvamento e resgate.
O impedimento de voar do
"Moonbird" e do "Colibri" aconteceu numa altura em que o
Governo de Itália intensificou as políticas anti-imigração. No entanto, estes
dias têm sido de alguma incógnita com o país a atravessar uma crise política,
depois do afastamento de Matteo Salvini do Governo e com o Partido Democrático
a coligar-se com o Movimento 5 Estrelas, embora com fortes críticas àquelas que
têm sido as opções do agora ex-ministro do Interior italiano.
Bem mais frequentes são as
proibições de desembarque de navios de resgate operados por ONG. Ainda na
semana passada, o "Open Arms", com mais de cem pessoas a bordo, só
conseguiu porto seguro depois de 20 dias de espera; também o "Ocean
Viking" aguardou por 14 dias.
A espera tornou-se comum no
último ano com Itália e Malta a negarem receber os navios. As soluções
encontradas têm passado pelo desembarque nos portos malteses, mas com um acordo
previamente estipulado de que as pessoas resgatadas sejam distribuídas por
vários Estados-membros que se voluntariam para as acolher (Portugal tem
participado em quase todos estes acordos).
Esta terça-feira, as Nações
Unidas denunciaram o naufrágio de uma embarcação ao largo da costa da Líbia.
Quase uma centena de pessoas estavam a bordo com o objetivo de chegar à Europa.
Estima-se que 40 pessoas tenham morrido, pois só 60 foram resgatadas. Na semana
passada, outras cem pessoas morreram na travessia e, há um mês, um barco com
250 pessoas naufragou.
O Mar Mediterrâneo é uma das
rotas migratórias mais mortais. De acordo com o Missing Migrants Project, um
portal de dados coordenados pela Organização Internacional de Migração, em 2019
já morreram 594 pessoas. Julho foi, até agora, o pior mês.
Marta Gonçalves | Expresso
*Título PG
Sem comentários:
Enviar um comentário