quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Governo fascista de Itália impede aviões de voar para localizarem naufrágios


Primeiro os navios, agora os aviões. Itália impede aeronaves de ONG de descolarem para operação de salvamento

Aviões ajudam para que as organizações não governamentais consigam detectar embarcações em risco e ter maior precisão para as alcançar

"Moonbird" e o "Colibri" estão parados há um mês depois de a autoridade de aviação civil italiana os ter proibido de levantar voo, justificando que as duas aeronaves só podem “ser usadas para fins recreativos e não para atividades profissionais”. Essas atividades profissionais são as operações de salvamento e resgate no centro do Mediterrâneo, pois os dois aviões pertencem a organizações não governamentais: à Sea-Watch (Alemanha) e à Pilotes Volontaires (França).

Ambos, refere o jornal britânico “The Guardian”, têm licença de voo para missões naquela zona do sul da Europa reconhecida há mais de dois anos. No entanto, esta não é primeira vez que têm problemas - tal como já acontece com os navios que patrulham o centro do Mediterrâneo no mar. No ano passado, por exemplo, o Moonbird ficou bloqueado em Malta, impedido de sobrevoar o espaço aéreo maltês. Por mais de três meses esteve parado. As dificuldades em descolar só têm aumentado desde que, após o final de 2017, Itália e Malta desencadearam uma série de investigações às várias organizações não governamentais que levam a cabo as missões de salvamento e resgate.


O impedimento de voar do "Moonbird" e do "Colibri" aconteceu numa altura em que o Governo de Itália intensificou as políticas anti-imigração. No entanto, estes dias têm sido de alguma incógnita com o país a atravessar uma crise política, depois do afastamento de Matteo Salvini do Governo e com o Partido Democrático a coligar-se com o Movimento 5 Estrelas, embora com fortes críticas àquelas que têm sido as opções do agora ex-ministro do Interior italiano.

Bem mais frequentes são as proibições de desembarque de navios de resgate operados por ONG. Ainda na semana passada, o "Open Arms", com mais de cem pessoas a bordo, só conseguiu porto seguro depois de 20 dias de espera; também o "Ocean Viking" aguardou por 14 dias.

A espera tornou-se comum no último ano com Itália e Malta a negarem receber os navios. As soluções encontradas têm passado pelo desembarque nos portos malteses, mas com um acordo previamente estipulado de que as pessoas resgatadas sejam distribuídas por vários Estados-membros que se voluntariam para as acolher (Portugal tem participado em quase todos estes acordos).

Esta terça-feira, as Nações Unidas denunciaram o naufrágio de uma embarcação ao largo da costa da Líbia. Quase uma centena de pessoas estavam a bordo com o objetivo de chegar à Europa. Estima-se que 40 pessoas tenham morrido, pois só 60 foram resgatadas. Na semana passada, outras cem pessoas morreram na travessia e, há um mês, um barco com 250 pessoas naufragou.

O Mar Mediterrâneo é uma das rotas migratórias mais mortais. De acordo com o Missing Migrants Project, um portal de dados coordenados pela Organização Internacional de Migração, em 2019 já morreram 594 pessoas. Julho foi, até agora, o pior mês.

Marta Gonçalves | Expresso

*Título PG

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