Salazar assinalado. Criminoso nazi-fascista, ditador por décadas. Santa Comba Dão ergue o louvor ao monstro? |
Um grupo de 205 ex-presos
políticos enviou uma carta ao primeiro-ministro e ao presidente da Assembleia
da República, em que expressam «o mais veemente repúdio pelo anúncio da criação
de um "Museu Salazar"».
AbrilAbril
Na missiva, datada de 12 de
Agosto, os subscritores, «ex-presos políticos, manifestam, em nome próprio e no
da memória de milhares de vítimas do regime fascista – de que Salazar foi
principal mentor e responsável –, o mais veemente repúdio pelo anúncio da
criação de um "Museu Salazar" feito pelo presidente da Câmara de
Santa Comba Dão», Leonel Gouveia (PS).
Também apelam à intervenção do
Governo, «em conformidade com o relatório aprovado por unanimidade, em Julho de
2008, pela Comissão de Assuntos Constitucionais da Assembleia da República e
com normas da Constituição da República Portuguesa», de modo a impedir a
concretização de um projecto que – sublinham –, «longe de visar esclarecer a
população e sobretudo as jovens gerações sobre o que foi o regime fascista, se
prefigura como um instrumento ao serviço do seu branqueamento e um centro de
romagem para os saudosistas do regime derrubado com o 25 de Abril».
O signatários lembram que,
«quando em muitos países se assiste ao renascer de forças fascistas e
fascizantes, o País precisa não de instrumentos de propaganda do fascismo – que
a Constituição da República expressamente proíbe –, mas de meios de pedagogia
democrática que não deixem esquecer o cortejo de crimes do fascismo salazarista
e preserve a memória das suas vítimas».
Os antigos presos políticos
digirem-se ainda «a todos os democratas e amantes da liberdade», apelando para
que «se manifestem contra a criação, nos termos em que tem vindo a ser
anunciado, desse memorial ao ditador».
A missiva é subscrita, entre
outros, por Álvaro Pato, António Borges Coelho, Aurora Rodrigues, Conceição
Matos, Domingos Abrantes, Fernando Correia, Fernando Rosas, Helena Pato, Isabel
do Carmo, Jaime Serra, Jorge Seabra, Jorge Silva Melo, José Eduardo Brissos,
José Mário Branco, Manuela Bernardino, Mário de Carvalho, Miriam Halpern
Pereira, Modesto Navarro, Sérgio Ribeiro, Teresa Dias Coelho, Violante Saramago
Matos e Vítor Dias.
Não se antevê como espaço de
denúncia dos crimes e da política de Salazar
No final de Julho, o
semanário Expresso anunciou que o Centro Interpretativo do Estado
Novo iria abrir ainda este ano, com as obras a começarem em Agosto, sendo que a
iniciativa avançou pela mão do presidente da Câmara Municipal.
A este propósito, Domingos
Abrantes, resistente antifascista e ex-preso político, lembrou, em declarações
ao AbrilAbril, que este objectivo está há muito em cima da mesa, por parte
dos «saudosistas do fascismo», tendo acrescentado que o significado da
iniciativa não pode ser menorizado. «Está em linha de continuidade com uma
ofensiva que se tem vindo a intensificar de branqueamento do fascismo»,
alertou.
Rebatendo o argumento de que um
museu sobre Salazar possa ser neutro, declarou ser «difícil imaginar que se
possa tratar de um museu com vista ao esclarecimento do povo português e,
sobretudo, das novas gerações em relação ao que foi o fascismo, a repressão, o
obscurantismo, os assassinatos, durante 48 anos, do qual esta figura, não sendo
única, é em grande parte responsável».
Museu Salazar: «Chamam-lhe apenas
Estado Novo, nunca falam em fascismo» -- LER
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