Boston, Estados Unidos, 12 ago
2019 (Lusa) -- António Cabral, deputado na Câmara dos Representantes de
Massachusetts, recorda como esteve no centro do movimento político
norte-americano pela independência de Timor-Leste, há 20 anos, com uma proposta
de lei e convites a Ramos-Horta para discursar em Boston.
O político, nascido nos Açores e
imigrado nos EUA com a família há 50 anos, foi distinguido em 2017 com a
Medalha da Ordem de Timor-Leste e revelou ter sido convidado recentemente por
Xanana Gusmão para estar presente nas celebrações dos 20 anos do Referendo em
Timor-Leste, em 30 de agosto.
Representante da cidade de New
Bedford na Massachusetts State House há quase 30 anos, António Cabral descreveu
à agência Lusa que foi uma proposta de lei contra empresas indonésias,
apresentada por Cabral, que chamou a atenção para o problema timorense nos
Estados Unidos.
"Conseguimos pôr pressão na
administração de Bill Clinton para se envolver e intervir com a Indonésia para
que houvesse uma oportunidade para o povo timorense fazer uma decisão para si,
que veio a acontecer com o referendo", disse António Cabral, em entrevista
à Lusa.
Depois de ter apresentado uma
proposta de lei contra investimento americano em negócios ligados à Indonésia,
António Cabral convidou várias personalidades de Timor-Leste a discursar na
Assembleia de Massachusetts.
O português intermediou as
visitas de José Ramos-Horta à assembleia legislativa de Boston depois de este
ter sido distinguido com o Nobel da Paz e, depois da independência, também
recebeu o primeiro embaixador de Timor-Leste para os EUA, Constâncio Pinto.
A proposta de lei apresentada por
António Cabral nos finais dos anos 1990 defendia sanções a entidades que
investissem em negócios relacionados com a Indonésia, no final do período
conhecido como Ocupação Indonésia em Timor-Leste.
"Apresentei uma proposta de
lei aqui em Massachusetts para que companhias e o próprio sistema de reformas
do Estado não investissem em companhias que estivessem a lidar com a
Indonésia", recordou o deputado.
"Essa proposta criou imensa
controvérsia em certos setores económicos", continuou António Cabral,
dizendo que os efeitos podiam sentir-se na Indonésia e outros países com
interesses económicos na ilha asiática, através das grandes companhias
americanas.
O político recordou que a medida
começou por criar pressão a nível dos congressistas que representavam
Massachusetts no Senado norte-americano em Washington, difundiu-se por
senadores de vários Estados e chegou à Casa Branca, na administração de Bill
Clinton.
"Nós criámos esse movimento,
foi devido a essa proposta que apresentámos aqui em Massachusetts que
eventualmente se começou a criar um movimento nacional nos Estados Unidos, por
outros estados", contou António Cabral à Lusa.
"Os nossos representantes no
Congresso em Washington e a Casa Branca sentiram a pressão da opinião publica
que criámos aqui e intervieram", resumiu.
José Ramos-Horta recebeu o Prémio
Nobel da Paz em dezembro de 1996, juntamente com o bispo Carlos Filipe Ximenes
Belo e, convidado pelo deputado António Cabral, "veio testemunhar perante
a Assembleia em Massachusetts a importância dessa proposta-lei" para
Timor-Leste.
"O Dr. Ramos-Horta esteve cá
várias vezes nesse sentido, a trabalhar para que houvesse apoio", recordou
António Cabral, mostrando uma fotografia emoldurada, em que está numa mesa de
trabalho ao lado do ativista e político timorense.
António Cabral visitou o
"novo país" em 2004 e 2017, no 15.º aniversário da independência,
quando também recebeu a Medalha da Ordem de Timor-Leste pelas mãos do antigo
primeiro-ministro Rui Maria de Araújo.
"Ainda há muito por fazer,
mas comparado com a primeira vez que estive lá, o progresso é palpável, pode-se
ver e pode-se sentir", contou Cabral.
O açoriano considera que o país
asiático deve continuar no caminho do progresso e apostar em criar
oportunidades para os jovens, que constituem grande parte da população.
O deputado de Massachusetts
acredita que "a liderança do país, as várias autoridades e
individualidades estão a trabalhar de uma maneira importante para fazer com que
as oportunidades sejam maiores para o povo timorense".
"Estou confiante que se eles
continuarem no caminho em que estão, eventualmente vai ser um país com imensas
oportunidades para a sua juventude, porque é um país novo em termos de
população", disse António Cabral.
EYL // VM | Foto em Açoriano Oriental
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