sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Angola | Casos de tentativa de suicídios envolvem muitas crianças


Cerca de dez casos de tentativas de suicídios são registados mensalmente, no Hospital Psiquiátrico de Luanda, envolvendo adultos e crianças menores de 10 anos, deu a conhecer ao Jornal de Angola, o psicólogo clínico e psicanalista, Adriano Faustino.

Para o especialista, muitos desses casos, em crianças e jovens, tem a ver com problemas psicológicos, sociais e biológicos, em que muitos menores dão entrada naquela unidade sanitária com graves golpes de auto mutilação nos pulsos e outras tentativas de suicídio.

Adriano Faustino explicou que a perca do poder de compra por parte de muitas famílias, falta de emprego, particularmente para os jovens formados, o insucesso nos projectos pessoais e a educação declinada, podem de forma expressiva contribuir para a tentativa de suicídio na camada adulta. 

Nas crianças, ressaltou o psicólogo clínico, as tentativas de suicídio podem ter como base o mau aproveitamento escolar, com reprovações repetidas e ciúmes no seio familiar, aliado a problemas conjugais entre os progenitores.

Nalguns casos, a má preparação dos pais, que os leva a fazerem comparações entre os filhos, com a agravante de os rotular, pode causar uma certa regressão a estes, principalmente quando são agredidos devido a certos comportamentos como chorar em vão, urinar na cama, isso aumenta a frustração, crescem com ódio e podem suicidar-se.

"Todo o ser humano, quando mais de 50 por cento dos seus planos não dão certo, fica doente, com o stress, depressão, ansiedade e fobias", revelou o especialista, sublinhando que quando a depressão atinge a exaustão, o indivíduo perde a necessidade de viver, assim como o amor próprio.

Adriano Faustino revelou que quando começam a surgir as doenças de foro psicológico, a primeira coisa que acontece num indivíduo, seja adulto ou criança é a perca do amor próprio e pelo próximo, tendo recomendado às famílias a estarem mais atentas, controlarem os sinais e os sintomas.

Explicou que, normalmente, antes do suicídio a vítima mostra sinais, que os especialistas e famílias podem decifrar, caso se preste atenção, já que o indivíduo coloca-se num isolamento social, não rende no trabalho ou escola, desconfia de todos, rejeita ambientes que ante era do seu interesse e passa a ter depressão constante.

"Ao notarmos isso num indivíduo, é sinal de que algo não está bem e às vezes, pronuncia palavras que nos chamam atenção, como, por exemplo: 'não tenho valor nesta casa, vale a pena desaparecer' e como as famílias não estão preparadas, não se apercebem", disse Adriano Faustino. 

Por este facto, aconselhou as famílias para a cultura de fazerem exames de rotina psiquiátrico, porque em seu entender, "quando a cabeça não regula, o corpo que é quem paga".

"Os pais devem ter sempre o cuidado de reparar os pulsos das crianças, porque muitas usam lâminas para cortes do próprio corpo". A título de exemplo, disse que tem recebido de algumas escolas, chamadas para intervenção junto de alunos que usam os WC para a prática de tentativa de suicídios.

Adriano Faustino e outros especialistas do ramo criaram um grupo de trabalho, denominado "Psicólogos em acção", para o atendimento psicológico nas escolas, tendo chamado a atenção para o envolvimento da família para uma terapia em grupo, com vista a ditar o tempo de tratamento e ajudar a estancar a intenção de suicídio de menores. 

"Há casos que podem ser estancados num período de um ou dois meses, havendo outros que levam mais tempo", explicou o psicanalista, para quem há factores pré disponentes que levam o indivíduo a consumar o acto, por viver ou trabalhar com alguém que é motivo para o seu suicídio.

O médico falou da possibilidade de alguém amar sem saber da sua verdadeira identidade, como a base fundamental de todos os transtornos neuróticos, principalmente quando há um conflito entre os pais, levando o indivíduo a sentir-se melhor na ausência destes.

"Quando encara essa pessoa, o seu batimento cardíaco e comportamento alteram e quando não é controlado, acontece o que menos se espera: o suicídio", alertou o médico psicanalista do Hospital Psiquiátrico de Luanda.

Manuela Gomes | Jornal de Angola | Fotografia: Maria Augusta | Edições Novembro

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