“O camaleão vai atrás da
borboleta, permanece camuflado por muito tempo, para depois avançar lenta e
gentilmente: primeiro coloca uma perna, depois outra. Por fim, quando menos se
espera, ele lança o dardo de sua língua e a borboleta desaparece – a Inglaterra
é o camaleão e eu sou a borboleta” – Rei Lobengula – http://pagina--um.blogspot.com/2010/10/globalizacao-o-camaleao-voraz-que.html
Martinho Júnior, Luanda
Em Angola está-se perante uma
contabilidade arrasadora e aparentemente indecifrável:
Dos 6.902 fogos registados em
Angola não podemos quantificar quantos deles têm origem em fornos de carvão, se
foram produzidos em queimadas rurais controladas, ou se são incêndios
florestais!...
Por outro lado é alarmante se
compararmos o quadro angolano ao quadro da RDC: a RDC tem o dobro da área de
Angola, mais do dobro da população e só teve no mesmo período 3.395 fogos, ou
seja, menos de metade dos fogos registados em Angola!... (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/08/incendios-florestais-angola-ultrapassa.html).
De 20 a 27 de Agosto, o número de
incêndios em Angola foi ainda mais alarmante (https://firms.modaps.eosdis.nasa.gov/map/#z:2;c:11.8,7.1;t:adv-points;d:2019-08-26..2019-08-27;l:firms_viirs,firms_modis_a,firms_modis_t):
… “Por su parte, el portal Global Forest Watch Fires arroja cifras que confirman
la superioridad numérica de los incendios registrados en el continente
africano.
Entre el 20 y el 27 de
agosto, el número de alertas de incendios registrado solamente en Angola –más de 130.000– supera a la suma de
los contabilizados en Brasil, Bolivia y Paraguay, que no llegan a 126.000”… (https://actualidad.rt.com/actualidad/325356-segundo-pulmon-planeta-arde-africa-subsahariana?fbclid=IwAR273nlBfKsVFxm5ldyEjwpGsJDsw32_I7K8yy3JhFqxkwL_Qp_QwqL94h0).
(…)
… “El Gobierno de Angola
emitió por su parte un comunicado en el que pedía prudencia a la hora
de comparar los incendios registrados en las diferentes latitudes
continentales, porque es probable que sus causas sean diferentes.
Los incendios provocados en la
zona señalada de África suelen tener carácter estacional, y se considera que en
su mayoría están relacionados con una técnica agrícola denominada
'desbroce y quema', consistente en cortar parte de la vegetación
y prender fuego al resto para limpiar la tierra y plantar nuevas
semillas.
Los ecologistas cuestionan en
cualquier caso la idoneidad de esta técnica, y advierten que puede favorecer
la deforestación, la erosión de la tierra y la pérdida de la
biodiversidad.
Mientras tanto, los
agricultores y granjeros locales que recurren a ella defienden su práctica
argumentando que es el método más barato para limpiar la tierra y eliminar
a los parásitos, y destacan que las cenizas actúan posteriormente como
nutrientes en las siguientes plantaciones. Además, se estima que, como
cada año, estos incendios desaparezcan con la llegada de las lluvias.”
Uma das inevitáveis conclusões a
que esses números nos conduzem:
O estado angolano está a dar
muito mais atenção aos projectos elitistas sobre a natureza do que à educação
de si próprio e das comunidades rurais angolanas face aos desafios das
alterações climático-ambientais em curso, que apresentam sinais alarmantes mais
que evidentes em toda a faixa sul do país e em direcção à fulcral REGIÃO
CENTRAL DAS GRANDES NASCENTES!
Em relação à crítica REGIÃO
CENTRAL DAS GRANDES NASCENTES, a situação continua a ser de alheamento quase
completo! (https://twitter.com/MartinhoJnior/status/1166953305551048704).
Lidar com o elitismo é uma
atracção que mobiliza obcecadamente a vontade de quem está no governo, quando a
vontade do governo deveria estar voltada para a educação e a mobilização de
todo o povo angolano, levando-o a práticas existenciais (culturais) que
correspondam às exigências de sustentabilidade em relação às questões
climático-ambientais e hidrográficas!
… E o elitismo montou arraiais a
coberto do inimaginável: recorre à figura de Nelson Mandela, a fim de
consolidar a sua posição e abordagem em relação às questões
climático-ambientais e hidrográficas, promovendo o seu ecoturismo e tirando
partido dum histórico e também já longo processo de manipulação,
substancialmente emitido, por razões mineiras, a partir do Botswana! (https://www.globalresearch.ca/the-medias-hypocritical-oath-mandela-and-economic-apartheid/5361399).
Quando Nelson Mandela foi
libertado, o capitalismo neoliberal que havia provocado a implosão do
socialismo e da URSS, havia-se tornado tão dominante que gerou fundamentos que
passaram a alicerçar o império da hegemonia unipolar e seu nodo operacional de
domínio... (http://nairasource.com/index.php?topic=542.0;wap2).
O próprio "apartheid" só
desapareceu por que, com as novas tecnologias e essas transformações globais,
era possível que a economia e as finanças fossem instrumentalizadas de forma a
garantir outra via para esse domínio (uma via que dispensava a
institucionalização do"apartheid"), uma via que na África do Sul
emparceirou interesses do capitalismo que apoiou o "apartheid" com
interesses financeiros transnacionais externos, entre eles os que se conjugavam
no Clube Bilderberg, também de má memória para Angola!... (http://m.jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/o_mandante_dos_crimes_contra_angolanos_honrados_esta_identificado).
A essa via interessava a “representatividade
democrática” valorizada pelas oligarquias e pelas elites, sob o rótulo de
1 homem = 1 voto, inibindo participação e protagonismo popular, à imagem e
semelhança aliás do difusor da “armadilha”!... (https://pcb.org.br/portal2/11700/as-armadilhas-da-representatividade/).
Por tabela com esse artifício, os
expedientes dominantes deram assim oportunidade à formação de outras elites
económicas e financeiras para além das elites brancas, capazes de democracia
representativa, algo que alterou profundamente o ANC: o "apartheid" de
facto transferiu-se da esfera política-institucional, para a esfera económica e
financeira, com Nelson Mandela a gerir desde logo todo esse contencioso em nome
da paz do arco-íris, por que senão, justificava, corria-se o risco duma
sangrenta "guerra civil"... (https://www.rhodeshouse.ox.ac.uk/).
… Constate-se este testemunho de
John Pilger: “nas eleições democráticas de 1994, terminou o apartheid
racista e o apartheid económico conheceu um novo rosto.
Durante a década de 80, o regime
de Botha ofereceu generosos empréstimos a empresários negros, permitindo-lhes
fundar empresas fora dos bantustões.
Surgiu rapidamente uma nova
burguesia negra, juntamente com um compadrio excessivo.
Os chefões do ANC mudaram-se para
mansões em propriedades de golfe e campo.
Enquanto as disparidades entre
brancos e negros diminuíam, aumentavam entre negros e negros.” (http://www.odiario.info/?p=2949).
O meu amigo e camarada Rui
Peralta explica com propriedade:
… “Inimigos jurados da libertação
dos povos, aliados firmes do iníquo regime do apartheid, gente que tem no seu
currículo não só a identificação de Mandela como “terrorista” mas que
teve intervenção directa na sua prisão e nos seus longos anos de cativeiro,
todos apareceram a homenageá-lo quando do seu falecimento. Tanto Mandela como o
presente e o futuro do povo da África do Sul exigem, não hipocrisia e mentira,
mas reflexão séria sobre o caminho percorrido e sobre as muitas esperanças até
agora frustradas”…
… “Da Revolução Democrática
(preconizada no programa do ANC e na Carta das Liberdades) restou a Democracia
Politica e a separação de poderes (o que apesar de limitativo é um espaço
importante de actuação da soberania popular). Da Democracia Económica, Social e
Cultural é que nem sombras, apenas o reflexo multicolorido (como um arco-íris)
do imenso casino que a “liberalização” ergueu, não sob as ruinas do
apartheid (que não ruiu) mas sim sob a pele tratada com os cosméticos aplicados”.
(https://www.odiario.info/mandela-da-revolucao-democratica-a-contra-revolucao-liberal/?fbclid=IwAR38sROpruZPYoowiYodUYyVovCxL8khEdxY00cUopQLam-ette0f1Q-p7c).
As cedências foram enormes e é um
homem dos serviços de inteligência do ANC, que reconheceu mais tarde que essas
cedências, ao serem por demais, inibiram a capacidade negociadora do ANC, que
poderia ter tido outro vigor: Ronnie Karsrills... (https://gara.naiz.eus/paperezkoa/20130706/411802/es/Sudafrica-pacto-faustico-ANC-fue-costa-mas-pobres).
É evidente que essa linha agora
na África Austral transpõe as fronteiras e um dos artifícios que pôs em vigor é
a iniciativa dos “Peace Parks Foundation”, emparceirada a iniciativas de
transnacionais do sector, já com Nelson Mandela absorvido e o Botswana mineio
em funções! (https://www.peaceparks.org/nelson-mandela-founding-patron-of-peace-parks-foundation/).
O cartel dos diamantes e
"lobby" dos minerais, que se haviam implicado historicamente também
no "apartheid", fluíram nesse processo de transformação e o
espelho em que se tornou o Botswana é por demais evidente:
É por via desses interesses que
se instalou o extractivismo dos diamantes e se instalou o ecoturismo, que por
tabela projectou os “Transfrontier Peace Parks” para o Zambeze e o
Okawango, revigorando a trilha de Cecil John Rhodes que esteve na origem da De
Beers e da Anglo American! (http://www.rhodeshouse.ox.ac.uk/the-mandela-rhodes-foundation).
... É isso que já é dominante em
90.000 km2 de Angola no sudeste, é isso que se torna dominante na esfera do
ambiente em Angola e é isso que leva o estado angolano a não dar atenção à
região central das grandes nascentes nos termos duma geoestratégia para um
desenvolvimento sustentável, ou seja: Nelson Mandela afinal contribuiu também
para isso! (http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/parques-nacionais-sao-geridos-por-americanos-e-sul-africanos).
Absorvido nos projectos
elitistas, o estado angolano está longe de desencadear esforços abrangentes de
educação de si próprio e do seu povo para tornar possível essa geoestratégia
que coloca o controlo, a protecção e a gestão da água interior no lugar fulcral
das políticas de desenvolvimento sustentável!...
É este o momento para se
equacionar toda a questão, o momento em que ARDE ANGOLA, por que são os 6.902
fogos que a NASA detectou que nos impelem para tal!
“Distraídos” (?) com as
linhas elitistas que surgem de fora, absorvidos por elas, os angolanos não
estão a educar o seu estado na trilha da lógica com sentido de vida e numa
geoestratégia de desenvolvimento sustentável, muito menos a educar-se, a educar
o povo angolano actor desses fogos denunciados pela NASA e perante tanto que há
para o mobilizar em relação ao seu próprio futuro, saindo da barbárie da guerra
para a civilização intrincada na paz com justiça social, a paz não elitista,
por que se fundamenta na questão básica de mobilizar por via duma abrangente
educação!...
Vamos educar o povo angolano, ou
ser arrastados por um elitismo neoliberal e transfronteiriço que nos afasta do
quanto há a resgatar em benefício do futuro colectivo, educado e civilizado do
povo angolano?
Não há resgate de conhecimento
enquanto não se aplicarem esforços abrangentes e mobilizadores nesse sentido na
matriz da água interior de Angola com vista à tal geoestratégia de
desenvolvimento sustentável imprescindível para as futuras gerações de
angolanos! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/geoestrategia-para-um-desenvolvimento.html).
Os estados, as nações e os povos
da África Austral estão numa encruzilhada, inclusive face às agressivas
transformações climático-ambientais globais em curso!...
Será que o elitismo cobre a
educação abrangente e mobilizadora necessária para corresponder a esse desafio,
superando resgate após resgate em benefício da vida, esses estados, essas
nações e esses povos?
No momento em que a seca, com
todo o seu cortejo de misérias, afecta todo o sul de Angola, que os desertos do
Kalahári e Namibe avançam para norte, que se assiste à exploração pouco ou nada
controlada de madeiras, que algumas fontes de menor caudal começam a
desaparecer, que queimadas de várias origens proliferam, que as alterações
climático-ambientais estão na ordem do dia, que os rios permanecem pouco
conhecidos (e muito menos geridos), o estado angolano alienado pelos interesses
e as conveniências dm elitista “Peace Parks Foundation” e de seus
interpares, está à mercê das portas escancaradas da terapia neoliberal,
esquecendo-se até que hipotecar qualquer parcela de território nacional abre
precedentes que vão animar tendências desagregadoras como a do Movimento do
Protectorado Lunda-Tchokwe!
ANGOLA A RETALHOS, parece ser um
anátema que surge nos próximos horizontes!
Está-se perante um estado que nem
sequer cumpre minimamente com o seu papel de autoeducação e da educação e
mobilização de todo o povo angolano, a fim de melhor responder aos prementes
desafios resultantes das alterações climático-ambientais!
Afinal, quais são as razões
profundas que provocam a evidente situação?
ARDE ANGOLA!...
Martinho Júnior -- Luanda, 1 de Setembro de 2019
Imagens:
.01- Turismo sem fronteiras é,
segundo O KAZA-TFCA, a justificação visível para se alienar a favor duma gestão
de terceiros intimamente associados ao “lobby” dos minerais e ao
cartel dos diamantes, 90.000 km2 de território nacional; o camaleão conseguiu
em pleno século XXI engolir duma assentada 5 borboletas; quantas kimberlites
irão surgir daí na área da antiga prospecção da De Beers no Cuito Cuanavale?...
o tempo dirá o que ainda vai ocorrer em nome da paz e na velha trilha do Cabo
ao Cairo de Cecil John Rhodes– https://www.kavangozambezi.org/index.php/en/;
.02- BLAIR, MANDELA AND CLINTON
ATTEND GALA IN LONDON – By Chris Young / REUTERS – Britain's Prime
Minister Tony Blair (L), the former South AfricanPresident Nelson Mandela (C)
and former U.S. President Bill Clinton stand together during a gala night at Westminster
in London, July 2,2003. The three men attended the Gala on Wednesday to mark
thecentenary of the Rhodes Trust and the establishment of the MandelaRhodes
Foundation. REUTERS/Chris Young/POOLMD/CRB –https://stock.adobe.com/ee/editorial/blair-mandela-and-clinton-attend-gala-in-london/148442866;
.03- O Movimento do Protectorado
Lunda-Tchokwe espera a sua oportunidade tirando partido da terapia do
capitalismo neoliberal em curso, uma oportunidade que já esteve mais longe,
haja um elitismo “patrocinador” que o leve a sério (expediente que
nunca faltou ao cartel dos diamantes); mais uma borboleta à espera do camaleão
– https://protectoradodalunda.blogspot.com/
.04- Nelson Mandela in
London in 1999 meeting with Julian Ogilvy Thompson, Harry Oppenheimer and Nicky
Oppenheimer of De Beers – https://africasacountry.com/2018/01/the-new-south-africas-original-state-capture;
.05- Botswana
Kimberlite Mines and Fields.png – https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Botswana_Kimberlite_Mines_and_Fields.png
Anteriores:
. ARDE ANGOLA - I - https://paginaglobal.blogspot.com/2019/08/arde-angola-i-martinho-junior.html
.ARDE ANGOLA - II - https://paginaglobal.blogspot.com/2019/08/arde-angola-ii-martinho-junior.html
Há dez anos, assinado pelo
Martinho Júnior, publicou-se assim no Página Um:
A TERCEIRA FORNADA DA “PEACE
PARKS FOUNDATION”
Muito recentemente o “Okawango
and Upper Zambezi International Tourism Initiative” foi reunir os seus
componentes bem longe da região“alvo”, precisamente em Cabinda, com vista a
possibilitar o início da terceira fornada das iniciativas subordinadas aos conceitos
no âmbito da“Peace Parks Foundation”, jogando Angola o seu papel de “catapulta
do mercado”, tal como antes o Botswana. (1)
Essa reunião reafirma a vontade
do governo de Angola em aderir aos conceitos da “Peace Park Foundation” tendo
em conta não só o que se passa nas suas fronteiras sul e leste, mas também nas
suas fronteiras norte, ou seja, em reforçar as filosofias elitistas que estão
na origem dos conceitos dos Parques Transfronteiriços que preencherão as “áreas
sem governação” de tão triste memória e experiência para África e muito
particularmente para Angola, RDC e Grandes Lagos.
De facto, Angola foi vítima dos
enredos das “áreas sem governação” que para efeitos de
desestabilização foram sendo utilizadas como os sucessivos santuários de Savimbi
(primeiro no sudeste, em pleno Cuando Cubango, com suporte no regime do “apartheid”,
depois a norte, pela via do Cuango e ligando este rio ao sistema do Cuanza, bem
no centro do país, com suporte no regime de Mobutu) e as linhas de penetração e
acção da FLEC, em direcção de Cabinda.
O que é (aparentemente) paradoxal
é o facto daqueles que estiveram directa ou indirectamente envolvidos na
promoção de conflitos e guerras em África, em evidência particularmente no
último ciclo de guerras que consubstanciaram a “Iª Guerra Mundial Africana”,
serem muitos dos mesmos que promovem agora a “paz” com todas as
manipulações próprias de quem está habituado, seguindo a trilha da super
estrutura capitalista, a dominar duma forma ou de outra nas regiões africanas
periféricas “sem governação”.
Essa é uma parte da filosofia
dos “jogos africanos”, parafraseando o esclarecimento em livro de Jaime
Nogueira Pinto.
Transpor os conceitos da “Peace
Parks Foundation” para a terceira fornada de acções no espaço a norte do
SADC, tirando partido do que está a ser consolidado no seu centro, é um papel
geoestratégico assumido desde já pelo “mercantilismo” cada vez mais
evidente de Angola, o que motiva desde logo as novas elites, que detêm uma das
chaves de acesso político e geo estratégico à RDC / Grandes Lagos e como
encargo inicial os processos de integração em curso em Cabinda.
A 24 de Julho do corrente ano, o
Primeiro-Ministro Angolano, Paulo Kassoma, recebeu a Ministra do Turismo e
Ambiente da Namíbia, coordenadora do “Okawango and Upper Zambezi
International Tourism Initiative”, pois além das acções iniciais de Angola,
prepara-se a assinatura do Tratado previsto para Junho de 2010, assim como se
está a dar o “pontapé de saída” para um “Parque
Transfronteiriço”abrangendo o Maiombe (Cabinda, Congo e RDC), o embrião para a
terceira fornada, com uma componente (o Congo), que não pertence à SADC. (2)
Nos dias 22 e 23 de Julho, os
representantes dos cinco países do “OUZTI” reunidos em Cabinda,
avaliaram também o que se espera àquela latitude, emprestando o seu conhecimento
aos angolanos.
O então Governador de Cabinda,
Aníbal Rocha, sublinhou que “O turismo propicia paz, garante emprego e é
uma fonte geradora de rendimentos, por isso, queremos desenvolver o sector
turístico da nossa província”, pondo em evidência a riqueza da floresta
internacional do Maiombe e a “abertura desse mercado” para aqueles
que têm tempo e posses para dele desfrutarem… (3)
Essa afirmação vinda dum homem
prestigiado pela sua actividade em Cabinda, é demonstrativa dos conceitos que
os dirigentes angolanos fazem das “indústrias de paz”, conceitos com
origem nas elites anglo-saxónicas, tão longínquos dos conceitos cubano – latino
americanos que têm expressão maior na ALBA!
No dia 22, como corolário, foi
assinado um acordo entre os Ministros do Turismo de Angola e da Namíbia, com
vista à preparação dos Parques Transfronteiriços na sua fronteira comum,
impondo em regime de reciprocidade um cronograma de acções.
Segundo a ANGOP, “o acordo
tem como objectivo estabelecer bases jurídicas para o desenvolvimento da
cooperação institucional e empresarial entre as partes neste domínio.
O mesmo incluirá a cooperação
mútua, procedimentos migratórios, mercado misto, defesa e segurança dos
turistas, formação profissional, desenvolvimento turístico da travessia
fronteiriça, harmonização da classificação e padronização, assim como o
intercâmbio de informações”. (4)
intercâmbio de informações”. (4)
A abertura em direcção à terceira
fornada dos planos dos “Peace Parks Foundation” a norte do espaço
geográfico da SADC, apanha as novas elites de Angola no seguinte estágio:
- Uma enorme sensibilidade para
iniciativas próprias dos “mercados” neoliberais (com parceiros que,
por exemplo, não respeitaram o passado histórico do movimento de libertação),
carentes muitas vezes de fundamentos para além do “entusiasmo” de
quem tem um poder que pouco ou nada tem a ver com os conceitos de democracia
e “abertos” até aos expedientes típicos do neocolonialismo agrário.
- Na razão inversa, uma retracção
em relação aos conceitos da “indústrias de paz” de vocação
socialista, conforme o que acontece com a ALBA no outro lado do Atlântico e
isso apesar do governo do MPLA se assumir no quadro dum (cada vez mais) vago
socialismo.
- Uma ausência de cultura
científica para o tratamento dos assuntos humanos e ambientais seguindo um
esforço técnico-científico à altura das conjunturas regionais (contrariando
necessariamente o modelo anglo-saxónico dominante), o que contrasta com os
procedimentos que estão agregados aos conceitos dos “Peace Parks
Foundation”, assim como ao empenho da USAID dentro ou fora do AFRICOM.
Isso obriga-me a levantar as
seguintes questões:
- Quem, na decisiva região dos
Grandes Lagos e RDC, está a orientar o esforço técnico-científico a fim de
dominar o conhecimento sobre o homem e o ambiente?
- Que objectivos detêm as
instituições implicadas nessa orientação a curto, médio e longo prazos?
- Que coeficiente de ingerência
existe nos dispositivos que marcam os procedimentos hegemónicos aplicados
especialmente à bacia do grande Congo e às pérolas ambientais que constituem os
Parques Nacionais da RDC e países dos Grandes Lagos?
- Estão ou não elas sincronizadas
com o alargamento da “Peace Parks Foundation” na direcção do norte,
rumo à terceira fornada do seu crescimento?
- Que paz afinal teremos na
África Central?
A resposta recai fundamentalmente
no binómio formado pelas iniciativas da USAID e do USAFRICOM e é evidente que
essas iniciativas não podem deixar de estar sincronizadas e sintonizadas com as
iniciativas da “Peace Parks Foundation”, desde logo aquelas que recaem no
esforço técnico-científico de características eminentemente anglo-saxónicas,
procurando garantir sua histórica hegemonia com implicações culturais,
científicas e sobretudo políticas, económicas e financeiras, a deliberada
fórmula para atrair as elites africanas à sua causa.
A USAID prevê objectivos para os
47 países da África Austral onde se reflecte a sua acção de “assistência”,
que pode dar azo a todo o tipo de ingerências e manipulações, reflectindo
interesses ligados à hegemonia que os Estados Unidos vêm exercendo, recorrendo
também aos mais diversificados campos científicos em suporte das acções. (5)
Como a USAID integra o USAFRICOM,
então o campo de manobra pode ser equacionado em ordem geométrica ao infinito.
(6)
A USAID possui na África sub
Sahariana 23 missões bilaterais e com a “Congo Basin Forest Partnership” multiplica
os impactos na região mais decisiva de África, incluindo nas pérolas
geo-ambientais que constituem os Parques Nacionais dos países da região e dos
Grandes Lagos, uma parte substancial deles transfronteiriços. (7)
Em relação ao primeiro grande
pulmão, a floresta Amazónica, os Estados Unidos possuem muito menos capacidade
de ingerência que em relação ao segundo, a decisiva bacia do grande Congo e
suas periferias ambientais únicas à escala global, particularmente aquelas que
se inscrevem nos Grandes Lagos.
Ao assumir um papel preponderante
em relação à bacia do grande Congo, a USAID tem oportunidade de canalizar
esforços científicos e operativos em direcção a países como os Camarões, o
Gabão, o Congo e a RDC, cuja cobertura florestal e culturas humanas muito têm a
ver com ela, intervindo desde as explorações madeireiras, até aos Parques
Nacionais, como em relação ao fenómeno humano em que se constituem povos como
os pigmeus (à semelhança do que acontece com os khoisan no sudeste angolano,
Namíbia, Botswana e África do Sul, no âmbito dos “Peace Parks Foundation”).
Isso é tanto mais crítico quanto
a maior parte da actividade rebelde que se espraia a partir das
periferias “sem governação” onde se encontram as principais pérolas
ambientais, se interliga tanto aos interesses das multinacionais mineiras
quanto aos interesses das grandes potências (entre elas e no primeiro plano os
Estados Unidos) e tem sido uma prática constante de conspiração ao longo das
últimas décadas, tal como aconteceu na Gorongosa com a RENAMO (Moçambique) e no
sudeste angolano com a UNITA quando ao entidade impulsora era o“apartheid”. (8)
Na RDC a bacia do grande Congo
cobre Parques Nacionais como o Salonga Norte e Sul, inscrito nas províncias de
Bandundu, Equateur e Kasai Occidental, que também consta da lista do património
mundial da UNESCO (o único da RDC que foi considerado fora de risco das
guerras), a maior reserva de floresta tropical pluvial, onde vivem espécies
raras como o chimpanzé anão (bonobo), o pavão do Congo, o elefante da floresta
e o gavião africano.
Mas a influência do grande Congo
atinge parques periféricos transfronteiriços como o de Garamba (junto à
fronteira do Sudão), ou o Virunga (junto à fronteira com o Uganda e o Ruanda),
esses sim, afectados pela guerra, pelo saque e pela instabilidade, décadas a
fio.
Não é por acaso que quase em
simultâneo ao domínio cada vez maior sobre a bacia do grande Congo e em relação
a Angola, são nomeados um novo Adido Militar Norte Americano (o Tenente Coronel
Roderic Jacson) (9) e um novo representante da USAID (Randall
Peterson) (10), factos que não estão dissociados à proposta duma base militar
dos Estados Unidos no Ambriz.
A “ousadia” da doutrina
Obama chegou ao ponto de enunciar uma nova filosofia de opções para Angola em
termos de segurança, conforme as declarações do Tenente Coronel I. Shannon
Beebe na Câmara de Comércio Estados Unidos – Angola, que coloca as questões
nestes termos,“abrindo” a “oportunidade” para as “parcerias
público – privadas” tão ao gosto elitista dos dirigentes angolanos (11):
“Porque não uma transição de uma
força militar para uma força de segurança onde por exemplo uma brigada está
especializada em água e saneamento que pode mesmo colaborar com o nosso corpo
de engenheiros? Porque não pensarmos numa brigada de agricultura?"
No Uganda, desde Yoweri Museveni
até Joseph Koni, os Parques Nacionais transfronteiriços têm-se, pelo menos
esporadicamente, tornado santuários que garantem a retaguarda e o refúgio dos
guerrilheiros, pondo em causa ambiente, fauna e flora em áreas que deveriam
merecer medidas de protecção excepcionais.
Foi assim com o “Kidepo
Valey National Park”, junto à fronteira com o Sudão, onde a guerrilha de Yoweri
Museveni teve guarida e esporadicamente tem sido assim com o “Rwenzori
Mountains National Park” e com o “Bwindi Impenetrable National Park”,
ambos junto à fronteira com a RDC. (12)
Na RDC, desde Joseph Koni a
Laurent N’Kunda que os rebeldes, muitos deles garantes da exploração de
minérios apetecíveis, fazem prevalecer os mesmos critérios.
O líder do “Lord’s
Resistance Army” por exemplo, não se tem coibido de utilizar o Parque
Nacional Garamba, na fronteira nordeste da RDC com o Sudão, considerado
património mundial da UNESCO e onde se encontram os rinocerontes brancos do
norte, dos quais existem apenas vinte exemplares. (13)
Laurent N’Kunda, por exemplo, não
hesitou em utilizar o Parque Nacional Virunga (RDC), fronteiro ao Parque
Nacional dos Vulcões (Ruanda), outros dois patrimónios da UNESCO, a fim de
organizar a sua guerrilha, pondo em risco espécies tão raras como os gorilas da
montanha, dos quais existirão hoje menos de mil exemplares. (11)
A terceira fornada da “Peace
Parks Foundation” sincronizará os seus esforços com quem dominar a RDC e
os Grandes Lagos, um processo que em muitos aspectos pende a favor dos esforços
do USAFRICOM / USAID, com iniciativas de tal modo marcantes na bacia do grande
Congo (como em todas as áreas periféricas que se estendem até aos Grandes
Lagos) que não possuem qualquer tipo de concorrência relevante.
Era tempo da SADC ir buscar à
América Latina outras correntes filosófico – científicas que ao não seguirem o
processo histórico do elitismo anglo – saxónico, fossem capazes de estabelecer
outros nexos de observação e de aproximação em relação às comunidades humanas e
ao ambiente dessas cruciais regiões, a exemplo do que acontece aliás no outro
lado do Atlântico.
As novas elites que têm sido
instaladas na SADC corroboram e tornam-se parceiras dos interesses que
corporizam os Estados Unidos, os seus aliados e as multinacionais afins,
particularmente as mineiras e no fundo quase nada se está a fazer para que um
processo dessa natureza não traga uma avalanche de desequilíbrios, de
desigualdades e de mais traumas para o homem e para o ambiente.
Como as subdesenvolvidas
comunidades da África Central, muitas delas envolvidas no obscurantismo, na
barbárie de sangue e do saque, reagirão às iniciativas dum turismo ambiental
vocacionado para o mercado neo liberal ao serviço dos ricos?
Que desgraças adicionais não
surgirão nos próximos horizontes duma paz tão artificiosa e manipulada?
Martinho Júnior -- 29 de Novembro de 2009
Notas:
- (1) –Ministros do turismo em
Cabinda para reunião ministerial – Governo da província de Cabinda – http://www.gpcabinda.com/noticias.cfm?id=1300
- (2) – Primeiro-ministro
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- (3) – Governo de Cabinda quer
transformar província num pólo turístico – ANGOP – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/turismo/2009/6/30/Governo-Cabinda-quer-transformar-provincia-num-polo-turistico,463ccc04-3b21-460e-b484-56062f174026.html
- (4) – Angola assina acordo no
domínio do turismo com a Namíbia – ANGOP – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/economia/Angola-assina-acordo-dominio-Turismo-com-Namibia,a79cda14-9daf-4d86-9a45-14dd4ba2c140.html
- (5) – Sub-Saharan África –
USAID – http://www.usaid.gov/locations/sub-saharan_africa/ ; A
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Yates discusses lessons learned at US África Command – http://www.africom.mil/getArticle.asp?art=3009&lang= ;
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Virunga NP - Wildlife Conservation Society – http://programs.wcs.org/albertine/ProtectedAreas/VirungaNP/tabid/2518/Default.aspx ;
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The dividends of peace in a stunning landscape – International Gorilla
Conservation Programme – http://www.igcp.org/the-dividends-of-peace-in-a-stunning-landscape/
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