“O camaleão vai atrás da
borboleta, permanece camuflado por muito tempo, para depois avançar lenta e
gentilmente: primeiro coloca uma perna, depois outra. Por fim, quando menos se
espera, ele lança o dardo de sua língua e a borboleta desaparece – a Inglaterra
é o camaleão e eu sou a borboleta” – Rei Lobengula – http://pagina--um.blogspot.com/2010/10/globalizacao-o-camaleao-voraz-que.html
Martinho Júnior, Luanda
… Seguir os passos de Nelson
Mandela ao comprometer-se com elites que em relação à natureza tapam por via de
suas próprias implicações o seu papel no Grupo Bilderberg e no “apartheid”,
(https://www.greatlimpopo.org/2015/07/remembering-nelson-mandela-founding-patron-of-peace-parks-foundation/)
é uma forma ingénua e avulsa de “meter a raposa no galinheiro” e
engordá-la com as suas próprias opções de caça em “jogos africanos”…( https://paginaglobal.blogspot.com/2013/12/que-eternidade-para-mandela-i.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2013/12/que-eternidade-para-mandela-ii.html).
Por que razão na celebração do
100º aniversário natalício de Nelson Mandela se foi buscar Obama, que tanto tem
a ver com a disseminação do caos em África ao destroçar a Líbia e não se foi
buscar o Comandante Raul de Castro, que tanto tem a ver com a libertação do
continente do colonialismo e do “apartheid”?… (https://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2018/07/29/que-eternidade-para-nelson-mandela/).
De facto esse é um dos poderosos
artifícios elitistas conseguidos por via da globalização capitalista neoliberal
(https://gara.naiz.eus/paperezkoa/20130706/411802/es/Sudafrica-pacto-faustico-ANC-fue-costa-mas-pobres),
pois assim se inibe a vocação de Angola para, numa lógica com sentido de vida,
se despertar para uma geoestratégia de desenvolvimento sustentável tendo como
força o conhecimento e o estudo da fulcral região central das grandes nascentes
e, com isso alcançar-se o patamar de gestação duma cultura de inteligência
patriótica imprescindível em relação ao futuro da própria identidade nacional! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2014/08/desbravando-logica-com-sentido-de-vida-i.html).
África merece um longo processo
de educação dos seus povos e isso não se resolve com e apenas a cumplicidade de
elites cujas opções foram sempre de exclusão e nunca de integração! (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/08/pequena-reflexao-sobre-guerra-e-paz.html).
Tenho vindo a levantar sempre com
sentido de oportunidade a ténue fronteira do que é civilização e do que é
barbárie, particularmente quando os fenómenos em observação se tornam
abrangentes, a ponto de só se poder compreendê-los quando é dado relevo a essa
abrangência e aos seus inerentes contraditórios.
De facto não basta haver esforço
de investigação e de busca de conhecimento científico pois há, com a
globalização capitalista neoliberal que se destaca no âmbito do império da
hegemonia unipolar, uma vocação “genética”, inerente ao domínio: o conhecimento
é reservado a elites com enorme capacidade financeira (e estimulado por elas),
excluindo todos os outros (a não ser os que respondem aos seus próprios
interesses e conveniências)!... (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/02/a-persistencia-da-barbarie.html).
Essa exclusão arbitrária e não
democrática tem além do mais excluído da cultura de inteligência e das práticas
inteligentes os actores no terreno, por que o elitismo tem sistematicamente
colocado fora de sua presunção e raio-de-acção a educação de massas que deve
desde logo ser uma prioritária preocupação mobilizadora e participativa de
todos, em benefício de todos! (https://www.survivalinternational.org/news/11537).
O elitismo privatiza o ecoturismo
a ponto neste caso de vir a poder gerir 90.000 km2 de território nacional
angolano que interessa às suas conveniências de paz e remete para o depauperado
estado angolano a responsabilidade de socialização dos processos massivos
educacionais em relação à premente necessidade de enfrentar os correntes
fenómenos climático-ambientais e hidrográficos, com a agravante de procurar a
todo o transe afastar a atenção da região central das grandes nascentes, fulcro
que pode vir a permitir o ponto de partida para uma geoestratégia para um
desenvolvimento sustentável a muito longo prazo! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/01/acordar-o-homem-angolano.html).
Constata-se em Angola nos nossos
dias a falta de educação das comunidades rurais para os prementes assuntos
inerentes às alterações climático-ambientais e para os cuidados que há a ter
com a preservação, controlo e gestão de fontes de água, tornando-se impossível
discernir o que são fogos florestais propriamente ditos, do que são as
queimadas de final de cacimbo, ou fornos de fabrico de carvão conforme aos
hábitos e costumes da antropologia cultural gerada nos termos duma economia de
autossubsistência, (https://twitter.com/joaomelo_ao/status/1166028571724394497)
numa altura em que se abatem indiscriminadamente florestas, desaparecem fontes,
avançam para norte os desertos do Kalahári e do Namibe e a seca alastra
provocando miséria, fome, deslocamento de comunidades e gado numa transumância
jamais experimentada em direcção à sobrevivência, ou à morte!... (http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/sociedade/2019/4/20/beira-crise-Cunene-luta-pela-sobrevivencia,73177dd9-69cc-4529-a478-8b784f1c108d.html).
Os números são alarmantes se
considerada a similitude antropológica, económica e social na RDC, com o dobro
do tamanho de Angola e com mais do dobro da população angolana: “de acordo
com a agência de notícias Bloomberg, que cita dados do satélite MODIS (Moderate
Resolution Imaging Spectroradiometer) lançado pela NASA - agência espacial
norte-americana - em 1999, Angola registou 6.902 fogos nas últimas 48
horas, mais do dobro dos 3.395 na República Democrática do Congo e mais do
triplo dos 2.127 fogos registados no Brasil”… (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/08/incendios-florestais-angola-ultrapassa.html).
…Tudo isso acontece quando o
cartel perde a possibilidade de explorar as minas de diamantes, do ouro, da
platina e dos diamantes na África do Sul, explora agora as jazidas
kimberlíticas do Botswana (https://www.ofitexto.com.br/comunitexto/economia-de-botsuana-brilha-apos-acordo-com-diamantes/)
e pretende ascender às kimberlites de Angola, a começar pelas kimberlites que
andou a estudar na área dilecta do Cuando Cubango, onde se desenrolou o flanco
leste da batalha do Cuito Cuanavale e onde foram criados os Parques Nacionais
angolanos do sudeste, que passaram a fazer parte do KAZA-TFCA (https://www.halotrust.org/)…
que se pretende entregar ao nível de 90.000 km2 a gestores estado-unidenses,
britânicos e sul-africanos de acordo com os processos elitistas que se
sucederam ao “apartheid”, que incluíram os olhos e a vocação de Nelson
Mandela nas suas opções! (https://compareguru.co.za/news/who-is-the-richest-person-in-south-africa).
Para que o rebuçado da terapia
neoliberal fosse ainda mais doce (http://www.swans.com/library/art14/barker07.html),
grande parte da desminagem foi feita por esse tipo de interesses que, enquanto
durou o “apartheid”, foi em muitos sectores e em muitas linhas de conexão,
sua cúmplice (https://observador.pt/2019/01/15/angola-desmina-polo-turistico-no-cuando-cubango-com-doacao-britanica-de-13-milhoes-de-dolares/),
conforme se pôde antes comprovar por exemplo com os conceitos elitistas e a
acção do “Le Cercle”!... (https://wikispooks.com/wiki/Charles_Alan_%27Pop%27_Fraser).
Pasto de tantos “jogos
africanos”, propositadamente evocando a exposição do homem do “Le Cercle”,
Jaime Nogueira Pinto (http://www.publico.pt/sociedade/noticia/as-vidas-de-altissimo-risco-dos-nogueira-pinto-1460418),
em última análise o facto de até Nelson Mandela ter sido “engolido” (https://www.dailymail.co.uk/news/article-1256425/Nelson-Mandelas-ex-wife-accuses-President-betraying-blacks-South-Africa.html)
concorre para que hoje, com toda a inocência dos formatados incautos, arda
Angola!
Ao arder Angola, há uma imensidão
de fenómenos a explicar, para um longo e saudável caminho iniciar a trilhar!
Martinho Júnior - Luanda, 25 de Agosto de 2019
Imagens:
01- The Rupert family are a
well-known family from Stellenbosch and comprise of Anton
(father), Huberte (mother), Hanneli (daughter), Johann,
and Antonij (sons). Anton (seen in the picture above with Nelson
Mandela), Huberte and Antonij Rupert are deceased and survived by Johann and
Hanneli; Johann Peter Rupert (seen above) is the eldest son and the chairman of
the Swiss-based luxury-goods company Richemont (best known for brands Cartier
and Montblanc) as well as of the South Africa-based tobacco manufacturer, Remgro.
From its early origins as a tobacco manufacturer in the late 40s, The Rembrandt
Group, more commonly known as Remgro, has evolved into an investment holding
company with a market capitalisation now in excess of R120 billion. The
group's interests include food, liquor, home care, banking, insurance,
healthcare, industrial, infrastructure, media, and sport. The range of holdings
within the Remgro portfolio provides investors with a diversified offering of
market-leading public and privately-owned businesses. Anton and Huberte were
considered philanthropists, supporting a number of projects for the
preservation of the arts and the environment. Anton was a founding member of
the WWF (World Wildlife Fund). – https://compareguru.co.za/news/who-is-the-richest-person-in-south-africa
02- Que eternidade para Mandela?, primeiropublicado no nº 371 do semanário Actual, em Luanda, a 15 de Novembro de 2003, voltou a ser levantada a questão a 8 e 9 de Dezembro de 2013, no Página Global Blogspot – https://paginaglobal.blogspot.com/2013/12/que-eternidade-para-mandela-i.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2013/12/que-eternidade-para-mandela-ii.html;
03- A princesa Diana esteve no
lançamento da “The Halo Trust” em Angola – desminar para preparar as
condições do ecoturismo elitista integrado no KAZA-TFCA catapultado a partir do
mais rico produtor mundial de diamantes da actualidade, o Botswana – https://www.tsf.pt/internacional/interior/angola-pede-ajuda-para-destruir-todas-as-minas-5605247.html; https://www.halotrust.org/;
04- Comunicado do Ministério do
Ambiente da República de Angola, que demonstra que falha na apreciação à
abrangência dos fenómenos em que se vai enredando Angola, à mercê da
terapia neoliberal – Página frontal – https://twitter.com/joaomelo_ao/status/1166028571724394497;
05- Comunicado do Ministério do
Ambiente da República de Angola, que demonstra que falha na apreciação à
abrangência dos fenómenos em que se vai enredando Angola, à mercê da
terapia neoliberal – Conclusão – https://twitter.com/joaomelo_ao/status/1166028571724394497.
******
CUITO CUANAVALE – A PAZ DA GRANDE
SOLIDÃO
Abordar Cuito Cuanavale, é também
fazer o levantamento físico-geográfico e ambiental duma das regiões envolta
numa das evocações mais remotamente românticas de Angola: “as terras do
fim do mundo”. (1)
Essa imensa região de ainda hoje
baixíssima densidade demográfica (um pouco mais de 3 habitantes por quilómetro
quadrado), que se circunscreve à Província angolana do Cuando Cubango, já foi
maior durante a implantação do sistema político-administrativo pelas
autoridades coloniais portuguesas, quando integrava o distrito do Bié e Cuando
Cubango, com uma extensão que se aproximava de um quinto da área total do país.
Tinha razão de ser, sob o ponto
de vista de conceito físico-geográfico, o distrito do Bié e Cuando Cubango,
muito embora fosse impraticável em função de sua enorme extensão com uma muito
rara ocupação humana:
Quer o rio Cuando, como o rio
Cubango, assim como alguns dos seus afluentes e subafluentes, nascem na região
central das grandes nascentes de Angola, um nó de nascentes de onde partem para
todos os pontos cardeais e colaterais rios que compõem ou integram várias
bacias hidrográficas importantes de toda a imensa região onde se inscreve
Angola.
Dirigida a partir do Bié, as
administrações que compunham o Cuando Cubango faziam por isso e com razão,
parte das “terras do fim do mundo”, até por que muito poucas pistas de
penetração haviam sido edificadas aí, tornando-se ainda mais raras à medida da
aproximação do canto sudeste em Luiana.
As estradas e o caminho de ferro
chegavam praticamente até a então Serpa Pinto (Menongue) e as derivativas eram
pistas muitas vezes de ocasião, perdidas nos horizontes sem limites e
despovoados do sudeste angolano.
Se o Cuando (com um curso
intermédio conhecido como Linyanti e um curso final conhecido por Chobe) é um
afluente do grande Zambeze, o Cubango, que na Namíbia e no Botswana é conhecido
por Okavango, é um rio único: ele acaba num imenso delta, esvaindo as suas
águas misteriosamente no tórrido deserto do Kalahári em pleno Botswana, impondo
contrastes únicos entre paisagens de água e de “fogo”. (2)
O Cuando, que possui 735 km de comprimento e uma
bacia com a área de 96.780 km2, no seu curso tem peripécias únicas: há 10.000
anos teria tido o mesmo destino do Okavango (com ele “desaguava” no
lago de Makgadikgadi), mas na região pantanosa onde hoje começa o
Linyanti deixou de haver fluxo na direcção do Okavango. (3)
Da região pantanosa, o Linyanti
segue até ao lago seco de Liambezi, onde ele desaparece, dando a leste
sequência ao Chobe, a água que desde o Liambezi escoa na direcção do grande
Zambeze.
Desse modo, o planalto do Bié
também é a matriz da água desses dois invulgarmente pitorescos e emblemáticos
rios, uma situação geoestratégica privilegiada em relação aos outros
componentes do que se pode considerar de “Okavango and Upper Zambezi
International Tourism Initiative”, envolvendo espaços na Zâmbia, no Zimbabwe,
na Namíbia (faixa do Caprivi) e na plataforma que constitui para as elites
dos “Peace Parks Foundation” o Botswana.
No centro da actual Província
angolana do Cuando Cubango, o imenso sudeste de Angola, está Cuito Cuanavale,
cuja área municipal é de 35.610 km2, com uma população estimada em 65.000
habitantes.
Cuito Cuanavale é assim, em
relação ao manancial de água que se evade de Angola, uma localidade reitora do
sistema angolano que antes, no tempo colonial, era constituído por duas “reservas
parciais”, quatro “coutadas públicas” e um parque natural regional assim
distribuídos: (4)
- Reserva parcial do Luiana
estabelecido como reserva parcial em 17 de Setembro de 1966 com a extensão de
8.400 km2;
- Reserva parcial de Mavinga
estabelecida como reserva parcial em 17 de Setembro de 1966 com uma extensão de
5.950 km2;
- Coutada pública do Mukusso
criada em 15 de Julho de 1959 com uma
extensão de 25.000 km2;
extensão de 25.000 km2;
- Coutada pública de Luiana
criada em 15 de Julho de 1959 com uma extensão de 13.950 km2;
- Coutada pública do Luengue
criada em 15 de Julho de 1959 com uma extensão de 16.700 km2;
- Coutada pública de Mavinga
criada em 06 de Julho de 1960 com uma extensão de 28.750 km2;
- Parque natural regional do
Cuelei com uma extensão de 4.500 km2.
Essas iniciativas ambientais
todas somadas possuíam a extensão soberba de 103.250 km2 com uma fauna
riquíssima formadas por rinocerontes, elefantes, palancas reais, gungas,
guelengues, pacaças, hipopótamos, leões, onças, mabecos, javalis, cágados, uma
enorme variedade de aves e de répteis!...
Os grandes antílopes e os
elefantes acompanham ciclicamente o regime das águas: durante a estação das
chuvas, quando há fartura de água, dirigem-se para sul, penetrando na Namíbia e
no Botswana, para durante a estação do cacimbo, quando há diminuição dos
caudais, procurarem lugares mais a norte, inteiramente dentro do Cuando
Cubango.
A guerra prolongada que ocorreu
no Cuando Cubango e os campos de minas que foram semeados, além de aniquilar
uma parte dos animais, levou a que os sul-africanos retivessem a maior parte
das espécies no Botswana durante a estação do cacimbo.
A criação dos Parques Nacionais
no norte da Namíbia e no Norte do Botswana, por parte dos interesses ligados às
elites, tirou partido dessa contingência que tem resultado até aos nossos dias,
o que quer dizer que os prejuízos ambientais de Angola, subsistem para lá do
final da guerra.
Na última fase do colonialismo,
incursões do MPLA e da SWAPO, cada qual seguindo os seus próprios planos de
penetração em função dos objectivos a que se propunha o movimento de
libertação, fizeram do Cuando Cubango um campo de guerra “de baixa
intensidade”.
A PIDE-DGS, a polícia política
colonial-fascista portuguesa havia de para o efeito se esmerar: angariou os
khoisan, integrou-os e deu-lhes formação militar, organizando as unidades
especiais que deram pelo nome de “Flechas”, comandados pelo Inspector
Óscar Cardoso, uma componente formidável do seu sistema militar na região. (5)
A independência tornou inviável o
Cuando Cubango sob os pontos de vista de desenvolvimento económico (ainda que
sob um eventual projecto de “intervenção”):
Savimbi instalou ali o santuário
da UNITA, o seu 2º santuário, que se abrigava enquadrado nos dispositivos
das “South Africa Defence Forces”do regime racista sul-africano, que lhe
serviam de “guarda chuva” perante eventuais “intempéries” vindas
do norte.
Isso tornou-o subsidiário e
vulnerável à influência operativa das componentes ocidentais, com relevância
para os sistemas dos racistas sul africanos e o dos norte americanos.
Nas disputas pela independência,
foi do extremo sudeste que os instrumentos militares do “apartheid” procuraram
atingir Luanda a fim de“instalar” a UNITA no poder em Angola, mediante
a “Operação Savannah”, a primeira duma longa lista que iria ser desfiada
de 1975 ao início da década de 90.
Os khoisan deixaram, a partir
da “Operação Savannah”, de serem “Flechas”, passando a formar o
Batalhão 31, de invulgar capacidade operacional no âmbito das “SADF”,
seguindo sempre o lema que emoldurava a entrada do acampamento original do
Missombo – “Que a vossa rapidez seja a do vento, que sejam impenetráveis
como a floresta. Que as vossas operações sejam tão tenebrosas e misteriosas
como a noite e, quando atacardes, fazei-o com a rapidez do raio e a violência
do trovão”. (6)
Desde então os “khoisan” foram-se
instalando mais a sul durante a guerra e entre os seus campos de guerra, o mais
famoso é o “Ómega”, criado pelas SADF na faixa do Caprivi e tirando
partido Da proximidade das fronteiras com Angola e com o Botswana.
Com os “khoisan” aconteceu
o mesmo que com a riquíssima fauna, ficaram retidos a sul pelo poder racista
que os utilizaram na medida do possível na “guerra de fronteiras” desde
logo quando ocorreu contra Angola a “guerra de Kissinger” em disputa
pela independência do país.
A base “Ómega” passou a
ser uma das principais bases que, ligando-se à Jamba de Savimbi no Sudeste
angolano, formavam um formidável dispositivo que funcionou em pleno durante a
longa batalha do Cuito Cuanavale.
Foi a partir do eixo Cuito
Cuanavale – Mavinga que há pouco mais de vinte anos se desenrolaram as batalhas
mais decisivas no âmbito da história contemporânea da África Austral, sem as
quais não se teria alcançado a libertação do jugo colonial e do sufoco imposto
pelo regime do “apartheid” em relação a Angola, Namíbia e Zimbabwe,
assim como a possibilidade de democratização da África do Sul.
O fim da Guerra Fria e a expansão
do capitalismo de pendor neoliberal promoveu no espaço SADC a “democracia
representativa” e, com ela, começaram a proliferar “novas elites” acondicionadas
aos interesses da aristocracia financeira mundial, que na África Austral, desde
os tempos de Cecil John Rhodes, têm expressão fundamentalmente no eixo do “lobby” dos
minerais e no cartel dos diamantes.
Os governos sucessivos de Nelson
Mandela e Thabo M’Beki não valorizaram as relações com Angola, por um lado, por
outro pouca importância conferiram ao papel do sudeste angolano na região
central do imenso espaço do SADC e ao valor histórico do Cuito Cuanavale para
toda a África Austral, apesar de terem iniciado a impulsão das iniciativas
do “lobby” dos minerais e do cartel dos diamantes na direcção
da “plataforma” que constitui o Botswana, contribuindo para expandir
os seus interesses para norte, incluindo os interesses sincronizados
consubstanciados na “Peace Parks Foundation”. (7)
Eles mantiveram uma visão
elitista, não abdicando dela até à saída de Thabo M’Beki do governo do ANC
durante as últimas eleições na África do Sul.
Perante a ausência de tiros em
Angola, os governos da SADC pretendem agora alargar o “Kavango-Kuando-Zambezi
Transfrontier Park”, explorando os conceitos que têm sido esboçados com a “Okavango
and Upper Zambezi International Tourism Initiative”, espaço que constituirá o
maior conglomerado de parques transfronteiriços à escala global, o “Éden
de África”, que integrará as famosas Victoria Falls, no curso internacional do
grande Zambeze entre a Zâmbia e o Zimbabwe. (8)
A reunião dos Ministros de
Turismo dos cinco países intervenientes no projecto, que se realizou nos dias
22 e 23 de Julho de 2009 em Cabinda, avaliou em 24 milhões de dólares a
primeira fase de investimentos envolvendo o Cuando Cubango, integrando-o numa
superfície total de 278.000 km2, com 14 áreas de importância ecológica para a
protecção ambiental.
Por isso o Cuito Cuanavale, tendo
em consideração a sua possível valorização histórica e antropológica, pode (e
deve) obrigar a integrar novos elementos nos conceitos de base da “Peace
Parks Foundation”:
- Por um lado em Angola, a
presença de entidades especializadas russas e cubanas podem vir a ser “suportáveis” nesse
quadro, podendo também vir a contribuir para o início de alternativas às
evidências eminentemente anglo-saxónicas.
- Por outro, torna-se necessário
valorizar o estudo antropológico das comunidades locais, entre elas as dos
khoisan, de forma a que se “diluam”os critérios seguidos pela corrente
anglo-saxónica a sul, socorrendo-se de correntes que, por exemplo, na América
Latina, muito têm contribuído para uma maior dignidade das culturas indígenas
índias, quinhentos anos depois da chegada de Cristóvão Colombo e duzentos anos
depois das “independências”.
- Portugal, que possui um acervo
importante de conhecimentos, pode também contribuir a fim de contrabalançar o
relativo “vácuo” por parte da componente científica angolana.
- Por outro ainda, necessário se
torna integrar os interesses dessas comunidades nos projectos, de modo a que os
locais não sejam apenas recurso para mão-de-obra barata, ou de “animação
por via de culturas exóticas”, antes sejam elementos participativos, nos pactos
sociais dos empreendimentos e detenham uma quota parte das iniciativas que se
levarem por diante.
Os elementos históricos inerentes
à vitória do Cuito Cuanavale impõem-se e as elites que impulsionam os “Peace
Parks”, uma parte delas com as características que tenho referido, terão
de começar a “abrir-se a novos conceitos e opções”, até por que em paz, é
necessário fazer a avaliação entre as guerras que foram justas, em nome da
libertação de África e as guerras injustas, que conduziram ao saqueio das
riquezas naturais.
Indícios disso são as
alternativas que vão eclodindo por dentro do ANC e do governo sul -fricano,
redundantes da evolução da conjuntura, que resultaram nas últimas eleições
naquele país.
Sublinhando o início de “mais
abertura”, Jacob Zuma visitou o Cuito Cuanavale antes das eleições e inaugurou
as suas saídas ao exterior enquanto Presidente da África do Sul, com a visita
de estado que fez a Angola, à frente duma numerosa delegação que envolveu
membros do seu governo e empresários.
O discurso dos Presidentes Jacob
Zuma e de José Eduardo dos Santos foram coincidentes no sentido de se iniciar
em moldes acelerados a integração do espaço SADC.
O Presidente angolano sublinhou:
(9)
…“O Governo angolano está
disponível para intensificar essas relações com a África do Sul.
Considera que devem ser criadas
condições políticas, jurídicas e financeiras para que os operadores dos
dois países possam desenvolver formas e modalidades de relacionamento profícuo, capaz de
corresponder às expectativas dos dois povos.
Para tal há vontade política, há
potencialidades e oportunidades e tudo depende da capacidade empreendedora
de as materializar.
Uma parceria estratégica entre os
nossos dois países pode contar com a solidez e a capacidade
técnico-científica da economia sul-africana e com o aproveitamento de várias oportunidades de negócios que
Angola pode oferecer nesta fase de reconstrução nacional.
Apesar de se encontrarem ainda em
estágios diferentes de desenvolvimento, as economias dos nossos dois países já
são hoje as de maior peso na África Austral e Central.
Nós estamos igualmente abertos à
criação de uma renovada dinâmica entre Angola e a África do Sul, que
conduza à progressiva integração regional e que permita que a SADC se torne um motor
de desenvolvimento da nossa sub-região e mesmo do resto de África, em prol do bem-estar e felicidade dos povos africanos.
É importante também a conjugação
de esforços entre nós e outros países da sub-região para a redução dos
efeitos da crise económica e financeira mundial nos países da SADC, em geral, e nos nossos dois
países, em particular”…
O Presidente sul africano por seu
turno realçou precisamente “a relação histórica que não pode ser
esquecida”, tendo em conta “os laços” que“foram criados durante a
guerra de libertação”, pelo que “gostaríamos de aproveitar a oportunidade
para agradecer ao Presidente José Eduardo dos Santos e ao povo angolano pela
solidariedade e amizade durante a nossa guerra de libertação”. (10)
Quanto à questão dos “khoisan”,
a parte angolana está pouco ou nada preparada para lidar com os aspectos
socioculturais de sua presença, tendo em conta o “uso” que deles foi
feito tanto pelas autoridades coloniais portuguesas, como pelo regime do “apartheid”,
como ainda pela África do Sul (que os foi também “acantonando” no “Kgalagadi
Transfrontier Park”) e pelo Botswana.
De acordo com os sucessivos
relatórios da “Survival”, o governo do Botswana têm-nos retirado do
Kalahári, “obedecendo” aos ditames da De Beers via Debswana,
desejosas de estudar e “ocupar” praticamente toda a quadrícula desse
deserto riquíssimo de quimberlites (o Botswana, com as poucas explorações em
curso, é o maior produtor mundial de “diamantes-jóia”).
A integração prevista para a SADC
possui no âmbito dos “Peace Parks Foundation” no fecho da segunda
fornada de iniciativas, muita coisa a definir.
Um dos riscos é que o processo
eminentemente elitista inaugurado por Nelson Mandela e seus pares na origem
da “Peace Parks Foundation”prevaleça, ávidas que estão as novas elites
angolanas de “alinharem” com este tipo de expedientes.
No Cuando Cubango elas beneficiam
dum território quase desértico em termos de povoamento humano, o que é óptimo
para os encargos e a paz, é de facto a paz da grande solidão.
É que do lado de Angola
praticamente nada foi feito em termos científicos, enquanto que do lado das
elites que surgem a partir da África do Sul, em função das características
do “lobby” dos minerais e do cartel dos diamantes, tem sido
desenvolvido o conhecimento científico multifacético e de forma muito
abrangente, desde o domínio da geologia, ao domínio da geografia, dos estudos
sobre a fauna e a flora, até aos conhecimentos antropológicos (condicionados às
políticas elitistas), numa região riquíssima em todos os sentidos.
As tendências para o
neocolonialismo agrário que marcam um dos aspectos da crise alimentar entrosada
com as outras crises do capitalismo e com a degradação do clima, é outras das
grandes tentações que afectam as elites e também as novas elites angolanas.
Perante a imensidão do sudeste
angolano, as novas elites tenderão marcar, com seus “emparceiramentos
internacionais”, uma posição forte e exclusivista. (11)
Sob o ponto de vista humano,
o “Okavango and Upper Zambezi International Tourism Initiative” poderá
ser mais um elemento centrífugo a Angola: distante dos pólos económicos do
país, o sudeste angolano poderá ser atraído aos interesses que se implantaram a
sul, na Namíbia e particularmente no Botswana, num quadro que estrategicamente
é de todo interesse da De Beers, da Anglo American, enfim, do “lobby” dos
minerais.
Se assim for em Angola, será um
dia também na RDC e nos Grandes Lagos, a terceira fornada de iniciativas que se
desenham no horizonte…
Que paz vai então vai prevalecer
a partir do tão historicamente decisivo Cuito Cuanavale?
Martinho Júnior - 20 de Setembro de 2009
Notas:
- (1) – Cuito Cuanavale
revisitado – Piero Gleijeses – Resistir Info – http://resistir.info/cuba/cuito_cuanavale.html ;
Discurso do Presidente José Eduardo ds Santos sobre a batalha do Kuito
Kuanavale – Angola na Internet – http://www.angolanainternet.ao/boletiminformativo/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=412 ;
Wikipedia –http://pt.wikipedia.org/wiki/Cuito_Cuanavale
- (2) – Zambezi – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Zambezi ;
Linyanti - Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Linyanti_River ;
Chobe National Park –http://www.chobe-national-park.com/
- (3) – Okavango basin –
Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Okavango_Basin ; The
Okavango basin – FAO – http://www.fao.org/docrep/w4347e/w4347e0p.htm ;
OKACOM - http://www.okacom.org/okacom.htm ;
An oasis in the desert – Wilson Center – http://www.wilsoncenter.org/index.cfm?topic_id=1413&fuseaction=topics.item&news_id=75281
- (4) – Consulado de Angola –
Cuando Cubango – http://www.consuladodeangola.org/index.php?option=com_content&task=view&id=187&Itemid=168 ;
Brigada de desminagem limp pista do Luengue – ANGOP – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/Brigada-desminagem-limpa-pista-Luengue,40597037-fa31-4271-8bb3-a2fd266782d0.html
- (5) – Depoimento do inspector
da PIDE/DGS Óscar Cardoso – http://www.oliveirasalazar.org/download/documentos/C%C3%B3pia%20de%20%C3%93scar%20Cardoso2-depoimento___F1E00CEF-AC60-48AA-A624-2DAFF7BAE2EB.pdf ;
Flechas – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Flechas ; Os flechas em
Angola – Fórum da Defesa – http://forumdefesa.com/forum/viewtopic.php?f=4&t=3286 ;
Óscar Cardoso: inspector da PIDE/DGS criador dos Flechas – História e Ciência –
- (6) – Operation Savannah –
Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Savannah_(Angola) ;
Omega base bushmen battalion – http://www.samagte.co.za/phpbbs/viewtopic.php?f=171&p=220 ;
The bushman battalion – Time – http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,952896,00.html
- (7) – Peace Parks Foundation – http://www.peaceparks.org/Home.htm ;
Pro Natura - http://www.pronatura.org.br/home/index.asp ; South
Africa it’s possible – Peace Parks Foundation – http://www.southafrica.net/sat/content/en/us/full-article?oid=9462&sn=Detail&pid=1 ;
The global solution – http://www.ppf.org.za/
- (8) – SADC media briefing - http://www.polity.org.za/polity/govdocs/speeches/2000/sp1214a.html ;
Expand OUZIT Project – UN – http://webapps01.un.org/dsd/partnerships/public/partnerships/4.html ;
SADC today - corredores de desenvolvimento – http://webapps01.un.org/dsd/partnerships/public/partnerships/4.html ;
Engeneering news - Okavango SDI points to increased revenues – http://www.engineeringnews.co.za/article/okavango-sdi-points-to-increased-revenue-1999-07-23
- (9) – Íntegra do discurso do
Presidente da República – ANGOP – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2009/7/34/Integra-discurso-Presidente-Republica,a20045dd-9d3e-4d3d-8197-56893ab33ae4.html
- (10) – Jacob Zuma defende nova
era nas relações – ANGOP – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2009/7/34/Jacob-Zuma-defende-nova-era-nas-relacoes,651f6ff9-f983-42ef-916f-ba5200bf6a8e.html
- (11) – Neo colonialismo agrário
– Ignatio Ramonet – Le Monde Diplomatique – http://pt.mondediplo.com/spip.php?article451 ;
Neo colonialismo agrário – I – Página Um –http://pagina-um.blogspot.com/2009/04/neocolonialismo-agrario-i.html ;
Neo colonialismo agrário – II – Página Um – http://pagina-um.blogspot.com/2009/04/neocolonialismo-agrario-ii.html ;
Neo colonialismo agrário – III – Página Um – http://pagina-um.blogspot.com/2009/04/neocolonialismo-agrario-iii.html ;
1020 millones de personas pasan fome – La Convención Sinaloa – http://laconvencionsinaloa.blogspot.com/2009/11/1020-millones-de-personas-pasan-hambre.html
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