Hong Kong, China, 04 set 2019
(Lusa) -- A porta-voz do movimento pró-democracia que tem liderado os maiores
protestos em Hong Kong disse à Lusa que as manifestações vão continuar apesar
do Governo ter anunciado hoje a retirada formal da lei da extradição.
"Os 'slogans' que têm sido
entoados nas ruas são claros. 'Cinco exigências: nem uma a menos'", disse
Bonnie Leung, que é também vice-coordenadora da Frente Cívica de Direitos
Humanos (FCDH) que reúne mais de uma dezena de partidos e organizações não
governamentais.
"Esta [a lei da extradição]
era a mais simples de responder, mas as outras quatro são igualmente
importantes", sublinhou, defendendo que "seria também simples aceitar
a criação de uma comissão de inquérito independente para averiguar a atuação da
polícia" que é acusada de usar força excessiva.
A responsável da FCDH frisou que tanto a retirada da lei como a criação da comissão de inquérito são aquelas que aparecem no topo das exigências da comunidade estudantil "em sondagens científicas" que têm sido efetuadas pelas universidades.
A responsável da FCDH frisou que tanto a retirada da lei como a criação da comissão de inquérito são aquelas que aparecem no topo das exigências da comunidade estudantil "em sondagens científicas" que têm sido efetuadas pelas universidades.
"Sem o inquérito
independente a sociedade não pode avançar, porque as agressões indiscriminadas
e o uso de armas letais continuam a acontecer todos os dias por parte da
polícia", sustentou.
"Ontem [terça-feira], um
estudante quase morreu e voltaram a ser negados primeiros socorros",
assinalou a ativista.
A chefe do Governo de Hong Kong
anunciou a retirada da lei da extradição, que esteve na origem dos protestos
que duram há três meses no território.
Esta é a única cedência de Carrie
Lam às cinco reivindicações do movimento pró-democracia.
Num anúncio pré-gravado e
transmitido pelas televisões pouco antes das 18:00 (11:00 em Lisboa), Carrie
Lam voltou a recusar a criação de uma comissão de inquérito independente e a
amnistia aos manifestantes detidos.
Lam disse ainda que a alteração
da denominação dos incidentes violentos, que os manifestantes exigem que não
sejam chamados de motins, depende das linhas mestras que guiam os processos
judiciais.
A governante sustentou a ideia de
que a discussão sobre o sufrágio universal para o cargo de chefe de Governo e
para o parlamento de Hong Kong deve ser realizada num ambiente favorável e não
polarizado, sublinhando, contudo, que esse é um objetivo último inscrito na Lei
Básica.
Por outro lado, prometeu iniciar
já este mês diligências no âmbito da anunciada plataforma de diálogo com a
sociedade e prometeu o desenvolvimento de um estudo para determinar as razões
na origem das insatisfações de natureza social.
Motivados pela proposta que permitiria
a extradição de suspeitos de crimes para a China continental, os protestos
evoluíram, entretanto, para uma campanha pró-democracia, que tem resultado em
violentos confrontos entre manifestantes e a polícia.
Desde junho, mais de um milhar de
pessoas foram detidas, entre elas proeminentes ativistas e deputados.
Sob pressão de vários setores e
após uma manifestação que levou quase um terço da população de Hong Kong à rua,
segundo a organização, Carrie Lam já tinha suspendido a proposta a 15 de junho.
Não satisfeitos, e temendo que a
proposta pudesse voltar à mesa do Conselho Legislativo, os manifestantes
exigiram a sua retirada definitiva, a que se somaram outras reivindicações: a
libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam
identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e,
finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio
universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong
Kong.
A transferência de Hong Kong para
a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio "um país,
dois sistemas", precisamente o que os opositores às alterações da lei da
extradição garantem estar agora em causa.
Tal como acontece com Macau, para
aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50
anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e
judiciário. O Governo central chinês é responsável pelas relações externas e
defesa.
JMC // ANP
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