Rafael Barbosa* |
Jornal de Notícias | opinião
Há seguramente argumentos sérios
contra a regionalização do país. E também é natural que não haja unanimidade
num tema que representaria um corte profundo com um centralismo político tão
arreigado ao longo de séculos.
Sucede que, quando o que está em
causa é a implementação desta revolucionária reforma política e administrativa,
o argumento mais utilizado é francamente absurdo: o fantasma do caciquismo e da
multiplicação dos tachos. Na verdade, é só mais um sinal do complexo de
superioridade das elites instaladas (em sentido literal ou figurado) na antiga
capital imperial, relativamente aos parolos da província. O fantasma do
caciquismo e do dinheiro que assim seria desbaratado é uma forma de afirmar que
a democracia, a verdadeira, a pura, a legítima, só é possível se for controlada
pelas classes iluminadas pela célebre luz que incide sobre o Terreiro do Paço e
arredores. E já se sabe que essas elites, ou já estão em Lisboa, ou vão estar.
E aqui não há ironia. É factual.
A sondagem que o JN publicou há
dias mostra que há neste momento uma avaliação favorável à regionalização por
parte dos portugueses, numa leitura a nível nacional (51% a favor, 39% contra).
Mas é simbólico que, entre a população das cinco regiões, apenas a de Lisboa se
manifeste maioritariamente contra. Essa recusa, em contraste com a opinião
favorável das gentes das províncias, também diz bastante sobre o país
assimétrico em que vivemos. Sobretudo se repararmos em "pormenores"
como a recusa de que sejam entregues, às futuras regiões, prebendas como a
gestão dos milhares de milhões de euros de fundos comunitários que a elas se
destinam, coisa que também divide Lisboa do resto do país. Como disse Rui
Moreira, citando o pai, já terminada uma entrevista que pode ler hoje no seu
JN, e em que também se falou da regionalização, não há ovelha que goste de ser
tosquiada.
*Chefe de Redação
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