Cyril Ramaphosa apresentou
desculpas pela violência contra estrangeiros que eclodiu no país, garantindo
que os seus compatriotas "não são xenófobos". Ataques já levaram 128
moçambicanos a regressar ao país de origem.
Discursando na capital do
Zimbabué, Harare, onde foi assistir ao funeral do ex-Presidente Robert Mugabe,
o chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, foi vaiado pela multidão que
assistia às cerimónias fúnebres num estádio.
"Apresento-me perante vós como
um irmão africano que lamenta e pede desculpas pelo que aconteceu no meu
país", disse Ramaphosa, acrescentando que os tumultos vão "contra o
princípio de unidade do povo africano".
O Presidente sul-africano
garantiu que continua a trabalhar para "encorajar o povo a acolher todos
os cidadãos dos países africanos".
"Os sul-africanos não são
xenófobos, não têm nada contra os cidadãos de outros países", declarou.
Milhões de zimbabueanos fugiram
da repressão e da crise económica e procuraram refúgio na África do Sul, onde,
no início do mês, se verificou uma onda de tumultos e pilhagens dirigidas
contra estrangeiros e suas empresas.
Concentrada principalmente na
maior cidade sul-africana, Joanesburgo, a violência fez 12 vítimas mortais,
incluindo um cidadão estrangeiro, cuja nacionalidade não foi divulgada, segundo
os últimos dados das autoridades sul-africanas.
Moçambicanos e nigerianos de
regresso
Na quinta-feira (12.09), um grupo
de 128 moçambicanos provenientes da África do Sul chegou ao centro de trânsito
do distrito de Moamba, província de Maputo, no sul de Moçambique - um regresso
voluntário, na sequência dos ataques contra estrangeiros.
No grupo incluem-se 22 crianças e
106 adultos provenientes de diferentes localidades da África do Sul,
destacando-se Joanesburgo.
O centro de trânsito instalado em
Moamba tem capacidade para cerca 200 pessoas e foi montado a poucos metros de
uma linha férrea, para facilitar a viagem das pessoas acolhidas para o seu destino
final.
As autoridades moçambicanas
esperavam mais de 300 pessoas, mas algumas desistiram de regressar ao país de
origem.
Segundo dados do Ministério dos
Negócios Estrangeiros e Cooperação, a violência que eclodiu a 1 de setembro
contra estrangeiros na África do Sul afetou cerca de 500 moçambicanos.
Também 600 nigerianos afetados
pela violência xenófoba já foram repatriados da África do Sul, segundo as
agências de notícias.
Violência de género preocupa
autoridades
Entretanto, Cyril Ramaphosa
cancelou a ida ao encontro anual de líderes mundiais das Nações Unidas devido
aos problemas que afetam o país, com uma onda de violência de género e
xenófoba.
Centenas de manifestantes
reuniram-se esta sexta-feira (13.09) em Joanesburgo para exigir uma ação
governamental mais forte contra os crescentes níveis de violência de género no
país. Alguns membros do partido no Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla
em inglês) estão a pedir ao Governo que declare estado de emergência.
A polícia divulgou na
quinta-feira estatísticas anuais sobre crimes, que revelam que abusos sexuais e
violações aumentaram 4,6% e 3,9%, respetivamente, no ano passado. Mulheres de
todo o país têm partilhado experiências de violência e receios nas redes
sociais e média locais.
Estes acontecimentos surgem
depois de vários dias de protestos na Cidade do Cabo, na semana passada, após
uma série de assassínios de jovens, mulheres e crianças.
Deutsche Welle | Agência Lusa, mjp
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