Após moção no Parlamento, governo
britânico divulga documento sobre o pior cenário previsto caso país deixe a UE
sem acordo. Falta de alimentos e remédios, filas em aeroportos e protestos estão
entre problemas listados.
Desordem pública, aumento nos
custos de eletricidade, interrupções no fornecimento de alimentos e remédios e
longos atrasos nas travessias do Canal da Mancha. Estes são alguns dos cenários
previstos em um documento do governo britânico referente ao caso de um Brexit
sem acordo entre o Reino Unido e a União Europeia (UE).
A chamada Operação Yellowhammer
foi divulgada nesta quarta-feira (12/09), dois dias após uma moção aprovada no
Parlamento obrigar o governo a tornar pública a sua estratégia.
O plano intitulado
"Premissas Razoáveis de Planejamento para o Pior Cenário" foi
elaborado no dia 2 de agosto, nove dias após o primeiro-ministro Boris Johnson
assumir o cargo com uma proposta de formalizar a saída do país da UE no prazo
previsto, que se encerra no dia 31 de outubro, com ou sem um acordo com os
europeus.
A estratégia de Johnson visa a
forçar Bruxelas a renegociar os termos do acordo firmado com a
ex-primeira-ministra Theresa May, em troca de um novo pacto com condições mais
favoráveis ao Reino Unido.
Ao avaliar o "pior cenário
possível" no caso do chamado hard Brexit (Brexit duro, sem
acordo), o documento afirma que a preparação da população e do setor de
negócios para o divórcio sem acordo deve ser insuficiente, em parte, em razão
da confusão política que prevalece nos dias que antecedem a data de saída.
O governo espera que haja longas
filas para os caminhões que fazem as travessias do Canal da Mancha, com tempo
de espera de até dois dias e meio. Segundo o documento, o fornecimento de
medicamentos ficará "particularmente vulnerável a graves atrasos
prolongados".
A disponibilidade de alguns
alimentos frescos deverá ser reduzida. É possível que o pânico na hora de
ir às compras possa cause ou agrave as interrupções no abastecimento de
alimentos, diz o texto.
Há risco de um aumento
"significativo" nos preços da energia elétrica. As pessoas de renda
mais baixa serão "desproporcionalmente afetadas por quaisquer aumentos nos
preços de alimentos e combustíveis".
Serviços financeiros através da
fronteira serão afetados da mesma forma que o compartilhamento de informações
entre as polícias e as agências de segurança. Os cidadãos britânicos que
viajarem à Europa deverão enfrentar verificações de segurança reforçadas e
filas extensas nos aeroportos, portos e demais locais de travessia de
fronteira.
O documento alerta para uma onda
de instabilidade social com protestos em todo o país, que poderão
"absorver quantidade significativa dos recursos da polícia".
"Poderá haver também desordem pública e tensões entre comunidades",
afirma o texto.
O conteúdo do documento da
operação Yellowhammer foi publicado inicialmente no dia 18 de agosto
pelo jornal britânico Sunday Times. À época, o governo afirmou que os
dados estavam desatualizados e não refletiam as reais preparações do governo
para o caso do chamado hard Brexit.
Mas, nesta quarta-feira, Michael
Gove, encarregado do governo pela elaboração da estratégia para o no deal,
afirmou que o documento ainda estaria sendo revisto, mas que esta seria a
versão mais recente das previsões do governo.
O Partido Trabalhista disse que o
documento confirma os graves riscos de uma saída sem acordo. "É
completamente irresponsável que o governo tente ignorar esses alertas graves e
evitar que o público possa ver as evidências", disse Keir Starmer,
porta-voz da legenda de oposição.
A divulgação do documento aumenta
a pressão sobre Johnson, após um tribunal
na Escócia julgar ilegal a decisão do primeiro-ministro de suspender
as atividades do Parlamento por cinco semanas.
O governo britânico já anunciou
que vai recorrer da decisão, e espera-se que a Suprema Corte, a mais alta
instância judicial britânica, realize uma audiência na próxima terça-feira para
avaliar este caso e outro recurso apresentado pela ativista antibrexit Gina
Miller. Pelo menos até então, a suspensão do Parlamento continua vigorando.
Deutsche Welle | RC/dpa/rtr/afp
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