Com partida de John Bolton, um
militarista inconsequente deixa Casa Branca. Isso pode ser um bom sinal para
diplomacia, mas também mostra que Trump não tolera vozes discordantes no seu
círculo, opina Oliver Sallet*.
Com partida do assessor John
Bolton, um militarista inconsequente deixa Casa Branca. Isso pode ser um bom
sinal para diplomacia, mas se cala uma das últimas vozes críticas no entorno de
Trump, opina jornalista Oliver Sallet.
Após um ano e meio no cargo, foi
uma saída memorável para o assessor de Segurança Nacional John Bolton. Um
reconhecido "falcão", ele era um linha-dura na política externa, que
sempre exigiu abertamente ataques militares e que foi, acima de tudo,
decididamente contra qualquer forma de diplomacia com opositores políticos.
Por mais difíceis que fossem suas
posições, John Bolton também foi alguém que sempre conteve a impulsividade de
Donald Trump. Sem ele, outra voz crítica se cala no círculo de Trump e
provavelmente será substituída, como já aconteceu em outros casos, por uma
figura submissa ao presidente americano.
Tomemos o caso do
procurador-geral Jeff Sessions, que se recusou a demitir o inconveniente
procurador especial Robert Mueller e se eximiu de tomar parte no inquérito
envolvendo a interferência da Rússia nas eleições de 2016, declarando que
estava impedido de atuar por ter se envolvido com a campanha do
presidente.
Ele foi instado a renunciar, e o
presidente Trump o substituiu pelo muito mais afável William Barr, que
imediatamente provocou protestos dos democratas com sua interpretação
distorcida do relatório Mueller, uma ação que contou com o apoio claramente o
apoio de seu chefe.
Também houve a renúncia do
altamente experiente secretário de Defesa Jim Mattis, que jogou a toalha depois
que Trump anunciou a retirada das forças americanas da Síria, algo que pegou
muitos de seus assessores de surpresa. Mattis era considerado uma das últimas
vozes racionais no gabinete ministerial de Trump.
Bolton não pode realmente ser
chamado de uma voz da razão. Como um dos arquitetos da Guerra do Iraque sob
George W. Bush, ele pode ser facilmente acusado de desestabilizar todo o
Oriente Médio com suas ações. Mais recentemente, ele exigiu de Trump um ataque
militar contra o Irã.
Bolton, como o presidente Trump,
é um opositor do multilateralismo, mas ao mesmo tempo sua atitude belicosa
entrou em choque a promessa eleitoral central do presidente: manter os EUA fora
de crises e conflitos internacionais.
Mas Bolton também foi um crítico ruidoso das tentativas frustradas de negociação de Trump, especialmente aquelas em que o presidente tentou se aproximar de déspotas estrangeiros em pé de igualdade.
As reuniões infrutíferas de Trump
com Kim Jong-un, por exemplo, foram um sucesso de relações públicas para o
ditador norte-coreano. E se os talibãs tivessem sido convidados para uma
reunião em Camp David, isso os colocaria à altura de distintos chefes de Estado
internacionais.
Esse último exemplo foi uma
grande pedra no sapato de Bolton, pois ele não tinha tempo para diplomacia com
adversários, particularmente radicais islâmicos como os talibãs.
A saída de John Bolton pode ser
uma boa notícia para a diplomacia americana, uma recusa à belicosidade
americana e um sinal de esperança para o conflito estagnado com o Irã.
Mas o destino de Bolton também
mostra mais uma vez como Donald Trump lida com os críticos que cruzam seu
caminho. Aqueles que não papagaiam o que o presidente diz têm que partir.
*Oliver Sallet | Deutsche Welle |
opinião
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