A Reunificação está concluída
depois de quase 30 anos? De forma alguma, opina Kay-Alexander Scholz. Resta
também um difícil legado. Cabe aos jovens do Leste e Oeste assumir o desafio
para que cresçam unidos.
Kay-Alexander Scholz* | opinião
A divisão alemã atingiu muitas
famílias: irmãos foram separados, crianças tinham tias e tios na outra parte do
país. A construção do Muro de Berlim, em 1961, significou um drama
significativo para os menores.
A maioria dos que sofreram esse
drama como adultos já morreu ou está muito idosa. Todos aqueles para quem a
"Unidade" sempre foi uma questão pessoal desaparecerão num futuro
próximo. Para eles, a divisão era um erro que trouxe sofrimento e precisava ser
superado.
Era também grande a disposição de
muitos alemães-ocidentais de ajudar os parentes no Leste, economicamente mais
fraco. Eles enviaram milhares e milhares de pacotes de café, frutas tropicais,
roupas e chocolate através da fronteira interna para a antiga República
Democrática Alemã (RDA).
Mas já os filhos dessa geração
vivenciaram a divisão alemã nas décadas de 1970 e 1980 como algo normal. Pois
eles cresceram ou na República Federal da Alemanha (RFA) ou na RDA comunista,
vivendo, portanto, em mundos completamente diferentes.
No Ocidente, de repente a geração
68 passou a fazer perguntas a seus pais e sobre o papel deles no nazismo.
Termos como "nação" e "pátria" eram considerados
ultrapassados e conservadores, ansiava-se pelo internacionalismo. A Comunidade
Europeia ofereceu uma saída bem-vinda para questões de culpa nacional
recalcada. Os primos e primas do Leste viviam muito longe, com seu cotidiano
ditatorial estreito e cinzento.
Então veio a revolução pacífica
de 1989, a
queda do Muro de Berlim, e apenas um ano depois, a Reunificação Alemã. Mas,
terminada a festa, o Leste logo voltou a perder importância. Ainda hoje, 20%
dos alemães do Oeste nunca visitaram o Leste.
Embora após a Wende (mudança,
virada), como também foi chamada a revolução pacífica de 1989, centenas de
bilhões tenham fluído do Oeste para o desenvolvimento da degradada parte leste
do país, para cerca da metade dos alemães-orientais essa mudança significou
desemprego.
O Oeste que os acometia – aquele
que, nos pacotes de ajuda, cheirava tão bem e lhes prometera o paraíso –
revelou-se uma dura sociedade competitiva. A imagem idealizada empalideceu
rapidamente: quem não pudesse ou não quisesse acompanhar o ritmo se recolheu e
passou a elogiar a RDA, em retrospecto.
Os partidos também perderam o
interesse no desenvolvimento integrado alemão. Embora apresentassem orgulhosos
dados econômicos que apontavam para um avanço, o que também era verdade,
ninguém realmente se atreveu a debater os erros da época da "Virada"
e seus perdedores.
No Ocidente, muitos não queriam
dar ouvidos e chamavam seus irmãos e irmãs do Leste de "Jammerossis"
(alemães-orientais choramingões), que deviam enfim parar com as muitas
histórias negativas. E no entanto os irmãos do Leste só queriam falar de como
se sentiram ao acordar, da noite para o dia, em outro país, com suas próprias
regras e leis, até então desconhecidas por eles. Afinal, a RDA foi integrada à
República Federal da Alemanha em 3 de outubro de 1990, extinguindo-se como
Estado.
Ambas as gerações – a da
construção do Muro e a da queda do Muro – vivenciaram e sofreram muito. Mas o
que não foi processado criticamente – essa é a lição que se tira da história –
não desaparece simplesmente: é passo de geração a geração.
O partido populista de direita
Alternativa para a Alemanha (AfD) reconheceu esse princípio e já o utilizou em
favor próprio. "Concluam a Virada!", foi seu slogan central nas
eleições estaduais no Leste. Aparentemente, a alusão ao ano de 1989 teve êxito,
já que a AfD obteve resultados recordes nessas eleições – especialmente entre
os jovens.
A Reunificação Alemã, a história
da Wende, ainda não está concluída: aquilo sobre que os pais e avós não
podem ou não querem mais falar, é agora tarefa dos filhos e netos. A questão de
se e como eles assumirão esse legado vai definir o caminho para a futura
coexistência entre os alemães do Leste e do Oeste. A revolução pacífica e a
Reunificação foram e continuam sendo momentos felizes dos alemães.
Por um lado, essa história
precisa ser contada. Pelo outro, é preciso coragem e vontade política para
falar dos problemas da época da "Virada". Seria uma pena deixar esse
capítulo da história para quem, acima de tudo, quer instrumentalizá-lo para a
luta pelo poder político. O Leste e o Oeste da Alemanha não devem nunca mais
ser divididos!
*Kay-Alexander Scholz | Deutsche
Welle | opinião
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