Manlio Dinucci*
A Coligação Antiterrorista
reuniu-se em 14 de Novembro de 2019 em Washington, a pedido expresso da França,
ultrapassada pela reviravolta dos EUA na Síria. Essa reunião não mudou nada no
jogo dos Estados Unidos e dos seus aliados, mas permitiu ao Secretário de
Estado Mike Pompeo colocar, novamente, os franceses no seu lugar como simples
executantes. É também uma oportunidade para Manlio Dinucci fazer um balanço
sobre as proezas desta coligação.
O Ministro dos Negócios
Estrangeiros, Luigi Di Maio, acolhendo em Roma, os cinco soldados feridos no
Iraque, declarou que “o Estado italiano nunca recuará um centímetro diante da
ameaça terrorista e reagirá com toda a sua força diante dos que semeiam terror”.
Voou, então, para Washington, a fim de participar na reunião de grupo restrito
da “Coligação Global contra o Daesh”, do qual fazem parte, sob orientação USA,
a Turquia, a Arábia Saudita, o Catar, a Jordânia e outros países que apoiaram o
Daesh/ISIS e formações terroristas análogas, fornecendo-lhes armas e treino de
combate (conforme documentamos neste jornal).
A Coligação - que inclui a NATO,
a União Europeia, a Liga Árabe, a Comunidade dos Estados do Sahel/Sahara e a
Interpol, mais 76 Estados individuais - afirma no seu comunicado de 14 de
Novembro, “ter libertado o Iraque e o nordeste da Síria” do controlo do
Daesh/ISIS», embora seja evidente que as forças da Coligação deixaram,
deliberadamente, a mão livre ao Daesh/ISIS [1].
Esta e outras formações
terroristas foram derrotadas apenas, quando a Rússia interveio militarmente em
apoio às forças do governo sírio.
A Coligação também reivindica ter
“fornecido 20 biliões de dólares em assistência humanitária e para a
estabilização do povo iraquiano e sírio, treinado e equipado mais de 220.000
membros das forças de segurança para estabilizar as comunidades locais”. O
objectivo desta “assistência” é, na realidade, não a estabilização, mas a
contínua desestabilização do Iraque e da Síria, fomentando instrumentalmente,
sobretudo, as diversas componentes do independentismo curdo, para desagregar
esses Estados nacionais, controlar o seu território e as suas reservas de
energia.
Como parte dessa estratégia, a
Itália, definida como “um dos maiores contribuintes da Coligação”, está
empenhada no Iraque, principalmente, no adestramento das “forças de segurança curdas”
(Peshmerga), em particular, no uso de armas anti-tanque, morteiros, artilharia
e espingardas de precisão, em cursos especiais para franco-atiradores.
Operam, actualmente, no Iraque,
cerca de 1.100 soldados italianos, divididos em diversas ‘task force’/grupos de
trabalho, em vários lugares, equipados com mais de 300 veículos terrestres e 12
meios aéreos, com uma despesa, em 2019, de 166 milhões de euro.
A do Iraque está apoiada por uma
componente aérea italiana no Kuwait, com 4 caças-bombardeiros Typhoon, 3 drones
Predator e um avião-tanque para reabastecimento em voo.
Com toda a probabilidade, as
forças especiais italianas, às quais pertencem os cinco feridos, participam em
acções de combate, mesmo que a sua tarefa oficial seja só de treino. O emprego
de forças especiais é em si, secreto. Agora, torna-se ainda mais secreto porque
o seu comando, o COMFOSE, foi transferido do quartel Folgore, em Pisa, para a
área vizinha da base de Camp Darby, o maior arsenal USA fora da pátria, onde
também são realizadas actividades de treino.
Na Coligação, a Itália também tem
a tarefa de co-dirigir o “Grupo financeiro de combate ao “ISIS”, juntamente com
a Arábia Saudita e os Estados Unidos, ou seja, aqueles que financiaram e
organizaram o armamento das forças do ISIS e de outras formações
terroristas [2].
Fortalecido com todos estes
méritos, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Di Maio, apresentou em
Washington a proposta, imediatamente aceite, de que seja a Itália a acolher a
reunião plenária da Coligação, em 2020. Assim, a Itália terá a honra de receber
oponentes infatigáveis do terrorismo como a Arábia Saudita que, depois de
financiar o ISIS, agora gasta os seus petrodólares para financiar a sua guerra
terrorista, no Iémen.
Manlio Dinucci*
| Voltaire.net.org | Tradução Maria Luísa de
Vasconcellos | Fonte Il Manifesto
(Itália)
*Geógrafo e geopolítico. Últimas
publicações : Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014; Diario di
viaggio, Zanichelli 2017; L’arte
della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016; Guerra
nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla
catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra.
Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.
Notas:
[1]
«Comunicado conjunto
de los ministros que integran la Coalición Global contra Daesh», Red
Voltaire , 14 de noviembre de 2019.
[2]
« Arms
Airlift to Syria Rebels Expands, With Aid From C.I.A. », par C. J.
Chivers and Eric Schmitt, The New York Times, March 14, 2013. “Milhares de milhões de
dólares de armas contra a Síria”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede
Voltaire, 18 de Julho de 2017.
Sem comentários:
Enviar um comentário