sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Será que pára-quedistas europeus irão saltar sobre Maputo?


Ruptures

Após as eleições em Moçambique a União Europeia intimou a comissão eleitoral desse país a que "se explicasse" sobre alegadas irregularidades.

Em Moçambique, o presidente cessante, Filipe Nyusi, foi reeleito em 15 de Outubro com 73,5% dos votos, contra 21,5% para o seu principal opositor, do movimento Renamo (antiga guerrilha apoiada pelos ocidentais, que em 1992 se transformou em partido político).

Nas eleições legislativas que desenrolaram em simultâneo, o partido no poder desde a independência do país – a Frelimo, do qual saiu o presidente reeleito – conservou a maioria absoluta.

A Renamo denunciou fraudes maciças e exigiu uma anulação dos escrutínios. Ela foi apoiada neste sentido por diferentes grupos de observadores estrangeiros, nomeadamente aqueles enviados pela União Europeia.

Consequentemente, em 8 de Novembro, a UE publicou um comunicado indignado, denunciando nomeadamente "votações fraudulentas, votos múltiplos, invalidações deliberadas de votos da oposição". Ela indignou-se igualmente com "taxas de participação improváveis" e com "um número significativo de contagens anormais".

Bruxelas portanto intimou a Comissão Eleitoral a que "se explicasse" sobre estas irregularidades e exortou o Tribunal Constitucional do país a "corrigir algumas (sic) delas".

Teria sido mais simples para a UE que se substituísse directamente ao referido Tribunal Constitucional moçambicano.

É de notar que num outro continente a reeleição do presidente boliviano Evo Morales foi igualmente contestada pela oposição liberal. Esta última antecipou-se várias horas à contagem, em 20 de Outubro, e fez descer os seus partidários à rua. A União Europeia, assim como os Estados Unidos, rapidamente exigiram que os eleitores retornassem às urnas. Diante dos tumultos e motins a favor da oposição no interior da polícia e do exército, o presidente anunciou a sua demissão em 10 de Novembro. Por enquanto, Bruxelas permanece silenciosa diante deste golpe de Estado de facto .

Os vinte e sete devem doravante "aprender a empregar a linguagem da força" – Ursula Von der Leyen

O ditame da União Europeia a Moçambique foi formulado na véspera do dia em que a futura Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fez um discurso em Berlim – por ocasião do trigésimo aniversário da queda do Muro – na qual ela declarou que os 27 doravante deveriam aprender a "empregar a linguagem da força" pois "hoje o soft power não é suficiente se quisermos nos afirmar no mundo como europeus". Confirmou os comentários feitos anteriormente pelo próximo Alto Representante da UE para a política externa (ler o editorial da recente edição da Ruptures ), o socialista espanhol Josep Borrell.

Aguarda-se portanto com impaciência uma iniciativa forte neste sentido. Por exemplo um "grupo de batalha" da UE (agrupamentos militares multinacionais que nunca foram utilizados até hoje) que saltaria sobre Maputo a fim de fazer prevalecer os resultados eleitorais desejados?

11/Novembro/2019

O original encontra-se em ruptures-presse.fr/actu/mozambique-ue-frelimo-renamo-bolivie/

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/

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