Cerca de 500 trabalhadores
manifestaram-se em Luanda contra o aumento do custo de vida, a precariedade do
emprego e a perda do poder de compra, defendendo 80.000 kwanzas (152 euros)
como salário mínimo nacional.
O protesto, convocado pela União
Nacional dos Trabalhadores Angolanos - Confederação Sindical (UNTA-CS),
mobilizou trabalhadores de empresas como a Mecanagro que aproveitaram a
oportunidade para pedir soluções para o problema que se arrasta desde novembro
de 2018, quando a empresa foi extinta por despacho presidencial.
Moisés Samandalo, porta-voz da
comissão sindical da Empresa Nacional de Mecanização Agrícola (Mecanagro),
lamentou que os 3 mil milhões de kwanzas (5,7 milhões de euros) que seriam
supostamente disponibilizados para salvaguardar os direitos dos 750
trabalhadores distribuídos por 15 províncias angolanas não lhes tenham chegado.
Atribuiu responsabilidades à
entidade liquidatária -- o IGAPE, Instituto de Gestão de Ativos e Participações
do Estado -, e garantiu que o anterior ministro da Agricultura, Marcos Nhunga
prometera que os postos de trabalho das pessoas em idade ativa se manteriam.
Algo a que o seu sucessor, Francisco Assis não deu seguimento.
"O Presidente da República
foi bem claro sobre as empresas em via de privatização, disse que os postos de
trabalho seriam salvaguardados e o anterior ministro também. Mas o atual
ministro não quer herdar nenhum passivo, só quer herdar o ativo, só está
preocupado com o património", criticou, denunciando que foram retirados
equipamentos da empresa e pedido ao Presidente que "acompanhe" o
processo.
Um outro colaborador da
Mecanagro, Armando Chimunco, disse que a "empresa ficou na mão do
diabo" e que foram retiradas 1.150 máquinas e 70 camiões, acusando o
ministro, Francisco Assis, de "desprezar" os trabalhadores.
Sem ordenados, sem poder de
compra
Também funcionários do setor da
saúde se juntaram à marcha, como Nicolau António, enfermeiro da direção de
Saúde de Cacuaco (município de Luanda), que se encontra há quatro anos e cinco
meses sem receber ordenados, juntamente com 80 colegas: "Viemos participar
nesta marcha para mostrar o nosso descontentamento, para mostrar ao executivo o
que nós temos passado", declarou à Lusa.
Nicolau António e os seus colegas
continuam a apresentar-se no local de trabalho, mesmo sem receber: "a lei
diz que não podemos abandonar o local de trabalho", justificou. Os
trabalhadores já reuniram com o sindicato dos enfermeiros e enviaram inúmeras
cartas para o Ministério da Saúde, governo provincial e gabinete provincial de
Saúde sem qualquer resposta aos seus apelos.
No protesto, que durou entre as
13h00 e as 14h00, participaram representantes de 16 associações sindicais além
de algumas centenas de filiados para "passar a mensagem" de que é
preciso rever medidas políticas.
"O custo de vida está muito
alto, as famílias perderam poder de compra e estão sem consumo e era preciso
passar essa mensagem às autoridades", sublinhou o secretário-geral da
UNTA, Manuel Viage.
"Precisamos que os nossos
salários tenham poder de compra e que o nosso emprego seja garantia de
estabilidade, o que não acontece atualmente", reforçou.
O sindicalista salientou que é necessário
tomar medidas para reanimar a economia, que "se não crescer, tem poucas
possibilidades de criar novos empregos". Lamentou ainda que a atual
legislação tenha introduzido mais precariedade nas relações laborais, notando
que é possível até despedir com justa causa uma pessoa doente com paludismo,
uma doença endémica em Angola e que é a primeira causa de morte no país.
A UNTA é uma das três centrais
sindicais existentes em Angola e representa doze sindicatos nacionais mais 156
organizações e movimentos congéneres, contando com quase 260 mil filiados.
Deutsche Welle | Agência Lusa
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