Martinho Júnior, Luanda
A Embaixada da República
Bolivariana da Venezuela em Angola, comemorou o 33º aniversário do
estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois estados, numa cerimónia
realizada no dia 11 de Dezembro de 2019 no Memorial António Agostinho Neto em
Luanda, a que tive a oportunidade de como convidado assistir…
Sou testemunho da digna mensagem
de paz que a diplomacia bolivariana está a cultivar também em África,
expressando sua vocação como parte integrante dos que legitimamente procuram,
por via da paz com todos os sofridos sentidos do sul, lutar contra o
subdesenvolvimento crónico que desde o passado afecta os povos de ambas as
margens transatlânticas!
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01- As pátrias de Agostinho Neto
e de Hugo Chavez têm uma aspiração comum à paz, por que avaliam com
clarividência que só com a paz se poderão levar a cabo as acções de luta contra
o subdesenvolvimento e os resgates que se impõem em prol de sua independência e
soberania, preparando um futuro melhor que traga mais dignidade e felicidade
para os povos! (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/04/angola-uma-paz-avida-de-futuro.html).
Essa tão legítima aspiração surge
num momento em que quer para Angola, quer para a Venezuela Bolivariana,
independentemente dos imensos desafios correntes que são obrigadas a enfrentar,
é premente “resolver os problemas do povo”, diversificar a economia, retirá-la
da dependência da indústria extractivista, quando o petróleo e os diamantes são
ainda tão importantes para as suas respectivas balanças e procurar mesmo assim
que a voracidade dos poderosos não esgote os recursos de que são tão pródigos
os dois países!
A transatlântica ponte entre as
duas nações, os dois estados e os dois povos, está assim praticamente e em
grande parte por construir e isso apesar de não só serem muitas as áreas comuns
de interesse recíproco, mas também por que para o sul, há que fortalecer laços
que levem a melhor responder aos riscos e ameaças de toda a ordem, num mundo
globalizado desequilibrado, desigual, assimétrico e com alterações ambientais
que começam a pôr em causa a vida, tal qual hoje a conhecemos! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/03/vencer-assimetrias-i.html; http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/03/vencer-assimetrias-ii-continuacao.html).
02- Há um imenso campo humano de
actividades identitárias a desbravar entre Angola (e mesmo todo o continente
africano) e a Venezuela, que na região do Caribe se tem vindo a destacar na
defesa das pequenas nações insulares que lhe são contíguas, nações essas cujos
povos têm importantes comunidades afrodescendentes que só existem em função do
tráfico de escravos que as potências coloniais levaram a cabo durante vários
séculos no passado! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/02/civilizacao-e-barbarie-uma-constante.html).
Nesse aspecto a visão do
Comandante Hugo Chavez antecipa o futuro e sincroniza-se com a visão de
Agostinho Neto, com o seu pensamento estratégico que levou à consumação do
Programa Mínimo do MPLA derrotando o colonialismo português, à luta contra o
racismo, que levou ao colapso do “apartheid”, à luta contra a
internacional fascista na África Central e Austral que dá coerência às
políticas proactivas em busca de paz em África…
O pensamento estratégico de
Agostinho Neto, numa trilha de Não Alinhamento proactivo, mereceu a
solidariedade internacionalista do povo e da revolução cubana que no momento
mais decisivo, o da proclamação da independência de Angola a 11 de Novembro de
1975, às ordens do Comandante Fidel, desencadeou a missão de irmandade
transatlântica com nome da escrava heroica de Cuba, que preferiu lutar até à
morte pela liberdade e pela dignidade da condição humana, a Operação Carlota! (http://www.granma.cu/granmad/secciones/30_angola/artic01.html; http://www.fidelcastro.cu/es/articulos/la-operacion-carlota; http://litoralcentro-comunicacaoeimagem.pt/2016/05/25/a-retomada-do-territorio-angolano-ha-40_25/; https://paginaglobal.blogspot.com/2015/10/cuba-40-anos-com-operacao-carlota.html; http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/1975-guerra-pela-independencia.html; https://plataformacascais.com/plataformacascais/artigos/partilhado/60824-sob-o-olhar-silencioso-de-agostinho-neto-martinho-junior.html).
A Venezuela Bolivariana honra a
história das revoluções que se sucederam no século XIX contra os impérios
coloniais na América, revoluções essas inspiradas na vitoriosa revolução dos
escravos do Haiti que chegaram a vencer as poderosas tropas de Napoleão,
destacadas para tentar sufocar as revoltas de então! (http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/as-muitas-licoes-do-haiti.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2012/03/imprescindiveis.html;
O próprio Simon Bolivar recorreu
à ajuda do Haiti para levar a cabo a sua saga libertária e essa memória
histórica é de tal modo significativa que pesa hoje na densidade dos relacionamentos
em todo o Caribe, de que a Venezuela faz parte.
Tive a oportunidade de realizar
uma visita-relâmpago ao Centro de Saberes Africanos, Americanos e Caribenhos (https://www.saberesafricanos.net/; https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/08/01/el-poder-sustantivo-de-la-paz-xxv-foro-de-sao-paulo/),
no âmbito da minha participação nas cerimónias do Vº aniversário do
desaparecimento físico do Comandante Hugo Chavez (entre 4 e 8 de Março de 2018)
e aquilatar o respeito pelos laços identitários e históricos que se têm vindo a
nesse sentido cultivar na Venezuela.
O Centro é além do mais um
manancial de diplomatas venezuelanos neste momento em serviço em África, o que
permite um grau de vitalidade nos relacionamentos transatlânticos
internacionais com os olhos do sul!
Nesse âmbito a Venezuela Bolivariana
dá um saudável exemplo, um autêntico repto que merecia uma iniciativa similar
do lado africano do Atlântico Sul, pois em África continua a haver um grande
alheamento em relação aos afrodescendentes na América e sobretudo em relação
àqueles que habitam as tão isoladas quão carenciadas pequenas ilhas das
Caraíbas!
03- A vocação transatlântica da
Venezuela Bolivariana com sensibilidade do sul, tem hoje múltiplas expressões. (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/07/26/no-alineamiento-activo-pilar-imprescindible-de-la-paz-global/).
A África do Sul, por exemplo,
possui interesses mineiros no Orinoco, no sector dos diamantes, adiantando-se a
outros países africanos, entre eles Angola. (https://www.thediamondloupe.com/articles/2017-06-07/venezuela-and-south-africa-strike-deal-diamond-mining).
Essa participação africana nos
projectos do Arco Mineiro do Orinoco, é uma resposta proactiva comum de povos
que estão cansados de serem as vítimas dilectas dos poderosos que hoje, por via
do capitalismo neoliberal contemporâneo, delapidam os recursos do sul em seu
exclusivo interesse, a tal ponto que estão a conduzir ao esgotamento dos
recursos vitais do planeta!
Em Angola, a pequena equipa da
diplomacia bolivariana está a demonstrar clarividência e vigor nos seus amplos
propósitos de paz correspondendo às mais legítimas aspirações dos povos de todo
o mundo e em particular dos povos da América Latina e de África!
A cerimónia que assinalou o 33º
aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a Venezuela e
Angola fez disso prova sublinhando o momento desse número mágico, num Memorial
a Agostinho Neto que é ele próprio mágico na sua solenidade apelativa!
À intervenção do jovem embaixador
Marlon José Peña Labrador acreditado em Angola no seguimento duma digna
experiência anterior em Moçambique, juntou-se a sincrónica magia das
interpretações da jovem Orquestra Sinfónica Kaposoka, que além do mais também
já tem inspiração e experiência bolivariana! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/03/livro-de-condolencias-na-embaixada-da.html).
Um momento mágico carregado de
simbolismo e elevada sensibilidade!
De facto está-se num momento
mágico em que os sonhos, as utopias e as vontades transatlânticas têm como
vital desafio um longo caminho a trilhar em comum para dois países que têm além
do mais dois rios, o Kwanza (Angola) e o Orinoco (Venezuela), como dois
circuitos irrevogáveis para a garantia do futuro! (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/11/zelar-pelos-nossos-rios-e-zelar-pela.html).
No sul transatlântico a
civilização humana está em constante prova de vida, olhos nos olhos face à
barbárie que o tem vindo a dilacerar de há séculos a esta parte, num processo
continuado que não teve até agora fim!
Vamos à luta por que para ambos
não são os céus o limite, quando “o mais importante é resolver
os problemas do povo”! (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/reviver-agostinho-neto).
Martinho Júnior -- Luanda, 12 de Dezembro de 2019
**Quatro imagens da cerimónia
comemorativa do 33º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas
entre a República de Angola e a Venezuela Bolivariana.
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