Domingos De Andrade
| Jornal de Notícias | opinião
Não é fácil dar razão a Ferro
Rodrigues na reprimenda que deu ao deputado do Chega no Parlamento.
E não é fácil, em primeiro lugar,
porque há uma certa Esquerda que se arroga no direito régio de possuir a
verdade e a razão sobre o comum dos mortais, outorgando aos outros as
liberdades, direitos e garantias que entendem que os outros devem ter. Nisso, há
agora também uma certa Direita que agiota o mesmo pensamento. Basta perder um
bocadinho de tempo a ler o que escrevem e a ouvir o que dizem.
O presidente da Assembleia da
República, daremos aqui o benefício da dúvida, não se enquadrará nos primeiros,
e muito menos nos segundos. Imaginem, então, um adolescente tardio a gritar
"vergonha" por tudo e por nada, a quem ninguém pode dizer nada, que
grita mais alto do que todos os outros impedindo a argumentação, sabendo ele
que essas reações colhem votos porque vivemos dias em que importa mais quem
berra do quem raciocina.
Foi mais ou menos isso que se
passou. André Ventura, o tal deputado do Chega, pouco mais fez do que convocar
por diversas vezes a palavra "vergonha" num momento do debate
parlamentar sobre a existência de dinheiro para tudo menos para remover o
amianto nas escolas, entre outras peripécias menos mediáticas.
Num Parlamento onde noutros
tempos nem os corninhos da praxe faltaram, então por um ministro socialista,
onde a mesma palavra "vergonha" anda de boca em boca, parece
excessivo querer calar o eleito por uma parte da Nação exaltando os limites à
liberdade de expressão, como fez Ferro Rodrigues.
E terá sido. Mas haja alguém que
não receie o uso da palavra perante outrem cujas prerrogativas democráticas
assentam no aproveitamento que faz da anomia social, de alguém que professa um
pensamento numa tese académica e outro na vida real, que muda o programa do
partido porque lhe dá jeito, mas sobretudo porque usa a ameaça como único
argumento. A Marcelo Rebelo de Sousa, a quem pediu audiência a propósito do
caso, deixou mais ameaças veladas para as eleições presidenciais e até ironizou
com o presidente do Natal dos Hospitais.
Temos medo ou reagimos?
*Diretor JN
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