domingo, 15 de dezembro de 2019

Portugal | Quem tem medo de André Ventura?


Domingos De Andrade | Jornal de Notícias | opinião

Não é fácil dar razão a Ferro Rodrigues na reprimenda que deu ao deputado do Chega no Parlamento.

E não é fácil, em primeiro lugar, porque há uma certa Esquerda que se arroga no direito régio de possuir a verdade e a razão sobre o comum dos mortais, outorgando aos outros as liberdades, direitos e garantias que entendem que os outros devem ter. Nisso, há agora também uma certa Direita que agiota o mesmo pensamento. Basta perder um bocadinho de tempo a ler o que escrevem e a ouvir o que dizem.

O presidente da Assembleia da República, daremos aqui o benefício da dúvida, não se enquadrará nos primeiros, e muito menos nos segundos. Imaginem, então, um adolescente tardio a gritar "vergonha" por tudo e por nada, a quem ninguém pode dizer nada, que grita mais alto do que todos os outros impedindo a argumentação, sabendo ele que essas reações colhem votos porque vivemos dias em que importa mais quem berra do quem raciocina.

Foi mais ou menos isso que se passou. André Ventura, o tal deputado do Chega, pouco mais fez do que convocar por diversas vezes a palavra "vergonha" num momento do debate parlamentar sobre a existência de dinheiro para tudo menos para remover o amianto nas escolas, entre outras peripécias menos mediáticas.


Num Parlamento onde noutros tempos nem os corninhos da praxe faltaram, então por um ministro socialista, onde a mesma palavra "vergonha" anda de boca em boca, parece excessivo querer calar o eleito por uma parte da Nação exaltando os limites à liberdade de expressão, como fez Ferro Rodrigues.

E terá sido. Mas haja alguém que não receie o uso da palavra perante outrem cujas prerrogativas democráticas assentam no aproveitamento que faz da anomia social, de alguém que professa um pensamento numa tese académica e outro na vida real, que muda o programa do partido porque lhe dá jeito, mas sobretudo porque usa a ameaça como único argumento. A Marcelo Rebelo de Sousa, a quem pediu audiência a propósito do caso, deixou mais ameaças veladas para as eleições presidenciais e até ironizou com o presidente do Natal dos Hospitais.

Temos medo ou reagimos?

*Diretor JN

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