quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Moçambique | Denúncia de tortura contra jornalista Amade Abubacar: "Já suspeitávamos"


O jornalista moçambicano Amade Abubacar diz que foi torturado por militares, depois de ser detido a 5 de janeiro na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique. MISA-Moçambique insiste na libertação de Abubacar.

Amade Abubacar está detido há mais de três semanas, acusado de violação de segredo de Estado e de instigação pública com recurso a meios informáticos.

O jornalista foi detido na vila de Macomia, província de Cabo Delgado, quando fotografava famílias que fugiam da região com medo de ataques. E, durante uma visita da comissão dos direitos humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique, denunciou que foi torturado por militares.

"Na conversa que tivemos na cadeia, Amade Abubacar contou que recebeu seis chambocadas de alguns militares quando esteve no quartel de Mueda, mas disse que não foi durante o interrogatório", afirmou Ricardo Moresse, presidente da comissão dos direitos humanos, citado pelo diário moçambicano "O País".

Em entrevista à DW, Fernando Gonçalves, presidente do Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA) - Moçambicano, diz que já suspeitava de que isso pudesse ter acontecido.
Amade Abubacar esteve detido durante 13 dias no quartel de Mueda, incomunicável e sem acesso a advogado. "Isto é contra as nossas leis", frisa Gonçalves.

Na semana passada, um porta-voz do Tribunal Judicial de Cabo Delgado anunciou que Amade Abubacar deveria aguardar julgamento em prisão preventiva, por receio de que pudesse "perturbar a investigação". Mas o MISA-Moçambique insiste na libertação do jornalista.

DW África: O jornalista Amade Abubacar denunciou que foi torturado por militares, segundo a comissão dos direitos humanos da Ordem dos Advogados, citada pelo jornal "O País". Que informações tem sobre esta situação?

Fernando Gonçalves (FG): A comissão dos direitos humanos da Ordem dos Advogados, que foi visitar Amade Abubacar [à prisão], não nos deu esse relato. Tivemos conhecimento através desse mesmo meio, e condenamos completamente esse tipo de atuações. Aliás, já suspeitávamos, porque Abubacar ficou em prisão num quartel militar durante 13 dias, e isto é contra as nossas leis. A legislação não permite que autoridades militares tenham sob sua custódia cidadãos civis. Por outro lado, entendemos que, havendo alegaões de que Amade Abubacar foi torturado, isso implica que a confissão (se é que há confissão), que a acusação pretenda usar em tribunal, foi obtida por meios ilegais. Essa confissão não deve ser admissível. E nós, através do nosso advogado, vamos levantar este assunto no fórum e momento apropriados.

DW África: A defesa apresentou um pedido de libertação, sob caução. Há perspetivas de que Amade Abubacar seja libertado?

FG: Por lei, ele preenche todos os requisitos necessários para aguardar julgamento em liberdade. Nós esperamos que o tribunal decida favoravelmente sobre isso, mas não temos ainda resposta. Aguardamos serenamente que nos seja dada uma resposta definitiva.

DW África: Amade Abubacar é acusado de violar o segredo de Estado e de instigação pública com recurso a meios informáticos. Emília Moiane, diretora do Gabinete de Informação de Moçambique (GABINFO), disse entretanto que não haveria evidências de que Amade Abubacar estaria a fazer trabalho jornalístico quando foi detido. Como é que comenta estas palavras?

FG: Primeiro, essas acusações são, para nós, uma fantasia. E, depois de uma pessoa ter ficado 13 dias em reclusão militar, este processo não tem qualquer credibilidade. Quanto às declarações da diretora do GABINFO, penso que o ponto é que a nossa Lei de Imprensa é clara sobre quem é jornalista. É jornalista aquele que recolhe, processa e transmite informação, e isso é uma atividade regular e remunerada. Não importa se a pessoa trabalha no jornal "A" ou "B", o que importa é o que a pessoa faz. Para todos os efeitos práticos, Amade Abubacar era jornalista do Instituto de Comunicação Social (ICS). Eu, pessoalmente, falei com o delegado do ICS em Pemba e não fiquei com a impressão de que ele já não fosse trabalhador do instituto. Mas, mesmo que ele não fosse trabalhador do ICS, ele estava a recolher informação para utilização por um órgão de informação e qualifica-se perfeitamente como jornalista, à luz da nossa Lei de Imprensa.

DW África: A comissão dos direitos humanos da Ordem dos Advogados falava em possível "influência política" neste caso. Concorda?

FG: Não direi taxativamente que há influência política, ou não, mas sinto que há alguma coisa que não está a ficar clara. Sinto que há um esforço enorme de impedir que os jornalistas tenham acesso a várias partes da província de Cabo Delgado. O que se pretende com isso? Não tenho a mínima ideia… Agora, também há uma questão que temos notado com alguma tristeza, que é a utilização de órgãos de Comunicação Social do Estado para fazer uma vigorosa campanha de propaganda contra Amade Abubacar sobre este caso, quase que obrigando-o a ter de provar a sua inocência. Mas não é isso que tem de acontecer: o que tem de acontecer é que os acusadores têm de provar que Amade Abubacar é, de facto, aquilo de que é acusado.

Guilherme Correia da Silva | Deutsche Welle

Moçambicanos perseguidos e assassinados conseguem Justiça em Londres


Moçambicanos perseguidos e assassinados por causa dos rubis de Namanhumbir conseguem Justiça em Londres

A população da aldeia de Namucho-Ntoro, em Namanhumbir, que há cerca de uma década tem sofrido inúmeros actos de violência perpetrados por seguranças, militares e até agentes da polícia ao serviço do general Raimundo Pachinuapa e dos seus sócios estrangeiros conseguiram enfim alguma justiça em Londres. Os ingleses da Gemfields, sócios maioritários da Montepuez Ruby Mining, admitiram nesta terça-feira(29) que actos de violência aconteceram entre 2011 e 2018 dentro e ao redor da sua concessão na província de Cabo Delgado e por isso vão indemnizar os moçambicanos em cerca de 6 milhões de dólares norte-americanos.

“A Gemfields reconhece que no passado acontecimentos de violência ocorreram dentro e nas cercanias da concessão da Montepuez Ruby Mining”, declarou a empresa sediada no Reino Unido em comunicado de imprensa onde não assume responsabilidade sobre 273 queixas de violência mas indica que vai criar um painel que determinará a atribuição de compensações financeiras por queixas ou reclamações que venham a ser feitas no futuro.

Funcionários da segurança da multinacional que está em Moçambique desde 2011, explorando um filão que contém 40 por cento das reservas de rubis do mundo, assim como agentes de diversos ramos das Forças de Defesa e Segurança são acusados há vários anos de terem espancado, usados balas reais e até fogo para alegadamente afugentarem centenas de mineiros ilegais que artesanalmente operam próximo da sua concessão mineira.

Apesar de inúmeras queixas e inúmeros processo lavrados no tribunal distrital de Montepuez a justiça aconteceu no início de Fevereiro em Londres onde um grupo de 273 cidadãos moçambicanos, com o apoio legal do escritório de advogados Leigh Day, processava a Gemfields no Supremo Tribunal britânico por actos de violência que incluem pelo menos 18 assassinatos e 95 fogos postos em residências que @Verdade tem vindo a reportar.

Quiçá para evitar uma condenação os sócios ingleses do general Pachinuapa aceitaram um acordo extrajudicial onde vão indemnizar em cerca de 5,3 milhões de dólares cada um dos queixosos a título de reparação pelos estragos estragos sofridos e 660 mil dólares serão investidos na criação de um programa de reinstalação na aldeia de Namucho-Ntoro que irá acomodar 100 famílias.

Paradoxalmente este acordo, cujo montante representa uma pequena percentagem dos lucros desta multinacional em Moçambique que ascenderam a 463 milhões de dólares norte-americanos, acontece numa altura em a região das minas de rubis é o epicentro de ataques terroristas desde finais de 2017.

Aliás académicos moçambicanos determinaram que os rubis de Namanhumbir são uma das razões dos ataques protagonizados por insurgentes apelidados de Al Shabaab pelos locais, embora não tenha conexões com o grupo homónimo da Somália, e que já causaram a morte de mais de três centenas de pessoas.

Adérito Caldeira | @Verdade

Moçambique | 4 anos de Nyusi mais corruptos do que era Guebuza


A evidente falta de responsabilização dos grandes corruptos durante os 4 anos de governação de Filipe Nyusi afundou Moçambique no Índice de Percepção da Corrupção: em 2015 o país ocupava a posição 111 e em 2018 está no lugar 161. Na Região Austral de África mais corruptos do que a “Pérola do Índico” somente o Zimbabwe, a República Democrática do Congo e Angola.

Os discursos do Presidente Nyusi reafirmando firmeza no combate à corrupção não encontram resposta na Justiça, quiçá pelos compromissos políticos que impedem uma real separação dos poderes em Moçambique.

A falta de responsabilização criminal nos casos Embraer, Odebrecht, dos funcionários fantasmas e das dívidas ilegais são algumas das evidência que mantiveram o nosso país entre os mais corruptos do mundo no ranking do ano passado, divulgado na segunda-feira(28) pela organização Transparência Internacional (TI).

A chamada “Pérola do Índico” que obteve 23 pontos, menos dois que em 2017, está na posição 161, dentre 183 países avaliados. Entre os 32 países membros da União Africana Moçambique é o 13º a contar do fim superando apenas o Zimbabwe, a República Democrática do Congo, Angola, Chade, Congo, Burundi, Líbia, Guiné Equatorial, Guiné Bissau, Sudão, Sudão do Sul e a Somália.

Quando Filipe Nyusi tornou-se Presidente o nosso país ocupava a posição 119, tinha obtido 31 pontos, durante o seu primeiro ano de governação até subiu para a posição 111 no entanto em 2016, ano da descoberta das dívidas ilegais da Proindicus, EMATUM e MAM, Moçambique caiu para lugar 142, com 27 pontos.

Mesmo após as constatações da Comissão Parlamentar de Inquérito à situação da Dívida Pública e dos detalhes revelados pela Auditoria da Kroll a Procuradoria-Geral da República tem-se mostrado incapaz, ou incapacitada, de acusar qualquer um dos cidadãos identificados quem assinou os documentos e recebeu dinheiro deste que é o considerado pela TI “um dos maiores escândalos de corrupção de África”.

O Índice de Percepção da Corrupção, da Transparência Internacional, criado em 1995, é um dos principais indicadores à escala mundial da corrupção no sector público, continua a ser liderada pela Dinamarca (88 pontos) e Nova Zelândia (87 pontos).

Adérito Caldeira | @Verdade

Angola | Oposição quer explicação de João Lourenço sobre alegado envolvimento nas "dívidas ocultas"


Opositores querem que Presidente angolano se pronuncie sobre alegada ligação com as “dívidas ocultas” de Moçambique. UNITA e CASA-CE, partidos da oposição em Angola, exigem também tomada de posição da PGR

Continuam as reações à possível ligação do Presidente angolano a empresas envolvidas no escândalo das "dívidas ocultas" em Moçambique. A denúncia foi feita pela consultora EXX Africa, que alerta que Angola pode enfrentar riscos reputacionais por causa de negócios feitos em 2015, quando João Lourenço era ministro da Defesa.

Embora o Presidente esteja atualmente em visita privada aos Estados Unidos da América, Lindo Bernardo Tito, da CASA-CE, a segunda maior força política da oposição em Angola, quer que João Lourenço, agora na qualidade de chefe de Estado, se pronuncie sobre o caso.

"O Presidente da República devia dar explicações aos angolanos sobre essa possível ligação ao escândalo das dívidas ocultas de Moçambique, que já levou para prisão o antigo ministro das Finanças daquele país”, afirma Tito.

Já Alcides Sakala, deputado e porta-voz da UNITA, o maior partido da oposição angolana, quer que a Procuradoria-Geral da República investigue as denúncias da consultora.

"Estamos a acompanhar, como poderá imaginar, com bastante atenção. É nosso entendimento que perante estas informações recorrentes, a Procuradoria-Geral da República já devia ter tomado posições para melhor enquadramento desta matéria. Acredito haver aqui matéria suficiente para o Ministério Público tomar as medidas que se acharem as mais apropriadas”, diz Sakala.

Credibilidade em risco

Num relatório especial, a consultora destaca a ligação entre o Governo de Angola e a empresa Privinvest, liderada pelo libanês Jean Boustani. O principal suspeito no caso das "dívidas ocultas" de Moçambique foi detido nos Estados Unidos no início do ano. O Ministério da Defesa de Angola, na altura liderado por João Lourenço, chegou a fazer um contrato de 495 milhões de euros para comprar barcos à Privinvest, num contrato com muitas semelhanças com as empresas que estão no centro do escândalo das dívidas ocultas, revelou a consultora. As ligações e os negócios feitos podem "minar o ímpeto muito popular e mediático contra a corrupção", diz ainda o relatório.

combate à corrupção e a impunidade tem, de facto, sido o cavalo de batalha do Presidente angolano, que a comunidade internacional tem visto com bons olhos. Mas, para Lindo Bernardo Tito, essa luta pode ser posta em causa por causa desta alegada ligação.

"Se o Presidente não se pronunciar, irá se criar sobre ele uma imagem menos boa, o que poderá perder credibilidade na sua vontade de combater a corrupção, o nepotismo e a impunidade quem se coloca num desafio com este deve ter a ficha limpa”, conclui.

Manuel Luamba |  Deutsche Welle

Porque não há mais ex-ministros indiciados em Angola

Ex-ministro dos Transportes Augusto da Silva Tomás encontra-se detido desde setembro
Apenas um antigo ministro do governo de Eduardo dos Santos, Augusto Tomás, está detido e aguarda julgamento. Ex-governante é acusado de desvio de dinheiro. Analistas consideram "estranha e seletiva" a atuação da justiça.

Augusto Tomás já foi formalmente acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no caso que que envolve o Conselho Nacional de Carregadores. O ex-ministro dos Transportes vai responder em tribunal pelos crimes de peculato na forma continuada, associação criminosa, branqueamento de capitais e abuso de poder na forma continuada, entre outros.

O analista político angolano Augusto Báfuabáfua estranha o facto de apenas um ex-governante estar indiciado quando é de domínio público que o país tem os cofres vazios. "É incrível como é que num país onde houve um desmesurado peculato, houve um desvio enorme não de dezenas, mas de centenas de milhões de dólares, para não dizer de biliões, e só o ministro é que é indiciado. É estranho", sublinha em entrevista à DW.

E os outros suspeitos de corrupção?

Augusto Báfuabáfua esperava também que os antigos embaixadores, governadores provinciais e vice-ministros na governação do ex-Presidente José Eduardo dos Santos suspeitos de atos de corrupção fossem indiciados. "O que se esperava é que essa altura tinha de haver dezenas para não dizer centenas de cidadãos que hoje são detentores de grandes volumes de riqueza, mas a justiça não se fez sentir", critica.

Questionado sobre se a justiça angolana estará a agir de forma parcial, o analista não duvida que está a ser "seletiva". Por isso, de uma coisa tem a certeza: Augusto Tomás vai ser condenado pelos crimes que pesam sobre si. "Neste caso, Augusto da Silva Tomás foi a pessoa visada pelo que se alega há mais probabilidade de ser condenado do que não. O que lamento é que seja o único, esperava por muitos mais", diz.

Em entrevista à DW África, o ativista cívico Benedito Jeremias "Dito Dali" também defende a condenação dos corruptos e a recuperação imediata dos valores roubados. "O que importa é que o Estado crie mecanismos e tenha poderes suficientes para poder recuperar todo dinheiro que foi roubado e confiscar todo o património público que essa gente surripiou do Estado, isso é que é mais importante", sublinha.

Além de Augusto Tomás, também aguardam julgamento José Filomeno dos Santos "Zenú", filho do ex-Presidente da República, e o sócio Jean-Claude Bastos de Morais. São ambos acusados de desvio de dinheiro do Fundo Soberano de Angola.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Angola | Restos mortais de Jonas Savimbi exumados no Luena


A cerimónia de exumação e recolha de amostras dos restos mortais do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi, realizou-se esta quinta-feira no Luena, província do Moxico. Funeral deve acontecer na primeira semana de abril.

A informação foi hoje avançada à agência Lusa pelo porta-voz do maior partido da oposição angolano. Alcides Sakala referiu que o ato teve lugar na manhã de hoje na presença de uma delegação da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e do Governo.

Segundo Alcides Sakala, realizou-se a exumação e a recolha das amostras dos restos mortais de Savimbi para o exame de DNA, a ser feita por técnicos portugueses, sul-africanos e angolanos, nos respetivos países.

"Penso que a partir de agora os técnicos vão começar a trabalhar e vamos ver a evolução desse processo", salientou o porta-voz da UNITA, acrescentando que não há ainda uma previsão para a divulgação dos resultados.

No ato participaram da parte da UNITA, o coordenador da comissão organizadora das exéquias de Jonas Savimbi, Joaquim Ernesto Mulato, Rafael Massanga Savimbi, Durão Savimbi e Kanganjo Savimbi, filhos do primeiro presidente do partido, um sobrinho, o porta-voz do partido e deputado Maurílio Luiele.

Da parte governamental, avançou Alcides Sakala, esteve presente uma delegação bastante vasta, chefiada pelo general Cequeira, ligado à Casa Militar do Presidente da República.

Na terça-feira, o vice-presidente da UNITA, Raul Danda, avançou à Lusa que as cerimónias fúnebres do fundador do partido deverão acontecer na primeira semana de abril.

Jonas Savimbi foi morto em combate no dia 22 de fevereiro de 2002 e os seus restos mortais foram sepultados no cemitério de Luena, capital do Moxico.

(em atualização)

Agência Lusa | em Deutsche Welle

Onda de frio extremo deixa mortos nos EUA

Gelo no lago Michigan, em Chicago
No Meio-Oeste, termómetros marcam temperaturas mais baixas que na Antártida, escolas e empresas ficam fechadas, e voos são cancelados. Chicago pode ter frio recorde, e sensação térmica chega a -48°C em Minnesota.

Ao menos oito pessoas morreram em decorrência da onda de frio extremo que assola parte dos Estados Unidos. O fenómeno conhecido como vórtice polar fez com que os termómetros na região do Meio-Oeste americano marcassem temperaturas mais baixas que as registadas na Antártida.

O Serviço Meteorológico Nacional afirmou que as temperaturas continuarão muito abaixo do normal na região nesta quinta-feira (31/01). A sensação térmica deve ficar entre -32°C e -48°C.

"Ventos perigosamente frios podem causar lesões na pele exposta em apenas cinco minutos", disse a entidade.

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Nesta quinta-feira, as temperaturas em Chicago podem quebrar o recorde da cidade, de -32°C, atingido em janeiro de 1985. Já áreas isoladas da região podem enfrentar temperaturas de até -40°C.

As aulas foram canceladas nestas quarta e quinta-feira ao longo do Meio-Oeste, inclusive em Chicago. Muitas empresas também permaneceram fechadas, deixando as ruas da cidade praticamente desertas.

Mais de mil voos com destino ou partida dos aeroportos internacionais Chicago, o que equivale a quase dois terços dos voos previstos, foram cancelados na quarta, segundo o site FlightAware. Em todo o país, 2.622 voos foram cancelados.

O vórtice polar provocou cenas surreais, como vapor saindo das águas do lago Michigan – resultado do ar extremamente frio passando por água mais quente logo abaixo. Partes das Cataratas do Niagara ficaram congeladas, e blocos de gelo cobriram o rio que cruza o centro de Chicago.

Até mesmo os correios dos EUA decidiram suspender as entregas em parte do país, apesar de serem conhecidos pelo seu slogan afirmando que "nem neve, nem chuva, nem calor, nem a escuridão da noite" são capazes de interromper os serviços. Os Estados de Illinois, Michigan e Wisconsin adotaram medidas de emergência.

Entre as oito vítimas da onda de frio registadas até o momento estava um homem de 70 anos que foi encontrado morto na quarta-feira diante da casa de um vizinho em Detroit. Um ex-membro do conselho da comunidade de Ecorse, a 24 quilómetros de Detroit, também foi encontrado morto. Ele também tinha por volta de 70 anos de idade, e estava vestindo apenas pijamas.

Um estudante foi encontrado morto do lado de fora de um prédio no campus da Universidade  do Iowa no início desta quarta-feira. Em Illinois, a polícia resgatou 21 pessoas que estavam ilhadas em um ónibus que quebrou em uma rodovia, pois o diesel acabou virando gel dentro do motor do veículo.

Algumas das sensações térmicas mais baixas foram registadas em International Falls, em Minnesota, chegando a -48°C, segundo o meteorologista Andrew Orrison, do Serviço Meteorológico Nacional. Até mesmo a Antártida estava mais quente, com sensação térmica mínima esperada de -31°C.

Vórtice polar

A onda de frio é consequência de um fenómeno conhecido como vórtice polar. Trata-se de uma massa de ar extremamente frio que normalmente gira ao redor do Polo Norte, mas que se deslocou para o sul e passou a se movimentar sobre os EUA.

O deslocamento da massa de ar frio, por sua vez, é resultado de uma onda de ar quente no Ártico, que dividiu o vórtice polar e levou parte dele para os EUA, explica Judah Cohen, especialista em tempestades de inverno da Atmospheric Environmental Research, uma empresa comercial na região de Boston.

Esse tipo de ocorrência tem se tornado mais comum nos últimos anos. Alguns cientistas suspeitam de uma ligação com as mudanças climáticas, embora não se saiba ao certo o motivo. No inverno de 2013-2014, um vórtice polar também levou à quebra de recordes de temperatura em várias partes do Canadá e do leste dos Estados Unidos.

PJ/rtr/ap/afp | Deutsche Welle

Americanos não devem esquecer crueldade gratuita de Trump


É tentador tripudiar por o suposto "mestre negociador" ter desistido temporariamente de seu muro. Considerando-se o sofrimento causado pelo "shutdown" parcial, porém, ninguém está saindo vencedor, opina Michael Knigge.

O presidente americano, Donald Trump, precisou de 35 dias para assinar um projeto de lei que poderia ter tido desde antes do Natal. Antes que ele se retirasse da mesa de negociações, em dezembro último, já fora proposto um acerto similar para se financiar temporariamente o governo, mas não o triturador de verbas públicas predileto de Trump, o muro na fronteira com o México.

Na época, o negociador-chefe gabou-se, numa reunião no Salão Oval, de que estaria "orgulhoso de fechar o governo" se não obtivesse verbas para seu muro. Por fim, após mais de um mês de shutdown, ele anunciou um acordo que os democratas estavam oferecendo desde o início: dissociar por um breve período os financiamentos do governo e do muro, enquanto se negocia sobre a segurança de fronteiras. O republicano se opunha consistentemente à ideia – até que parou de se opor e de repente, na sexta-feira (25/01), capitulou.

Alguns de seus detratores podem sentir-se tentados a tripudiar sobre "o melhor negociador do mundo" e seu fracasso em obter financiamento para seu muro de fronteira. Mas tal seria altamente impróprio diante do sofrimento desnecessário que ele causou a tantos, durante a mais longa paralisação na história dos Estados Unidos.

O inconsequente anúncio do shutdown  parcial por ele, logo antes do Natal, significou para 800 mil funcionários públicos e suas famílias terem que se virar sem salário por mais de um mês. Para não falar dos mais de 1 milhão de contratados pelo governo e que, ao contrário dos funcionários, não receberão qualquer pagamento retroativo.

Até hoje Trump e membros de gabinete bilionários como o secretário do Comércio  Wilbur Ross não foram capazes de compreender quão devastador foi seu frívolo para os muitos baixos assalariados, tanto funcionários como contratados, e suas famílias. deles tiveram que recorrer a cantinas para comer e procurar trabalho paralelo, enquanto muitas vezes eram forçados a se apresentar no emprego sem pagamento.

Quanto mais se estendeu, mais a paralisação trumpista colocou em perigo milhões de cidadãos, em numerosos aspectos da vida quotidiana. Para mencionar uns poucos: abastecimento e segurança alimentar, inspeções alfandegárias, segurança nas viagens aéreas, e portanto segurança nacional como um todo – exatamente aquilo que Trump afirmava estar promovendo com sua obstinada insistência na construção de um muro de fronteira.

Lembremos, ainda, que a palhaçada do shutdown  foi mais um severo golpe na já abalada noção de que um posto público, embora pagando menos do que um emprego no setor privado, ao menos representa uma fonte de renda mais confiável.

Assim, os milhões que foram afetados se deparam com uma solução temporária, tendo a ameaça do possível próximo shutdown  apenas três semanas adiante. Mas isso não é nada de novo para Donald Trump, um homem que, ao longo de sua carreira, jogou com o dinheiro e o bem-estar alheio sem o menor problema, contanto se fosse para engordar os próprios lucros.

Agora se pode especular o que levou Trump a se render: se o cancelamento do discurso sobre o Estado da União; o iminente colapso das viagens aéreas em algumas cidades-chave dos EUA; se foi simplesmente uma manobra para desviar a atenção do indiciamento de seu camarada Roger Stone; se sua quota de aprovação minguante; a pressão dos parlamentares republicanos – ou se tudo isso junto.

Mas trata-se de um exercício de futilidade: ninguém sabe o que se passa realmente na mente de Trump. Em vez disso, aproveitemos esta breve trégua para agradecer a todos os funcionários do governo que, ao longo de toda essa paralisação, sofreram em nome de sua dedicação a manter o país em funcionamento, apesar dos caprichos presidenciais.

Vamos torcer – se é para esse shutdown  ter qualquer consequência de longo prazo – que os americanos, sobretudo os diretamente afetados, lembrem quem se gabou de que teria orgulho de paralisar o governo. Torçamos para que os americanos lembrem do impiedoso e cruel presidente, disposto a jogar com as vidas e a subsistência alheia por um inútil muro que, no fim das contas, ele não conseguiu. Haverá uma prova de mau caráter mais condenadora do que essa?

Michael Knigge | Deutsche Welle

Parlamento Europeu reconhece Juan Guaidó como presidente da Venezuela, servil aos EUA


Podia dizer-se que a notícia é uma bomba se não conhecêssemos as qualidades do Parlamento Europeu e da atual União Europeia no seu servilismo aos EUA, a Trump e aos capitalistas globais que semeiam guerras e desumanidades na sua ganância de se apoderarem dos recursos naturais e mundiais que lhes garantem fortunas inauditas, imorais e escandalosas, que são causa principal das mortes e miséria, da desumanidade que abunda no globo terrestre.

O título é da autoria do Notícias ao Minuto, no original, sem incluir o servilismo aos EUA. O texto ainda está a ser mitigado naquela redação, informando-nos que a notícia avançará após atualização. Acompanharemos aqui no PG...

Decorridos breves minutos a notícia é atualizada e publicada por completo. A UE reconhece como presidente da Venezuela um títere de Trump e do grande capital, afinal uns donos da UE.

Guaidó foi ilegalmente eleito por uns ínfimos deputados num golpe que pretende depor Maduro e entregar o país aos EUA com algumas migalhas à UE. Maduro foi na realidade e legitimamente eleito por mais de 6 milhões de eleitores. Assim se percebe por transparência a vergonhosa atitude antidemocrática da direita fanática e servil aos EUA que abunda no Parlamento Europeu, rumo ao nazi-fascismo - com outras cores e outras vestes, com outras palavras e toneladas de mentiras e de ilusões que enganam os povos europeus e de outras partes do mundo. Principalmente os europeus porque votam e os elegem, tal qual como Hitler foi eleito. Depois viu-se o que era e quem era. O que queria e o que que fez. Os milhões que matou parece que foram esquecidos pela humanidade, pelos europeus.

Reconhecer Guaidó, que não foi eleito... Que espécie de democracia abunda no Parlamento Europeu e na totalidade dos orgãos da UE? O fascismo avança e já vimos o autoritarismo e o servilismo pungente em Bruxelas, em Estrasburgo, etc.

A notícia atualizada, do NM, em seguida. (PG)


Parlamento Europeu reconhece Juan Guaidó como presidente da Venezuela

No passado dia 23 de janeiro, a Assembleia Constituinte elegeu Juan Guaidó como presidente interino.

De Bruxelas já tinha chegado um aviso: ou Nicolás Maduro aceitava eleições livres, ou a União Europeia mudaria a postura e passaria a reconhecer Juan Guaidó como novo líder do país

Esta quinta-feira, o Parlamento Europeu reconheceu Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela.

Numa resolução aprovada por 439 votos a favor, 104 contra e 88 abstenções, a assembleia europeia, reunida em Bruxelas, solicitou também à chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, e aos Estados-Membros que "adotem uma posição firme e comum e reconheçam Juan Guaidó como único Presidente interino legítimo do país até que seja possível convocar novas eleições presidenciais livres, transparentes e credíveis tendo em vista restabelecer a democracia".

Os eurodeputados reiteram o seu pleno apoio à Assembleia Nacional, "que é o único órgão democrático legítimo da Venezuela e cujos poderes devem ser restabelecidos e respeitados".

Recorde-se que o clima de tensão social, política e económica que a Venezuela tem vivido atingiu novo ponto já este mês.

No passado dia 23 de janeiro, a assembleia venezuelana reconheceu Guaidó como presidente interino do país.

Logo após a autoproclamação como líder interino, países como os Estados Unidos, o Canadá, o Brasil,  e a Colômbia e outra nações sul-americanas apressaram-se a considerar Guaidó o presidente legítimo.

A posição europeia perante este novo episódio da crise venezuelana numa primeira fase passou por pressionar Maduro a aceitar eleições. Maduro, recorde-se, foi reeleito nas presidenciais venezuelanas de 2018 com uma larga maioria. As eleições, no entanto, não foram reconhecidas como legítimas por boa parte da comunidade internacional. Nos últimos dias, a Rússia, a China e a Turquia mantiveram apoio a Maduro.

Na quarta-feira, Nicolás Maduro disse ser a favor de eleições legislativas antecipadas para acabar com a crise política do país, mas recusou a hipótese de novo escrutínio presidencial.

Esta mudança de postura por parte de Estrasburgo surge numa altura em que os ministros dos negócios estrangeiros da União Europeia estão reunidos, entre hoje e sexta-feira, em Bucareste, na Roménia. A crise política na Venezuela estava no topo da agenda, precisamente após o ultimato europeu para eleições no país.

A posição do Governo de Portugal tem acompanhado a de outros países da UE, com a preocupação acrescida de haver uma larga comunidade lusodescendente na Venezuela.

Pedro Filipe Pina | Notícias ao Minuto

A Geopolítica e Geofinanças da China em África: depois de 2018, segue-se 2019 (I)



O ano de 2018 reafirmou qual a geopolítica chinesa, no global, ou africana, no geral, e de certo modo reafirmou a angolana, em particular. Ou seja, a China reafirmou-se como uma potência global, não só a nível económico ou político. Também a nível militar e aeroespacial se avigorou.

A nível económico, no geral, não teve problemas em afrontar a potência mundial, os EUA, e a agressiva política económica de Trump e do “American First”. Uma situação que não se prevê possa diminuir de intensidade face aos compreensíveis interesses económicos de ambos.

A nível político, e aproveitando a “ausência” dos EUA no sistema internacional, baseado no asseverar do reforço económico e social das políticas internas da administração Trump e do afastamento deste, aliado a algumas ameaças de sanções económicas, de alguns os cenários mais importantes, principalmente para o Ocidente — leia-se, Europa — como são as políticas ambientais e a livre concorrência de produtos europeus de e para os EUA, assim como para outros países e que para o quais os EUA ameaçam com sanções; bem como uma agressiva política externa pró-israelita e anti- -establishment, em particular, anti- -iraniana e não-palestiniana, e numa política de um “não interesse” nas questões africanas — excepto e, na maioria dos casos, com razão, para criticar os líderes africanos — permitiram à China ter uma maior penetração na Europa, na Ásia e na América Latina como solidificar a sua influência em África.

E são estes factos que sinteticamente procurarei abordar.

Para a Europa criou uma “rota da seda” para a colocação dos seus produtos e de muito do seu excedente comercial e financeiro, e, em particular em Portugal, solidificou a sua presença a nível financeiro, estando presente nas principais empresas portuguesas, nomeadamente na energia e nas finanças. A recente visita do líder chinês, Xi Jinping, a Portugal, reforçou essa presença e esse influxo (a vontade de usar o porto de Sines — o maior e mais ocidental porto da Europa — e a sua prevista ligação ferroviária de alta velocidade de mercadorias ao heartland europeu são factores que alimentam ainda mais a atracção dos chineses a Portugal). A investigadora portuguesa Cátia Mirian Costa, especialista em temáticas chinesas, aborda estes temas, quer sobre as relações com Portugal, como sobre as ainda debilidades com que a China padece a nível ecológico, num recente artigo n’O Jornal Económico, «China, essa desconhecida» (https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/china- -essa-desconhecida-391715).

Na Ásia e na América Latina mais do que emerge, reafirma- -se como um parceiro importante, seja a nível económico — é um comprador firme do petróleo venezuelano — seja a nível político, com a afirmação do BRICS. Mas na Ásia, e de certa forma, a nível global, a importância do seu poder sobre Pyongyang levaram a uma aproximação do líder norte- -coreano, Kim Jong-un, aos seus irmãos do Sul e a um melhor relacionamento com os EUA, em geral, e com Trump em particular, levando os dois líderes a se encontrarem em Singapura para um acordo de progressivo “desarmamento nuclear” na Península Coreana.

Xi Jinping, discretamente, e como é apanágio chinês — ver a minha “Teoria do Mahjong”, já aqui descrita no Novo Jornal, na edição 390, de 24 de Julho de 2015, ou no meu livro Of the An Instrumentality Power to the Mahjong Theory […], edição Lambert Academic Publishing, de 2015 —, acabou por ser o principal beneficiário desta aproximação. Como sempre tenho escrito, a Coreia do Norte não consegue subsistir sem o apoio político, económico, financeiro e científico dos chineses.

Mas é em África, em geral, e em Angola, em particular, que a China mais reafirmou a sua presença. Reafirmou e, mais que reafirmar, impôs-se.

Até há pouco anos, a China assentava o seu poder militar nas forças terrestres, sobretudo, e aéreas. Recentemente, e como todos os países oceânicos, percebeu que o poder naval era importante para se afirmar quer na área e na salvaguarda das suas costas e áreas marinhas e económicas, como um meio de projecção internacional.

No caso africano, em análise, a defesa das suas frotas de e para a China estavam a ser postas em causa com os actos de pirataria tanto na região malaia como, e principalmente, no Golfo da Áden e no Corno de África, com a pirataria somali. Actos que produziam elevados prejuízos aos chineses.

Por esse facto, a China começou a desenvolver uma flotilha naval com a construção, não só de barcos patrulhas e fragatas — que já tinham — como o fabrico de navios de guerra de grande porte (destróieres) e de porta-aviões (prevê, no final, ter cinco porta-aviões, incluindo dois de propulsão nuclear), sendo que o primeiro já está em fase final de testes (ver em https://www.naval.com.br/blog/tag/marinha- -chinesa/).

Mas a presença naval chinesa em África deixou ser só no mar. A China obteve permissão do Djibuti para criar um porto e estacionar parte da sua força naval no Golfo de Áden, neste país. Muito perto das forças francesas e norte-americanas. A China deixou de ser só uma potência economia e política em África, para ser uma potência global no continente africano.

Se a presença chinesa em África se tornou global, ainda é o poder económico e político que mais se faz sentir no nosso continente, em geral, e em Angola, em particular.

Uma das primeiras vistas do presidente João Lourenço ao exterior foi precisamente à China, onde a par do reforço das relações entre os dois países lhe permitiu não só “se apresentar” ao líder chinês como tentar — e conseguir, com algum custo — um novo empréstimo financeiro junto de Beijing. Sabe-se — pouco, é certo — que Xi Jinping fez depender este novo empréstimo de algumas condições prévias que, na realidade, estão guardadas nos cofres da diplomacia dos dois países.

Mas não são só estas condições que estão nos segredos dos deuses sino-angolano. Na realidade ninguém, de boa-fé, pode afirmar qual é a nossa dívida real à China. Nem o FMI, nem — muito menos — as empresas de rating o sabem. Cabe aos países relacionados informar estas entidades das suas dívidas e serviços de dívida (juros). E só elas, e quando o querem, informam os valores em causa. Ora, os nossos sucessivos Governos sempre consideraram não ser nem necessário divulgar estes valores. Puro erro. A comunidade nacional precisa de saber o que deve, a quem deve e quanto deve. Talvez isso permitisse aos angolanos não serem tão expansivos em algumas das suas despesas.

*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e investigação para Pós-Doutorado pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto

**Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado.

Novo Jornal



*Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais - nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

A guerra comercial entre a China e os EUA em 7 pontos essenciais


Uma nova ronda negocial entre os EUA e a China, que se iniciou quarta-feira (omtem) em Washington, procura encontrar saídas para uma guerra comercial que afeta a economia mundial

O QUE PROVOCOU A GUERRA COMERCIAL ENTRE A CHINA E OS EUA

Os Estados Unidos queixam-se de que a China não respeita os acordos internacionais de propriedade intelectual e que aplicam taxas demasiado elevadas aos produtos comerciais importados dos EUA.

Durante a campanha presidencial de 2016, o candidato Republicano, Donald Trump, prometeu que endureceria a posição norte-americana face ao comportamento comercial da China, dizendo que conseguiria equilibrar a balança comercial, considerada demasiado inclinada para o lado chinês.

Os EUA acusam ainda a China de colocar demasiados entraves à entrada de produtos norte-americanos, nomeadamente em setores estratégicos, como o automóvel.

RESPOSTA DA CHINA ÀS ACUSAÇÕES DOS EUA

A China considera que as regras comerciais a nível mundial não protegem os interesses de uma economia que tem tido crescimentos acima de 10% anualmente e que procura agora novos mercados.

Por outro lado, a China recusa todas as acusações de roubo de propriedade intelectual e quer maior flexibilidade nas questões de patentes, sendo o país que apresentou maior número de pedidos de patentes a nível mundial, em 2017.

QUE MEDIDAS TOMARAM OS EUA

Desde 2016 que os norte-americanos têm aumentado as taxas sobre produtos oriundos da China, com tarifas punitivas sobre mais cerca de 500 mil milhões de dólares (mais de 400 mil milhões de euros) de bens importados da China, em particular na área tecnológica.

Para já, ficaram de fora destas taxas adicionais produtos como telemóveis, computadores e calçado (áreas que movimentam milhares de milhões de dólares de comércio), mas se a ronda comercial que esta quarta-feira se inicia em Washington falar, as tarifas serão ainda mais duras e mais abrangentes.

RESPOSTA QUE A CHINA TEM DADO

A China introduziu taxas de 25% sobre cerca de 100 mil milhões euros de produtos oriundos dos EUA, incluindo setores relevantes como as carnes bovina e de porco, automóveis, produtos químicos e gás natural liquefeito.

Para já, a China deixou de fora as tarifas adicionais sobre aeronaves norte-americanas, em grande parte fabricadas pela Boeing Co., mas não exclui a hipótese de introduzir taxas neste setor.

PAPEL DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO

Esta organização tem-se revelado impotente para mediar o conflito comercial entre a China e os EUA, com os norte-americanos a não reconhecerem competência para qualquer interferência.

Hoje, a pedido da China, a Organização Mundial do Comércio decidiu investigar as taxas adicionais que os EUA querem aplicar aos produtos chineses, tendo nomeado uma comissão de disputa.

QUE IMPACTO TEM O CONFLITO NA ECONOMIA MUNDIAL?

Os analistas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial já alertaram para os riscos de imprevisibilidade deste conflito comercial e dizem que se as negociações endurecerem a economia mundial pode sofrer danos profundos e duradouros.

Logo a seguir à aplicação de taxas adicionais, durante 2018, as bolsas de Nova Iorque e de Xangai sofreram importantes quedas, terminando o ano com um comportamento negativo.

POSSÍVEIS VANTAGENS PARA A EUROPA

Os analistas dizem que perante a estratégia de internacionalização da economia chinesa e com as limitações nos canais comerciais entre a China e os EUA, a Europa pode passar a ser um mercado preferencial para as empresas chinesas.

A dúvida, contudo, está em saber se a Comissão Europeia irá alinhar com as medidas protecionistas dos EUA, perante a China, ou se pretende manter uma política neutral, permitindo um estreitar de relações entre os mercados europeu e chinês.

Visão | Foto: Nicolas Asfouri / Getty Images

Cinco potências mundiais discutem na China sobre controlo das armas nucleares


China, Rússia, Grã-Bretanha, França e Estados Unidos continuam nesta quinta-feira (31) uma reunião para coordenar posições sobre o desarmamento nuclear, o uso pacífico da energia atómica e a vigência do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares

247, com Prensa Latina - China, Rússia, Grã-Bretanha, França e Estados Unidos continuam nesta quinta-feira (31) uma reunião para coordenar posições sobre o desarmamento nuclear, o uso pacífico da energia atómica e a vigência do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.

No final do primeiro dia de debates, Zhang Jun, chefe da delegação anfitriã, disse que o acordo concentrava grande parte das trocas de opinião entre as cinco potências sobre como implementar o Tratado de maneira abrangente.

De acordo com o vice-ministro chinês das Relações Exteriores, a reunião fará todo o possível para resolver a não-proliferação nuclear por meio de medidas políticas e diplomáticas, e fortalecer a cooperação internacional no uso pacífico da energia atómica.

Ele também comentou sobre o fortalecimento de normas e estratégias para prevenir riscos para a segurança e a estabilidade internacional derivados de mal-entendidos.

Zhang acrescentou que a China continuará empenhada em construir um consenso, administrando as diferenças entre as cinco potências nucleares, substituindo conceitos ultrapassados ​​por colaboração e contribuindo para a paz mundial.

Esta é a primeira reunião formal em dois anos entre as cinco potências e o gigante asiático serve como sede pela segunda vez, como aconteceu em 2014.

Brasil 247

O ponto da situação da ofensiva imperialista em diversas zonas do mundo


Entrevista com Atilio Borón

Uma importante entrevista em que é feito o ponto da situação da ofensiva imperialista em diversas zonas do mundo – com particular destaque para a América Latina -, da resistência dos povos, da generalizada ausência de influentes forças políticas revolucionárias que assumam a vanguarda da luta de massas anti-imperialista e anticapitalista.

Mohsen Abdelmoumen | O Diário.info

Mohsen Abdelmoumen: Como explica o recuo da esquerda e a ascensão da extrema-direita na América Latina, como vimos no Brasil com a eleição do fascista e torcionário Jair Bolsonaro e com Mauricio Macri na Argentina?

Prof. Atilio Borón: Há muitas razões, que só posso resumir aqui. Primeiro, foi impressionante a intensidade da contraofensiva dos EUA para derrotar os governos progressistas. Macri foi um presente inesperado, mais devido aos erros do kirchnerismo do que a qualquer outra coisa. Mas a vitória foi muito importante para os Estados Unidos. Bolsonaro é o produto da desmobilização do PT levada a cabo por Lula desde o início, da completa corrupção do sistema judicial que colocou Lula na prisão e permitiu que Bolsonaro não estivesse presente nos debates presidenciais, o apoio constante dos media hegemónicos e, claro, os graves erros dos governos Lula/Dilma, que acreditavam que a política social e o retirar de milhões de pessoas da pobreza extrema seriam suficientes para mudar a consciência popular e transformá-los em defensores de políticas progressistas. Como na Argentina, era uma política de redistribuição de renda sem educação de massas ou socialização. Além disso, o problema da violência dos gangues nas favelas era crucial no Brasil, e não foi bem combatido pelos governos do PT, dando a impressão de que a única política que eles tinham para lidar com este problema sério era um programa de educação cívica de longo prazo que, naturalmente, não conseguiu impedir o avanço vertiginoso do crime em bairros da lata e favelas. Propaganda subtil e metadados, mais a Cambridge Analytica e a habilidade de Steve Bannon fizeram o resto. O Brasil provou, como antes os EUA, que “notícias falsas” são geralmente consideradas informações confiáveis. Assim, as mentiras e a difamação da campanha de Bolsonaro foram extremamente eficazes.

MA - No seu muito relevante livro ” Twenty-First Century Socialism: Is There Life After Neo-Liberalism?”, demonstra que a América Latina não tem qualquer perspectiva com o capitalismo, e desmente as teses neoliberais que afirmam que o capitalismo é o remédio para todos os males. Não pensa que o sistema capitalista simplesmente fracassou, seja no centro capitalista como se vê com o movimento dos Coletes Amarelos em França, mas também na periferia? Não acha que o sistema capitalista não oferece perspectiva em nenhum lugar?

AB - O capitalismo foi um enorme fracasso. Muitas conquistas tecnológicas e subidas muito modestas no padrão de vida das maiorias sociais combinaram-se com uma concentração irresistível da riqueza e dos rendimentos, tanto no centro como na periferia. O livro de Thomas Piketty e milhares de artigos e livros provaram isso, e a tendência não pode ser revertida. Hoje, o 1% mais rico da população mundial apropriou-se de mais riqueza do que os 99% restantes. Esta situação não tem precedentes na história do mundo! E é política, social e economicamente insustentável. Além disso, recentes desenvolvimentos capitalistas prejudicaram a Mãe Natureza como nunca antes. Assim, a “segunda contradição” do capitalismo, como postulado por Jim O’Connor, tornou-se fatal nos dias de hoje. Basta analisar com suficiente atenção as catástrofes ambientais da mudança climática para entender a magnitude desse problema e a total incapacidade das sociedades capitalistas para lidarem com ele.

MA - Na sua opinião, não traz consigo o capitalismo a sua própria ruína?

AB - Sim, foi a principal tese de Marx nos seus escritos, mas também foi estabelecida, embora metafisicamente, pelas penetrantes reflexões de Hegel sobre a dialética dos mercados e da sociedade civil no capitalismo. Mas, como Lénine ensinou, o sistema capitalista não entrará em colapso a menos que as forças sociais e políticas o derrubem. Bernstein estava errado a este respeito e Marx e quase todos os seus seguidores estavam certos em apontar a necessidade de uma força revolucionária, seja um partido, um movimento ou qualquer outra organização popular. Por si mesmo, o capitalismo perdurará apesar das suas contradições e, nesse processo, a barbárie tornar-se-á o seu sinal distintivo.

MA - Na sua opinião, o movimento dos Coletes Amarelos que surgiu na França e que está a espalhar-se na Europa não será um movimento revolucionário e fundamentalmente anticapitalista?

AB - É uma revolta popular, anti-neoliberal, mas não inteiramente anticapitalista. Além disso, é uma colecção extremamente heterogénea de actores sociais e não tenho a certeza de que no final todos estariam prontos a atacar a cidadela ou o poder capitalista. Não ficaria surpreso se uma parte significativa deles concluísse o seu activismo juntando-se às forças da direita. O “poujadismo” foi uma experiência muito importante na França do pós segunda guerra mundial.

MA - Não acha que há necessidade de refundar a esquerda na América Latina e no mundo? A classe trabalhadora não terá a necessidade imperiosa de uma estrutura revolucionária que corresponda às exigências do momento?

AB - Sim, é absolutamente necessário. Mas somos confrontados com um problema crítico: a divisão das condições objectivas da revolução, já suficientemente maduras, e o atraso na constituição de uma consciência revolucionária, o atraso no amadurecimento das condições subjetivas. Apesar do passado, a perspectiva revolucionária é completamente invisível para as massas, na América Latina e no resto do mundo. A formidável eficácia dos aparelhos ideológicos do Estado capitalista apagou completamente a revolução da paisagem. Portanto, a enorme importância da batalha ideológica é de convencer as massas de que a revolução não é apenas possível, mas necessária. Em segundo lugar, uma vez que a primeira tenha sido alcançada, deveríamos encontrar a forma política apropriada para canalizar o renovado impulso revolucionário das massas. Os partidos leninistas ou gramscianos tradicionais são a resposta certa para um novo proletariado mundial, imenso e muito heterogéneo, fragmentado em milhares de pequenos pedaços, como um espelho quebrado? Eu duvido disso. O dito de Mariátegui de que “a revolução não pode ser nem uma “cópia verdadeira” (calco,”traço”), nem uma réplica mas uma criação heroica das massas” é mais válida do que nunca.

MA - O ex-assessor de Trump, Steve Bannon, está em vias de federar toda a extrema-direita na Europa. Sabendo que na América Latina, os EUA apoiaram fascistas como Bolsonaro e Macri, não pensa que existe um plano liderado pelo governo dos EUA para unir toda a extrema-direita no mundo?

AB - Sim, de facto. E isso foi explicitamente declarado por Bannon e muitas outras pessoas. É uma aspiração de longa data do governo dos Estados Unidos desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e a rápida mudança no clima político (numa direcção reacionária, começando na Europa por causa dos refugiados e a crescente presença de população muçulmana) forneceu a Trump uma oportunidade de ouro. No entanto, o resultado está longe de ser o que eles esperam e numerosos factores intervêm na evolução da situação política. Os resultados podem ser muito decepcionantes para o governo dos EUA.

MA - Segundo a sua opinião, em alguns países susceptíveis de sofrer intervenções imperialistas visando as riquezas do seu subsolo e por interesse geopolítico, como por exemplo a Argélia, não haverá necessidade de ter dirigentes legítimos e honestos e instituições fortes para evitar o caos? Ibn Khaldun profetizou que os tiranos atrairão os invasores; os verdadeiros aliados do imperialismo não serão os dirigentes corruptos e ilegítimos?

AB - Para combater o caos criado pelo imperialismo, uma liderança honesta e instituições fortes devem ser acompanhadas por uma mobilização popular intensa e bem organizada. Há muitas histórias na América Latina em que governos honestos foram expulsos por golpes de estado promovidos pelo governo dos EUA e seus aliados oligárquicos no terreno. Tomemos o caso de Salvador Allende no Chile em 1973 ou de Arturo U. Illía na Argentina em 1966, dois exemplos eloquentes do que digo. Em contrapartida, a sabotagem, a corrupção e o despotismo foram as marcas de todos os regimes estabelecidos após a intervenção imperialista na América Latina ou no Caribe. Casos como Alfred Stroessner no Paraguai, François Duvalier no Haiti, Rafael L. Trujillo na República Dominicana e Anastasio Somoza na Nicarágua, para não mencionar ditaduras mais recentes na Argentina, Brasil e Chile, mostram conclusivamente que os Estados Unidos e os interesses burgueses locais não acreditam em procedimentos democráticos. A retórica da direita é absolutamente falaciosa. Se, para fazer prevalecer os seus interesses, eles necessitam de matar, encarcerar ou torturar, eles farão tudo isso. Tomemos o caso de Sukarno na Indonésia e o assassínio em massa de meio milhão de pessoas para limpar o país de “comunistas”; ou os milhares de “desaparecidos” na Argentina, ou magnicídios perpetrados contra personalidades destacadas da esquerda na América Latina como João Goulart, Pablo Neruda, Orlando Letelier (em Dupont Circle, Washington DC !!!), Omar Torrijos do Panamá e Jaime Roldós do Equador, entre as personalidades mais conhecidas. O imperialismo e os governos honestos não vão bem juntos. A luta pela autodeterminação nacional, para uma democracia dinâmica e uma governança honesta está condenada ao fracasso sem uma forte resistência contra o imperialismo, verdadeiro factótum dos regimes mais atrozes que já conheci na nossa região.

MA - Sobreviverão as conquistas da revolução sandinista na Nicarágua aos contínuos ataques do imperialismo dos EUA?

AB - Penso que sim, mas à custa de um endurecimento do regime político. Uma cidadela sitiada nunca oferece um terreno fértil para a tolerância, o pluralismo, liberdades desenfreadas. Mas os planos do império são exactamente de fazer os sandinistas regredir numa involução não democrática levando a uma “crise humanitária” que poderia servir de prelúdio a uma “solução Líbia”, invasão, caos social e econômico, desordem e linchamento de Ortega e dos seus próximos.

MA - Não há risco de intervenção americana na Venezuela?

AB - Existem planos. O Comando Sul disse-o há alguns anos. O problema com que estão confrontados é que as forças militares bolivarianas são fortes, bem equipadas e prontas para lutar. O Exército brasileiro hesita em participar numa invasão e os seus homólogos colombianos temem que a distração das suas forças na Venezuela crie as condições para um crescimento rápido da guerrilha no seu país. Então, eu não excluiria a possibilidade de uma intervenção militar cirúrgica dos Estados Unidos na Venezuela, mas até ao momento tudo não passou de conversas e nenhuma ação. Além disso, de forma não militar, é persistente a intervenção norte-americana na Venezuela desde a ascensão de Chávez em 1999. Sanções económicas, sabotagem, tentativas de golpe, pressão diplomática, bloqueio comercial etc. têm sido comuns e persistentes ao longo de toda a experiência bolivariana.

MA - Como analisa a transição política em Cuba? Como explica o contínuo encarniçamento do governo dos EUA contra Cuba desde que o embargo foi introduzido em 1962?

AB - É uma longa história. Já em 1783, John Adams solicitou a incorporação de Cuba sob a jurisdição dos Estados Unidos. Cuba tem um enorme valor geopolítico enquanto principal porta de entrada para o Caribe, considerado pelos militares e estrategas dos EUA como uma espécie de “mare nostrum”, e eles não aceitam o facto de Cuba agir como como nação soberana, com autodeterminação e não queira receber humildemente as ordens da Casa Branca. O bloqueio fracassou porque o regime revolucionário não caiu, mas os sofrimentos infligidos ao povo cubano são enormes e criminosos, tal como os obstáculos que o bloqueio causou ao desenvolvimento económico de Cuba. No entanto, a Revolução continua capaz de oferecer melhores políticas sociais em matéria de saúde, educação e segurança social do que a maioria dos países do mundo e, para Washington, é um “mau exemplo” intolerável que deve ser erradicado a todo o custo. Até agora, não foram capazes de o fazer e não penso o farão num futuro próximo.

MA - Vê-se, por exemplo, o martírio do povo palestino pela entidade criminosa de Israel, ou o massacre do povo do Iémen pela Arábia Saudita, aliada dos Estados Unidos. Não será necessário ter uma frente mundial anti-imperialista seja na América, África, Europa ou Ásia, onde os povos compartilham a mesma luta: resistir ao imperialismo que devasta os países e o capitalismo que explora e sangra os povos?

AB - Absolutamente. Chávez queria criar essa frente anti-imperialista, mas a sua solicitação não foi bem acolhida porque muitos interpretaram mal a sua proposta como sendo um renascimento ou a Terceira Internacional sob Stalin. Foi estúpido, mas infelizmente numerosas organizações populares seguiram essa linha. Samir Amin, François Houtart e eu próprio propusemos a criação de uma tal frente internacional no Conselho Internacional do Fórum Social Mundial de Porto Alegre e fomos derrotados, em grande parte devido à oposição de ONG’s poderosas que rejeitaram essa ideia. Não apenas isso: essas ONG’s foram também instrumentais na disseminação de um forte sentimento “antipolítico” que desprezava os partidos políticos, os dirigentes políticos e as agendas políticas. A tal ponto que foi muito difícil convidar Lula e Chávez para as reuniões sucessivas do Fórum. Hoje, isso mudou, embora eu não tenha certezas quanto à profundidade e coerência desse desenvolvimento promissor.


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SOBRE A VENEZUELA, À VELOCIDADE DA LUZ


Martinho Júnior, Luanda 

PIRATARIA EM TRÊS ETAPAS - 1

1ª - O Banco de Inglaterra não entrega o ouro venezuelano ao governo constitucional;

2ª - O "Presidente Interino" pede à 1ª Ministra Britânica e ao Banco de Inglaterra para "não entregar a Maduro" o ouro da Venezuela;

3ª - (Antecipando de acordo com minha interpretação) - o ouro da Venezuela vai ser colocado à disposição do"Presidente Interino", para ele preencher o papel a que "está (superiormente) predestinado”!

Nota: aceitam-se apostas em relação ao 3º ponto.

Conclusão: os planos de Donald Trump são previsíveis nas suas opções a curto, médio e longo prazo.



PIRATARIA EM TRÊS ETAPAS - 2

EXPLORANDO O RECONHECIMENTO DO "CAVALO-DE-TROIA":

1º - Presidente Interino face a face ao Presidente Contitucional;

2ª - Ganhar capacidade nos instrumentos do poder de estado, pagando com os capitais venezuelanos açambarcados para o efeito no exterior;

3º - "Mobilizar" para as forças mercenárias instrumentalizadas que passam a sustentar o seu "poder de estado";

4º - (Antecipando de acordo com minha interpretação) - radicalizar a sua opção de forma a passar da tensão para o conflito, do conflito para a guerra... até à tomada do poder!

Nota: aceitam-se apostas em relação ao 4º ponto.

Conclusão: os planos de Donald Trump são previsíveis nas suas opções a curto, médio e longo prazo.



 PIRATARIA EM TRÊS ETAPAS - 3

PASSO A PASSO A INJECTADA PIRATARIA DE TRUMP VAI GANHANDO FORMA NA DIRECÇÃO DA GUERRA!

1º - A todo o transe Trump e o seu rol de piratas estão a fazer tudo para reforçar económica e financeiramente Guaidó, moldando o "produto" na direcção da guerra!

2º - Além do mais, na Colômbia, milícias mercenárias podem instalar "bases de rectaguarda" para poderem actuar na profundidade para dentro da Venezuela!

3º - Se isso acontecer, essas milícias poderão gerar cumplicidades no Brasil e na Guyana, "cercando a Venezuela" e realizando penetrações numa escalada de "assimetrias" difícil de prognosticar, pois há condições objectivas e cada vez mais condições subjectivas para "construir" um governo mercenário no exílio!

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