Maria Antónia de Almeida Santos |
Diário de Notícias | opinião
Abril de 1974 foi a porta para um
mundo melhor. Pela primeira vez, a governação começou a ser, pela liberdade e
pelo voto, orientada para as pessoas. Abril institucionalizou pela prática a
coragem da democracia e desenhou-nos uma nova identidade perante a Europa. Ainda
hoje se associa a Portugal a imagem histórica da revolução sem armas que trocou
o crivo da censura pelo cravo da liberdade, da poesia e da música. Há
novidade para alguém nestas palavras? Idealmente, a resposta será
"não". Mas nunca é de mais lembrar profilaticamente que a democracia
tem de acreditar nas pessoas e na cultura democrática que só elas podem
perpetuar.
Abril ditou também o fim do
isolamento imposto por Salazar e permitiu a aproximação ao projeto europeu, até
ao ponto da filiação. A nossa história e a nossa memória coletiva registam que
o maior protagonista dessa transição foi o povo português no seu conjunto. Mas
também registam, com justiça, todos aqueles que, acreditando, o coadjuvaram
nessa adaptação e os que, sendo inicialmente eurocéticos, viriam depois também
a orientar fundos e definir opções. Graças à Europa e quarenta e cinco anos
depois de Abril, somos um país melhor e moderno. No entanto, tal como Portugal
é hoje outro, também o mundo se modificou. São cada vez mais claros os sinais
de que as ideologias do eixo do fascismo e do nacionalismo ganham novamente
satélites. Que ninguém se iluda ou deixe iludir - as próximas eleições
europeias definirão o diálogo que a Europa, no seu todo, terá no futuro para
com a própria democracia.