terça-feira, 29 de outubro de 2019

Agora o Facebook quer controlar sua saúde


Conhecida por escândalos de captura de dados e manipulação política, rede sugere a usuários que lhe ofereçam suas informações médicas. Promete recomendar tratamentos… Leia também: corporações querem funcionários com chips

Maíra Mathias e Raquel Torres | Outras Palavras

O Facebook lançou uma nova ferramenta para as pessoas tomarem e registrarem decisões sobre seus cuidados com saúde. Elas informam seu sexo e idade e, em seguida, recebem uma lista de recomendações para cuidados preventivos, como teste de pressão arterial, mamografia, papanicolau ou um exame para os tipos de HPV com maior probabilidade de causar câncer. Os usuários também podem registrar quando fazem um check-up e escrever lembretes para agir no futuro. A ferramenta foi criada com a ajuda de parceiros como a American Cancer Society, o American College of Cardiology, a American Heart Association e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Ainda está disponível só nesse país e apenas em inglês, mas os planos são de que, em breve, esteja em espanhol também  –  e há a possibilidade de expansão para outros lugares.

Considerando o tamanho das discussões sobre privacidade e compartilhamento inadequado de dados nessa rede social, a novidade dá o que falar. A matéria do Stat cita um estudo recente que revelou que dezenas de aplicativos de saúde mental enviaram dados ao Facebook e ao Google para fins de análise ou publicidade. E, em fevereiro, o Wall Street Journal relatou que aplicativos nos quais os usuários registram dados confidenciais de saúde (como aqueles sobre ovulação) estavam compartilhando essas informações com o Facebook. 

A empresa afirma que adotou “rigorosas salvaguardas” para proteger a privacidade dos usuários: prometeu não compartilhar os dados gerados com terceiros, não deixar que outros usuários vejam quando as pessoas usam o recurso e não permitir que os anunciantes segmentem anúncios com base nas informações compartilhadas. Mas pode (e deve) acontecer de os usuários verem anúncios segmentados se clicarem em outro site ou navegarem para curtir a página de uma organização de assistência médica. Dentro do Facebook, os dados da ferramenta estarão acessíveis apenas a um subconjunto de funcionários focado em manter o recurso funcional. A ver.

Portugal | Um parlamento sem políticos


Fernanda Câncio | Diário de Notícias | opinião

O Público elencou as profissões dos novos deputados. Descobrimos assim que em 230 identificou um - um único, que o jornal não identifica - "político profissional". A síndrome cavacal está bem e recomenda-se. Ou de como o populismo ocupou o superego dos representantes eleitos.

Ainda bem que há um deputado arqueólogo: faz falta para fazer a arqueologia da profissão de político no parlamento. 45 anos depois do 25 de Abril e 44 após as primeiras eleições livres, só existe, a crer no trabalho publicado nesta sexta-feira pelo Público, um político profissional naqueles 230 lugares.

Isto apesar de termos ali gente que há 30 anos não larga a cadeira, como o comunista António Filipe, que entrou em 1989, na V legislatura, com 26 anos, e quem, como Jerónimo de Sousa, tendo entrado em 1975 na Constituinte, aos 28, acumule 36 de parlamento (saiu ao fim da VI legislatura, em 1995, e voltou na IX, em 2002) e 15 de liderança de partido. Jerónimo e o seu colega de bancada Francisco Lopes são aliás dois casos muito curiosos, já que surgem nas respetivas biografias parlamentares como "afinador de máquinas" e "eletricista".

Surgem de resto no referido artigo do Público como os únicos "operários" do parlamento, correspondendo a 0,9% do total - o que colide com uma notícia do Observador, que indica Hugo Oliveira, eleito pelo PS por Aveiro, como "operário fabril" (a respetiva biografia não consta ainda no site da AR mas foi possível confirmar que o deputado se identifica como tal).

Vejamos o caso de Francisco Lopes. Tem 64 anos e foi eleito pela primeira vez como deputado na X legislatura, em 2005. Se no site do parlamento está como eletricista, no do PC a biografia que consta, datada de 24 de agosto de 2010 (um ano antes de ser candidato por aquele partido à presidência da República), inclui, além de eletricista, também "funcionário do PCP".

Moçambique | Mais de 6.5 milhões de não votaram e Nyusi venceu...


Nyusi pediu vitória “5-0”... ganhou pela falta de comparência de 6,5 milhões moçambicanos

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou neste domingo (27) que o partido Frelimo e os seus candidatos venceram as eleições as Eleições Presidenciais, Legislativas e Provinciais. Filipe Nyusi, que durante a campanha pediu uma vitória “5-0”, foi reeleito Presidente de Moçambique graças a habitual fraude com conivência dos órgãos eleitorais mas também pela incompetência dos partidos de oposição em mobilizarem os 6,5 milhões de moçambicanos que não saíram de casa (nem das redes sociais) para exercer o seu dever cívico.

“O número total de votantes foi de 6.679.008 eleitores, o que corresponde a participação de 50,74 por cento. O candidato Filipe Jacinto Nyusi obteve neste agregado geral 73 por cento dos votos, o candidato Daviz Mbepo Simango obteve 4,38 por cento do total de votos, o candidato Ossufo Momade obteve 21,88 por cento e o candidato Mário Albino obteve 0,73 por cento do total de votos”, anunciou o presidente da CNE, Abdul Carimo Sau.

O apuramento geral dos resultados da 6ª eleição Presidencial indicam que Nyusi obteve 4.507.422 votos porém o número de moçambicanos que foram recenseados para este pleito mas não votou foi de 6.483.313 eleitores.

Mesmo que se descontem os “fantasmas”, que apoiariam o candidato do partido Frelimo, estes números mostram que a maioria dos moçambicanos não votou em Filipe Nyusi mas também não votou em nenhum dos outros candidatos nem mesmo para mostrar a sua posição relativamente ao aumento da pobreza, a falta de Saúde, ao aumento da corrupção ou mesmo sobre as dívidas ilegais.

Angola | Fuga da crise


Victor Silva | Jornal de Angola | opinião

Está a tornar-se coincidente a ideia de que, afinal, vivíamos uma realidade mascarada, fantasiada de realizações faraónicas que não saiam do papel mas torravam milhões e milhões, qual delas menos prioritária que a outra, numa inversão criminosa do interesse colectivo pelo individual ou de grupos.

Quer no MPLA, primeiro, por ter reconhecido ser urgente mudar o quadro, adoptando o lema de corrigir o que está mal, quer, depois, na oposição e na sociedade civil que se foram apercebendo da dimensão da crise em que o país estava mergulhado. A população, no geral, está a constatar dolorosamente essa situação, com a carestia do nível de vida que não pode ser responsabilidade única das medidas de estabilização macroeconómicas que o Governo tem vindo a adoptar.

O país foi saqueado e delapidado cruel e, repito, criminosamente, a pontos de ter atingido níveis de endividamento preocupantes que condicionam a execução dos vários programas para o relançamento da economia depois de anos seguidos de recessão.

A crise não foi “descoberta” pelo Governo liderado por João Lourenço. Ela já vem de há muitos anos atrás. Como a memória tem tendência a estreitar-se no tempo, recua-se ao ano de 2014, embora se saiba que já antes, no subprime, em 2007/8, as campainhas tivessem tocado com muitos “iluminados” da praça a dizerem do alto do seu pedestal, que Angola estava imune à crise.

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