Conhecida por escândalos de
captura de dados e manipulação política, rede sugere a usuários que lhe
ofereçam suas informações médicas. Promete recomendar tratamentos… Leia também:
corporações querem funcionários com chips
Maíra Mathias e Raquel Torres | Outras Palavras
O Facebook lançou uma nova
ferramenta para as pessoas tomarem e registrarem decisões sobre seus cuidados com saúde.
Elas informam seu sexo e idade e, em seguida, recebem uma lista de
recomendações para cuidados preventivos, como teste de pressão
arterial, mamografia, papanicolau ou um exame para os tipos de HPV com
maior probabilidade de causar câncer. Os usuários também podem registrar
quando fazem um check-up e escrever lembretes para agir no
futuro. A ferramenta foi criada com a ajuda de parceiros como a American
Cancer Society, o American College of Cardiology, a American Heart Association
e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Ainda está
disponível só nesse país e apenas em inglês, mas os planos são de que, em
breve, esteja em espanhol também – e há a possibilidade
de expansão para outros lugares.
Considerando o tamanho das
discussões sobre privacidade e compartilhamento inadequado de dados nessa rede
social, a novidade dá o que falar. A matéria do Stat cita um estudo
recente que revelou que dezenas de aplicativos de saúde mental
enviaram dados ao Facebook e ao Google para fins de análise ou publicidade. E,
em fevereiro, o Wall Street Journal relatou que aplicativos nos
quais os usuários registram dados confidenciais de saúde (como aqueles
sobre ovulação) estavam compartilhando essas informações com o
Facebook.
A empresa afirma que adotou
“rigorosas salvaguardas” para proteger a privacidade dos
usuários: prometeu não compartilhar os dados gerados com
terceiros, não deixar que outros usuários vejam quando as pessoas usam o
recurso e não permitir que os anunciantes segmentem anúncios com base nas
informações compartilhadas. Mas pode (e deve) acontecer de os usuários verem
anúncios segmentados se clicarem em outro site ou navegarem para curtir a
página de uma organização de assistência médica. Dentro do Facebook, os dados
da ferramenta estarão acessíveis apenas a um subconjunto de funcionários focado
em manter o recurso funcional. A ver.
FUNCIONÁRIOS ‘CHIPADOS’
E uma longa matéria do Der
Spiegel discute o implante de chips em funcionários de empresas. Na Suécia –
onde cinco mil pessoas, em uma população de dez milhões, já colocaram chips sob
a pele para abrir portas ou usar como passagem digital de trens –, a companhia de
turismo TUI Nordic foi a primeira a incentivar empregados a fazer isso. Eles
usam o chip para ativar impressoras, abrir fechaduras eletrônicas, comprar
lanches. Nos Estados Unidos, uma empresa de desenvolvimento de software
chamada Three Market Square se ofereceu para pagar implantes para metade
de seus 200 funcionários.
Existem várias preocupações sobre
os riscos para os trabalhadores. Por exemplo: as empresas poderiam usar a
geolocalização para rastreá-los ou vigiá-los? O Parlamento
Europeu encomendou um estudo sobre isso. O relatório conclui que “os chips
não são necessariamente seguros” e afirma que não é possível excluir a
possibilidade de eles serem hackeados ou se tornarem objetos de escuta,
clonagem, desativação ou manipulação.
E por falar em trabalho… No
projeto The Work Colleague of The Future (O colega de trabalho do futuro, em
tradução livre), pesquisadores britânicos criaram uma impressão artística
mostrando como deve ser o “funcionário padrão” daqui a 20 anos. A imagem foi
feita após análise de dados de três mil trabalhadores da França, Alemanha e
Estados Unidos. Veja aqui.
DISCUSSÃO ENVIESADA
O lobby dos hospitais
particulares e planos de saúde se uniu ao das universidades e escolas privadas para influenciar a reforma tributária em discussão no
Congresso Nacional. De acordo com entidades como a Confederação Nacional de
Saúde e a Federação Nacional das Escolas Particulares, os setores deveriam ser
ou isentos, ou receber desoneração total da folha de pagamentos ou ter uma
tabela diferente dos demais. A justificativa? É velha: a prestação de serviços
particulares de saúde e educação contribuiria para reduzir a demanda por
serviços públicos e, consequentemente, os gastos do governo nas duas áreas.
Parte do argumento também defende que a política tributária brasileira
deveria incentivar a compra desses serviços pela população (desconsiderando que
parte dos impostos das empresas poderia financiar o sistema universal de saúde
em vigor no país).
Partindo do ponto de vista da
justiça tributária, Bernard Appy, do Centro de Cidadania Fiscal e um dos
autores da proposta de emenda à Constituição (PEC 45) que tramita na Câmara,
afirma que faz sentido tributar saúde e educação com a mesma alíquota dos
demais setores, pois são serviços mais utilizados, proporcionalmente, por
famílias mais ricas do que pelas mais pobres. De acordo com a pesquisa de
orçamento familiar do IBGE, os planos de saúde representam 0,4% das despesas
dos mais pobres e 2,9% dos gastos dos mais ricos.
Quase 40 das 350 emendas às
PECs que tramitam na Câmara e no Senado se referem à saúde e educação – e os
representantes dos setores afirmam que, se sua carga for aumentada, repassarão
esse custo para o consumidor. O governo ainda não fechou a sua proposta de reforma
tributária, de modo que muita água ainda deve correr por debaixo da
ponte.
ALÉM DO ASSASSINATO
Domingos Brazão, ex-deputado estadual e conselheiro
afastado do Tribunal de Contas do Rio, foi acusado pela Procuradoria-Geral da República de
ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco, que também vitimou
o motorista Anderson Gomes. Além do crime bárbaro que chocou o mundo, Brazão é investigado por obrigar que equipes de Saúde da Família em
Colônia, Jacarepaguá, atendam moradores de outra região do enorme bairro
carioca. A suspeita é apurada pela Defensoria Pública do estado, que recebeu a
denúncia. Segundo funcionários consultados pelo UOL sob anonimato, a
intervenção vem sobrecarregando as equipes médicas e comprometendo o
atendimento aos pacientes do bairro.
Tudo começou quando um
bilhete com um logotipo da ‘Família Brazão’, que também menciona o vereador
Thiago K Ribeiro (MDB), começou a circular nas redes sociais. O texto
“autoriza” os moradores da comunidade de Bela Vista a serem atendidos na
clínica da família Álvaro Ramos, em Colônia. Em reunião fechada entre a
gerência da clínica e representantes da subprefeitura de Jacarepaguá e da
associação de moradores, o recado teria sido reforçado. Os funcionários teriam
feito, em 25 de setembro, uma reunião para decidir como seriam absorvidas os
três mil moradores de Bela Vista – que, pelo desenho da atenção básica carioca,
deveriam ser atendidos por uma unidade no Tanque, também em Jacarepaguá. “Isso
tudo fez a qualidade do cuidado diminuir muito. Sofremos um verdadeiro assédio
ao sermos obrigados a atender mais gente do que nossas possibilidades sob o
argumento de que é uma decisão que vem de cima, tem motivação eleitoral e não
tem como negociar”, disse uma funcionária ao repórter Wanderley Preite
Sobrinho.
FALTAM EVIDÊNCIAS
Foi publicada ontem no Lancet Psychiatry uma revisão de estudos
científicos que avaliou o impacto de canabinoides medicinais em seis distúrbios
de saúde mental – entre eles, ansiedade, depressão e psicose. Os pesquisadores
analisaram 83 estudos que envolveram cerca de três mil pessoas ao longo de
40 anos, entre 1980 e 2018. E concluíram que os riscos superam os benefícios. Foram encontradas, por
exemplo, “evidências de baixa qualidade” de que o THC farmacêutico poderia ser
útil para pessoas com esclerose múltipla ou dor crônica que também estavam
sofrendo de ansiedade, mas o uso piorou os casos de psicose. Um estudo
robusto indica que fumar maconha aumenta o risco de sintomas psicóticos
agudos. E que os jovens adultos – a faixa etária com maior
probabilidade de sofrer de ansiedade, depressão e psicose – têm mais
chances de se tornarem dependentes se usarem maconha diariamente por um longo
período de tempo.
As descobertas têm
implicações importantes para países como Estados Unidos, Austrália,
Grã-Bretanha e Canadá, onde a maconha medicinal está sendo disponibilizada para
pacientes com certos distúrbios.“Nos países onde os canabinoides medicinais já
são legais, médicos e pacientes devem estar cientes das limitações das
evidências existentes e dos riscos dos canabinoides. Eles devem ser pesados ao considerar o uso para tratar sintomas de
distúrbios comuns da saúde mental. Aqueles que decidem prosseguir devem ser
cuidadosamente monitorados quanto aos efeitos positivos e negativos na saúde
mental do uso de canabinoides medicinais”, disse uma das
autoras, Louisa Degenhardt, da Universidade de New South Wales, na
Austrália.
EM SEGREDO
Na Espanha, a Novartis decidiu
entrar na Justiça para impedir que o Ministério da Saúde publique os critérios econômicos
e clínicos que o levaram a aprovar, em novembro do ano passado, o
financiamento público do Kymriah. É um medicamento para um tipo
de leucemia linfoblástica aguda e outro tipo de linfoma que custa nada menos
que 320 mil euros.
CADÊ?
Hoje é o último dia para que o
governo Bolsonaro cumpra a determinação da Justiça Federal e mostre que
providenciou estudos sobre o impacto da contaminação por petróleo na saúde das pessoas que consomem peixes, crustáceos e moluscos
eventualmente contaminados. A decisão foi tomada no sábado pela juíza Telma
Maria Santos, da 1ª Vara Federal em Sergipe, no âmbito da disputa entre o
Ministério Público Federal e o governo. Isso porque na ação civil pública
movida por procuradores dos nove estados do Nordeste há uma lista com dez
pontos que provariam que o governo não acionou o Plano Nacional de
Contingência. Ao receber documentos do governo, contudo, a juíza considerou que
o plano foi acionado e está em curso. Mas pediu para uma audiência que acontece
amanhã provas de que esses estudos de impacto à saúde estão em curso.
A DENGUE VEM AÍ
A dengue tem quatro sorotipos – e
um deles, o 2, não circulava desde 2008. Mas isso mudou, segundo o Ministério
da Saúde. E deve causar um problemão. Nos anos anteriores circularam os tipos 1
e 4. No fim do ano passado, uma alteração no sorotipo predominante aconteceu no
país, especialmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. “Quando há alteração no
sorotipo predominante, aumenta o número de pessoas suscetíveis a contrair o vírus”,
explicou Rodrigo Said, coordenador-geral de vigilância em arbovirose da Pasta,
ao jornal O Globo. Essa mudança já foi responsável pelo aumento
exponencial de casos em São Paulo (crescimento de 3.653% este ano) e Minas
(1.918%). Os outros estados precisam se preparar.
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