quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

A verdade está sob ataque, e o problema é de todos


Todo mundo no Facebook é meu "amigo". Mesmo? A humanidade ainda não aprendeu a lidar com a enxurrada de informações nas redes e, mais do que nunca, o antídoto é ligar o espírito crítico, opina Christina Bergmann.

O presidente dos Estados Unidos espalha teorias de conspiração desbancadas, o primeiro-ministro britânico engana a Rainha, e um exército internacional de trolls tem agora uma razão de existir: praticar desinformação nas redes sociais. O fim do ano 2019 não é um bom momento para a verdade.

Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Adolf Hitler, estaria esfregando as mãos de satisfação. Enquanto ele ainda precisou expressamente alinhar os meios de comunicação e mandar prender jornalistas, os populistas de hoje têm jogo fácil: eles simplesmente tuítam e postam inverdades e meias-verdades, sem cessar.

Seus seguidores compartilham os absurdos às dezenas de milhares, e se apenas uma fração permanece nas cabeças dos leitores, os demagogos já terão dividido a nação um pouquinho mais, apertado um tanto mais os laços com seus adeptos. E a próxima vitória eleitoral ficou um pouco mais próxima.

"Conversa em Família" de Costa… A quem engana?


Bom dia. Hoje há Curto, amanhã não sabemos se no PG estaremos para aí virados. Dependerá daquilo que abraçar na prosa, ou talvez não. Andamos indecisos, inseguros, como se percebe pelo que atrás expomos nestes “não sabemos” e nos “talvez”. Aliás, em Portugal estamos mais às “aranhas” sobre o futuro do que confiantes nele e no governo. Talvez porque esperamos que o atual governo venha a ser mais curto que este Expresso Curto. 

Tal acontece porque anda a recorrer a ilusões que amiúde  nos deixam esperanças que não se concretizam. E já são em quantidades muito consideráveis. Tantas que podemos afirmar com toda a propriedade que Costa mente, o governo mente e o ministro Centeno não é, afinal, o Ronaldo da pasta que assume, as finanças, como o etiquetaram erradamente.

Os “golos” que Centeno marcou tiveram por recheio mentiras e falsas esperanças, decerto em conluio com António Costa, primeiro-ministro e o “árbitro” que deixou passar os “penalties” que aquele dito Ronaldo cometeu. Do mar de rosas prometido os portugueses só viram uma ínfima parte mas os bancos, os banqueiros e outros falsários continuaram a ser os previligiados. Tudo o resto continua a ser conseguido em parcas melhorias à custa do apertar do cinto dos portugueses e do trabalho sob exploração escandalosa. Subsiste a miséria e a carência nas famílias, em contraste com a abundância de propaganda dos governantes e do PS – até aqui com o assentimento parlamentar e para lamentar dos deputados dos partidos da chamada Geringonça”. Realidade que está na hora de mudar para que o PS não continue a alapar-se por entre silêncios e cedências vindas da esquerda. Sim, porque o PS da atualidade tem no seu ADN o centro, tal qual como sempre assim foi historicamente.

Não foi na mensagem de natal de Costa, PM, que os menos iludidos chegaram a tal conclusão mas sim ao olhar para as décadas passadas dos comportamentos e políticas do PS desde a sua existência, um pouco antes de acontecer a Revolução de 25 de Abril de 1974. Só as crescentes políticas de miserabilização do país no primado do PSD/Passos Coelho/CDS/Portas permitiram aos eleitores acreditarem num excecional vendedor de sonhos da estirpe de Costa e seus associados. E é o que ainda hoje o mantém no poder apesar de pobremente o ter conseguido com representação minoritária no parlamento, ora com o apoio da esquerda, ora com o apoio dos partidos da direita.

É por isso que hoje assistimos ao descaramento de Costa na “conversa em família” da quadra natalícia. Ainda há algumas semanas atrás Costa batia-se pela erradicação das desigualdades vertiginosamente vigentes no país. Declarações de serrar-presunto, de iludir, porque no OE revelado o que apresentou e apresenta é a manutenção dessas tais desigualdades e da exploração desenfreada de uns quantos a milhões de trabalhadores e muitas PMEs, a imensos que labutam a afogarem-se no trabalho precário, à indecorosa selva sem fiscalização de empresas que cometem barbaridades esclavagistas com os seus trabalhadores, etc, etc…

Assim, para que querem os portugueses mensagens de natal de um ilusionista?

Sobre o tema trazemos seguidamente a prosa no Curto por Paula Crruz, do Expresso. De nossa opinião, nesta abertura habitual, já dissemos o que nos vai na alma e no sentir de carências para milhões de portugueses. Ficamos a saber que António Costa e o PS, assim, talvez nem cheguem a cumprir um ano no poder. Depende da oposição e dos portugueses quererem continuar a assistir a este circo pobretana num festival de enganos de governantes que carecem de uma qualidade impar para serem respeitados como governantes de pleno direito: honestidade no seu âmago, à flor-da-pele e do intelecto.

Na sua "conversa em família", este natal, Costa agarrou-se à saúde... Porquê, por dedicar uma esmola orçamental a esse tão escalavrado item? Não saberá Costa que o setor da Saúde está uma grande bosta? Porquê minimizar a realidade? Só para iludir? Enganar?

Siga para o Curto. Pela nossa parte já estamos a pisar o risco do muito longos, quando devíamos ser curtos nesta prosa.

Bom dia, depois de um mau natal e de promessas por cumprir, o costume.

MM | PG

Portugal | À espera de milagres


Ricardo Paes Mamede | Diário de Notícias | opinião

A proposta de Orçamento de Estado (OE) para 2020 prevê um aumento de 0,3% nos salários da função pública. Prevê também uma inflação para Portugal de 1%. Isto significa que muitos funcionários públicos vão perder poder de compra. Outra vez. Será o 19º ano que isto acontece nos últimos 20.

O governo diz que não é bem assim. Segundo o relatório do orçamento, em 2020 haverá promoções e progressões nas várias carreiras da função pública, traduzindo-se num aumento salarial médio de 3,2% (e numa despesa adicional de 715 milhões de euros) face a 2019.

No total, a factura salarial do Estado deverá aumentar 3,6% (mais do que o PIB nominal), devido às promoções e progressões, mas também ao reforço do número de funcionários do Estado. Por exemplo, foi anunciada a intenção recrutar mais 8.400 profissionais de saúde nos próximos dois anos e 1.000 trabalhadores qualificados para reforçar as competências da administração.

Um governo que faz crescer as despesas com salários da função pública em percentagem do PIB, que aumenta as remunerações médias dos seus trabalhadores, que descongela carreiras, que repõem direitos de progressão e que aumenta o número de funcionários em áreas-chave, dificilmente pode ser visto como inimigo do Estado e de quem nele trabalha.

No entanto, para a maioria dos funcionários públicos isto não é grande consolação. Percebe-se porquê. Nas últimas duas décadas a administração pública foi um dos alvos preferenciais (a par da lei laboral) das chamadas reformas estruturais. A preocupação central da generalidade das medidas tomadas pelos diferentes governos foi apenas uma: reduzir a despesa. Cortou-se a eito no número de funcionários (menos 50 mil desde 2005). Eliminaram-se estruturas e cargos dirigentes, muitas vezes sem justificação evidente. Criou-se um modelo de avaliação que deveria servir para estimular o desempenho, mas cujo principal resultado prático foi limitar o ritmo de progressões na carreira.

Tudo o que vai mudar nos preços em Portugal no próximo ano


O PSEUDO "MILAGRE" CENTENO/COSTA*

Rendas, Imposto Único de Circulação, bebidas e tabaco estão entre os bens e serviços que vão aumentar de preço em 2020, mas haverá descida da eletricidade de 0,4% no mercado regulado.

As bebidas não alcoólicas com mais açúcar vão ser penalizadas em 2020, com a proposta de Orçamento do Estado (OE) a colocar mais taxas nestes produtos, de acordo com o teor de açúcar que contêm. O tabaco também sobe e o imposto não pode ser inferior a 0,175 euros por grama, acima dos 0,174 euros por grama atual. O tabaco aquecido, por sua vez, vai passar a ter um artigo próprio no Código de Impostos Especial de Consumo (IEC) no próximo ano, juntando-se ao restante tabaco, bebidas alcoólicas e açucaradas, além dos combustíveis tributados por esta taxa.

O valor das rendas deverá aumentar 0,51% em 2020, menos de metade da subida de 2018, que foi de 1,15%. Esta foi a taxa de inflação registada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) nos 12 meses até agosto e serve de referência para a atualização das rendas no início de cada ano.

As tarifas de eletricidade no mercado regulado - cerca de um milhão de clientes - descem 0,4% para os consumidores domésticos a partir de 1 de janeiro, o que representa uma diminuição de 18 cêntimos para uma fatura mensal de 43,90 euros, de acordo com as contas divulgadas pelo regulador.

Brasil | A corrupção no ninho bolsonarista


O escândalo envolvendo o clã Bolsonaro, com a exposição de supostos malfeitos do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, tem potencial explosivo. As suspeitas de corrupção chegam ao Palácio do Planalto e, se desdobradas, tendem a atingir proporções imponderáveis. É importante partir da ideia vendida de que o bolsonarismo é imune à corrupção para se chegar à conclusão de que esse caso pode evoluir para uma grave crise política.

Ninguém com algum conhecimento do processo político que levou a extrema direita à vitória desconhecia que a propagada conduta ilibada desse arranjo Operação Lava Jato-clã Bolsonaro-Paulo Guedes era mera retórica eleitoral. Da mesma forma, basta alguma informação idônea para se saber que os alvos desse consórcio tripartite foram acusados e denunciados também por interesses políticos.

A corrupção é um problema que precisa ser enfrentado seguindo rigorosamente os parâmetros do Estado Democrático de Direito. Não pode ser bandeira política para este ou aquele interesse, tampouco motivo para práticas de Estado de exceção, o conceito do xerife todo poderoso que não cabe numa sociedade civilizada pela democracia. Poderosos grupos de mídia fomentaram essa prática fora da lei, que não passou nem perto do verdadeiro combate à corrupção.

A questão é saber até onde essa investigação pode chegar. O desmoronamento do esteio central do arranjo bolosnarista exigiria uma nova reconfiguração do governo, algo aparentemente fora do horizonte. Uma hipótese possível é a de que Bolsonaro e seus blue caps precisam ser enquadrados para jogar o jogo de acordo com as regras ditadas pelo programa desse arranjo, impondo limites aos arroubos que ferem sua unidade.

Brasil | Flávio Dino diz que é fundamental atrair aliados e construir consensos em 2020


Sobre as próprias ambições eleitorais, o governador do Maranhão, Flávio Dino, desconversa. Ainda é cedo para pensar em 2022, repete. “Não tenho falado disso nem publicamente nem em privado.” Queira ele ou não, seu nome desponta no bolsão de apostas para a próxima disputa presidencial. Dino é visto em muitos círculos como um bem-vindo respiro aos antagonismos e conflitos intestinos no campo progressista. Seria capaz de superar um claro problema da oposição, apontado por ele mesmo, a dificuldade em conquistar corações e mentes? Só se ampliar as alianças e criar novos consensos, defende na entrevista a seguir.

CartaCapital: Por que o desgosto com Bolsonaro não ganhou as ruas?

Flávio Dino: Há um ciclo de derrotas no campo progressista que é inédito. Ao menos para mim. Eu tenho 51 anos, e desde que comecei a participar da vida política, em 1983, houve mais vitórias do que derrotas. Esse sinal histórico se inverteu de 2013 para cá. É um pouco o espírito do tempo. E isso traz dificuldades. Há uma tendência da esquerda de achar que perdemos sempre por nossos erros. Às vezes são acertos alheios. É preciso entender que o outro campo também joga, também acerta. Eles conseguiram, de fato, formar uma aliança mais ampla que a nossa. A extrema-direita que hoje governa o País conseguiu, paradoxalmente, uma aliança mais ampla que a nossa. Precisamos inverter isso em 2020. Isoladamente, não se obtém vitórias eleitorais.

CC: Acha que a esquerda conseguiu propor caminhos diferentes?

FD: Tivemos algumas iniciativas neste ano, eu destaco duas. O PT apresentou um plano de empregos muito bom. Infelizmente, ele não foi adequadamente debatido, difundido, divulgado. Mas é um plano de ótima qualidade. Destaco também o projeto de reforma tributária justa, solidária e sustentável que foi protocolado na Câmara com apoio dos governadores do Nordeste.

CC: Não é sintomático que a grande conquista da oposição tenha sido um acordo de “mal menor” no pacote anticrime?

FD: Em matéria de resistência, acho que tivemos mais êxitos do que se poderia imaginar. Comparado com o cenário em janeiro, conseguimos evitar uma série de danos expressivos no que se refere a direitos. O que acho mais crítico é a mobilização social. Nós não conseguimos, ainda, garantir mobilização suficiente inclusive para que a resistência e as propostas sejam mais bem executadas. 

CC: O antipetismo vai definir as próximas eleições como em 2018?

FD: Aquele foi o ponto máximo desse ideário. O antipetismo seria por si só redentor. E estamos vendo que não. Esse discurso perde força pelos próprios resultados. Estamos indo para o quarto ano sem a esquerda no poder. A escassez de resultados do campo político adversário ajuda a racionalizar esse debate, compreender que todas as correntes políticas erram e acertam, mas isso não pode sustentar essa satanização ideológica. 

CC: A ascensão de Bolsonaro como líder afetivo do reacionarismo não embola o jogo?

FD: Neste momento, embola. Mas não é algo que se vá perpetuar. O Bolsonaro é uma figura datada, temporária. E o bolsonarismo não é uma tendência que veio para ficar no Brasil, é uma chuva de verão. Densa, mas vai passar logo, porque cada vez fica mais claro que essa corrente política governa para poucos, prioriza a violência e isola o Brasil no cenário internacional.  

CC: Muita gente vê na sua eventual candidatura o antídoto ao antipetismo. O que acha dessa avaliação?

FD: Antes de qualquer debate sobre 2022, é preciso ter algumas premissas fundamentais. Em primeiro lugar, que está muito longe. Em segundo, que é preciso ter espírito de união e diálogo. E, em terceiro, muita humildade e pé no chão. Sendo coerente com essas premissas, não tenho tratado nem publicamente nem em privado desses assuntos. É preciso esperar e ver o que vai acontecer com o País e o nosso campo político lá para a frente. O fundamental é nos unirmos, termos aliança, amplitude, humildade, capacidade de diálogo. Temos antes eleições municipais. Este é o tema da hora. 

CC: Sobre 2020, o Datafolha mostrou que, no Rio, 60% dos eleitores não votariam em candidatos de Lula nem de Bolsonaro.

FD: A sociedade está muito estressada com anos e anos de conflito, e muito esperançosa por um caminho que melhore sua vida. É isso que as pesquisas têm mostrado. Não vejo esse automatismo. Que a rejeição a A e B necessariamente fortalece C. E não descartaria essa polarização, ao contrário. O antagonismo entre o bolsonarismo e o lulismo continua a ser a força estruturante da política brasileira. Acredito que essa divisão vai se manter. A disputa vai depender da capacidade de um polo ou de outro de ampliar alianças. Quem crescer mais terá mais vitórias.

CC: Essas alianças devem incluir o centro e a centro-direita?

FD: Sim, sem dúvidas. Basta olhar o exemplo da Argentina. Essa ampliação não pode ser retórica, não pode ser uma coisa vazia. No caso do Maranhão, eu venci as duas vezes em primeiro turno com uma aliança que, em 2016, foi do PT ao DEM. A depender de cada cidade, uma aliança com o campo mais ao centro não é ruim. Sempre foi positiva na história brasileira, resultou em avanços. Eu defendo a ampliação. Não podemos abrir mão do nosso programa, evidentemente. É preciso ter um programa básico, mínimo, que sustente essas alianças. Sem perder a identidade, mas também sem sectarizar. No nosso caso, os princípios fundamentais são: defesa da democracia, do Brasil e dos mais pobres. Aqui, juntamos em torno desse programa 16 partidos e estamos governando com todos. É possível, sim. E é necessário fazer. 

CC: Não é preciso, antes, resolver os conflitos internos do campo progressista? Entre Ciro Gomes e o PT, por exemplo.

FD: Ciro e Lula representam duas forças políticas fundamentais ao Brasil. Isso precisa ser superado. As eleições municipais são uma oportunidade para fazer isso na prática. Para que a gente consiga, diminuindo esse fosso que surgiu em 2018, um ambiente melhor até para que setores políticos que não estão à esquerda possam se aproximar.

Thais Reis Oliveira | Carta Capital

Leia em Carta Capital:

Celso Amorim: México e Argentina podem formar 'eixo do bem' na América Latina


Em entrevista exclusiva a Opera Mundi, ex-chanceler falou sobre Grupo de Puebla, América Latina, a situação na Bolívia e a liberdade do ex-presidente Lula; assista na íntegra

O ex-chanceler Celso Amorim disse, durante entrevista exclusiva concedida na última segunda-feira (11/11) a Opera Mundi e ao coletivo QuatroV, que a América Latina atravessa um momento histórico muito importante e que, neste contexto, México e Argentina, que têm (ou terão, no caso do nosso vizinho) governos de esquerda, podem representar um “eixo do bem” no continente.

“É um momento muito importante para a América Latina, e isso preocupa muito a direita continental. O Brasil, agora, está do outro lado, mas Argentina e México podem formar uma espécie de “eixo do bem” na região, contrariamente ao “eixo do mal”, de que falava o [ex-presidente dos EUA George W.] Bush, disse.

O México é governado por Andrés Manuel López Obrador, representante da esquerda, e a Argentina, a partir de 10 de dezembro, será liderada pelo peronista Alberto Fernández, tendo a ex-presidente Cristina Kirchner como vice.

Amorim se referiu ao Grupo de Puebla, que reúne intelectuais e políticos da esquerda latino-americana - e do qual o próprio ex-chanceler participa -, como um instrumento para pensar a região e atuar frente a outros blocos. “O Grupo de Puebla é muito importante porque tem capilaridade. Acho que um desafio nosso é nos aproveitarmos de um mundo multipolar, não dominado por um único país. Nenhum país da América Latina, nem o Brasil, é grande o suficiente para lidar com esse mundo de blocos. Mas a América Latina é. E o Grupo de Puebla pode ajudar nisso”, afirmou.

“A América Latina não é uma só, são muitas, porque cada lugar tem suas características, mas, por outro, lado, tem uma desigualdade imensa e a dependência em relação ao poder hegemônico do continente, que são os EUA. Acho que essas duas coisas caminham juntas de alguma maneira, e o Grupo de Puebla pode ter um papel importante nisso”, disse.

Colômbia 2019, país foi às ruas contra a desigualdade


País teve primeira greve geral desde 1979, a qual foi reprimida com violência; acordo de paz com FARC completou três anos com governo sendo acusado de descumpri-lo

A Colômbia encerra o ano de 2019 com crescimento econômico de aproximadamente 3,2% segundo dados da CEPAL, número relevante se comparado a outras economias da região, que enfrentam um desaceleramento do crescimento do PIB. Todavia, esses dados não camuflam a deterioração das condições sociais que o modelo neoliberal tem produzido na sociedade colombiana. Atualmente, a Colômbia é o segundo país mais desigual do continente, possui baixos índices educacionais, escasso acesso à saúde e enfrenta uma alta taxa de desemprego (10,2%) e trabalho informal (47%).

E, neste cenário, logo após o Chile iniciar suas ondas de manifestação, a Colômbia também começou a experimentar fortes levantes populares. 

Desde 1977, não ocorria uma greve nacional na Colômbia - fato que mudou neste ano. Após a convocação dos movimentos sociais para uma greve geral no dia 21 de novembro, uma agenda de reivindicações levou grande parte da população às ruas. As principais demandas eram contra a reforma trabalhista, contra a reforma de pensões, contra a exploração financeira, contra privatizações, contra a corrupção, contra a reforma tributária, por um salário mínimo digno e pelo cumprimento do Acordos de Paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e dos direitos humanos.

As manifestações foram grandes e populares, ocorreram de maneira festiva e os casos de vandalismos não as deslegitimaram. O dia 21 de novembro foi apenas o primeiro dia dos demais que ocorreram no último mês. Grandes atos com panelaços mostraram a força e amplitude do levante popular colombiano. Não foram apenas manifestações desarticuladas e isoladas, mas verdadeiros levantes populares, massivos e com diversidades temáticas. 

Todavia, em 2019, o terrorismo de Estado não oprimiu apenas as populações da região de conflito armado, mas todos os atores que se posicionaram contra o Estado. As manifestações foram marcadas por uma forte e desproporcional violência do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad) contra a população que se manifestava. 

No dia 26 de novembro, foi confirmada a morte do jovem de 18 anos Dilan Cruz, um estudante que foi atingido na cabeça por um projétil do Esmad durante uma marcha pacífica. Dilan se tornou um símbolo da resistência à violência de Estado e sua morte intensificou as manifestações. O Escritório de Assuntos Latino-Americanos de Washington (Wola), grupo de acadêmicos e ativistas, reivindica que o Esmad seja substituído ou reformado, segundo as diretrizes de direitos humanos, respeitando protestos pacíficos com o uso mínimo da força. 

Venezuela 2019, oposição apostou em golpe e terminou desgastada

Fevereiro: venezuelanos impediram entrada de suposta 'ajuda humanitária' (Fania Rodrigues/Opera Mundi)
Um ano para honrar a fama de um país onde a polarização política alcançou sua máxima expressão. Assim foi 2019 para a Venezuela. Não foi o ano mais violento, mas sem dúvida foi o que teve o maior número de acontecimentos políticos inesperados e fenômenos sem precedentes. 

O ponto de partida para esses acontecimentos foi a eleição do deputado Juan Guaidó para a presidência da Assembleia Nacional, no dia 5 de janeiro. A escolha de Guaidó, do partido Voluntad Popular, foi fruto de um acordo político entre partidos opositores, segundo explica o deputado Edgar Zambrano, vice-presidente da Assembleia Nacional. “Os partidos maiores, Ação Democrática e Primeiro Justicia, já tinham ocupado essa cadeira e era a vez do Voluntad Popular. Guaidó foi o nome indicado pelo partido”, diz Zambrano, do Ação Democrática.

Na semana seguinte, no dia 10 de janeiro, Nicolás Maduro assumiu o novo mandato presidencial, para o qual foi eleito em maio de 2018. A oposição, que não reconhecia o resultado dessa última eleição, convocou uma manifestação para 23 de janeiro. Nesse dia o novo presidente do Congresso levantou o braço em uma praça pública, fez um juramento diante de seus apoiadores e autoproclamou-se presidente interino do país. Depois disso, o que se viu foi uma escalada de violência e enfrentamentos que duraram vários meses. 

Para o sociólogo e escritor argentino Marco Teruggi, radicado na Venezuela há cinco anos, os planos violentos da direita venezuelana foram traçados ainda em 2018. “A partir do momento em que a oposição decidiu não participar das eleições presidenciais de maio de 2018, ficou claro que buscaria outro caminho, pois de alguma maneira renunciaram à saída eleitoral. Evidencia-se então que recorreria a uma ação com o uso da força e chega ao modelo de um governo paralelo, muito novo na América Latina”.

Teruggi explica ainda quais as condições que possibilitaram a Juan Guaidó assumir a liderança da oposição ao governo de Nicolás Maduro. Nesse momento, Guaidó era um deputado com apenas 97 mil votos e que não fazia parte do elenco principal da cena política venezuelana. “Guaidó apareceu em um momento em que havia uma degradação muito grande da oposição. Não existia uma liderança forte. Figuras como Henrique Capriles, Freddy Guevara, que tinham liderado processos em 2017, estavam desgastadas. Então havia espaço para o surgimento de uma nova liderança”. 

Segundo o sociólogo, o maior apoio de Guaidó vinha de fora da Venezuela. “Guaidó não se apoiou sobre si mesmo, mas sim sobre a força que os Estados Unidos depositavam sobre ele”, afirma Teruggi. É dessa forma que o deputado, autoproclamado presidente interino, é reconhecido imediatamente por mais de 50 países, todos aliados dos Estados Unidos. 

Os dias que seguiram foram de manifestações contra o governo Maduro, convocadas pelo novo líder opositor.  Além disso, ações de enfrentamentos entre opositores e chavistas resultaram na morte de mais de 30 pessoas.

Nessa época, os opositores de Maduro não descartavam nem mesmo a possibilidade de uma intervenção militar estrangeira. “Todas as opções estão sobre a mesa”, diziam o presidente norte-americano Donald Trump e lideranças opositoras venezuelanas. Esse ambiente inflamado levou o governo venezuelano a decretar máximo alerta de segurança nacional.

No início de fevereiro, Guaidó anunciou que ingressaria ajuda humanitária na Venezuela no dia 23 de fevereiro. Em resposta, o presidente Nicolás Maduro anunciou exercícios militares para a proteção da zona fronteiriça.

México denuncia cerco à embaixada na Bolívia


O México denunciou na quarta-feira a crescente presença de forças de segurança bolivianas junto à embaixada em La Paz, onde ex-membros do gabinete do Governo do ex-Presidente Evo Morales procuraram refúgio.

Ministério das Relações Exteriores do México indicou que um maior número de militares cerca desde terça-feira a residência. O subsecretário do México para a América Latina, Maximiliano Reyes, descreveu as patrulhas bolivianas em torno da propriedade diplomática como um "cerco".

Numa nota diplomática de queixa endereçada ao Ministério das Relações Exteriores da Bolívia, o México disse que existem drones a sobrevoar a residência do embaixador, descrevendo a situação como uma "intromissão indevida".

Num comunicado divulgado quase ao mesmo tempo, o Ministério disse ter convocado o embaixador da Bolívia para "explicar as ações das autoridades bolivianas".

As relações entre os dois países estão tensas desde que o México concedeu asilo a Morales depois deste ter renunciado em 10 de novembro, após uma revolta nacional depois deste ter reivindicado vitória numa eleição alegadamente fraudulenta.

Morales, desde então, exilou-se na Argentina e diz que planeia permanecer envolvido na política na vizinha Bolívia, enquanto alguns membros do seu gabinete permanecem escondidos na residência do embaixador mexicano, descritos pelas autoridades bolivianas como "fugitivos".

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Reuters

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