Mariana Mortágua |
Jornal de Notícias | opinião
Uma boa parte das propostas que
já apresentei no Parlamento foram sobre a Banca. Algumas visavam impor regras
mais apertadas ao seu funcionamento: limites à venda de produtos financeiros,
interdição de certas operações dentro do mesmo grupo, eliminação de comissões
bancárias absurdas, etc.
Outras pretendiam mais
transparência: novas exigências de publicação de informações sobre acionistas,
relações com offshores ou políticas de crédito. Apesar de várias tentativas,
muitas destas propostas foram sendo rejeitadas por combinações de votos entre
PSD, PS e CDS. Na base da rejeição estavam (e estão) normalmente três tipos de
argumentos avançados pelos bancos: i) mais transparência prejudica as condições
de concorrência; ii) limites à atividade prejudicam a rentabilidade; iii) o
caminho não é limitar as atividades financeiras mas reforçar os mecanismos de
supervisão e controlo interno.
Escândalo a escândalo, a
realidade tem vindo a desmontar todas estas ficções.
Como se não nos bastassem os
casos do BPN, do Banif, do BES, do BCP, do Montepio e da Caixa, aparece-nos
agora o "cartel da Banca", que juntou o BPN, o Banif, o BES, o BCP, o
Montepio, a Caixa e mais oito bancos numa rede de troca de informações
sensíveis. Segundo a Autoridade da Concorrência (AdC), os principais bancos
trocaram entre si informações reservadas sobre as quantidades e condições de
crédito que concediam, articulando ainda estratégias comerciais ou, por
exemplo, para limitar a aplicação de leis sobre comissões bancárias.
Ou seja, durante mais de uma
década, a Banca - sempre tão preocupada com as suas condições de concorrência -
trocou entre si dados reservados, alinhou estratégias e concertou posições, em
prejuízo de todos os clientes. Sendo verdade que foram condenados pela AdC a
multas que somam 225 milhões de euros, também é público que o processo só teve
início por denúncia de um participante. Mais uma vez, ao que se sabe, o Banco
de Portugal foi incapaz de identificar estas práticas - transversais e
reiteradas - atempadamente. A perda para os clientes, é claro, não foi
ressarcida.
Existem todas as razões para
reforçar as medidas destinadas a limitar as práticas abusivas da Banca (privada
mas também, e especialmente, pública) e aumentar a transparência. Quando o
momento chegar ouviremos os bancos, assim como alguns partidos, a argumentar
com a concorrência, a rentabilidade e o controlo interno. Não acredite,
lembre-se do cartel da Banca.
*Deputada do BE
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