Jorge Rocha* | opinião
Nos últimos anos andamos a
confrontar-nos com o desmentido de diversos axiomas, que considerávamos
inquestionáveis. Trump ou Bolsonaro desmentiram a tese de ser a Democracia o
menos mau dos sistemas políticos. Que as economias apostadas em dar a máxima liberdade
aos «talentos» dos mercados ficavam mais prósperas e menos desiguais. Ou que a
imprensa conseguiria ser o bastião incontornável pelo qual passaria a criação
de uma cidadania ativa e informada. Acontece que, à pala da liberdade de
imprensa, verdadeiramente só reconhecida quando os donos dos mercados a
monopolizam (quem não se lembra da campanha contra Sócrates quando o vieram
acusar de querer assumir os comandos da TVI?), a imprensa lusa tem caído num
tal descrédito, que vem perdendo audiências no audiovisual e leitores na sua
versão escrita. Daí o ruidoso alerta dos que a consideram moribunda
e propõem que nós todos, os contribuintes, que dela nos temos alheado,
paguemos-lhe a sobrevivência através de subsídios generosos.
Que não é essa a solução têm-no
demonstrado os sucessivos artigos que o Prof. J-M. Nobre Correia tem publicado
nos meses mais recentes, nunca deixando de fazer comparações entre as boas
práticas da imprensa francófona (no Le Monde ou na televisão pública
gaulesa) e as que só se podem lamentar na nossa. O artigo «Inconvenientes de
uma conceção», que está no «Público» desta segunda-feira volta a ser de leitura
obrigatória como sempre acontece com os textos do autor.
O desespero em agarrarem-se a uma
qualquer tábua de salvação levam as direções editoriais dos diversos meios de
comunicação social a serem subservientes perante quem sabem serem os seus donos
e privilegiando o que julgam ser mais bombástico nem que isso signifique
tornarem-se idiotas úteis dos populistas na estratégia de congregarem
apoios nos que, sabendo muito pouco, estão despojados dos argumentos para
exercitarem o saudável hábito de questionarem as certezas dos xenófobos e
demais ultraconservadores. Não deixando de ser urgente uma imprensa alternativa,
capaz de furar o cerco imposto por quantos a querem silencia-la.
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