Como ex-estrela da reality TV,
Trump esteve bem à vontade em seu discurso sobre o Estado da União. Mas
elementos de show no programa não conseguiram esconder afirmações gritantemente
questionáveis, diz Carla Bleiker.
Para o presidente dos Estados
Unidos, trata-se de uma das apresentações televisivas mais importantes do ano:
o discurso sobre o Estado da União. Raramente o chefe de Estado tem a
oportunidade de se dirigir tão diretamente a seu povo. Ele fala por mais de uma
hora, e cada palavra é transmitida ao vivo pela TV. Para Donald Trump, que nada
mais ama que um público entusiasmado, é um sonho que se torna realidade.
Logo no início de seu
pronunciamento, ele falou longamente da economia dos EUA, dizendo que ela nunca
esteve melhor. A taxa de desemprego estaria mais baixa do que nunca e, desde
que assumiu o cargo, o número de cidadãos que recebem senhas de alimentação
diminuído em 7 milhões.
No entanto tais observações
arrogantes devem ser tratadas com cautela. A taxa de desemprego vem caindo
constantemente desde o governo Obama. E ativistas apontaram que muitos
7 milhões não recebem mais senhas de alimentação porque Trump cortou os
relativos programas de ajuda assistencial. Não se trata de um sucesso
impressionante, mas de fria política social.
No total, Trump falou por uma
hora e 18 minutos – ou seja, menos que no ano passado. Seu pronunciamento sobre
o Estado da União em 2019 foi o terceiro mais longo em mais de 50 anos, com uma
hora e 22 minutos. Somente o presidente Bill Clinton falou por mais tempo, em
1995 e 2000.
Quanto tempo o senhor da Casa
Branca fala, o que ele fala, e para quem fala: tudo isso tem seu significado. A
cada ano, todo presidente convida "cidadãos comuns" a participarem do
evento político na Câmara dos Representantes, pessoas cuidadosamente
selecionadas com base no que representam.
Para seu pronunciamento neste
ano, Trump convidou, entre outros, Kelli e o filho Gage Hake de Oklahoma. Kelli
Hake é a viúva de um soldado morto por uma bomba no Iraque em 2008, pela qual
se acredita que o general iraniano Qassim Soleimani tenha sido responsável. Os
militares dos EUA mataram Soleimani em janeiro, por ordem do presidente dos
EUA.
A presença dos Hakes se destina a
mostrar que o assassinato de Soleimani foi um ato corajoso que vingou os
americanos assassinados e salvou muitas outras vidas. No entanto isso não pode
desviar a atenção de que o comportamento de Trump levou os EUA à beira de uma
guerra com o Irã. E Washington não forneceu evidências satisfatórias de que
Soleimani estivesse prestes a lançar um ataque contra os americanos.
Ao longo de toda a noite, os
convidados proporcionaram, repetidamente, momentos que lembraram um reality
show. Por exemplo, Melania Trump entregou, durante o discurso, a Medalha Presidencial
da Liberdade ao radialista conservador Rush Limbaugh – e a família de um
soldado foi surpreendida com o retorno do marido e pai. Esses foram apenas dois
dos muitos momentos lacrimogêneos. Como profissional do mundo do
entretenimento, Trump deve ter se divertido bastante planejando os
"eventos".
Talvez ele quisesse proporcionar
um show particularmente arrebatador, para o caso de esse ser seu último
discurso sobre o Estado da União. Se Trump não for reeleito, outro ou outra
presidente estará no palanque para o próximo pronunciamento do Estado da União.
No momento, isso parece antes improvável, mas os democratas apostam que sim.
Como porta-voz da maioria
democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi sentou-se atrás do
presidente durante o pronunciamento e, no final, rasgou no meio a cópia do
discurso anteriormente entregue por Trump. Diante das muitas meias-verdades e
dos hinos de louvor à política de imigração e às frouxas leis de armas, dá
mesmo vontade de fazer como ela.
Carla Bleiker | Deutsche Welle |
opinião
Na imagem: Porta-voz democrata
Nancy Pelosi rasga cópia do discurso após fala de Trump
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