O racismo parece que está na
ordem do dia. As notícias inundantes, as opiniões sobre o aberrante tema são a
presença constante e nunca demasiadas. Quem dera que fosse uma cura contra o
racismo existente em Portugal, só aparentemente encoberto pela hipócrita frase “os
portugueses não são racistas”. Claro que são, e muito. E os racistas lusos também
são demasiados. Até parece algo genético, inconcebível, inadmissível,
escandaloso, comprovadamente estúpido. É esse o tema de abertura do Expresso
Curto, por João Silvestre. E em Portugal não há publicação que desde domingo não
aborde o ocorrido no futebol, no encontro entre o FC Porto e o Guimarães.
O achincalhado
e ofendido chama-se Marega, que se sentiu na impossibilidade de poder continuar
em campo naquele encontro em que uma claque – é o que se sabe – assimilada pró-inglês
dá pelo nome de batismo de White Angels, Anjos Brancos. O que não faz sentido
porque as cores do clube são predominantemente o preto e o branco, para não
explanar sobre as tendências que estas claque têm de se batizar por nomes em
inglês. Serão realmente portugueses os dessas tais claques?
Não é a primeira vez que o
racismo expresso e praticado, em cânticos e outras manifestações abomináveis,
pelas claques de futebol perde as estribeiras e sobressai. A isso temos visto a
tolerância dos clubes, da Federação Portuguesa de Futebol, dos governos. Por
consequência também das autoridades em campo – PSP, GNR. E nos ínterins das
reações e práticas racistas parece que tudo e todos adormecem no velho e hipócrita
dito de que “os portugueses não são racistas”. São, e não é pouco.
Marega, o jogador do FC Porto, reagiu
saindo de campo. Farto que esteve de ouvir as manifestações racistas da
referida claque vimaranense… E foi aí que caiu o Carmo, a Trindade, a derrocada
do Mercado do Bolhão e a Torre dos Clérigos. No caso também caiu o Castelo de
Guimarães. Agora bradam todos (ou quase todos) que “afinal há racismo em
Portugal”. Pois há, sempre houve, apesar de muitas vezes contido nas palavras
mas bastante insidioso e constante nos atos de exclusão, de semblantes
carregados ao sentarem-se acabrunhados ao lado de um preto ou de uma preta em
qualquer transporte público. Ou nem se sentarem… porque o racismo lhes grita
mais alto.
Foi preciso um jogador de futebol
tomar a atitude de abandonar o campo, devido ao racismo expresso naquele
encontro desportivo, para Portugal acordar com estrondo. Quando afinal o
racismo expresso por todo o país, dos portugueses para com os negros, mulatos,
amarelos e ciganos, está latente todos os dias, a todas as horas e em todos os
locais. Até em locais da governabilidade, até na Assembleia da República, até
nas rádios, televisões e jornais, nos tribunais, na PSP e GNR, etc. Haverá
algumas exceções, mas essas são para iludir e rechear a falsa crença e dito de
que “os portugueses não são racistas”.
O ser humano é complicado e
dotado de cérebros de carneirismo. Vai em grupos. Atrás deles, a ser um deles,
acabando por ser assimilado, encarneirado. Não por acaso existia em tempos (não
sabemos se ainda atualmente) o dito “eu não vou em grupos”, que expressava não
estar disposto a ser enganado, a ser encarneirado, a fazer aquilo com que
discordava… Bem, mas então existem portugueses que só porque estão nos grupos
(claques) é que são racistas, por exemplo? E também, algumas vezes estupidamente,
violentos e antidesportivos e desumanos?
Olhem que não. Olhem que não. E o que faz falta é a mão pesada da Justiça ladeada com operações de esclarecimento e reeducação. De desmonte da farsa lusa que alimentou e alimenta ser racista mas não parecer. Claro que são e parecem, se observarmos atentamente. Há exceções, pois há, felizmente.
Bom dia e um queijo amanteigado.
Muita saúde. Saltem para o Curto desta manhã. O Expresso Curto está aí para o lerem… E meditarem nos temas. Além de aumentar os conhecimentos sobre atualidades. Uma
dádiva de Pinto Balsemão e Impresa. Trabalho dos profissionais de lá.
Curta.
MM | PG
Bom dia, este é o seu Expresso
Curto
Respeito, só um bocadinho
João Silvestre | Expresso
Bom dia,
No dia 1 de dezembro de 1955, ao anoitecer, Rosa Parks entrou num autocarro em Montgomery, no Alabama, e sentou-se num lugar reservado a negros. O autocarro encheu, entraram vários brancos e o lugar onde Parks seguia foi ‘reclassificado’. Rosa recusou sair, foi presa e tornou-se num símbolo da luta pelos direitos civis nos EUA. No dia 16 de fevereiro, à noite, Moussa Marega marcou um golo, meteu o FC Porto na frente do marcador e, poucos minutos depois, abandonou o estádio D. Afonso Henriques por causa de insultos racistas.
O caso de racismo no Vitória Guimarães-FC Porto transformou Marega numa espécie de Rosa Parks do futebol português. Não foi a primeira vez e, provavelmente, não será a última que se ouviram estes insultos nos estádios nacionais. Mas a tomada de posição do maliano merece ser elogiada. Porque vários outros passaram pelo mesmo, como contam, por exemplo, Quaresma ou Nelson Semedo. Também Éder, o herói de Paris em 2016, estas “atitudes valem mais do que mil palavras”. Moussa Marega já falou sobre o que se passou e diz que “foi uma grande humilhação”.
A onda de condenações já vai alta. O Ministério Público está a investigar, na política há um amplo consenso de condenação (com exceção de André Ventura que esteve ontem na TVI a defender que Portugal não é racista e que são hipócritas os que viram insultos racistas em Guimarães), e o caso tem tido enorme eco na imprensa internacional. Ainda que, como bem se sabe, há várias situações semelhantes noutros países.
O Vitória Guimarães está a colaborar com as autoridades para identificar os adeptos. E fez um vídeo a garantir que o clube condena o racismo. A verdade é que, nos últimos anos, tem sido detetadas algumas situações mas as sanções são bastante leves.
Blessing Lumueno, treinador de futebol, conta a sua própria experiência num texto que vale a pena ler com atenção: “Houve um tempo em que fomos todos macacos.”
No dia 1 de dezembro de 1955, ao anoitecer, Rosa Parks entrou num autocarro em Montgomery, no Alabama, e sentou-se num lugar reservado a negros. O autocarro encheu, entraram vários brancos e o lugar onde Parks seguia foi ‘reclassificado’. Rosa recusou sair, foi presa e tornou-se num símbolo da luta pelos direitos civis nos EUA. No dia 16 de fevereiro, à noite, Moussa Marega marcou um golo, meteu o FC Porto na frente do marcador e, poucos minutos depois, abandonou o estádio D. Afonso Henriques por causa de insultos racistas.
O caso de racismo no Vitória Guimarães-FC Porto transformou Marega numa espécie de Rosa Parks do futebol português. Não foi a primeira vez e, provavelmente, não será a última que se ouviram estes insultos nos estádios nacionais. Mas a tomada de posição do maliano merece ser elogiada. Porque vários outros passaram pelo mesmo, como contam, por exemplo, Quaresma ou Nelson Semedo. Também Éder, o herói de Paris em 2016, estas “atitudes valem mais do que mil palavras”. Moussa Marega já falou sobre o que se passou e diz que “foi uma grande humilhação”.
A onda de condenações já vai alta. O Ministério Público está a investigar, na política há um amplo consenso de condenação (com exceção de André Ventura que esteve ontem na TVI a defender que Portugal não é racista e que são hipócritas os que viram insultos racistas em Guimarães), e o caso tem tido enorme eco na imprensa internacional. Ainda que, como bem se sabe, há várias situações semelhantes noutros países.
O Vitória Guimarães está a colaborar com as autoridades para identificar os adeptos. E fez um vídeo a garantir que o clube condena o racismo. A verdade é que, nos últimos anos, tem sido detetadas algumas situações mas as sanções são bastante leves.
Blessing Lumueno, treinador de futebol, conta a sua própria experiência num texto que vale a pena ler com atenção: “Houve um tempo em que fomos todos macacos.”
OUTRAS NOTÍCIAS
Cá dentro
Mário Centeno mantém o tabu sobre a sua continuidade no Governo. Ontem, negou já se ter despedido dos seus colegas do Eurogrupo como tinha sido avançado por Marques Mendes, há duas semanas, no seu comentário semanal na SIC.
A maioria das multas aplicadas a banqueiros nos últimos anos ficou por pagar, escreve o Jornal de Notícias na sua edição de hoje. São quase 17 milhões de euros em década e meia com Ricardo Salgado (BES), João Rendeiro (BPP) e Jardim Gonçalves (BCP) no topo da lista.
Portugal continua sem ter qualquer caso de coronavírus. Os últimos casos suspeitos foram negativos. (Um pequeno aparte: para que serve a contagem dos casos suspeitos negativos? Parece tudo, menos uma informação relevante pois nada diz sobre risco de incidência, taxa de contágio ou qualquer outra coisa sobre o coronavírus já que estas pessoas não o tinham.)
Novo caso nos hospitais portugueses, desta vez em Beja no final de janeiro: um homem de 60 anos morreu na sala de espera ao fim de três horas a aguardar pelo atendimento.
O bastonário da Ordem dos Médicos recusa alterar o código deontológico caso seja aprovada a despenalização da eutanásia. Miguel Guimarães esteve com Marcelo Rebelo de Sousa em Belém. Saiba quais os países que têm eutanásia, como funciona e onde há mais mortes.
A polémica da Venezuela com a TAP por causa do voo que levou Juan Guaido a Caracas continua e o governo venezuelano decretou uma suspensão de 90 dias.
Isabel Camarinha, a nova líder da CGTP, estreou-se ontem na Concertação Social.
O Governo está disponível para negociar aumentos salariais com os sindicatos da Função pública numa base plurianual juntamente com os dias de férias que, durante o programa da troika, baixaram de 25 para 22 dias. Seja como for, a actualizar vencimentos ao nível da inflação nunca será possível ‘regressar’ ao poder de compra real de 2010. O Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) alertou que a maior parte dos funcionários passaria a ter menos salário liquido, o que criou algum alarme, mas depois corrigiu as contas.
Francisco Pedro Balsemão, CEO da Impresa (que detém o Expresso), dá hoje uma entrevista ao Público onde fala das ‘guerras de transferências’ nas televisões: “As estrelas servem a estratégia da SIC mas não vamos entrar em loucuras.”
A EDP Distribuição foi constituída arguida no caso do incêndio de Monchique.
As empresas do PSI-20 vão distribuir mais dividendos este ano, esperam os analistas ouvidos pelo Jornal de Negócios, ainda que se anteveja uma queda dos lucros.
Pedro Machado, atual diretor dos serviços jurídicos do Banco de Portugal, vai integrar a administração no Mecanismo Único de Resolução (SRB, no acrónimo em inglês).
Continua o braço de ferro entre CTT e regulador. Diz o presidente dos Correios que os indicadores de qualidade impostos pela ANACOM são impossíveis de cumprir.
Há mais condutores de plataformas com a Uber ou Cabify em Lisboa e Porto do que taxistas.
Catorze municípios ligados à tauromaquia questionaram a subida do IVA das touradas de 6% para 23%.
O PS avançou com uma proposta para limitar as comissões no MB Way e junta-se aos partidos de esquerda (PAN, PCP e Bloco de Esquerda) que já tinham propostas no mesmo sentido.
Lá fora
Os EUA apoiam Angola no combate à corrupção. A mensagem é de o secretário de Estado, Mike Pompeo, depois de um encontro com o presidente angolano, João Lourenço, em Luanda. Isabel dos Santos escreveu a Lourenço, logo depois do arresto dos bens no inicio de janeiro, para tentar negociar mas não teve grande sucesso.
Messi, Lewis Hamilton e Simon Biles foram alguns dos vencedores dos prémios do desporto Laureus.
Jorge Jesus esteve com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e com o seu ministro da Economia, Paulo Guedes, no Palácio da Alvorada em Brasília. O encontro está a gerar enorme polémica.
Um tribunal alemão suspendeu a construção daquela que seria a primeira fábrica da Tesla na Europa, por razões ambientais.
A economia chinesa tenta lentamente recuperar do impacto do coronavírus mas ainda muito lentamente. E o impacto no PIB chinês e global é inevitável. Com tanta gente de quarentena apanhada pelo deflagrar da epidemia, há famílias inteiras apanhadas em verdadeiros limbos. É o caso de uma família do Taiwan, como conta o New York Times, que ficou presa na casa da avó na província de Hubei. E segue a jornada dos passageiros do cruzeiro que andam há dias sem conseguir sair.
Quem não deve escapar a uma recessão técnica (dois trimestres negativos consecutivos), é o Japão que fechou no vermelho no quarto trimestre e, esperam os analistas, deve repetir a dose nos primeiros três meses de 2020.
Numa altura em que os políticos – democratas americanos, entenda-se – tem apelado a um controlo mais aperto dos gigantes tecnológicos, Mark Zuckerberg, o patrão do Facebook, escreveu um artigo no Financial Times (a propósito do white paper que a empresa divulgou ontem) em que pede maior regulação para o setor. Diz Zuckerberg que regras mais apertadas no curto prazo podem ser negativas para o Facebook mas, no longo prazo, são positivas.
FRASES
“As empresas tecnológicas devem servir a sociedade. Isso inclui também o nível empresarial, por isso apoiamos os esforços da OCDE para criar regras fiscais globais mais justas para a internet”, Mark Zuckerberg, presidente e fundador do Facebook em artigo de opinião no Financial Times
“Honestamente, não tenho comentários a fazer sobre isto. É algo que politicamente lamentamos”, Mário Centeno, Ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo sobre a divulgação da gravações das reuniões do Eurogrupo por Yannis Varoufakis
O QUE ANDO A LER
“A Loja dos Suicídios” é um pequeno livro de Jean Teulé publicado em 2007 a que regressei esta semana. Tropecei nele, por acaso, na estante e pareceu-me interessante recordar algumas passagens no atual contexto político.
O título não engana: a história anda à volta da família Tuvache (pai, mãe e três filhos) e da sua loja onde vendem meios para os clientes se suicidarem. Venenos, cordas para enforcamento ou armas de fogo são algumas das alternativas disponíveis.
O lema desta loja suis generis é “A sua vida foi um fracasso? Connosco, a sua morte será um sucesso!” Como bem se percebe, é humor negro e do bom. Não tem a seriedade que o debate da eutanásia merece – e que está a animar a semana política – mas é uma forma alternativa e bem divertida de olhar para a morte.
Tenha um excelente dia. Não se esqueça de ir espreitando o Expresso online, a Tribuna e a Blitz.
Cá dentro
Mário Centeno mantém o tabu sobre a sua continuidade no Governo. Ontem, negou já se ter despedido dos seus colegas do Eurogrupo como tinha sido avançado por Marques Mendes, há duas semanas, no seu comentário semanal na SIC.
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O bastonário da Ordem dos Médicos recusa alterar o código deontológico caso seja aprovada a despenalização da eutanásia. Miguel Guimarães esteve com Marcelo Rebelo de Sousa em Belém. Saiba quais os países que têm eutanásia, como funciona e onde há mais mortes.
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Tenha um excelente dia. Não se esqueça de ir espreitando o Expresso online, a Tribuna e a Blitz.
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