Díli, 14 fev 2020 (Lusa) -
Líderes políticos timorenses estão a debater uma nova coligação governativa,
liderada pelo Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) de Xanana
Gusmão e que excluiria o Partido Libertação Popular (PLP), do atual primeiro-ministro,
disseram fontes partidárias.
Fontes de várias forças políticas
ouvidas pela Lusa confirmaram a realização de "primeiras rondas" de
diálogo sobre uma nova maioria parlamentar formada pelos 21 deputados do CNRT,
cinco do Partido Democrático (PD) e cinco do Kmanek Haburas Unidade Nacional
Timor Oan (KHUNTO), bem como os três das forças mais pequenas no parlamento,
Partido Unidade e Desenvolvimento Democrático (um deputado), Frente Mudança
(um) e União Democrática Timorense (um).
Esta solução deixaria de fora a
Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), com a maior
bancada no parlamento, mas atualmente na oposição, e o Partido Libertação
Popular (PLP), que integra a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP),
coligação eleitoral, que integrava ainda CNRT e Khunto, vencedora das últimas
eleições.
Ainda que tenham concorrido em
coligação, os três partidos da AMP dividiram-se no início da legislatura em
bancadas partidárias diferentes no Parlamento Nacional.
Esta possível nova coligação poderia
obrigar o Presidente de Timor-Leste, Francisco Guterres Lu-Olo, a recuar na
decisão que mantém desde junho de 2018, quando deu posse ao atual executivo, de
não nomear mais de uma dezena de membros indigitados do executivo, quase todos
do CNRT.
A decisão do Presidente ajudou,
desde o início do mandato do Governo, a criar instabilidade política,
prejudicou a relação entre os parceiros da AMP (CNRT, PLP e KHUNTO),
agravando-se depois do chumbo da proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE)
para 2020, com as abstenções e votos contra de deputados do CNRT.
As mesmas fontes acrescentaram
que o cenário para resolver o atual impasse foi discutido em várias reuniões
entre dirigentes partidários e em encontros que o ex-Presidente José
Ramos-Horta manteve nos últimos dias.
Na quarta-feira, Ramos-Horta
esteve reunido durante cerca de duas horas com Xanana Gusmão, e na quinta-feira
reuniu-se no Palácio do Governo com o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak. Hoje
foi recebido por Lu-Olo, confirmaram à Lusa fontes oficiais do CNRT, do Governo
e da Presidência da República.
Sem comentar os encontros
mantidos, José Ramos-Horta disse à Lusa que tem estado a envidar esforços para
resolver a situação política do país.
"Dentro dos meus limites
sim, estou a fazer gestões no espírito da nossa reunião do dia 10, mas sem
qualquer missão concreta, com propostas concretas", precisou.
Ramos-Horta referia-se à reunião
de segunda-feira, promovida por Lu-Olo com os líderes históricos do país e na
qual Xanana Gusmão não participou, afirmando dias antes numa entrevista que a
solução "mais justa e democrática" seria eleições antecipadas.
Numa entrevista à televisão
timorense GMN Xanana Gusmão deixou críticas a Lu-Olo por continuar a recusar
empossar membros do CNRT, escolhidos pelo partido para integrarem o Governo.
Questionado sobre a possibilidade
de Lu-Olo recuar na questão das não nomeações, Ramos-Horta disse que o
Presidente "além de jurista é, acima de tudo, político e o chefe de
Estado" e, como tal, "compreende a dimensão política" do problema.
"Sabe que está a enfrentar
uma situação de extrema delicadeza e tenho confiança que haverá um ponto de
encontro entre o Presidente e o CNRT", disse.
De fora da equação estará o
partido liderado por Taur Matan Ruak, o PLP, a mais recente das forças
políticas timorenses.
Fonte do Governo disse à Lusa que
o chefe do executivo já empacotou grande parte das suas coisas no gabinete do
Palácio do Governo.
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