Líder da autoproclamada Junta
Militar da RENAMO, Mariano Nhongo, não aceita mediação do Conselho Cristão de
Moçambique, antes que o Governo divulgue ou dê avanço ao documento que enviou
para o Executivo no ano passado.
Esta semana, o Conselho
Cristão de Moçambique manifestou-se disponível para mediar a crise
interna na Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Em entrevista à DW
África, Mariano
Nhongo responde que rejeita a mediação e acusa o Governo de
ignorar as exigências da Junta Militar.
"Eu rejeitei os cristãos
para negociar. O que vou negociar com eles? Já mandei o documento ao Governo. O
Presidente Jacinto Nyusi recebeu o documento, entrou no gabinete com seus
quadros e leram-no, só que eles não querem cumprir com o documento como são
sanguinários", critica.
Nhongo diz ainda que, caso haja
interesse por parte do Governo, deve antes ser divulgado através dos meios de
comunicação social o documento submetido ao Executivo moçambicano. "Se é
negociação, eu peço que o Presidente Nyusi anuncie aquele documento para todo o
povo moçambicano e os países vizinhosouvir ouvirem".
Caso não seja respeitada esta
exigência, Mariano
Nhongo diz que a paciência para esperar por uma negociação vai-se
esgotar. Ao mesmo tempo, assume estar cansado
das armas. "Estamos cansados de estar com as armas no mato, se for
assim chegará o tempo em que nós já não vamos negociar com ninguém. Sebemos a
razão que nos fez fazer a revolução, em 2014, quando a RENAMO tinha ganho seis
províncias", lembra.
O líder da autoproclamada Junta
Militar considera que as eleições de 2019 deveriam ser anuladas. "Se a
FRELIMO não anular votos neste ano nunca mais há-de haver votos em
Moçambique, só há-de haver voto das armas", diz.
RENAMO diz que Nhongo é uma
questão do Estado
Por seu turno, a RENAMO afirma
que "a questão Nhongo é uma questão do Estado". José Manteigas,
porta-voz do principal partido da oposição, acusa ainda o Governo moçambicano
de ter criado a autoproclamada Junta Militar com o objetivo de descredibilizar
a RENAMO.
"Foi o Governo da FRELIMO
que criou o grupo Nhongo e o sinal mais claro e evidente de que eles são os os
pais do grupo Nhongo é o espaco televisivo que foi reservado a Nhongo no dia 14
de outubro fora da campanha", acusa José Manteigas.
Ao mesmo tempo, o porta-voz da
RENAMO apela a Mariano Nhongo que volte ao diálogo com a RENAMO: "As
portas da RENAMO estão abertas. Se Nhongo se sente membro do partido RENAMO,
tem que vir ao partido e colocar as suas preocupações. Em sede própria as suas
preocupações serão resolvidas."
Deslocações em massa da população
O conflito armado no centro de
Moçambique dura há mais de sete meses e já causou várias mortes. Várias pessoas
deslocaram-se das suas zonas de origem devido ao conflito.
A Ordem dos Advogados em Sofala
mostra-se preocupada com as deslocações em massa da população. Vicente
Mondlane, representante da Ordem dos Advogados, insta o Governo moçambicano a
tomar medidas urgentes de modo a que a população não perca a dignidade nem as
condições mínimas de vida por conta do conflito, quer em Cabo Delgado quer em
Sofala e Manica.
"É necessário eliminar as
causas desses conflitos, que não estão só a deslocar pessoas, também se está a
perder vidas humanas. É preciso assegurar e prevenir que haja mais mortes
resultantes destes conflitos", sublinha Vicente Mondlane. "É preciso
garantir que mocambiçanos não percam mais a vida por causa de conflitos
armados. O Governo deve estar lá para garantir que essas pessoas não sofram as
consequências."
Arcénio Sebastião (Beira) |
Deutsche Welle
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