sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Mariano Nhongo rejeita mediação do Conselho Cristão de Moçambique


Líder da autoproclamada Junta Militar da RENAMO, Mariano Nhongo, não aceita mediação do Conselho Cristão de Moçambique, antes que o Governo divulgue ou dê avanço ao documento que enviou para o Executivo no ano passado.

Esta semana, o Conselho Cristão de Moçambique manifestou-se disponível para mediar a crise interna na Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Em entrevista à DW África, Mariano Nhongo responde que rejeita a mediação e acusa o Governo de ignorar as exigências da Junta Militar.

"Eu rejeitei os cristãos para negociar. O que vou negociar com eles? Já mandei o documento ao Governo. O Presidente Jacinto Nyusi recebeu o documento, entrou no gabinete com seus quadros e leram-no, só que eles não querem cumprir com o documento como são sanguinários", critica.

Nhongo diz ainda que, caso haja interesse por parte do Governo, deve antes ser divulgado através dos meios de comunicação social o documento submetido ao Executivo moçambicano. "Se é negociação, eu peço que o Presidente Nyusi anuncie aquele documento para todo o povo moçambicano e os países vizinhosouvir ouvirem".

Caso não seja respeitada esta exigência, Mariano Nhongo diz que a paciência para esperar por uma negociação vai-se esgotar. Ao mesmo tempo, assume estar cansado das armas. "Estamos cansados de estar com as armas no mato, se for assim chegará o tempo em que nós já não vamos negociar com ninguém. Sebemos a razão que nos fez fazer a revolução, em 2014, quando a RENAMO tinha ganho seis províncias", lembra.

O líder da autoproclamada Junta Militar considera que as eleições de 2019 deveriam ser anuladas. "Se a FRELIMO não anular  votos neste ano nunca mais há-de haver votos em Moçambique, só há-de haver voto das armas", diz.


RENAMO diz que Nhongo é uma questão do Estado

Por seu turno, a RENAMO afirma que "a questão Nhongo é uma questão do Estado". José Manteigas, porta-voz do principal partido da oposição, acusa ainda o Governo moçambicano de ter criado a autoproclamada Junta Militar com o objetivo de descredibilizar a RENAMO.

"Foi o Governo da FRELIMO que criou o grupo Nhongo e o sinal mais claro e evidente de que eles são os os pais do grupo Nhongo é o espaco televisivo que foi reservado a Nhongo no dia 14 de outubro fora da campanha", acusa José Manteigas.

Ao mesmo tempo, o porta-voz da RENAMO apela a Mariano Nhongo que volte ao diálogo com a RENAMO: "As portas da RENAMO estão abertas. Se Nhongo se sente membro do partido RENAMO, tem que vir ao partido e colocar as suas preocupações. Em sede própria as suas preocupações serão resolvidas."

Deslocações em massa da população

O conflito armado no centro de Moçambique dura há mais de sete meses e já causou várias mortes. Várias pessoas deslocaram-se das suas zonas de origem devido ao conflito. 

A Ordem dos Advogados em Sofala mostra-se preocupada com as deslocações em massa da população. Vicente Mondlane, representante da Ordem dos Advogados, insta o Governo moçambicano a tomar medidas urgentes de modo a que a população não perca a dignidade nem as condições mínimas de vida por conta do conflito, quer em Cabo Delgado quer em Sofala e Manica. 

"É necessário eliminar as causas desses conflitos, que não estão só a deslocar pessoas, também se está a perder vidas humanas. É preciso assegurar e prevenir que haja mais mortes resultantes destes conflitos", sublinha Vicente Mondlane. "É preciso garantir que mocambiçanos não percam mais a vida por causa de conflitos armados. O Governo deve estar lá para garantir que essas pessoas não sofram as consequências."

Arcénio Sebastião (Beira) | Deutsche Welle

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