Militante do PCP, 59 anos, Isabel
Camarinha é o nome proposto para suceder a Arménio Carlos na liderança da CGTP.
Será a primeira vez que uma central sindical é liderada por uma mulher.
Pela primeira vez em 50 anos de
história, a CGTP vai ser liderada por uma mulher. Isabel Camarinha, 59 anos,
até agora presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e
Serviços de Portugal (CESP) é o nome que vai ser proposto ao próximo congresso
da Intersindical para suceder a Arménio Carlos, que deixa a liderança no
próximo fim de semana.
Sindicalista há quase 30 anos,
Isabel Maria Robert Lopes Perdigão Camarinha é militante do PCP e tem integrado
as listas de candidatos da CDU a várias eleições, sempre em lugares não
elegíveis - foi 13.ª nas últimas eleições para o Parlamento Europeu e nas
últimas legislativas ocupou o oitavo lugar na lista da CDU por Lisboa. Não
integra o Comité Central do partido, mas é previsível que essa situação mude já
no final deste ano, no próximo congresso comunista.
Deolinda Machado, do setor
católico da CGTP, que deixa a direção também neste congresso, destaca da futura
líder "a capacidade de trabalho e de interação com os outros" e
a "entrega à causa" do sindicalismo. Sobre o facto de a
Intersindical se preparar para eleger pela primeira vez uma mulher sublinha que
é "uma marca dos tempos" e um "sinal que se quer dar",
embora acrescente também que o secretário-geral da Intersindical "é
um intérprete de um coletivo".
Carlos Trindade, da tendência
socialista da Intersindical, fala numa pessoa "afável, disponível e
trabalhadora", que "cria bom ambiente". A abstenção dos membros
socialistas na reunião que, na segunda-feira, pôs em cima da mesa o nome de
Isabel Camarinha como sucessora de Arménio Carlos, explica-se por razões de
"carácter político-sindical". "Não há nada de pessoal na
nossa posição, o que há é uma natural preocupação que possa haver um fechamento
da CGTP, especialmente antes de um congresso em que há um conjunto de matérias
que estão muito radicalizadas e sobre as quais os membros da tendência
socialista vão apresentar propostas de alteração", acrescenta o
sindicalista.
Isabel Camarinha trabalhou como
técnica administrativa no Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração
Local e Regional, Empresas Públicas, Concessionárias e Afins (STAL). Integrou a
direção do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritório e Serviços de
Lisboa (CESL) e posteriormente a direção do Sindicato dos Trabalhadores do
Comércio, Escritório e Serviços de Portugal (CESP), onde marca presença desde a
sua criação, há mais de duas décadas.
Em 2016 foi eleita presidente do
CESP, tendo-se destacado, ao longo dos últimos anos, na defesa de melhores
condições salariais e de trabalho nas grandes superfícies, numa área que tem
conhecido crescentes protestos sindicais. A criação de um contrato
coletivo de trabalho e o encerramento do comércio aos domingos e feriados são
duas das suas batalhas.
Na mesma altura assumiu a
coordenação da Federação Portuguesa dos Sindicatos do Comércio, Escritórios e
Serviços (Fepces). Por inerência de funções passou, desde 2016, a integrar
a comissão executiva da CGTP.
Se o congresso confirmar a
escolha de Isabel Camarinha - e não há muitas dúvidas de que o fará -, será a
primeira vez que uma mulher chega ao mais alto cargo de uma central sindical.
Isto quando já têm uma presença assinalável na liderança sindical, como foi o
caso de Ana Avoila, coordenadora da Frente Comum dos Sindicatos da
Administração Pública, ou de Helena Rodrigues, que é presidente do Sindicato
dos Quadros Técnicos do Estado (STE, afeto à UGT).
Quase um terço da comissão
executiva sai por limite de idade
A mudança de secretário-geral não
será a única alteração na cúpula da CGTP no congresso marcado para sexta-feira
e sábado no Seixal. Além de Arménio Carlos, vários nomes históricos da
Intersindical deixam a estrutura dirigente, como é o caso de Ana Avoila, que há
mais de uma década é o rosto da federação de sindicatos da Administração
Pública da Intersindical; do próprio Carlos Trindade, da tendência sindical
socialista, tal como Fernando Jorge Fernandes e João Torres; de Deolinda
Machado, da tendência católica, de Augusto Praça (secretário de Relações
Internacionais) e Graciete Cruz (atual secretária da organização). Cerca de um
terço da comissão executiva, que é composta por 29 elementos.
Saídas que se devem ao limite de
idade imposto no acesso aos corpos sociais da CGTP - os sindicalistas não se
podem recandidatar quando atinjam a idade de reforma nos quatro anos seguintes.
A própria Isabel Camarinha não poderá fazer um segundo mandato à frente da
Intersindical, dado que também ela ficará abrangida por esta interdição.
"Os reformados têm lugar
aqui, mas não faria muito sentido ter reformados à frente da CGTP", diz
Deolinda Machado, defendendo que a Intersindical tem de ser o "espelho do
que é o mundo dos trabalhadores".
Susete Francisco |
Diário de Notícias, com foto
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