Nuno Serra*
«Nos últimos anos, várias pessoas na redacção do Notícias ao Minuto levantaram grandes dúvidas sobre a pertinência das notícias sobre André Ventura, uma figura que recebia um nível de atenção extraordinariamente superior ao papel que desempenhava na política portuguesa. (...) Mesmo antes de ser deputado, Ventura já contava com a insistente atenção de Patrícia Martins Carvalho, a jornalista que, segundo as contas da equipa da página Os truques da imprensa portuguesa, publicou mais de 100 notícias relacionadas com o líder do Chega. (...) O percurso de Patrícia Martins Carvalho é especialmente interessante devido ao facto de que ela alternou entre as funções exercidas no grupo do Correio da Manhã (que serviu de incubadora a André Ventura) e no Notícias ao Minuto. (...) Podemos até dar o benefício da dúvida e acreditar que isto é apenas uma mera coincidência, mas, dado o facto de que a jornalista passou directamente para os quadros do Chega, isso parece francamente ingénuo. Recordamos que André Ventura declara frequentemente que entrou para a política para combater a corrupção e os "tachos", alega que é "anti-sistema" e que enfrenta "os poderes instalados"» - (Uma Página Numa Rede Social).
Em entrevista recente, Paulo Pena sublinhava os mecanismos associados à ascensão de notoriedade de figuras que, de outro modo, não se destacariam no espaço público. Para lá das situações de «infiltração» nas redações (que sugerem por vezes a conivência ou mesmo intencionalidade das respetivas direções), há todo o universo das redes sociais, onde pequenos grupos conseguem disseminar desinformação com grande eficácia, num negócio digital vantajoso e associado, em vários casos, a projetos políticos. Como refere Paulo Pena, «não é uma coincidência tenebrosa a forma como foram eleitos Donald Trump, Bolsonaro, Boris Johnson, Duterte ou o presidente da Índia», nem o crescimento, em simultâneo, de vários partidos de extrema-direita na Europa.
Se tudo isto é muito certo (e mais ainda a dificuldade de encontrar formas de lidar com estes processos de mediação), a verdade é que importa também não esquecer o mal-estar social que alimenta a adesão aos populismos e aos discursos do ódio. Ou seja, o papel das políticas e do quadro de orientações políticas que, desde logo à escala europeia, permitam esvaziar a insatisfação e a revolta, invertendo a trajetória de degradação generalizada das condições de vida, com perda de rendimentos do trabalho, agravamento das desigualdades e aumento da pobreza e do risco de pobreza.
Em entrevista recente, Paulo Pena sublinhava os mecanismos associados à ascensão de notoriedade de figuras que, de outro modo, não se destacariam no espaço público. Para lá das situações de «infiltração» nas redações (que sugerem por vezes a conivência ou mesmo intencionalidade das respetivas direções), há todo o universo das redes sociais, onde pequenos grupos conseguem disseminar desinformação com grande eficácia, num negócio digital vantajoso e associado, em vários casos, a projetos políticos. Como refere Paulo Pena, «não é uma coincidência tenebrosa a forma como foram eleitos Donald Trump, Bolsonaro, Boris Johnson, Duterte ou o presidente da Índia», nem o crescimento, em simultâneo, de vários partidos de extrema-direita na Europa.
Se tudo isto é muito certo (e mais ainda a dificuldade de encontrar formas de lidar com estes processos de mediação), a verdade é que importa também não esquecer o mal-estar social que alimenta a adesão aos populismos e aos discursos do ódio. Ou seja, o papel das políticas e do quadro de orientações políticas que, desde logo à escala europeia, permitam esvaziar a insatisfação e a revolta, invertendo a trajetória de degradação generalizada das condições de vida, com perda de rendimentos do trabalho, agravamento das desigualdades e aumento da pobreza e do risco de pobreza.
Nuno Serra | Ladrões de Bicicletas
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