Homenagem aos 248 anos de Porto
Alegre!
Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite* | Porto Alegre
| Brasil
"Sinto uma dor
infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...” Mário
Quintana (1906-1994)
O
século 20 chegou com expectativas e sonhos de renovação. A República havia se
instalado no Brasil, desde 15 de novembro 1889, trazendo consigo a promessa de
“novos ares”, representado no dístico positivista de nossa bandeira: “Ordem e
Progresso”. Modernidade, industrialização e ciência eram palavras da moda.
Vivíamos a esperança de novos tempos... Os logradouros de Porto Alegre, que
homenageavam figuras ligadas ao império, foram renomeados com personagens,
fatos ou datas referentes à implantação do novo regime.
O
historiador Francisco Riopardense de Macedo (1921-2007), em sua “História de
Porto Alegre” (1993), pág. 80, descreve -nos, embora sem apresentar suas
fontes, o que ocorreu naquela noite de novembro de 1889:
“O
povo saiu às ruas arrancando placas que evocavam o Império e substituindo-as
por novas representativas do novo regime e que a Junta Municipal nada mais fez
que homologar essa iniciativa, essa demonstração de apreço pelo novo regime”.
A
Proclamação da República, que se efetivou por meio de um golpe militar,
surpreendeu aos porto-alegrenses, principalmente aos jovens republicanos que
militavam nas páginas do jornal A Federação (1884-1937), Órgão Oficial do
Partido Republicano (PRR). A notícia, sobre o fim do regime monárquico, deu-se
por meio de um telegrama afixado no placar deste Órgão do Partido Republicano
Rio-Grandense, às 17 horas, no dia 15 de novembro de 1889:
Governo
Provisório, Rio, 15 de novembro
“O
povo, o Exército e a Armada vão instalar um governo provisório que consultará a
Nação sobre a convocação de uma constituinte. Erguem-se aclamações gerais à
República. Viva a liberdade! Viva a República! Viva a Pátria
Brasileira!”
Quando
o alagoano Deodoro da Fonseca (1827-1892) proclamou República, em 1889, o
movimento do comércio e da indústria, em Porto Alegre, já era considerado
significativo: 03 bancos, 37 armazéns atacadistas e 33 para vendas no varejo;
10 casas de tecidos por atacado, 56 varejistas, além de 10 lojas para venda de
livros ou miudezas.
Os conflitos ideológicos na
Capital
A
transição do regime monárquico para o republicano gerou sérios conflitos em
nosso Estado. Ao término da “Revolução Federalista” ou “Revolução da
Degola” (1893-1895), o Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) se tornou
hegemônico na, então, Assembleia dos Representantes (atual Assembleia
Legislativa), após ter alijado do poder seus opositores liderados pelo tribuno
Gaspar Silveira Martins (1835-1901) chefe do Partido Federalista (PF).
Este
confronto, que dividiu o Estado, em pica-paus (castilhistas) e maragatos
(gasparistas), resultou em 10.000 mortes. A prática da degola, durante o
conflito, foi utilizada por ambos os lados. Com a vitória do PRR. Júlio Prates
de Castilhos (1860-1903), líder do PRR, passou a orquestrar, com sua batuta, o
destino político do Estado, regido por uma Constituição de inspiração
positivista (1891), escrita por ele, que acirrou a oposição política ao seu
governo.
Em Porto
Alegre, durante essa guerra fratricida, não ocorreram combates, embora
pica-paus (lenço branco) e maragatos (lenço vermelho) demarcassem seus
territórios nos cafés da cidade, demonstrando a incompatibilidade de
compartilharem o mesmo espaço. De acordo com Sérgio da Costa Franco, em seu
livro, Porto Alegre na guerra civil: o “combate” dos cafés, os pica-paus tinham
predileção pelo Café Java, localizado em frente à Praça da Alfândega, e os
maragatos (parlamentaristas) frequentavam o Café América, defronte do Largo dos
Medeiros.
A
dicotomia política era representada pelo público frequentador desses espaços de
sociabilidades, nos quais se falavam das frivolidades do cotidiano às questões
de teor político e econômico. O confronto dessas facções se tornou inevitável.
No dia 31 de maio de 1893, a turma do Café Java invadiu o local do Café
América, resultando em nove feridos à bala e quatro com escoriações e
contusões. O jornal O Mercantil (1874-1897) registrou o fato numa matéria, cujo
título foi “Banditismo inqualificável”.
Os
ressentimentos foram aplacados somente depois da Revolução de 23 ou
Assisista. Após a assinatura, em 14 de dezembro de 1923, do Tratado de
Pedras Altas, ficou decidido que Borges de Medeiros (1863-1961) não se
reelegeria novamente. No ano de 1928, Getúlio Vargas (1882-1954) assumiu a
presidência do estado, após Borges ter governado por mais de 20 anos o Rio
Grande do Sul. Ao criar a FUG (Frente Única Gaúcha), Vargas uniu chimangos e
maragatos - tradicionais adversários políticos - em prol dos ideais
revolucionários de 1930, dando início a um novo período na história do Brasil.
A chamada “Era Vargas” rompeu com o pacto político entre Minas Gerais e São
Paulo, que se revezavam no poder de acordo com o pacto da “Política do Café com
Leite”, implantada desde a época do presidente paulista Campos Sales (1841-
1913).
Territórios
Negros da cidade
Após
a abolição da Escravatura, que ocorreu no Rio Grande do Sul, em setembro de
1884, quatro anos antes Lei Áurea (1888), e da Proclamação da República (1889),
acelerou-se o processo de crescimento do seu perímetro urbano. O resultado foi
o expurgo da população sem recursos financeiros para a periferia da cidade,
principalmente os afrodescendentes. Desta forma se originou espaços como a
Colônia Africana (atual Bairro Rio Branco), antiga Ilhota ( imediações do
Estádio Tesourinha e do Centro Municipal de Cultura), Areal da Baronesa (
limite entre os bairros Cidade Baixa e Menino Deus) e Mont’Serrat, que se
constituíram em locais de resistência cultural negra, legando-nos o samba
e a religiosidade de matriz africana (culto aos Orixás) presentes até hoje, com
marcas indeléveis, em nossa cultura.
Infelizmente, a
abolição dos escravos trouxe a liberdade para o escravizado, porém não houve um
projeto de inserção social e nem uma reforma agrária numa sociedade capitalista
e competitiva, restando apenas para o afrodescendente “a porta da rua”. Desta forma, agravou-se, ainda mais, a situação desta grande parcela da
população que, embora livre, estava desprovida de qualquer projeto de inclusão
social, restando a pobreza, a marginalização e a marca indelével da escravidão,
que durou mais de 300 anos no Brasil.
O
Príncipe Negro
Na
Cidade Baixa, na Lopo Gonçalves, a partir de 1901, morou Custódio Joaquim de
Almeida (1831? -1935), o príncipe negro, figura ligada à nobreza africana e
babalorixá (sacerdote no culto africano). O príncipe criava cavalos árabes e
falava inglês e francês, causando surpresa à sociedade da época, que estava
habituada a ver o afrodescendente com o esteriótipo de quem foi escravizado e
pobre. Por sua vez, o afrodescendente alijado da sua cidadania, após uma
liberdade sem inserção social, ficava também surpreso com a figura nobre e
elegante do Príncipe de Ajudà, desfilando de carruagem, pelas ruas de Porto
Alegre, conforme nos narra o escritor Roberto Rossi Jung em seu livro O
Príncipe Negro (2007).
O Mercado
Público
Faz parte
do cotidiano, os porto-alegrenses observarem, no Mercado Público da nossa
cidade, religiosos, com seus ricos trajes ritualísticos (axós), fazendo suas
saudações ao Orixá Exu Bará: o mensageiro dos orixás e dono da chave que
abre os caminhos materiais e espirituais do ser humano. Esta tradição religiosa
está ligada à figura do príncipe Custódio Joaquim de Almeida, que teria feito
um assentamento deste orixá (ritual religioso), talvez, enterrando um ocutá –
pedra com o axé (energia)- que representa e irradia a força do orixá no centro
deste Mercado. Considerado um dos pontos turísticos da cidade, o Mercado
Público foi inaugurado em #3 de outubro
de 1869, passando a funcionar, porém, somente em fevereiro de 1870.
O
Mercado foi projetado pelo engenheiro alemão Frederico Heydtmann, Construído
pelo braço do escravizado, foi apropriado pelos lusos que vendiam
mercadorias produzidas pelos alemães do rio dos Sinos. Depois vieram os
imigrantes italianos, que instalaram seus, restaurantes, padarias e açougues. De
acordo com a Prefeitura de Porto Alegre, rotineiramente, transitam cerca
de 100 mil pessoas nos corredores centenários do nosso Mercado
Público.
Frequentadas
pela elite social e política da cidade, as festas, que ocorriam na residência
do Príncipe Custódio, eram marcadas pela presença de bebidas importadas
acompanhadas de finas iguarias. Além da tradição oral e o registro de seu
falecimento, em 28 de maio de 1935, nos principais jornais da época, o único
documento oficial é seu atestado de óbito que se encontra no Cemitério Santa
Casa de Misericórdia.
Os
principais jornais da época, como "A Federação" (1884-1937),
"Diário de Notícias“ (1925-1979) e o Correio do Povo (1895), registraram a
morte do príncipe de Ajudá, destacando sua importância nobiliárquica, donde se
conclui que o príncipe, indubitavelmente, foi figura notória na capital gaúcha.
Os
primeiros Bairros
O
crescimento demográfico de Porto Alegre acarretou o surgimento de arraiais
associados a etnias, como o dos Navegantes e São Manoel - ambos de origem
germânica - e o Menino Deus de origem açoriana. Ainda na segunda metade
do século 19, surgiram os bairros Partenon, Glória e Teresópolis. Entre as
atuais ruas Independência e Cristovão Colombo, despontou o Bairro Floresta. Os
bairros Independência e Moinhos de Vento se originaram a partir da instalação
dos moinhos do mineiro Antônio Martins Barbosa. Com o aumento das
atividades do cotidiano, entre o Bom Fim, o Menino Deus e a Colina do
Cemitério, surgiu o Bairro da Azenha, cuja origem está ligada ao Chico da
Azenha. que se estabeleceu no local a partir de 1751. Ao findar o século 19,
por meio do caminho do Mato Grosso (Bento Gonçalves), do caminho Meio (Protásio
Alves) e do Caminho Novo (Voluntários da Pátria), a zona do centro da cidade se
ligava às cercanias da cidade.
Tempos
modernos
No
campo da Comunicação, o porto-alegrense assistiu à inauguração, em 1886, com 72
aparelhos, do Centro Telefônico que se localizava na esquina da Riachuelo com a
General Câmara, antiga Rua da Ladeira. O primeiro “alô” na cidade é
creditado à figura do general Deodoro da Fonseca que ocupava, naquele momento,
a presidência da Província. Porto Alegre foi a 6ª cidade no Brasil a implantar
a novidade.
As
melhorias na urbe foram avançando... No ano seguinte, em 1887, Porto
Alegre se tornou uma das pioneiras do Brasil a experimentar a luz elétrica,
gerada por uma usina térmica da Companhia Fiat Lux. No ano de 1888, a cidade
era ligada por linhas férreas a Santa Maria e Uruguaiana, representando um
importante progresso no campo dos transportes. Na virada do século, em 1900,
Porto Alegre tinha uma população de 73.274 “almas”. Já nos primeiros tempos da
República, a cidade contava com 316 tavernas, 38 botequins, cafés e
restaurantes, 10 quiosques, conforme registra, na pág. 68, a Enciclopédia dos
municípios brasileiros.
No
cotidiano da cidade, o cinematógrafo (1896) o automóvel (1906) e o bonde
elétrico (1908) se constituíram em novidades, que instigaram a curiosidade e o
fascínio dos porto-alegrenses, no final do século 19 e início do
20.
O viajante
alemão Schwartz Bernard que visitou Porto Alegre, no início do século 20,
considerou a cidade bastante progressista, aproximando-se do modelo europeu de
urbanidade. De acordo com o jornalista Roberto Rossi Jung, em seu livro “O
Príncipe Negro” (2007), o significativo crescimento econômico e populacional
ocorreu devido ao comércio do seu porto e ao fluxo de imigrantes alemães e
italianos, além de negros libertos que, após a abolição, voltaram-se e para a
capital em busca de sobrevivência, corroborando com a pesquisa da historiadora
Sandra J. Pesavento (1945-2009).
Um
conjunto de transformações passou a fazer parte da rotina dos porto-alegrenses:
o trem diminuiu as distâncias; os navios a vapor eram mais seguros e rápidos; o
telefone aproximou as pessoas, assim como o telégrafo. A eletricidade
trouxe rapidez nos transportes (bonde), iluminando as ruas e as moradias,
trazendo conforto e segurança. De acordo com o relato, em 1905, do viajante
Vittorio Buccelli:
“A
iluminação é boa e digna de uma cidade europeia e é feita de todos os sistemas:
a gás, a lâmpadas elétricas e a acetileno”.
O
Positivismo de Comte
A “Ditadura
Científica”, inspirada em Augusto Comte (1798-1857), foi adaptada, em nosso
estado, por Júlio Prates de Castilhos (1860-1903), sendo exercida pelo seu
sucessor Borges de Medeiros (1863- 1961), durante a Primeira República
(1889-1930). De acordo com essa filosofia, a sociedade se constituía num
organismo vivo, cuja finalidade era alcançar o bem da Humanidade. Sintetizada
na frase “O amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”, a
doutrina pregava a visão cientificista da realidade, valorizando os fatos sem
nenhuma conotação metafísica.
Segundo o
Castilhismo, capitalistas e banqueiros administrariam a economia e os
engenheiros estabeleceriam a união entre a teoria e a prática. A ordem
social se constituía na base para atingir o progresso. Neste contexto, Porto Alegre se expandiu,
cresceu, alterando, de modo gradativo, a sua paisagem açoriana.
Uma
característica de Porto Alegre é a influência do positivismo, que se perpetuou
na sua arquitetura e estatuária. Durante o período positivista, surgiram
imponentes construções que foram modificando o visual citadino. Um exemplo,
bastante apropriado, entre outros prédios, é a antiga Prefeitura Municipal que
foi construída sob responsabilidade do engenheiro municipal João Cattani, sendo
o projeto do arquiteto veneziano Luiz Carrara Colfosco. Inaugurado, em 1901, o
prédio simboliza o poder e a consolidação do Partido Republicano e seu ideário
positivista. Ali, despachou, por mais de 20 anos, o primeiro Intendente
(prefeito) eleito, por voto direto, José Montaury de Aguiar Leitão. Nessa
época, o voto não era secreto e as mulheres eram excluídas do processo de
eleição.
A
Educação
Na área da educação,
durante os primeiros anos do século 20, surgiram tradicionais estabelecimentos
de ensino, como Sevigné (1900), Rosário (1904), Bom Conselho (1905), Parobé
(1906) e Nossa Senhora das Dores (1908). Já no campo do ensino superior,
foram criadas nossas primeiras faculdades: Engenharia (1896), Medicina (1898) e
Direito (1900), dando início à vida acadêmica em Porto Alegre.
O
Esporte
Na área dos
esportes, na época, despontavam o ciclismo – inclusive havia o Velódromo da
União Velocipédica / Parque Farroupilha (Redenção), o turfe e o remo. Nos
primeiros anos do século 20, o porto-alegrense assistiu, também, ao surgimento
de duas grandes potências do nosso futebol: o Grêmio (1903) e o Internacional
(1909), a eterna dupla Grenal. No dia 18 de julho de 1909, no Campo da Baixada,
ocorreu o primeiro Grenal da história do futebol gaúcho. O resultado foi a
vitória do Grêmio com o placar de 10 x 0.
O termo
Grenal foi criado, em 1926, pelo jornalista e gremista Ivo dos Santos Martins,
enquanto rabiscava num guardanapo na Confeitaria Colombo. Na cidade de Rio
Grande, ao adentrar o século 20, fundou-se, sob a liderança do alemão Johannes
Christian Moritz Minnermann, o primeiro clube de futebol do Rio Grande do Sul:
o Sport Clube Rio Grande.
Espaços
de Sociabilidades
O
sarau se constituiu, por muito tempo, num hábito frequente do porto-alegrense,
quando a família se reunia para escutar estórias, ouvir música ou algum trecho
de um sucesso literário da época. Neste período, os hábitos noturnos eram quase
que inexistentes, e locais de diversão eram tidos como suspeitos, exigindo
discrição dos frequentadores. Com a iluminação a gás (1874), a noite passou a
ser mais atrativa.
Nos
saraus, com a presença de convidados, declamavam-se sonetos ao som de boa
música. Durante o encontro era oferecido chá ou licor, doces e biscoitos.
A peça fundamental era o piano, no qual se tocavam valsas, havaneiras,
shotings, czardas, polcas e o velho minueto. Os convidados dançavam e
conversavam alegremente, durante essas reuniões que ocorriam, geralmente, às
quintas e aos sábados, segundo José De Francesco, no livro Reminiscências de um
artista, pág. 13. Durante longo tempo, esses saraus fizeram parte do lazer do
porto–alegrense.
Na virada
do século 20, se o piano ocupava o lugar de honra na casa, nas ruas a primazia
era do violão. Nas alamedas da Praça da Harmonia, caminhavam os seresteiros,
dedilhando violões e, algumas vezes, causando alarido. As serenatas
acabaram por serem proibidas, por Barros Cassal (1858-1903), nos primeiros
tempos da República. Neste período a cidade contava com 316 tavernas, 38
botequins, cafés e restaurantes, 10 quiosques, conforme registra, na pág. 68, a
Enciclopédia dos municípios brasileiros.
Os
Cafés
Os cafés surgem
na Europa nos fins do século 18, popularizando-se no século seguinte. Nesta
ambiência do primeiro mundo se trocam ideias e realizam-se negócios variados.
Os Cafés no velho continente, vão a encontro das novas exigências de uma
sociedade moderna e logo se fariam presentes em nossa urbe, estando presentes
no século 20, como espaços de sociabilidades.
De acordo com Achyles
Porto alegre (1848-1926), em seu livro Flores entre ruínas na pág. 19, o mais
antigo Café da nossa cidade era o Fama fundado em 1870, localizava-se na
rua Nova (atual Andrade Neves). Nosso cronista narra que o local era
frequentado por quem não prezava a própria fama. Com o passar do tempo,
surgiram inúmeros cafés, atraindo a clientela masculina mais endinheirada que
discutia negócios e preocupava-se com as questões políticas do estado.
Surgiram, assim, o Java, Roma, América e o Guarany. Nestes cafés as mesas eram
disputadas, pelos frequentadores, como afamados pontos de encontros. Havia
também os cafés-concerto, nos quais se podia beber, fumar e assistir a números
musicais e de variedades, como Café Pátria, que, em 1895, exibiu com sucesso o
grupo de Eduardo Moccia, apresentando zarzuelas que são peças espanholas, parte
falada e outra cantada; uma espécie de ópera cômica. No mesmo estilo, despontou
o café – concerto O Sol Nasce Para Todos de Paulino Bernardi.
O
eterno Chalé da Praça XV
Local de encontro e
lazer dos porto-alegrenses, o Chalé da Praça XV foi construído no ano 1885, na
Praça Conde d’Eu, atual Praça XV, visando à venda de sorvetes e bebidas. Este
foi demolido, sendo construído, em 1911, no mesmo local, outro em estilo
“Art-Nouveau”. Ser fotografado pelos antigos lambe-lambes e encontrar com os
amigos, constituía-se numa prática do cotidiano desse local. O Chalé da Praça
XV, até os dias atuais, faz parte da tradição e do cenário central da
cidade.
A
Praça dos poetas e intelectuais
A atual Praça
Brigadeiro Sampaio (antiga Praça da Harmonia) representou no passado um
importante espaço de sociabilidades, no qual namorados, boêmios poetas,
escritores e jornalistas transitavam. O lugar, no século 19, foi também
cemitério e local de enforcamentos. Já na condição de Praça, a partir de 1878,
o espaço se tornou ponto de recreação com a instalação de um rinque de
patinação. Além de um chafariz, importado da Europa, havia também um
quiosque onde ocorriam cervejadas. A Praça da Harmonia se chamou também Martins
de Lima. Este foi o vereador responsável pelo primeiro plano de arborização da
cidade, tendo esse local recebido as primeiras mudas de árvores. Segundo Rafael
Guimaraens, em seu livro “Rua da Praia / Um passeio no tempo” (2010),
frequentaram a Praça da Harmonia nomes famosos, como Alceu Wamocy (1895-1923),
Eduardo Guimaraens (1892-1928), Alcides Maya (1877-1944), Álvaro Moreira
(1888-1964) Felipe de Oliveira (1890-1933), Dionélio Machado (1895-1985), entre
outros literatos. Atualmente, seu nome é Brigadeiro Sampaio.
As
transformações socioculturais
O final do século 19
trouxe novidades no campo das artes, no vestuário ou no modo de desfrutar a
existência, valorizando o lazer noturno. Festejando a chegada do Ano
Novo, o Porto Alegrense deslumbrou-se ao ver, na chaminé da Fiat Lux, o
letreiro Salve o século XX se iluminar com a eletricidade. Este era o esboço da
moderna noite cosmopolita, vivenciada pelo porto alegrense que adentrava o
século 20. Quando se acendem as lâmpadas elétricas nas ruas, já havia os
hábitos noturnos que se expandiram na proporção que a cidade se iluminava,
tornando mais seguros os percursos.
A moda e
footing da Rua da Praia
O público
feminino, de acordo com Athos Damasceno Ferreira (1902-1975), frequentava a
Confeitaria da Alfândega, exibindo o figurino francês que predominava à época.
O chapéu, símbolo de elegância, era adornado com flores, fitas ou frutos, sendo
adquiridos no Magasin de Modas ou Au Bom Marché. A grande meta do público
feminino, por meio do uso do espartilho, era possuir uma cintura de 42
centímetros, sendo um ideal de beleza uma pele branca e transparente. Somente
as proletárias usavam lenço na cabeça ou pequenos chapéus. No caso do sexo
masculino, este primava por calçar sapatos bem cuidados e o uso de chapéus e
bengalas fazia parte da indumentária.
O footing feminino,
após o “chá das cinco”, era costumeiro, na Rua dos Andradas (popular Rua
da Praia). Ao escurecer, assistia-se ao “trottoir” de lindas mulheres, com a
pecha de “má reputação”, às quais a imprensa da época denominava de
“horizontais” ou “messalinas”. Estas eram abordadas, também, pelos jovens que
frequentavam as novas faculdades e nos intervalos noturnos se dirigiam até o
local na esperança de obter algum encontro furtivo de prazer. Já que este tipo
de relação íntima, com as chamadas “moças de família “, a moral católica, da época,
só permitia após o sagrado matrimônio.
A prostituição,
na época, era considerada um “mal necessário” que preservava a moral familiar.
Isto se ratifica, de acordo com Sandra J. Pesavento (1945-2009), em seu livro “Uma
outra cidade: mundo dos excluídos no final do século XIX” (2001), no qual a
autora registrou que a polícia prendia os rufiões e cafetinas e os liberavam à
noite. Na realidade, a prática repressiva era uma hipocrisia, pois muitos
destes indivíduos, que representavam e aplicavam a lei, frequentavam também os
ditos bordéis da época, que se encontravam espalhados por ruas consideradas de
má fama na cidade, a exemplo da antiga Pantaleão Telles, atual Washington Luís.
A
Sétima Arte em Porto Alegre
Trazido pelo
empresário Francisco de Paola e seu sócio Dawison, no dia 4 de novembro de
1896, o Cinematógrafo teve sua primeira apresentação, na Rua da Praia, nº 349.
A exibição das imagens, em movimento, deixou o público presente perplexo diante
da novidade que se transformaria na sétima arte.
O jornal A
Reforma (1869-1912), de 04 de novembro de 1896, divulgou a notícia da exibição,
em Porto Alegre, da nova invenção que projetava a “fotografia animada”. Já o
Correio do Povo ,em 26 de fevereiro de 1901, anunciou a apresentação do
Cynematographo, com exibições diárias, no Teatro São Pedro. Embora as críticas
da elite conservadora, as exibições continuaram até o ano de 1909. As primeiras
imagens eram vistas panorâmicas, que retratavam as belezas naturais e registros
de eventos públicos, como procissões, acontecimentos políticos de outros locais
fora do nosso Estado.
Em 20 de
maio de 1908, foi inaugurada a primeira sala de cinema, o Recreio Ideal, na Rua
dos Andradas, em frente à Praça da Alfândega. O local era propriedade de José
Tours, que representava uma fabrica espanhola de aparelhos cinematográficos. A
partir de então, outras salas foram sendo criadas, sendo denominados na forma
popular de cinemas de calçada. Em 29 de novembro de 1913, foi inaugurado o
primeiro cineteatro de Porto Alegre: o Guarany. Este se localizava na Rua
dos Andradas, em frente à Praça da Alfândega, em um prédio projetado pelo
arquiteto alemão Theo Wiederspan (1878 -1952). Até o ano de 1927, as películas
eram mudas. Somente em 1940, estreou Cachorricídio, o primeiro filme sonoro do
Rio Grande do Sul, produzido pela Leopoldis Som. O músico e radialista Antônio
Francisco Amábile (1906-1956) atuou como ator principal, além de ter escrito o
script e ser o responsável pela parte musical.
O nosso
cronista Achyles Porto Alegre (1848-1926) se inquietava em relação às novas
formas de divertimento do início do século 20. Em sua opinião, os espaços
fechados, destinados a sociabilidades públicas, eram locais frequentados pela
“arraia miúda”, a exemplo do cinema que considerou um instigador de maus
costumes. Embora as críticas do nosso cronista e da Igreja, a partir do final
da década de 1910, o cinema se expandiu e atraiu o público para as salas de
exibição, tornando-se a expressão genuína da modernidade, pois influenciou no comportamento
social, por meio da propaganda de produtos voltados à beleza, à moda e ao
consumo de bebidas e cigarros. Enfim, criou-se uma cultura cinematográfica.
A origem da
palavra boemia é imprecisa; porém, no ano de 1830, em Paris, já aparece com o atual
significado. Nosso poeta Zeferino Brasil (1870-1942) foi um reconhecido
boêmio da cidade, como registra a dissertação de mestrado Espaços de
sociabilidade e memória: fragmentos da “vida pública” porto-alegrense entre os
anos de 1890 e 1930, de Luiz Antônio G. Maronese, defendida em
1992.
Na
última década do século 19, a cidade já possuía bares, cafés e frequentadores
considerados boêmios. Segundo Souza Júnior (1896-1945), a influência do livro
“Cenas da vida boemia” de Henri Murger (1822-1861), no meio intelectual da
época, foi marcante, influenciando num certo alcoolismo romântico associado a
um “estilo de vida”.
O
Lazer da elite
Apesar das
campanhas moralizantes e da presença da repressão policial, o lazer noturno
continuou a crescer. O público de gosto mais apurado frequentava o Theatro São
Pedro (1858) as soirées da Sociedade Esmeralda (1873), da Germânia (1855) ou da
Vittorio Emanuelle (1877), além dos banquetes no Grande Hotel (1918) e no Clube
do Comércio (1896). A comunidade afrodescendente frequentava a Sociedade
Floresta Aurora (1872). Fundada, por negros alforriados, é a mais antiga no
Brasil, ainda, em atividade. Nela, os afrodescendentes buscavam reproduzir o
modelo burguês das outras sociedades frequentadas pela elite porto-alegrense.
O modelo
burguês europeu do “bem viver” era reproduzido nos espaços de lazer da cidade,
como as sociedades, as confeitarias, os cafés, os hipódromos, as sessões de
cinematógrafo e o tradicional “footing” da Rua da Praia. Considerada a
mais antiga e tradicional rua da cidade, nela os “cidadãos de bem” passeavam,
exibindo o vestuário da moda. Quanto à sua importância o viajante Annibal
Amorim registrou entre 1907/1908:
“Em
Porto Alegre cada rua tem dois nomes: um popular outro municipal. É uma
confusão diabólica para o recem vindo. A dos Andradas é a mais importante. É
mesmo a via publica da moda.“
A
Fotografia
As
transformações que mudaram o visual citadino e o comportamento dos
porto-alegrenses, sob a influência do positivismo, foram registradas pela lente
de um dos grandes nomes da arte de fotografar: o ítalo-brasileiro Virgílio
Calegari (1868-1937). Seu famoso atelier se localizava na Rua da Praia,
entre a Caldas Júnior - antiga Payssandu - e a João Manoel, conhecida como a
quadra dos italianos. Frequentar seu estúdio era símbolo de status. Suas
fotografias ilustram revistas importantes que circulavam à época, como a
Máscara (1918-1928 ), Kodak (1912-1923) e a Revista do Globo (1929-1967), tendo
recebido vários prêmios.
Outro
nome importante - ligado à fotografia - foi o porto-alegrense Luiz do
Nascimento Ramos (1864- 1937), que ficou conhecido com a alcunha de Lunara.
Fotógrafo amador e comerciante, Lunara atuou, em Porto Alegre, nas primeiras
décadas do século 20, registrando imagens e personagens até então não
representadas na iconografia oficial e elitista da cidade, a exemplo dos
afrodescendentes, que, após serem libertos, ocuparam espaços marcados pela
pobreza e esquecidos pelo poder público, como a antiga Ilhota e a Colônia
Africana. O trabalho de Lunara tem sido fundamental na recuperação de uma
história que foi ,por muito tempo, ignorada pela historiografia oficial.
O
Theatro São Pedro
O
hábito de frequentar o Teatro São Pedro, fundado, em 1858, para assistir às
companhias líricas, era sinônimo de status e elegância. O professor e
pesquisador, Décio Andriotti, falecido em 2018, era um profundo conhecedor da
história da ópera e registrou no seu artigo A Música no Rio Grande do Sul / Uma
síntese Crítica o seguinte dado: “... da metade do século 19 até a metade do
século 20, a ópera foi o gênero preferido do gaúcho”. Em seus garimpos
históricos, ele descobriu, em 1994, na Biblioteca Pública do Estado, a
partitura da Ópera Carmela, que foi apresentada em 1902, da autoria do compositor
gaúcho Araújo Vianna (1871-1916).
Importante que
se destaque, também, os espetáculos teatrais encenados por grupos que vinham do
exterior. No palco do Theatro São Pedro se apresentou, no início do
século 20, a Empresa Dramática Portuguesa. No elenco, encontrava –se a
grande Lucília Simões, atuando em “Francillon” de Alexandre Dumas filho
(1824-1895), assim como Christiano de
Sousa no espetáculo “Casa de Bonecas” de Henrik Johan Ibsen (1828-1906).
Ao mesmo tempo, A Tosca e a Dama das Camélias eram anunciadas, pela Companhia
de Zaira Pieri Tiozzo, no Polytheama, sendo que muitos atores eram oriundos de
Buenos Aires, como registrou o Jornal do Comércio de 10 de janeiro, 06 de
fevereiro e 13 de março de 1900 editado em Porto
alegre.
Modernidade
O ideal
de modernidade, na capital gaúcha, refletiu-se, na gestão de José
Montaury (1858-1939), por meio da ampliação da rede elétrica, da rede
hidráulica e das linhas de bonde, aproximando a urbe dos modernas cidades do
mundo.
Em 1901,
criou-se a Academia Rio-Grandense de Letras e ocorreu uma Exposição Geral, no
Campo da Redenção, exibindo modernas tecnologias e os produtos que moviam a
economia do nosso Estado. No ano de
1903, Porto Alegre ganha um importante espaço de Memória: o Museu do Estado A
partir de 1907, por decreto de 19 de julho, passou a chamar Museu Júlio de
Castilhos o mais antigo Museu do Rio Grande do Sul.
A modernização da
cidade, associada à questão do saneamento, fez com que a Intendência Municipal
comprasse, em 1904, a Companhia Hidráulica Guaibense, dando início à construção
da casa de bombas na rua Sete de abril, esquina com a Voluntários da Pátria,
para bombear água aos reservatórios localizados em terrenos nos Moinhos
de Vento. Criada naquele mesmo ano, a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense
passou a gerar energia elétrica, implantando novas linhas e cuidando do
transporte dos bondes elétricos, satisfazendo os anseios da população local por
progresso. Estes substituíram as antigas
maxambombas que se tratavam de um transporte com atração animal (mulas ou cavalos).
Na realidade,
em 1906, duas empresas de transporte de bondes - Carris de Ferro e Carris
Urbanos se uniram, dando origem à Companhia Força e Luz Porto-Alegrense, que
assumiu a responsabilidade pelo transporte elétrico e também pelo fornecimento
de energia para a Capital.
Em relação ao saneamento da nossa
Capital, em 1905, o viajante Vittorio Bacelli registrou:
“O
serviço de limpeza urbana de Porto Alegre pode ser apontado como modelo a
muitas cidades europeias (...)”
O
processo de modernização da cidade tinha como cerne a industrialização e o
progresso tecnológico, ocorrendo nesse período a fundação de escolas técnicas,
como o do Instituto Técnico profissional Parobé em 1906, cuja criação fez parte
do movimento positivista de inserção do proletariado à sociedade moderna.
A política de alfabetização, no período borgista, acompanhou também o
desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte, que se iniciaram na gestão do prefeito José
Montaury (1858 -1939).
O jornalista e
escritor Achyles Porto Alegre narra as transformações do dia-a dia da urbe de
maneira quase poética, como registra este trecho de uma das suas crônicas:
“Ao
invés da iluminação azeite de peixe – a luz elétrica, ao invés da maxambomba,
que não matava ninguém – o elétrico e o auto, que como epidemia, estão sempre
fazendo vítimas – eis o que o progresso nos trouxe. É doloroso – mas é
bonito. Não temos mais frades de pau à porta de casa, nem, de pedra às
esquinas. Temos postes telefônicos e de luz elétrica, que nos trazem a casa, de
longe, num relâmpago, a palavra e a luz”
A
Economia
A ideia
de modernidade, no início do século 20, de acordo com o ideário positivista da
elite gaúcha, era refletida pelo incentivo dado à implantação de indústrias.
Nesse contexto surgiram, em Porto Alegre, nossas primeiras empresas: a
Neugebauer (1891), Gerdau (1901) e a Wallig (1904). Em 1909, começaram os
aterros para construção do nosso Cais do Porto, ruas e avenidas. Nesse período,
alguns bairros já possuíam iluminação elétrica e, paulatinamente, os
combustores a gás foram sendo desativados, no centro da cidade. Em relação ao
nosso progresso industrial, o viajante Wilhelm Lacmann, em 1903, deixou-nos o
seguinte registro:
“Porto
alegre possui, proporcionalmente, um próspero parque industrial. Áreas tais
como: construção de navios, pregos de arame, móveis, artefatos de vidro sabão,
fazendas e chapéus. A indústria porto-alegrense é protegida por elevados
impostos para importação, o que proporciona a continuidade de sua
prosperidade.”
As
questões sociais
Diante
do progresso industrial, o operariado gaúcho se organizava politicamente,
enquanto classe, buscando melhores condições de vida. O anarquismo e o socialismo,
por meio da pregação ideológica, disputavam, entre si, a liderança na luta para
construir uma sociedade mais justa e igualitária.
Divulgador
das ideias marxistas entre os operários locais, Francisco Xavier da Costa
(1871-1934), primeiro negro vereador na capital, liderou com Carlos Cavaco
(1878-1961), a primeira greve geral, de outubro de 1906, a chamada Greve dos 21
dias. Contando com mais de 5000 operários, a greve reivindicava a jornada de
oito horas de trabalho e melhores condições de trabalho. De acordo com o
pesquisador e jornalista João Batista Marçal, o líder Francisco Xavier da Costa
fundou o Partido Socialista Rio-grandense, em 1897. Em 1º de maio de 1905, ele
lançou o periódico socialista A Democracia (1905-1908). Durante essa greve,
conhecida como a “Greve dos 21 dias”, foi fundada a FORGS (Federação Operária
do Rio Grande do Sul).
O arquiteto que
transformou a cidade
Transcorria
o ano de 1908, quando chegou a Porto Alegre o arquiteto alemão Theo Wiederspahn
(1878-1952) num momento que a economia crescia e o Rio Grande do Sul era
considerado o terceiro mais importante do Brasil. Com o apoio das classes
dominantes, Theo Wiederspahn (1878-1952) foi o responsável por inúmeras
construções que modificaram a urbe. De 1908 a 1930, ele realizou 554 projetos
documentados, entre os quais: o prédio da Delegacia Fiscal da Fazenda no Estado
(1914), que desde 1978, é sede do Museu de Arte Ado Malagoli (MARGS), e o
prédio do antigo Hotel Majestic onde, a partir de 1990, encontra-se instalada a
Casa de Cultura Mário Quintana
(CCMQ).
No ano de
1909, chegou a Porto Alegre, vindo da França, o arquiteto, Maurice Gras, que
assinou o contrato para a construção do Palácio Piratini, cujo nome é uma
referência à primeira capital da República Rio-Grandense instituída
durante a Revolução Farroupilha (1835-1845). Além desses já citados, o prédio
da atual Biblioteca Pública do Estado (1921) e o da antiga sede (1922) do
jornal republicano A Federação (1884-1937) ue foi inaugurado, em 6 de
setembro de 1922, no Centenário da Independência do Brasil (1822-1922) são
exemplos do período positivista na arquitetura do Estado.
Ambos os
prédioa contaram com a participação do engenheiro Teófilo Borges de
Barros. O prédio do jornal A Federação foi sede também do Jornal do
Estado (1938-1942) e o atual Diário Oficial do Estado, que ali foi impresso até
1978, Desde 10 de setembro de 1974, nesse local se encontra instalado o Museu
da Comunicação Hipólito José da Costa (MuseCom).
O
primeiro avião
No dia 19
de setembro de 1911, o correu um marco de modernidade, em Porto Alegre. O fato
aconteceu no antigo Prado do Menino Deus, quando o primeiro avião em Porto
Alegre fez um pouso e, depois, uma decolagem, sendo pilotado pelo italiano
Bartolomeu Caittaneo. No tradicional bairro Menino Deus havia um teatro e
um hipódromo. Considerado um comportamento elegante, o porto-alegrense tinha o
hábito de passear aos domingos, utilizando como transporte o bonde elétrico. Lá
chegando, no Menino Deus, bebia um refresco, cumprimentava os conhecidos e
retornava ao centro da cidade.
Em
maio de 1910, um fato atraiu o porto-alegrense. Ao olharem para o céu,
observaram o cometa Halley na sua trajetória, trazendo medo às mentes mais
incautas e ingênuas quanto a um possível “fim do mundo”. No “Ano do Cometa”
(1910), quem governava o Rio Grande do Sul era o médico e político, Carlos
Barbosa Gonçalves (1851-1933), que foi responsável por importantes obras, como,
por exemplo, o Palácio Piratini, Instituto de Belas Artes e o monumento
positivista, que exalta o líder republicano Júlio de Castilhos da autoria de
Décio Villares (1851-1931).
Ao encerrar o
primeiro decênio do século 20, criou-se a Escola de Agronomia e Veterinária, e
o nosso Censo Municipal registrou 120.227 habitantes, 2.294 casas de comércio,
154 fábricas e 149 oficinas.
A Gripe Espanhola assolou a
capital gaúcha /1918
Há 102
anos, em fins do ano 1918, Porto Alegre foi assolado por uma epidemia: a Gripe
Espanhola. Houve de muita dor e sofrimento! Porto Alegre mal superava o
índice de 190 mil habitantes - quando a Diretoria de Higiene, responsável pelas
questões sanitárias da cidade, anunciou que pelo menos, 70 mil pessoas teriam
contraído a gripe num período de apenas três meses. Oficialmente,
registrou-se 1.316 mortes pela epidemia, mas tanto autoridades quanto
historiadores e pesquisadores, nas décadas seguintes, acreditam que este número
foi subestimado.
Os óbitos
se acumulavam, a rotina mudou radicalmente, e até àqueles que buscavam os
prazeres da “carne”, não conseguiram se eximir daquela triste realidade, pois
até os cabarés da cidade anunciaram que ficariam, por algum tempo, sem receber
clientes, esperando por dias melhores e menos infecciosos.
Em Porto
Alegre, a gripe deixou marcas profundas e lições para as gerações vindouras.
Legado traumático, esta epidemia ajudou a repensar a forma como a saúde pública
deveria ser encarada, tanto no âmbito regional quanto nacional.
O livro “Banalização
da morte na cidade calada: A Hespanhola em Porto Alegre, 1918 “, publicado,
em 1998, por Janete Silveira Abraão, é leitura obrigatória quando
se trata deste tema. Trata-se de uma dissertação da autora que foi
apresentada na PUC /RS.
Imprensa
O
cotidiano da nossa cidade, desde o surgimento do primeiro jornal "O Diário
de Porto Alegre" em 1º de junho de 1827, está impresso nas páginas de
diversos periódicos que o sucederam, fazendo parte da história da nossa
Imprensa local. No livro “Tendências do Jornalismo”, do professor Francisco
Rüdiger (2003), encontra-se a informação de que, no início do século 20, havia
142 periódicos circulando no estado.
Durante o
período, abordado neste texto, circulavam na capital, jornais bastante
representativos, como Jornal do Comércio (1865-1911), A Federação (1884-1937),
A Reforma (1869-1912), Deutsche Zeitung (1861-1917) Correio do Povo (1895), A
Gazetinha (1897-1900) Corymbo (1883- 1943), O Independente (1900-1923), Petit
Journal (1898-1903), Stella d’ Itália (1902-1925), O Exemplo (1892-1930) e Gazeta
do Comércio (1901 -1911), entre outros jornais. Quanto às revistas,
destacaram-se: Máscara (1918-1928), Kodak (1912-1923) e a Revista do Globo
(1929-1967).
Segundo
o historiador Sérgio da Costa Franco, no seu livro ”Gente e Espaços em Porto
Alegre”, quando finalizou o século 19, o Jornal do Comércio disputava, com seu
rival o Correio do Povo, o título de ser o periódico de maior tiragem e
circulação no Rio Grande do Sul. O mais antigo jornal a circular, na capital, é
o Correio do Povo, fundado pelo sergipano Caldas Júnior (1868-1913), em
01/10/1895. No interior do Estado, a primazia é da Gazeta do Alegrete, fundada
por Luiz de Freitas Valle, circulando desde 1º/10/1882.
Em seus
primórdios, a capital dos gaúchos foi denominada de Porto dos Casais (1752),
numa referência a chegada dos casais açorianos; transformou-se em Freguesia
(1772); foi elevada a Vila (1810) e, em 1822, ganhou foros de cidade pelo
imperador dom Pedro I.
O
Rádio
Em 07 de setembro de 1924,
surgiu, em Porto Alegre, a nossa primeira emissora gaúcha: Rádio Sociedade
Riograndense. A sua criação, dois dias antes, foi discutida por um grupo que se
reuniu no salão nobre do prédio de A Federação, que, atualmente, é sede do
Museu da Comunicação Hipólito José da Costa (MuseCom).. Importante registrar
que o Rádio surgiu como um veículo voltado à educação sem visar ao lucro.
Em 1925, fundou-se a
Sociedade Anônima Rádio Pelotense, trazendo o slogan “A primeira do Estado”, já
que a Riograndense não conseguiu se estabelecer com o modelo associativo de
livre contribuição. Ao ser criada a Rádio Sociedade Gaúcha, em 19 de novembro
de 1927, já não havia outra emissora funcionando na cidade. Localizada no
antigo prédio do famoso Grande Hotel, ela nasceu com o slogan “A Voz dos
Pampas”. Destacaram-se, como locutores, nomes como Nero Leal, Antônio Spetzold,
Amaro Júnior, Renaux Young e Alfredo Pirajá Weiss. A partir de então foram, ao
longo do tempo, surgindo outras importantes emissoras.
O Monumento mais antigo de
Porto Alegre
A
estátua, erigida em memória de Manuel Marques de Sousa, é a mais antiga de
Porto Alegre e foi inaugurada pela Princesa Isabel (1846-1921), em 1885, na
antiga Praça dom Pedro II (atual Marechal Deodoro da Fonseca), conhecida,
popularmente, como Praça da Matriz. Esta estátua, mais tarde, foi transferida
para a Praça do Portão, atual Conde de Porto Alegre. Os artistas responsáveis,
por sua execução, foram Carlos Fossati e Adriano Pittanti. Este último foi o
primeiro marmorista italiano a chegar ao Rio Grande do Sul. A transferência se
deu em função da inauguração , em 1913, do monumento positivista alusivo à
República e a Júlio de Castilhos da autoria de Décio Villares (1851-1931). No
mausoléu do Conde de Porto Alegre - que se localiza no Cemitério da Santa Casa
de Misericórdia - encontra-se também uma bandeira do Império (original).
Afinal, a figura do conde nos remete à memória da monarquia em nossa Capital.
A
famosa Usina do Gasômetro
Na realidade, o
termo gasômetro foi incorporado por uma nova usina, inaugurada, na cidade, no
ano 1928. Administrada pelo grupo norte-americano Bond & Share, o nome se
consagrou, embora ela utilizasse apenas carvão e não gasogênio. A disseminação,
pelo bairro, do excesso de fuligem, que ocorria durante a transformação do
carvão em energia, impôs à empresa a necessidade de construir uma chaminé de
117 metros de altura. Com o passar dos anos, esta se transformou em um dos
símbolos mais importantes da cidade, sendo divulgado em cartões postais e
campanhas publicitárias realizadas pela mídia.
Durante
50 anos, a Usina do Gasômetro gerou energia e poluiu, até ser abandonada. Um
movimento popular evitou que o prédio fosse destruído. O resultado foi a
transformação, daquele local, em um Centro Cultural. Totalizando 18 mil
metros quadrados, abriga salas de cinema, galeria de arte e espaços para
exposições, ensaios e seminários. O Laçador, estátua inaugurada por Leonel
Brizola (1922-2004), em 1958, trata-se de outro símbolo importante da nossa
Capital, conhecido internacionalmente.
O brasão de Porto
Alegre
Em 15 de junho
de 1836, Porto Alegre foi retomada pelos imperiais, sob o comando do major
Manuel Marques de Souza (1804- 1875), futuro Conde de Porto Alegre, após sua
fuga do Presiganga (navio-prisão), ancorado no Guaíba. Apesar dos esforços, os
farroupilhas não conseguiram invadi-la, novamente, embora a tenham sitiado, por
três vezes, a partir de Viamão (Vila Setembrina). Graças a essa resistência,
Porto Alegre recebeu de D. Pedro II, em 1841, o título de “Leal e Valerosa
Cidade", que está registrado no "Brasão da Cidade", criado pela
lei n 1.030, em 22/01/1953.
Ao longo do
tempo, Porto Alegre seguiu crescendo... Amada pelos gaúchos de todas os
rincões, ela se tornou cosmopolita sem perder a referência de suas origens
açorianas. Como dizia o nosso querido poeta Mário Quintana (1906-1994): "cidadezinha
cheia de graça..." Conhecida como “Cidade Sorriso”, segue se reinventando
e adaptando-se às exigências do século 21. Acolhedora e amada, por sua gente,
Porto Alegre enfrenta muitos desafios, que, com certeza, serão superados com
união e muito trabalho. Desde 1772, foi um longo caminho percorrido de muitas
lutas e sonhos. Parabéns Porto Alegre! São 248 anos de história.
*Pesquisador e responsável pelo Núcleo
de pesquisa do MUSECOM*
imagens
1 -Antigo Cais da Praça da Alfândega /
Acervo MuseCom
2 - Rua da Praia no final /
1920 / Acervo Musecom
3- Footing feminino na Rua da
Praia (passeio) 1940 / Acervo MseCom
4- Footing masculino na Rua da
Praia (passeio) 1933 Acervo Museu Joaquim Felizardo
5- Principe Negro / Acervo
Museu Antropológico
6- Praça da Harmonia / Acervo
Joaquim Felizardo
7- Conde de Porto Alegre / Praça
da Matriz (década de 1910) Acervo Joaquim Felizardo
8- Brasão de Porto Alegre - Site
da Prefeitura de Porto Alegre
9- Theatro São Pedro
10- Antiga Prefeitura e a estátua
Samaritana (década de 1920) Acervo MuseCom
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