Angolanos, moçambicanos e
cabo-verdianos a viver em Roma aplaudem a quarentena imposta pelo Governo
italiano. Otimistas, falam em esperança, confiança e sacrifício e vão-se ocupando
com outras coisas em casa.
Desde a manhã de quinta-feira
(12.03), todos os deslocamentos não justificados estão proibidos em Itália. A
fiscalização é intensa e muitas pessoas já foram detidas ou multadas por não
respeitar o decreto "Eu fico em casa". Somente supermercados e
farmácias estão abertos, sempre com longas filas em que a distância mínima
entre as pessoas deve ser de um metro.
Todas as atividades não
essenciais estão proibidas até 25 de março. Creches, escolas e universidades
ficam suspensas até 4 de abril. As medidas são severas, mas necessárias,
segundo o primeiro-ministro Giuseppe Conte.
"Poderemos sentir o efeito
deste nosso grande esforço somente dentro de duas semanas. Temos que ser
lúcidos, comedidos, rigorosos e responsáveis", afirmou Conte esta semana.
Telma Chimuco, de Luanda e a
viver em Roma desde 1999, concorda com a quarentena imposta pelo Governo:
"Eu acredito que tenha sido a melhor escolha que o Governo pudesse ter
feito para evitar a propagação do coronavírus. É um sacrifício, mas mil vezes
estar em casa protegidos do que andar por aí. A minha esperança é que tudo passe
e que a Itália volte a ser o que era antes e que a economia também possa se
recuperar".
Como passar o tempo na quarentena
Neste momento, a maior
preocupação da estudante da Universidade La Sapienza de Roma são os
estudos.
"Tivemos somente três aulas
na universidade", diz Telma. "Nesse tempo de quarentena, estou em
casa, obviamente, a tentar acompanhar os professores à distância, para que não
venhamos a perder o semestre".
Dulce Manuela Nguenha, que
estudou moda em Maputo e vive em Roma há 15 anos, conta que passa o tempo a
trabalhar em novas criações.
"Estamos em casa, em
quarentena, a tentar fazer as coisas que o Governo diz. Passo o tempo a tentar
criar coisas, como brincos, e também cozinhando pratos típicos de Moçambique,
como o caril de amendoim", conta a moçambicana.
Apesar de tudo, Dulce está
otimista: "Esperamos que este período acabe o mais rápido possível e tenho
a certeza que vai acabar. A coisa a se fazer é respeitar, estando em casa, não
sair, lavar sempre as mãos. Ao seguir essas pequenas regras, tenho a certeza
que vamos ultrapassar esse período".
Consciência e responsabilidade
Kim Daniel Bengui, de Luanda,
está em Roma desde 2011. Disse à DW que a embaixada angolana criou um grupo
para orientar os cidadãos durante este período de emergência.
"No início, senti medo de
contrair o vírus, de ficar resfriado. Mas depois, de cabeça erguida, decidi
seguir seriamente os métodos de prevenção das autoridades, porque cada um
de nós é responsável por conter esta situação", diz Bengui, que estuda
administração na Universidade Roma Tre.
Para Jorge Canifa, de
Mindelo, Cabo Verde, e há 40 anos a viver na capital italiana, é
preciso "consciência e responsabilidade" para "parar esse
monstro invisível que vagueia pelo mundo devorando a nossa humanidade".
"O que fazemos na prática? A
verdade é que tudo foi tão repentino que não tivemos tempo de nos
organizar, então improvisamos dia após dia", afirma em entrevista à
DW. "A situação é difícil, mas não vamos desesperar, é preciso um
pequeno sacrifício. Estamos confiantes e otimistas, não nos desmoralizamos.
Pelo contrário, dedicamos um tempo a algo especial que esquecemos demais:
dedicar tempo a nós mesmos e às nossas famílias".
Em Itália, o novo
coronavírus já causou mais de mil mortos, e há mais de 15.000 pessoas
infetadas.
Rafael Belincanta (Roma) | Deutsche
Welle
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