segunda-feira, 16 de março de 2020

Infecções pelo coronavírus no mundo superam casos na China


Número de casos fora do país asiático ultrapassa marca de 88 mil, enquanto chineses registram 81 mil. União Europeia propõe barrar viagens para o bloco por 30 dias. Bolsonaro volta a minimizar pandemia.

Pela primeira vez, o número de casos de coronavírus fora da China superou o total de infectados registrados no país asiático.

Segundo dados do mapa de casos em tempo real feito pela universidade americana John Hopkins, nesta segunda-feira (16/03) a China continental contabilizava 81.020 pessoas infectadas, enquanto o restante do mundo rompeu a marca 88.367 casos, sendo 28% deles (24.747) na Itália, o segundo país afetado pelo novo coronavírus no mundo.

O número de mortes fora da China também ultrapassou a marca registrada pelo país asiático. Enquanto as autoridades de Pequim contabilizam 3.217 mortes, o resto do mundo já registra 3.296 casos fatais. No total, 6.513 morreram de Covid-19 no mundo.

A Comissão Nacional de Saúde da China informou que o país teve apenas 16 novas infecções de coronavírus neste domingo, menos do que as 20 registradas no dia anterior. Doze dos casos são importados.

O terceiro país com o maior número de casos é o Irã (13.938), seguido em quarto pela Coreia do Sul (8.162) e em quinto pela Espanha (7.844).

Nesta segunda-feira, o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, afirmou acreditar que a crise não está próxima de acabar. “Os cientistas nos dizem que a situação ainda não chegou ao pico, e que as próximas semanas serão de maior risco. Precisamos exercer o maior cuidado”, disse.


UE propõe restringir viagens para o bloco

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs nesta segunda-feira impor uma restrição de 30 dias às viagens para a União Europeia, em um esforço para conter a propagação do coronavírus.

"Quanto menos viagens, mais podemos fazer para conter o vírus. Portanto ... proponho aos chefes de Estado e de governo que introduzam restrições temporárias a viagens não essenciais à União Europeia", afirmou, complementando que essa restrição deve durar 30 dias.

"É de extrema importância desacelerar o contato social", disse von der Leyen.

Alemanha fecha fronteiras

A Alemanha é o sexto país mais afetado pelo novo coronavírus. De acordo com o Instituto Robert Koch (RKI), o país já contabilizava nesta segunda-feira pela manhã 4.838 casos e 16 mortes. Em apenas um dia, 1.043 novos casos foram registrados, informou o vice-presidente do RKI, Lars Schaade.

Até o momento, o governo federal da Alemanha havia apenas desaconselhado viagens a países particularmente afetados pelo coronavírus. Mas, agora, a recomendação se aplica a todas as viagens ao exterior. Nesta segunda-feira, a Alemanha fechou suas fronteiras com Luxemburgo, Áustria e França.

"Desaconselhamos viagens desnecessárias ao exterior. Atualmente, o risco de você não poder mais iniciar sua jornada de volta é alto em muitos destinos devido às restrições crescentes", escreveu o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas, na noite de domingo no Twitter.

Já o estado alemão da Baviera, o mais rico do país, declarou nesta segunda-feira estado de emergência para combater o coronavírus. Esse tipo de status geralmente é declarado apenas em caso de desastres naturais, como inundações . Contudo, a lei bávara que define o caso da catástrofe permite uma interpretação mais ampla, pois fala de "um fato que ameaça seriamente a vida ou a saúde de um grande número de pessoas ou as bases naturais da vida ou da propriedade em dimensões extraordinárias".

O governador da Baviera, Markus Söder, destinou um aporte especial de até 10 milhões de euros para combater a epidemia no estado, que já registra mais de 1.000 casos. A vida social também está severamente afetada: após o fechamento de cinemas, discotecas e clubes, o acesso a parques infantis e instalações esportivas também será impedido.

A capital Berlim estuda medidas semelhantes. Os bares já estão fechados desde o fim de semana, mas, agora, está previsto o fechamento de restaurantes e shoppings. Supermercados, farmácias e bancos não devem ser afetados.

Em Baden-Württemberg, todos os aeroportos foram fechados, embora estejam sendo feitos esforços para garantir que as pessoas no exterior possam voltar para suas casas.

A Lufthansa anunciou nesta segunda-feira outros cortes drásticos em sua capacidade de voo. A companhia disse que a capacidade de assentos em voos de longa distância será reduzida em até 90% a partir desta terça-feira, afetando principalmente rotas para a África, Oriente Médio e América do Sul. Na Europa, os cortes serão de cerca de 80% da capacidade de curta distância. A nova programação de voos permanecerá em vigor pelo menos até 12 de abril.

Vida social paralisada nos EUA

Nos Estados Unidos, que já registra quase 4 mil casos, a vida pública nas maiores cidades está em grande parte paralisada. Todas as escolas de Nova York estão fechadas a partir desta segunda-feira e mais de um milhão de estudantes devem ficar em casa. Além disso, o prefeito Bill de Blasio anunciou que a partir de terça-feira todos os restaurantes, bares, cinemas, salas de concertos e teatros da cidade devem fechar - mas cafés e restaurantes poderão fazer serviços de entrega. O prefeito de Los Angeles, Eric Garcetti, divulgou medidas semelhantes que entram em vigor nesta segunda-feira à noite. 

O Irã disse nesta segunda-feira que o coronavírus matou 129 pessoas em um único dia, um novo recorde em um dos países mais atingidos do mundo.

"Nosso apelo é que todos levem esse vírus a sério e de nenhuma maneira tentem viajar para qualquer província", disse o porta-voz do Ministério da Saúde Kianoush Jahanpour. O Irã já soma mais de 850 mortes em decorrência da Covid-19.

Bolsonaro continua a minimizar epidemia

Mesmo com mais de 6 mil mortes registradas pelo mundo, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, voltou a minimizar a pandemia nesta segunda-feira, afirmando que a crise “não é tudo isso que dizem” e que a epidemia da doença na China, país que registrou os primeiros casos, está “praticamente acabando”.

A declaração foi feita um dia depois de o próprio presidente ter descumprido uma orientação do Ministério da Saúde para evitar aglomerações. 

No domingo, Bolsonaro tomou parte nos protestos anticonstitucionais que pediram o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Ele cumprimentou e tocou apoiadores que tomaram parte da manifestação em Brasília, mesmo tendo desaconselhado tal manifestação na última sexta-feira. Na ocasião, o próprio presidente se submeteu a exames para detectar uma potencial infecção após membros de sua comitiva que viajou aos EUA testarem positivo.  

“Foi surpreendente o que aconteceu na rua. Até com esse superdimensionamento. Tudo bem que vai ter problema. Vai ter. Quem é idoso e está com problema ou deficiência. Mas não é isso tudo que dizem. Até que na China já está praticamente acabando”, afirmou Bolsonaro nesta segunda.

No Brasil, o Ministério da Saúde já contabiliza 200 casos da doença e prevê um aumento nas próximas semanas. Na semana passada, o presidente já havia dito que havia "muita fantasia" em relação à pandemia e que a questão do coronavírus "não é isso tudo que a grande mídia propaga".

Deutsche Welle | LE/efe, afp, dpa, agbr

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