Em meio a novos confrontos com
policiais, Atenas diz ter bloqueado entrada de 10 mil pessoas, enquanto Ancara
alega que 75 mil migrantes entraram na UE. Europa eleva alerta nas fronteiras
para nível máximo.
Milhares de pessoas se encontram
na fronteira ocidental da Turquia neste domingo (01/03), com objetivo de entrar
na Grécia, depois de o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter anunciado
que suas fronteiras estavam abertas para aqueles que pretendem seguir à Europa.
Neste domingo, o governo turco
informou que deixou mais de 75 mil migrantes seguirem em direção à União
Europeia (UE). Segundo o ministro do Interior do país, Süleyman Soylu, 76.358
pessoas cruzaram a fronteira para a Europa através da província de Edirne.
Essa província faz divisa com
dois Estados-membros da UE, a Grécia e a Bulgária. Até o momento, nenhum dos
dois países reportou a chegada de um número tão grande de migrantes. O governo
búlgaro disse que nenhum migrante cruzou a fronteira ilegalmente.
O governo da Grécia informou que,
entre a manhã de sábado e a manhã deste domingo, bloqueou a entrada
"ilegal" de 9.972 pessoas na divisa com a Turquia. O país também
fortaleceu suas unidades de controle nas fronteiras. Segundo o governo grego, patrulhas
nos estreitos entre as ilhas gregas e a costa turca no Mar Egeu também foram
reforçadas.
Testemunhas citadas por agências
de notícias afirmam que a polícia grega disparou gás lacrimogêneo para impedir
a entrada no país de centenas de migrantes, que atiravam pedras contra as
forças de segurança. Os confrontos marcam o segundo dia consecutivo de tensões
nas fronteiras terrestres.
Migrantes também tentam entrar na
Grécia por via marítima. A agência de notícias grega ANA MPA afirmou, citando a
guarda costeira, que 220 migrantes chegaram à ilha de Lesbos no domingo de
manhã. A imprensa local disse ainda que mais barcos com refugiados estavam se
dirigindo à ilha grega, muito próxima à costa turca.
Segundo informou a Organização
Internacional para as Migrações (OIM) na noite de sábado, cerca de 13 mil
pessoas se encontravam na fronteira greco-turca. "Pelo menos 13 mil
pessoas estão presentes nos 212 km da fronteira", disse a agência da ONU,
acrescentando que entre os migrantes estão "famílias com crianças pequenas".
Atenas acusa a Turquia de
organizar intencionalmente os migrantes ao longo da fronteira após descobrir
onde as tropas gregas estão posicionadas. O governo também afirma que Ancara
tenta convencer os migrantes a ir para a Grécia usando informações falsas.
"A campanha de desinformação das autoridades turcas continua", disse
o ministro da Defesa, Nikos Panagiotopoulos.
A agência de proteção de
fronteiras da UE, a Frontex, disse neste domingo que está em "alerta
máximo" nas divisas com a Turquia, já que se espera que milhares de
migrantes tentem entrar no bloco através delas.
"Elevamos o nível de alerta
para todas as fronteiras com a Turquia", disse uma porta-voz da Frontex em
comunicado. "Recebemos um pedido da Grécia para obter apoio adicional. Já tomamos
medidas para transferir para a Grécia mais oficiais e equipamentos técnicos."
O presidente da Turquia anunciou
no sábado ter aberto as fronteiras com a Europa para a passagem de migrantes e
refugiados, adiantando que nas próximas horas entre 25 mil e 30 mil pessoas
podem tentar chegar à Grécia.
"O que é que estamos dizendo
há meses? Que se isso continuasse, seríamos obrigados a abrir as nossas portas.
Não acreditaram em nós", disse Erdogan durante um discurso em Istambul.
"Não vamos fechar as portas aos refugiados e migrantes."
"A União Europeia tem de
cumprir as suas promessas", apontou, numa alusão ao acordo de 2016,
segundo o qual a Turquia concordou em estancar a onda de refugiados para a
Europa em troca de ajuda financeira. Desde então, a Turquia tem reclamado
repetidamente que a UE não tem honrado o compromisso assumido.
No sábado, a Grécia já havia
anunciado ter impedido a entrada "ilegal" de 4 mil migrantes
provenientes da Turquia, enquanto milhares de outros se concentram na
fronteira. Durante a noite, vários migrantes tentaram entrar em território
grego, abrindo buracos na cerca que separa os dois países, levando policiais
gregos a disparar gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.
A decisão da Turquia está sendo
encarada na Grécia como uma tentativa deliberada de pressionar os países
europeus, num momento em que aumenta a tensão entre a Turquia e a Síria.
O discurso de sábado foi a
primeira intervenção pública de Erdogan desde que, na quinta-feira, 34 soldados
turcos foram mortos em ataques aéreos no nordeste da Síria, o maior número de
baixas registado entre as forças turcas desde que o país se envolveu na guerra
da Síria em 2016.
Como retaliação, a Turquia
afirmou ter destruído uma "instalação de armas químicas" do regime de
Damasco no nordeste da Síria, na noite de sexta-feira para sábado. Erdogan tem
ameaçado repetidamente "abrir as portas" para permitir aos refugiados
e migrantes irem para a Europa se não lhe for assegurado mais apoio
internacional.
A Turquia abriga atualmente 3,6
milhões de refugiados sírios, segundo a ONU. Milhares de migrantes e refugiados
da Ásia, África e Oriente Médio também usam o país como ponto de trânsito para
alcançar a Europa por meio da Grécia.
Deutsche Welle | EK/JPS/dpa/ap/rtr/lusa/ots
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