Bom dia. Portugal, refém do
covid-19 como o resto do mundo. Apela-se à consciência dos cidadãos e as
declarações de Estado de Emergência parece que dão em quase nada nas cabecinhas
tontas de alguns. Alguns, que são bastantes. Pessoas que estão a pôr-se em
risco e, pior ainda, a pôr em risco as vidas dos outros que com eles se cruzam
e que levam com as gotículas transportadoras da transmissão do vírus. Gente que
gosta de passear, de ver o mar, de estar em grupo (quem não gosta?), de tossir
para os géneros alimentícios e respetivas embalagens dos supermercados…
Temos
por aí, globalmente, gente muito inconsciente, ignorante e muito estúpida. Por
isso nunca é demais realertar e até, se necessário, fazer o desenho na parede.
Por essas e outras Portugal prorrogou o Estado de Emergência e endureceu as
medidas de coação. Vai ser suficiente? Ver para crer.
Perante este cenário escabroso em
que não podemos exercer o convívio como habitualmente, nem os carinhos, nem um
simples aperto de mão ou um abraço, seria ideal também não se constatar aquilo
que se teme neste período da Páscoa: ir à terrinha ver os país e os tios já com
idade, os primos e as primas… Teme-se e com razão, a falta de consciência é
enorme. Temos visto – ao contrário daquilo que o PR e os do governo elogiam
sobre o espetacular bom comportamento dos português. Há os que merecem mas também
os que são recalcitrantes em entender que podem ser transportadores do vírus e
que podem matar outros com essas “teimosias”. Sim, se quiserem matar alguém da
família, os mais velhos porque são os de maior risco, vão lá à terra e
abracem-nos, babem-se de gozo por os ver e ali conviver uns dias. Depois não se
esqueçam que nem podem ir aos funerais dos que “sem querer” acabaram por matar.
Isto é duro de dizer, mas tem de
se dizer. Talvez pela negativa entendam. É que há estúpidos que não entendem de outro modo.
NÃO VÃO À TERRA, OS MAIS IDOSOS
AGRADECEM. ALIÁS, TODA A POPULAÇÃO LÁ DO SÍTIO AGRADECE.
Bom dia e um queijo. Escutem o
que vos é recomendado pelo PR, pelo governo, pelos maravilhosos responsáveis e
profissionais do setor da saúde que tanto se estão a sacrificar para nos salvar…
a vida.
Seguidamente têm à disposição o
Expresso Curto. Com covid-19 qb. Infelizmente. Passe a Páscoa em casa, preservem a saúde de todos... e a vossa.
AV | PG
Bom dia, este é o seu Expresso
Curto
A interrupção segue dentro de
momentos
Ricardo Marques | Expresso
Já houve um tempo em que o
país parava, ao domingo à noite, para ouvir o professor Marcelo na televisão.
Havia de tudo e para todos: grandes revelações, pequenas indiscrições e as
inevitáveis notas. Aqueles minutos, que duraram anos, tornaram-se um ritual e
uma instituição nacional.
Marcelo Rebelo de Sousa tornou-se Presidente
da República.
O país está parado e,
por estes dias, qualquer dia é tão domingo como um domingo qualquer.
Ontem, depois de dar avaliação
positiva ao esforço dos portugueses no combate ao coronavírus nas duas últimas
semanas, o Presidente da República confirmou o que já toda a gente sabia: o
estado de emergência é para continuar durante mais duas semanas - e
tudo o que já está parado mais parado vai ficar.
Há demasiado em jogo neste momento.
Apesar dos sinais positivos que os números vão dando, é importante
perceber que nada mudou e que qualquer mudança nos hábitos de cada um pode ter
consequências dramáticas na vida de todos.
De acordo com os últimos
dados oficiais (que serão revistos dentro de poucas horas), Portugal tinha 9034 casos
de infecção com o novo coronavírus. Há 1042 pessoas internadas e
outras 240 pessoas encontram-se em unidades de cuidados intensivos.
Duzentas e nove pessoas já morreram com covid-19. E 68 pessoas
recuperaram. Esta é a realidade por cá.
Abril vai ser um mês difícil.
Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que o número de infectados pode ultrapassar as 20
mil pessoas. “Vai custar”, disse, “vai ser o maior desafio dos últimos 45
anos”. Depois pediu a todos os portugueses que aceitem e cumpram as regras. “É
uma mudança radical na nossa vida, e vai ser por mais umas semanas. Mas isso
significa que serão salvas milhares de vidas.”
Esta é a equação mais
simples da pandemia: zero movimento mais zero contacto é igual a um número
muito alto de vidas salvas.
Antes do discurso presidencial, e
já depois de o Parlamento aprovar o estado de emergência 2.0 (pode
ler aqui
o relato da manhã na Assembleia) o primeiro-ministro tinha avisado que
ainda não chegou a hora de “aligeirar as medidas”. Pelo contrário.
Após o Conselho de Ministros,
António Costa enumerou
as regras, apertadas, para as próximas duas semanas - em particular
para o fim de semana da Páscoa. Ajuntamentos proibidos, deslocações entre
concelhos largamente proibidas, aeroportos fechados, indultos para presos e
malha apertada para os despedimentos. E uma série de outras medidas - desde
penas mais pesadas para quem desrespeitar as restrições a documentos que tem de
ter consigo se for trabalhar - que pode
encontrar neste artigo.
Com o número de casos a aumentar
em ambiente prisional, a possibilidade de libertar alguns reclusos vai
mesmo avançar. Quatro
medidas excepcionais para evitar uma situação explosiva.
As decisões sobre o terceiro
período escolar só vão ser tomadas na próxima semana e anunciadas no dia 9
de abril. Os miúdos, parece, estão
bem.
Nos Açores, o Governo
regional decidiu proibir a circulação entre concelhos na ilha de São
Miguel. A
medida está em vigor desde as zero horas de hoje.
Até pode ser verdade que nenhum
homem é uma ilha. Mas às vezes parece.
Outras notícias
Há um desenvolvimento na história
macabra de um corpo desmembrado encontrado no Algarve. A Polícia
Judiciária fez duas detenções: duas raparigas são as suspeitas da
morte do jovem de 21 anos.
Mais de um milhão de infectados,
mais de 50 mil mortos. Meio planeta parado e trancado em casa. Eis o que um
vírus pode fazer ao mundo em pouco mais de três meses. O mais assustador é que
o pior está para vir. Primeiro vão crescer os números, provavelmente a um
nível que hoje nos parece impossível. Depois, quando começarmos a respirar
de alívio, é provável que nos volte a faltar o ar com o estado da
economia e com o nível de desemprego.
Mas haja esperança. Há sinais
positivos. Um grupo de investigadores de vários países conseguiu
identificar um fármaco, ainda em fase clínica de testes, que consegue
bloquear os efeitos do SARS-cov-2, o coronavirus responsável pela covid-19. Ao
mesmo tempo, um pouco por todo o mundo, há dezenas de laboratórios à procura
de respostas e empenhados em descobrir uma vacina - o que me leva
a um artigo publicado ontem por Bill Gates.
No seu blogue - Gates
Notes - o fundador da Microsoft defende, entre outras coisas, que é
altura de os Governos começarem a preparar infra-estruturas que permitam a
produção maciça de vacinas logo que estejam disponíveis. O artigo chama-se
“What our leaders can do now”.
Amanhã, na revista do
Expresso, encontra um artigo de Yuval Noah Harari, em que o
autor de “Sapiens”, “Homo Deus” e “21 lições para o século XXI” defende que o
mundo está numa fase decisiva para o seu futuro. E que os lideres estão
ausentes. (Pode ler no site, a
partir da meia-noite, ou, em banca, na edição
em papel)
Em
Italia, o número total de infectados desde o início da pandemia é
superior a 115 mil. No país já morreram 13915 pessoas. Em
Espanha, o número de mortos é superior a 10 mil. O mundo está
doente. Há pacientes franceses
e italianos a ser tratados na Alemanha, corpos
largados na rua no Equador, mil mortos num só dia nos Estados Unidos da
América, um presidente que ameaça
matar quem sair à rua e outro que, perante tudo isto, insiste em dizer
que a covid-19 se cura
com vodka e uma sauna.
Ontem, pela segunda noite
seguida, estive mais de uma hora a ver na CNN a conferência de imprensa do
presidente dos EUA ( esse país onde no último mês se venderam dois
milhões de armas). As perguntas, as respostas, os esclarecimentos dos
médicos e dos especialistas, as curvas nos gráficos… Tudo é igual. “Distância
social e lavar as mãos”, “a máscara transmite uma falsa sensação de segurança”,
“o melhor é ficar em casa”, mais testes”, “menos testes”… Há
mais de duzentos mil infectados nos Estados Unidos.
A certeza mais certa que existe
sobre a pandemia é que o day after vai ser difícil.
833979 empregos desapareceram em Espanha no
mês passado - o
pior da história do mercado laboral espanhol.
Nos EUA, o número é muito
superior. Seis vírgula seis milhões de pedidos de subsídio de
desemprego na última semana. Dez
milhões em duas semanas - Portugal inteiro, por assim dizer. Ou
escrever.
A 26ª Conferência das Partes da
Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, mais
conhecida como Cimeira do Clima ou COP26, já
não se vai realizar em novembro de 2020, mas sim um ano depois. Por
essa altura, talvez os animais já não passeiem pelas ruas como está
a acontecer agora.
Deixo para o fim uma reportagem
impressionante que li ontem no jornal El Pais sobre a vida do padre
que faz os funerais num cemitério na região de Madrid. Sete
minutos para cada defunto.
O que ando a ler
E se falássemos antes do que anda
a ler. Sim, diga lá em voz baixa o que anda a ler. Mas, por favor,
não responda algo como “todos os jornais que um amigo meu partilha num
grupo que temos no telemóvel”.
Deixe-me contar-lhe uma história
rápida. Imagine que conhece um padeiro que todos os dias acorda às três da
madrugada para começar a trabalhar e ter o pão pronto para vender às seis,
quando os primeiros clientes chegam. Às vezes sai melhor, outras menos
bem. Mas ele está lá, sempre. E as pessoas contam com ele. Agora suponha
que todas manhãs aparece um indivíduo e leva o pão todo sem pagar um cêntimo. O
pão é tão bom que ele come tudo o que consegue, distribui outro
tanto pelos amigos e com o que sobra ainda organiza um lanche lá em
casa para a malta toda.
Como é um tipo porreiro, até
convida o padeiro e oferece-lhe o próprio pão.
Não seja esse tipo. Nem os
amigos dele.
Informação credível é o pão
que temos para si todos os dias. Com o nosso trabalho, com o nosso esforço.
Os diretores dos principais
jornais portugueses juntaram-se
para uma iniciativa inédita e o que se segue, assinado por todos eles, é
algo que tem mesmo de ler
“Caro leitor(a),
Na atual situação extraordinária
em que vivemos a importância do acesso a informação credível tem sido ainda
mais realçada. Sentimos, da sua parte, essa exigência todos os dias e estamos
deste lado a trabalhar continuamente para lhe fazer chegar os melhores
conteúdos. Para que isso seja possível há, em cada órgão de informação, dezenas
ou centenas de profissionais, de jornalistas a fotógrafos, de gráficos a
colunistas que garantem a sua continuidade.
Para conseguirmos manter a
qualidade precisamos da sua colaboração no combate à pirataria.
Diariamente, versões em PDF, com a totalidade dos jornais e revistas nacionais, são partilhadas por e-mail, whatsapp ou em redes sociais, numa clara violação dos direitos de autor. Esta partilha, além de ser um crime, é uma ameaça à sustentabilidade financeira das empresas, à informação livre e independente e no limite coloca em causa milhares de postos de trabalho.
Por isso, numa iniciativa
inédita, os diretores de vários jornais e revistas juntam-se agora para lhe
pedir que nos ajude a travar a pirataria, convidando os leitores a assinarem as
edições digitais ou a dirigirem-se ao ponto de venda mais próximo.
Diga não à pirataria e sim à
informação de qualidade.”
Comece pelo Expresso.
Fique em casa, fique seguro. Isto
vai passar.
Tenha uma boa sexta-feira
Sugira o Expresso Curto a
um/a amigo/a
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