A luta de Portugal contra a
Covid-19 continua a ser notícia lá fora. Desta vez, o jornal britânico
"The Guardian" faz título com palavras do secretário de Estado da
Saúde, António Lacerda Sales. "Ação rápida controlou a crise de coronavírus
em Portugal", lê-se num artigo publicado este domingo.
O texto do "The Guardian" começa por referir
que "o baixo número de casos de coronavírus do país" é atribuído pelo
governo português a uma "resposta rápida e flexível ao 'pior
cenário'" e ao "encerramento antecipado de escolas e
universidades em 16 de março".
No artigo é referido ainda que,
"apesar de cerca de 22% dos 10,3 milhões de pessoas de Portugal terem 65
anos ou mais, o que as torna particularmente vulneráveis ao vírus, o país registou até agora pouco mais de 20.000 casos e 714 mortes - muito menos
do que os vizinhos". Atente-se nos números de outros países europeus: mais
de 195 mil casos e mais de 20 mil mortesem Espanha; mais de 175 mil casos e mais de 23
mil mortesem Itália; mais de 111 mil casos e quase 20
mil mortesem França.
Assim, conclui o "The
Guardian", a taxa de mortalidade por Covid-19 em Portugal é de cerca
de 3%, muito abaixo dos 13% no Reino Unido (mais de 120 mil casos e mais de 16
mil mortes) e na Bélgica (mais de 38 mil casos e mais de 5
mil mortes) ou dos 10% em Espanha.
Como é que Portugal o conseguiu? "Tomou
as medidas certas na hora certa", respondeu o secretário de Estado da
Saúde, António Sales. "A resposta portuguesa ao surto global de
coronavírus foi, desde o início, baseada nos melhores conselhos científicos e
na experiência de outros países. Foi regularmente reavaliada e adaptada a uma
evolução muito rápida. O país preparou-se para o pior cenário",
afirmou ao jornal britânico.
A decisão de fechar todas as
escolas e universidades em meados de março, quando ainda se contabilizavam
pouco mais de 100 casos de Covid-19 e nenhuma morte, foi "crucial".
"Antecipando a disseminação da infeção e transmissão pela comunidade, o
governo decidiu fechar instituições de ensino para limitar o contacto de uma
grande quantidade de pessoas num local confinado", acrescentou Sales.
Sales destaca "cinco anos de
investimentos sustentados" no SNS
O "The Guardian" nota
que "seis dias após o encerramento dos estabelecimentos de ensino do país,
Portugal declarou estado de emergência e entrou em confinamento total, depois
de registar 448 casos". Por sua vez, aponta ainda o jornal, "Espanha
entrou em confinamento em 14 de março, depois de registar mais de 6000
casos".
Outras medidas importantes que o
secretário de Estado salienta passam pelo facto de o governo se ter
"movido rapidamente" para aumentar a capacidade de ventilação
invasiva, laboratorial e de internamento nas unidades de cuidados intensivos. A
"rápida reação de Portugal", explicou Sales, também se deve aos
"cinco anos de investimentos sustentados para trazer o Serviço Nacional de
Saúde [SNS] de volta aos níveis pré-austeridade".
"Entre dezembro de 2015 e
dezembro de 2019, a força de trabalho do SNS aumentou 13%, o que significa
que mais de 15 mil profissionais de saúde, incluindo 3700 médicos e 6600
enfermeiros, estão a trabalhar no SNS. Além disso, entre 2015 e 2019, os gastos
do governo com saúde aumentaram 18% (cerca de 1,6 mil milhões de
euros)".
O jornalista Sam Jones,
correspondente do "The Guardian" em Madrid, que assina o artigo,
refere que muitos profissionais de saúde em Espanha "argumentam que a
resposta à pandemia foi prejudicada pela falta de investimento em serviços de
saúde", especialmente em Madrid, a região mais afetada pelo coronavírus.
"Portugal teve a
oportunidade de observar os outros países"
Sam Jones também ouviu Inês
Fronteira, professora auxiliar de Saúde Pública e Epidemiologia no Instituto de
Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, que disse ao jornal
britânico que o "investimento no sistema de saúde valeu a pena". A docente
lembrou também que a chegada relativamente tarda da Covid-19 a Portugal
"havia comprado ao país mais tempo para monitorizar e preparar".
"Detetamos o primeiro caso
em 2 de março e a transmissão local começou em 12 de março - muito mais tarde
do que em França, Espanha ou Itália. Assim, Portugal teve a oportunidade de observar
o que outros países estavam a passar, ver quais medidas estavam a tomar e
aprender com essas experiências. Portugal acabou por implementar mais ou menos
as mesmas medidas que outros países - e ao mesmo tempo - mas a epidemia
aqui estava num estágio muito anterior ao de outros países", explicou Inês
Fronteira, recordando que o sistema de saúde centralizado e o apoio de várias
partes às medidas de emergência também ajudaram.
Partidos políticos foram
"responsáveis"
Outra diferença de Portugal para
a vizinha Espanha, por exemplo, esteve na oposição ao governo. Ou falta dela.
"Os partidos políticos adotaram um comportamento responsável porque todos
entendiam muito bem a importância de se unirem para enfrentar uma pandemia
inesperada com consequências dramáticas", afirmou Sales.
Já Inês Fronteira nota que a
pandemia faz ressaltar a necessidade de uma preparação adequada.
"Isso será crucial para o próximo estágio da epidemia, quando começarmos a
discutir se as medidas serão ou não flexibilizadas". "É importante
dar um passo de cada vez, porque é preciso tempo para medir o impacto de cada
uma das medidas. Para esse tipo de resposta, também é necessário ter coesão
social e política para implementar efetivamente medidas de saúde pública",
alertou.
Em jeito de conclusão, o texto do
"The Guardian" termina com uma mensagem de António Lacerda Sales
quanto ao futuro: "Estamos constantemente a aprender com este surto e com
as experiências de outros países. Estaremos melhor preparados para a
próxima vez, com certeza".
Tiago Rodrigues | Jornal de Notícias | Imagem: Leonardo Negrão / Global Imagens
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