Os setores do entretenimento e da
restauração foram dos mais severamente atingidos pelas restrições impostas para
mitigar a pandemia de covid-19 em Los Angeles, contribuindo para atirar mais de
metade dos residentes para o desemprego.
Foi o que aconteceu a William
Francis, de 44 anos, que perdeu o emprego no restaurante de luxo onde
trabalhava há dois anos quando o estabelecimento decidiu encerrar totalmente as
portas por causa da pandemia.
"Os meus chefes perceberam o
que estava a acontecer e anteciparam-se ao encerramento obrigatório, para
facilitar o nosso acesso aos benefícios de desemprego", disse à Lusa o
norte-americano, que estudou teatro e fez carreira na restauração durante as
últimas duas décadas em LA.
Segundo um estudo divulgado esta
sexta-feira pela Universidade do Sul da Califórnia, apenas 45 por cento dos
residentes em Los Angeles mantêm o emprego. Mesmo os que não
foram demitidos na indústria do entretenimento, uma das grandes forças da
cidade, viram os seus trabalhos afetados, como foi o caso do músico
Raymond Bergstrom, 41 anos. "Todos os concertos desapareceram e tenho
um projeto suspenso indefinidamente", afirmou.
No caso de William Francis, a
expectativa é poder recuperar o emprego quando a pandemia de covid-19
for debelada, citando uma comunicação "transparente" e constante da
gerência que o dispensou. "Seremos os primeiros a ser chamados quando as
restrições forem levantadas", afirmou.
A localização em Chinatown, num
sítio pouco conveniente para entregas à porta, ditou o encerramento total do
restaurante e a dispensa dos funcionários. É um cenário comum, que responde ao
facto de 86 por cento dos americanos estarem agora a evitar restaurantes,
segundo os dados da Universidade do Sul da Califórnia.
Por isso mesmo, existe incerteza
quanto ao futuro de um setor gravemente afetado pelas
ordens de permanência em casa e a emergência de saúde pública. "Quando as
coisas recomeçarem a abrir, não me parece que os restaurantes possam voltar
imediatamente ao normal, por isso espero poder trabalhar a conduzir em serviços
de boleia", explicou Francis. "Já fiz todo o tipo de trabalhos".
Para lidar com a situação, o
norte-americano viu-se forçado a contactar os seus credores e fornecedores de
serviço e relatou que "a maioria oferece um período de indulgência"
quanto a pagamentos durante o estado de emergência. O senhorio da propriedade
onde reside teve uma abordagem semelhante, embora os despejos estejam proibidos
por ordem executiva do governador da Califórnia, Gavin Newsom.
Os residentes que não puderem
pagar renda durante a emergência terão 12 meses para o fazer, mas esta é uma
das áreas de maior risco no rescaldo imediatamente a seguir ao
levantamento das restrições. Numa cidade onde a renda mensal ronda os 2.257
dólares por um apartamento de três assoalhadas, a acumulação de dívidas poderá
tornar-se incomportável, disse a advogada Shashi Hanuman numa
conferência sobre a situação dos sem-abrigo durante a pandemia.
Com 60 mil sem-abrigo no condado,
o número mais elevado da Califórnia (que tem um total de 151 mil), a pandemia de covid-19
tornou a situação ainda mais grave e as autoridades públicas estão a trabalhar
com parceiros privados para tirar milhares de pessoas das ruas. "Isto já
era uma crise urgente", disse Eric Ares, responsável da United Way of
Greater Los Angeles, que organizou a conferência. "Infelizmente
foi preciso uma pandemia para conseguir todos estes recursos".
Só com o Projeto Roomkey o
estado pretende conseguir 15 mil camas em hotéis e motéis para isolar os
sem-abrigo mais vulneráveis, quer pela idade (a partir dos 65 anos), quer por
condições de saúde que os tornem suscetíveis em caso de infeção com covid-19.
Esta sexta-feira, o governador
Gavin Newsom anunciou que a Califórnia entrou numa "recessão
induzida pela pandemia" e criou um comité com 80 empresários de
várias indústrias, incluindo o CEO da Apple Tim Cook e o CEO da
Walt Disney Bob Iger, para ajudar à recuperação económica nos próximos
meses.
O combate aos efeitos das
restrições impostas por causa da pandemia também passará por ajudas
financeiras diretas aos residentes com mais rendimentos mais baixos,
incluindo um cartão pré-pago com 700 a 1.500 dólares financiado pelo fundo do
mayor de LA, Eric Garcetti, e um fundo de assistência estadual para ajudar
os imigrantes em situação ilegal com cheques de 500 a 1.000 dólares.
Notícias ao Minuto | Lusa |
Imagem: Lusa
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