Paulo Baldaia | Jornal
de Notícias | opinião
Vai iniciar-se mais uma etapa no
aprofundamento das desigualdades em que vivemos.
Crianças de todo o país, mais no
interior do que no litoral, mais na periferia do que nos centros das grandes
cidades, vão iniciar a telescola em condições incomparavelmente piores que as
crianças que têm computadores e Internet em casa.
Numa sociedade claramente
desigual, em que até tendo emprego se pode ser pobre, a pandemia que estamos a
viver e o combate que estamos a fazer acentuam essas desigualdades. Lá à
frente, a crise económica encarregar-se-á de mostrar, uma vez mais, que uns
poucos não vão poder continuar a acumular milhões, alguns conseguirão
ultrapassar as dificuldades com as poupanças que fizeram e muitos não vão ter
até para as coisas mais básicas. Por isso, o debate sobre o regresso à economia
- não o regresso à normalidade, porque esse é impossível - tem de ser agora o
debate prioritário.
Não implica "deixar a doença
correr". Não implica deixar morrer os mais frágeis. Implica que os testes
passem a ser generalizados. Implica garantir que há máscaras para toda a gente.
Implica responsabilidade máxima de todos nós, para garantir distanciamento
social e regras de higiene rigorosas.
Na véspera de ser decretado o
estado de emergência - já lá vai quase um mês - defendi nas páginas do JN que
as restrições impostas não poderiam ser exageradas, sob pena de se poder
"dar o caso desta sociedade não morrer da doença e acabar por morrer da
cura". Ainda não chegamos lá, mas para lá caminhamos. Ninguém duvida que o
confinamento foi essencial para impedir o colapso do SNS, mas ultrapassada essa
fase, é chegado o momento de voltar à vida. Temos de salvar o máximo de
empresas e empregos e isso não se faz com um lay-off prolongado.
As condições em que se faz este
confinamento já é profundamente desigual, entre os que partilham casas pequenas
sem uma varanda sequer e os que vivem com muito espaço interior e exterior. As
possibilidades de escapar sem contaminação também são muito desiguais. Pessoal
dos hospitais (médicos, enfermeiros e auxiliares); dos lares de terceira idade;
dos supermercados, das farmácias, da limpeza urbana, motoristas profissionais e
estafetas, quase todos mal pagos, são "sacrificados" porque
entendemos que as suas atividades são cruciais para a vida de todos. Quanto
mais o tempo passa, mais atividades profissionais entram nesta categoria. É
esse passo que temos de dar rapidamente para que voltar à economia não seja
entrar num deserto onde só sobrevivem espécies protegidas.
Jornalista
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