As origens do 1º de maio enquanto
dia do trabalhador remontam a um 4 de maio, o de 1886, quando uma manifestação
em Chicago em defesa da semana de oito horas acabou com a intervenção da
polícia e vários mortos e feridos
Hoje, 1º de maio, grande parte do
mundo comemora o Dia do Trabalhador, em homenagem à luta dos trabalhadores de
Chicago, nos Estados Unidos, em defesa das oito horas diárias.
Mas, nos Estados Unidos, que está
na origem da data, o Dia do Trabalhador é comemorado na primeira segunda-feira
de setembro. Estranho? Talvez não. A verdade é que antes dos acontecimentos de
maio de 1886, em Nova Iorque já se comemorava o dia do trabalhador. A primeira
vez foi a 5 de setembro de 1882 – uma terça-feira. E dois anos antes dos
confrontos de Chicago, a primeira segunda-feira de setembro foi considerada
feriado em Nova Iorque, com a central sindical local (“Central Labor Union”) a
desafiar outras cidades e Estados americanos a seguirem o exemplo. Em 1894
todos os estados americanos comemoravam o dia do trabalhador em setembro. As
tentativas posteriores de convencer os Estados Unidos a mudar o dia do
trabalhador para o 1º de maio saíram todas goradas, embora nas grandes cidades
tenha havido recorrentemente manifestações simbólicas.
E no entanto se quase todo o
mundo comemora o dia do trabalhador a 1 de maio foi por causa de uma greve de
trabalhadores americanos em Chicago que começou a 1 de maio de 1886, a que se
seguiu uma manifestação, a 4 de maio, que redundou numa tragédia. A polícia
interveio violentamente depois da explosão de uma bomba.
A manif no Haymarket Foi na
manifestação da praça Haymarket, em Chicago, que, de facto, nasceu o espírito
que iria levar à consagração do 1º de maio como dia do Trabalhador. A
manifestação tinha sido convocada para protestar contra a brutalidade da
polícia sobre os trabalhadores – na véspera, 3 de maio, uma pessoa tinha sido morta.
A maioria dos oradores da
manifestação eram anarco-sindicalistas. Cerca de 1500 pessoas (ou 3000 em
outras versões da história) concentraram-se na praça, que também era um mercado
público. A concentração, que começou pacificamente, tornou-se violenta quando a
polícia começou a querer dispersar a multidão.
Entretanto, uma bomba é lançada e
instala-se o caos e o pânico. Os polícias lançam-se sobre a multidão e sete
deles são mortos – provavelmente por balas disparadas por outros polícias.
Quatro manifestantes também são mortos e há mais de 100 feridos. Há várias
versões da história, incluindo a existência de um elevado número de feridos que
não recorreram ao hospital por medo de serem presos e conotados com os
anarco-sindicalistas, que serão publicamente os acusados da tragédia.
A culpa dos mortos e feridos
recai no movimento dos trabalhadores. A imprensa é implacável com os
anarco-sindicalistas. Por toda a América, os jornais apelam ao enforcamento dos
promotores da manifestação da praça Haymarket. Oito homens são acusados –
Albert Parsons, August Spies, Samuel Fielden, Oscar Neebe, Michael Schwab,
George Engel, Adolph Fischer and Louis Lingg – sendo que a maioria deles não se
encontrava na manifestação, embora fossem anarquistas. Sete dos acusados foram
condenados à morte. Dos sete, um matou-se na prisão e quatro foram enforcados a
11 de novembro de 1887. Dois outros condenados viram a sua pena de morte ser
alterada para prisão perpétua.
As dúvidas sobre se o julgamento
do caso Haymarket foi justo foram imensas. E logo seis anos depois, em 1892, o
governador do Illinois John Peter Altgeld aceitou os pedidos de clemência de
três dos condenados que estavam presos, afirmando que o julgamento não tinha
sido justo e o processo era um aborto jurídico.
Apesar de nos Estados Unidos o
dia do trabalhador ter continuado a ser celebrado em Setembro, a Segunda
Internacional Socialista, reunida em Paris a 20 de junho de 1889, três anos
depois dos acontecimentos de Chicago, decidiu que haveria uma manifestação
anual para lutar pelas oito horas de trabalho. Escolheram o primeiro dia de
maio, para homenagear as lutas sindicais dos trabalhadores de Chicago em nome
do mesmo objetivo.
O Congresso dos Estados Unidos
conseguiu aprovar em 1890 – quatro anos depois da revolta dos trabalhadores de
Chicago – a redução da jornada de trabalho de 16 para oito horas diárias. O
senado francês aprovou as oito horas em 1919 e aprovou o primeiro de maio como
feriado nacional de França.
Ana Sá Lopes | Jornal Sol - 2018
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