sexta-feira, 29 de maio de 2020

EUA | George Floyd foi executado em 9 minutos e depois nós


Isabel Moreira | Expresso | opinião

O ator Will Smith escreveu nas redes sociais isto: “racism is not getting worse, it's getting filmed”.

George Floyd, um homem negro de 46 anos, culpado de nada, resistindo a nada, foi algemado por dois polícias, imobilizado no chão e executado durante 9 longos minutos através de sufocação. Um dos polícias pisou-lhe o pescoço com o joelho em modo supremacia branca, indiferente às palavras que ouvimos em vídeo feito por cidadãos que assistem à morte em direto, às palavras de George, as que ficariam a ecoar no protesto: “por favor, não consigo respirar! Dói-me o estômago! Dói-me o pescoço! Dói-me tudo! Eles vão-me matar!”. George sabe que está rodeado de gente, é por isso que diz “eles”, pede ajuda, avisa, sabe do seu destino se nada for feito, sabe da história da sua comunidade, sabe que desta vez calhou-lhe. Morre. Executado. E escrevemos que era culpado de nada e que resistiu a nada, porque sabemos que há quem tente explorar possíveis atenuantes dos executores, quando na verdade não devíamos mencionar nada.

Depois o ator Will Smith escreveu aquilo e ficamos a pensar, nós que não somos negros, no peso dessas palavras. Ficamos a pensar em quem sabe o que é crescer num país cuja história repousa, toda ela, no racismo. Ficamos a pensar na impaciência furiosa de James Badwin, que é a mesma de todas as vítimas de racismo, lá e cá, cansado da expressão “leva tempo”, porque Baldwin não aceitava que tivesse de se reconciliar com o que quer que seja. Sabia da história do racismo, da luta antirracista, do tempo dos seus antepassados e do tempo da sua vida e perguntava, furioso: quanto mais tempo querem para o vosso progresso? É uma pergunta duríssima e nós merecemos levar com ela.

- Precisamos de mais quanto tempo para o nosso próprio progresso?

Não podemos ficar horrorizados com uma execução porque ela é filmada e fecharmos os olhos ao racismo estrutural que, com dimensões diferentes, persiste nos EUA e aqui, porque para George Floyd ser executado é preciso ser percorrido um longo caminho de racismo vitorioso, o tal caminho que começa nos degraus que temos de combater à primeira amostra de cimento.

Estamos em tempos de afirmação da igualdade. Estamos em tempos de combate. Os políticos prontos a explorarem o ódio aos negros, aos ciganos, aos imigrantes, às pessoas LGBTI estão aí e sabemos quem eles são. Escolham a vossa trincheira.

Orbán, na Hungria, representa o horror para todos e todas que prezam a democracia, a liberdade e os direitos humanos. É um ditador racista, homofóbico e xenófobo. Não perderia, claro, um minuto da sua vida com George Floyd.

Para o líder do CDS, o Partido que representava a direita democrática em Portugal, é “prematuro” avaliar Orbán. De resto, Francisco Rodrigues dos Santos, capaz de se juntar ao Chega, está preocupado com o “marxismo cultural”, aquele slogan nazi para derrubar a igualdade.

- Precisamos de mais quanto tempo para o nosso próprio progresso?

Sem comentários:

Mais lidas da semana