Isabel Moreira | Expresso | opinião
O ator Will Smith escreveu nas
redes sociais isto: “racism is not getting worse, it's getting filmed”.
George Floyd, um homem negro de
46 anos, culpado de nada, resistindo a nada, foi algemado por dois polícias,
imobilizado no chão e executado durante 9 longos minutos através de sufocação.
Um dos polícias pisou-lhe o pescoço com o joelho em modo supremacia branca,
indiferente às palavras que ouvimos em vídeo feito por cidadãos que assistem à
morte em direto, às palavras de George, as que ficariam a ecoar no protesto:
“por favor, não consigo respirar! Dói-me o estômago! Dói-me o pescoço! Dói-me
tudo! Eles vão-me matar!”. George sabe que está rodeado de gente, é por isso
que diz “eles”, pede ajuda, avisa, sabe do seu destino se nada for feito, sabe
da história da sua comunidade, sabe que desta vez calhou-lhe. Morre. Executado.
E escrevemos que era culpado de nada e que resistiu a nada, porque sabemos que
há quem tente explorar possíveis atenuantes dos executores, quando na verdade
não devíamos mencionar nada.
Depois o ator Will Smith escreveu
aquilo e ficamos a pensar, nós que não somos negros, no peso dessas palavras.
Ficamos a pensar em quem sabe o que é crescer num país cuja história repousa,
toda ela, no racismo. Ficamos a pensar na impaciência furiosa de James Badwin,
que é a mesma de todas as vítimas de racismo, lá e cá, cansado da expressão
“leva tempo”, porque Baldwin não aceitava que tivesse de se reconciliar com o
que quer que seja. Sabia da história do racismo, da luta antirracista, do tempo
dos seus antepassados e do tempo da sua vida e perguntava, furioso: quanto mais
tempo querem para o vosso progresso? É uma pergunta duríssima e nós merecemos
levar com ela.
- Precisamos de mais quanto tempo
para o nosso próprio progresso?
Não podemos ficar horrorizados
com uma execução porque ela é filmada e fecharmos os olhos ao racismo
estrutural que, com dimensões diferentes, persiste nos EUA e aqui, porque para
George Floyd ser executado é preciso ser percorrido um longo caminho de racismo
vitorioso, o tal caminho que começa nos degraus que temos de combater à
primeira amostra de cimento.
Estamos em tempos de afirmação da
igualdade. Estamos em tempos de combate. Os políticos prontos a explorarem o
ódio aos negros, aos ciganos, aos imigrantes, às pessoas LGBTI estão aí e
sabemos quem eles são. Escolham a vossa trincheira.
Orbán, na Hungria, representa o
horror para todos e todas que prezam a democracia, a liberdade e os direitos
humanos. É um ditador racista, homofóbico e xenófobo. Não perderia, claro, um
minuto da sua vida com George Floyd.
Para o líder do CDS, o Partido
que representava a direita democrática em Portugal, é “prematuro” avaliar
Orbán. De resto, Francisco Rodrigues dos Santos, capaz de se juntar ao Chega,
está preocupado com o “marxismo cultural”, aquele slogan nazi para derrubar a
igualdade.
- Precisamos de mais quanto tempo
para o nosso próprio progresso?
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