Termina esta sexta-feira (22.05)
o prazo estipulado para a formação do novo Governo na Guiné-Bissau, sem
consenso entre os partidos parlamentares. Ativista diz que políticos não
aguentam ficar fora do "roubo" ao Estado.
Os seis partidos políticos com
assento parlamentar da Guiné-Bissau não conseguiram encontrar soluções
políticas e consensos que permitam a formação de um novo Governo, prevista para
esta sexta-feira (22.05).
O prazo foi estipulado em
abril pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO),
para a formação de um novo Governo que respeite os resultados das eleições
legislativas 2019.
Na sequência do comunicado, o
Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló realizou duas rondas de audiências
com os partidos com assento parlamentar e pediu ao Partido Africano para a
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), vencedor das legislativas, para
arranjar uma solução para o problema político que o país atravessa.
O PAIGC esteve reunido
na quinta-feira (21.05) com os partidos com assento parlamentar, mas
sem chegarem a entendimento sobre a possibilidade de ser estabelecido um
Governo de base alargada.
Sem
consenso dos atores políticos, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló,
tem luz verde para avançar com a sua pretensão de dissolver o Parlamento
do país, para evitar um novo bloqueio institucional, tal como tinha dito. A 22
de abril, durante uma visita ao Estado Maior General das Forças Armadas e ao
lado do chefe dos militares guineenses Biaguê Nan Tam, Sissoco
Embaló avisou que tem a sua esferográfica como solução para assinar
decretos presidencial que dissolva o Parlamento guineense.
"Que as pessoas se preparem
para as eleições legislativas, porque este país não vai ser sequestrado. Eu não
tenho problemas em acabar com este Parlamento. No dia em que ficar bloqueado,
será dissolvido. À luz do dia! Aliás, já avisei os meus pares que não vou pedir
conselhos, porque tenho a minha caneta para assinar o decreto. A minha esferográfica
é a minha bomba atómica", afirmou o chefe de Estado da Guiné-Bissau, que
poderá ainda nesta sexta-feira decidir o futuro político de um país que acaba
de sair das eleições presidenciais.
A Guiné-Bissau já
realizou inúmeras eleições sem que os resultados dos pleitos fossem respeitados
pelos regimes nas rédeas de governação do país. "Na Guiné-Bissau, o
problema não são as eleições, o problema não está na Constituição, e nem no
sistema político. O problema é o homem político guineense", disse à DW
África o analista político guineense Rui Landim.
"Guerra para apropriar-se
dos recursos do país"
Em declarações à DW África, o
jovem ativista guineense Sumaila Jaló, um dos responsáveis pelas várias
manifestações de rua contra as instabilidades políticas na Guiné-Bissau,
explica o problema do país: na Guiné-Bissau, as eleições não contam para
nada "porque ninguém aguenta ficar na oposição durante quadro
anos".
"Ninguém quer ficar fora da
divisão do bolo, do saque ao erário público, ou seja, do roubo do tesouro
nacional. O que é um hábito das nossas instituições partidárias e dos seus
dirigentes. O problema é que, estando fora do poder, eles têm dificuldades em
sustentar os seus vícios, que todos nós conhecemos", disse o ativista e
professor do Liceu Agostinho Neto de Bissau.
Num país onde nenhuma legislatura
chegou ao fim, sem que tenha sido interrompida por golpes à Constituição ou
mesmo por golpes do Estado, Sumaila Jaló diz que o que impede a Guiné-Bissau de
ter a estabilidade política e governativa é uma a acesa "guerra entre
atores políticos para se apoderararem dos recursos do país através do poder e
da governação".
"A curto prazo, não vejo
grandes soluções para este imbróglio na Guiné-Bissau. Temos um Presidente que
se está a demonstrar muito autoritário, que tem um pendor muito executivo e que
continuará a imiscuir-se nas questões de governação nos próximos tempos. E se
tivermos um Governo em que o PAIGC faça parte vai ser difícil essa convivência
com Umaro Sissoco Embaló".
Braima Darame | Deutsche Welle
Na imagem: Sumaila Jaló, jovem ativista da
Guiné-Bissau
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