O ator luso-americano Dinarte de
Freitas, que viu os protestos sobre a morte de George Floyd chegarem ao seu
bairro, em Los Angeles ,
disse que a situação espelha a crise e a discussão necessária nos Estados
Unidos.
"Eu temo por este
país", disse à Lusa o ator. "Neste momento, a América sofre uma
crise moral, além de socioeconómica. Tudo isto a acontecer no meio de uma pandemia,
a seis meses de uma eleição. O mundo está em convulsão", acrescentou.
Dinarte de Freitas,
conhecido pelo personagem Pedro da série "The Gifted" e que entrou na
3.ª temporada de "Stranger Things", disse esperar que a situação
acalme e os protestos ajudem à mudança. "Pelo menos que se continue esta
conversa mas de uma forma pacífica, e que estes grupos extremistas que andam a
incentivar à violência e ao vandalismo possam ser identificados e exista uma ação para
os deter".
Depois de um fim de semana de
grande agitação, em que o ator se viu envolvido num confronto entre
manifestantes e a polícia, que disparou balas de borracha e gás lacrimogéneo para
dispersar a população, os ânimos não acalmaram.
"Há ambulâncias e
helicópteros cá fora", descreveu. "Os protestos voltam a ser aqui
perto de casa. Vi muitas pessoas a taparem as fachadas dos negócios e
restaurantes", afirmou.
Los Angeles decretou
recolhimento obrigatório nos últimos dias, com a Guarda Nacional a patrulhar as
ruas perante protestos que terminaram em vandalismo e pilhagens. O ruído de
helicópteros da polícia a sobrevoarem a cidade tem sido constante e foram
detidas mais de duas mil pessoas.
"Os protestos começaram de
forma pacífica, inclusivamente vi grupos étnicos com trajes dos
países a dançar, vi pessoas que estavam calmamente a passar", disse Dinarte de
Freitas. "Há a ideia que existem grupos extremistas dentro dos protestos
que estão a tentar criar o caos e de certa forma afastar o foco da conversa que
as pessoas querem ter", sublinhou.
Neste bairro conhecido como
Miracle Mile, perto de Beverly Hills, o supermercado Trader Joe's foi invadido
e houve uma tentativa de o incendiar, o Whole Foods foi pilhado, as lojas de
departamento Nordstrom no espaço The Grove foram saqueadas, um carro
da polícia ardeu e uma loja de "vaping" foi vandalizada, entre
outros incidentes.
"Muitas das lojas ainda não
tinham tido a oportunidade de reabrir ao público" depois do confinamento causado
pela covid-19, disse o ator. "Muitos são negócios pequenos. Nas
fachadas puseram cartazes a dizer esta loja pertence a um imigrante ou a alguém
de uma minoria, de forma a evitar que vandalizem a propriedade".
Com as dificuldades do confinamento e
os prejuízos causados pelo vandalismo, há o receio de que muitos destes
pequenos comerciantes "depois não consigam voltar ao trabalho".
Ainda assim, o ator referiu
que quando saiu de casa após uma noite de confrontos viu "muitos jovens de
várias etnias a limparem as fachadas e os estragos, muitos com vassouras e pás,
entre negros, latinos e brancos a ajudar", descreveu. "Isso foi
especial de ver", concluiu.
No meio das manifestações, Dinarte de
Freitas assistiu a um sentimento de "muita frustração" por parte dos
jovens afro-americanos, netos de pessoas que viveram o tempo da segregação,
"uma tristeza profunda quase que geracional".
"Consegue-se perceber a
raiva nestes jovens", disse, acrescentando: "Não acredito que seja
uma raiva contra o branco em si, é uma raiva contra a forma como são tratados,
a falta de oportunidades, o económico e social".
O cenário que se vive em vários
pontos do condado de LA, que atingiu desde a baixa até Santa Mónica, Beverly
Hills e Long Beach, é semelhante ao que se verifica em diversos estados e levou
o Presidente, Donald Trump, a fazer uma comunicação ao país.
O chefe de Estado, falando em
Washington, D.C., apelou aos governadores dos estados afetados que
controlem a violência e disse que se não o fizerem irá convocar o exército para repôr a
normalidade.
O ator considerou
também é preciso ter bom senso quando o polícia dá uma ordem: "No meio das
pessoas boas também existe o chamado oportunista, que são estes grupos
extremistas que podem ter uma arma, algo que possa magoar o polícia, e temos
uma situação de caos completo".
George Floyd, um afro-americano
de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um
polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de
oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia
respirar.
Notícias ao Minuto | Lusa |
Imagem: Reuters
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